Coluna Vitor Vogas
Análise: como foi a estreia dos candidatos a prefeito de Vitória na TV
Na primeira aparição na propaganda eleitoral na TV, candidatos dão a ver a estratégia, o discurso e as armas com que chegam para a disputa
Os candidatos a prefeito de Vitória fizeram sua tão aguardada estreia, nesta sexta-feira (30), na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, que irá ao ar de hoje até o dia 3 de outubro.
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Nessa primeira aparição na telinha, já foi possível identificar muito do que deverá ser a estratégia de campanha de Luiz Paulo (PSDB), Pazolini (Republicanos), João Coser (PT) e Capitão Assumção (PL), detentores dos maiores tempos. Camila Valadão (PSol) e Du (Avante) têm apenas 25 segundos cada.
Seguindo a ordem de veiculação dos programas neste primeiro dia de horário eleitoral, a coluna detalha abaixo como foi o programa de estreia de cada um dos seis concorrentes no bloco de dez minutos exibido das 13h às 13h10.
Luiz Paulo: o rastro de seu legado na geografia de Vitória
Dirigida pela publicitária Ananda Miranda, da agência Candela, a propaganda de Luiz Paulo apresentou, no programa de estreia, uma narrativa interessante, com o objetivo de realçar o rastro do legado deixado pelo ex-prefeito na geografia da cidade, isto é, as marcas, palpáveis até hoje, da administração do tucano, que governou Vitória por oito anos, de 1997 a 2004.
Luiz Paulo é quem enuncia todo o texto de peça, mas ele mesmo só surge em cena no final (todo o trajeto converge para ele). No “filmezinho” apresentado, coberto com a voz do candidato em off, acompanhamos a jornada de uma mulher de meia idade da periferia, negra, ao lado de seu filho, também negro, com cerca de dez anos e uniforme da rede municipal.
Os dois percorrem a cidade, em um ônibus municipal, no trajeto de casa até a escola. Nesse percurso, passam por uma série de equipamentos públicos implementados no governo de Luiz Paulo, conforme o próprio candidato vai enfatizando os pontos principais de seu legado, concentrados no Projeto Terra. Assim, o texto do candidato sempre coincide com o que estamos vendo, pelo olhar daquela mãe, no decorrer de seu trajeto por Vitória.
A sequência começa com o despertador tocando, a mãe acordando o filho, arrumando-o para a escola e saindo de casa com ele. Luiz Paulo começa a narração: “Em 1997, os moradores de Vitória e a prefeitura, juntos e com muita fé, mudaram a cidade e transformaram vidas. Nascia, assim, o Projeto Terra”. Enquanto a mãe sai de casa com o menino, uma legenda enche a tela: “Fim das palafitas em Vitória. Entrega de moradias dignas”.
Em seguida, enquanto mãe e filho entram no coletivo, Luiz Paulo retoma o relato: “Até aquele ano, os ônibus não subiam os morros de Vitória. A saúde da cidade recebeu pela primeira vez um Pronto Atendimento. Um só, não. Dois. Os únicos que existem até hoje”, prossegue o ex-prefeito, enquanto o ônibus passa bem em frente à unidade de saúde em questão.
Acomodada em seu assento no ônibus, a moça saca o seu celular, para acessar o que hoje é o aplicativo “Vitória Online”. “A primeira prefeitura do Brasil a ofertar serviços online foi a Prefeitura de Vitória”, relembra Luiz Paulo, que começou a governar a cidade quando a internet engatinhava no Brasil.
Essa dinâmica prossegue, até que no fim, após descer com a mãe do ônibus, o menino avista um senhor parado bem diante da escola que é o seu destino. O garoto sai correndo até ele e o cumprimenta com um soquinho de mãos. Adivinhem que é? É o clímax da peça, o início e o fim do percurso descrito e narrado.
Luiz Paulo, então, fala diretamente para o público: “Todas essas transformações que mudaram a cara e a vida de Vitória aconteceram porque nós acreditamos que é possível viver numa Vitória do futuro no presente. Faremos isso de novo! Eu e vocês, juntos, vamos construir uma outra Vitória, a Vitória de quem acredita”, promete o tucano.
Du: cidade com dois prefeitos?!?
Em seus 25 segundos, o empresário Du aparece ao lado do seu candidato a vice, o Coronel Wagner (PRTB), apresentando uma proposta que ele classifica como “inédita” (mas o termo correto seria “insólita”): se eleitos, os dois serão prefeitos.
Deram nova denotação ao conceito de “gestão compartilhada”.
Camila: superação das desigualdades
Também com 25 segundos, a deputada do PSol já surge na tela lamentando justamente o seu pouco tempo de TV e ressaltando a necessidade de superar mais esse obstáculo em uma campanha desigual:
“Este é mais um espaço em que vamos precisar superar a desigualdade. Enquanto os candidatos tradicionais fazem negociações por conta de tempo de TV, nós temos apenas 25 segundos para apresentar as nossas propostas. Mas superação é a nossa história”.
Para lembrar: o tempo dos candidatos é definido em função do tamanho da bancada da coligação de cada um na Câmara dos Deputados. A federação de Camila (Rede/PSol) vem sem coligação em Vitória.
Pazolini: da igualdade à união
O discurso de Pazolini é uma combinação de ênfase na austeridade fiscal com as entregas realizadas por ele, estabelecendo uma relação de causa e consequência: o rigor na gestão das finanças públicas municipais, principalmente na primeira metade do mandato, teria permitido ao prefeito “arrumar a casa”; essa arrumação, por sua vez, teria sido o que lhe permitiu realizar e intensificar investimentos na cidade de 2023 para cá.
O slogan mudou sutilmente: a “Vitória da Paz e da Igualdade” virou “Paz e União em Vitória”. Um Pazolini quatro anos mais velho (agora, quarentão) e ligeiramente grisalho aparece no vídeo. De resto, sobretudo na linguagem visual, a propaganda eleitoral de Pazolini se assemelha muito àquela com que ele se elegeu prefeito em 2020. Até as cores da campanha são as mesmas, com destaque para o azul-claro e o amarelo.
Pazolini veio para essa campanha seguindo a máxima de que “em time que está ganhando, não se mexe”. O Republicanos contratou a mesma equipe de marketing que dirigiu sua propaganda em 2020: a agência Acrópole, sediada em Vitória e dirigida pelos publicitários Gustavo Alves e Higor Franco, que também assinam o marketing da campanha.
“Em 2021, chegamos à Prefeitura de Vitória em tempos muito difíceis. Em meio à pandemia, precisávamos agir rápido. Fizemos um ajuste de contas. Foram decisões difíceis. Cortamos regalias, mas era o necessário a se fazer. Controlando as contas, com uma equipe qualificada e motivada, conseguimos cuidar das pessoas. Nos tornamos referência em vacinação no Brasil. E, logo depois, os resultados vieram”, diz Pazolini aos espectadores.
Com voz em off, o locutor destaca que Vitória hoje é “referência não só em saúde, mas em educação de qualidade, em segurança, em transparência e em qualidade de vida”. Segue destacando medidas como a multiplicação das escolas em tempo integral, a criação de uma merenda extra para os alunos da rede municipal, erradicação da extrema pobreza com o Programa Vix + Cidadania, ruas asfaltadas e obras estruturantes como as da Curva da Jurema e da nova orla de São Pedro, entre outras.
“Trabalhamos incansavelmente para levar paz e igualdade a cada canto da nossa cidade”, afirma Pazolini, retomando seu slogan de 2020. “Levamos sonhos onde antes só havia incerteza. E agora, com a força de cada um de nós, Vitória continuará seguindo seu caminho rumo à paz e à união”, arremata o prefeito, introduzindo o novo lema.
O programa de estreia concentrou-se em uma grande prestação de contas e no convite à continuidade. As propostas para um novo mandato, espera-se, devem aparecer mais à frente, no decorrer da campanha.
João Coser: Vitória se tornou mais desigual
O deputado estadual e ex-prefeito começou a sua propaganda de um jeito interessante. Como Luiz Paulo, resgatou as conquistas de seus oito anos de administração, de 2005 a 2012. Mas, dando um passo atrás, começou a narrativa um pouco antes: resgatando a sua primeira campanha vitoriosa à prefeitura.
O programa reprisou o trecho de uma peça de campanha exibida no horário eleitoral em 2004. Um Coser remoçado em 20 anos surge em cena caminhando sobre uma pedra do maciço central de Vitória, da qual se tem uma vista panorâmica, em 360 graus, de boa parte da ilha. O candidato de então apontava os problemas da cidade. O maior deles: a desigualdade entre as regiões, as quais ele prometia eliminar.
“Do alto do Morro de Santa Lúcia, a gente pode ver as contradições da cidade de Vitória. De um lado, os bairros de São Benedito, do Jaburu e um pedaço de Itararé; do outro, a Vitória dos sonhos de todos nós. Unir essas duas cidades que convivem em nossa ilha é um enorme desafio. Esse desafio precisa ser enfrentado agora.
Corte para 2024. O Coser do presente, então, volta a caminhar sobre o mesmo morro, afirmando (voz em off) que, de fato, em oito anos de governo, ele conseguiu reduzir tais desigualdades de maneira significativa. Mas agora, segundo ele, esse problema voltou a se fazer presente na realidade de Vitória – implicitamente, após os quatro anos de administração de Pazolini:
“Hoje, 12 anos depois de encerrado o meu segundo mandato, sinto dentro do meu coração que as desigualdades aumentaram. E, nos últimos anos, Vitória foi dividida novamente. Mas ela é uma só e é de todos”.
Portanto, enquanto o atual prefeito afirma ter conseguido mitigar desigualdades, seu principal adversário – de acordo com pesquisas eleitorais – sustenta exatamente o contrário.
Sugerindo nas entrelinhas que faltam diálogo, empatia e participação popular na gestão de Pazolini, o locutor declara: “Quando foi prefeito, ele [Coser] construiu pontes no lugar de muros, acolhimento no lugar de indiferença, diálogo no lugar de cancelamento”.
Na logomarca da campanha de Coser, veem-se muitas cores: tem laranja, tem lilás, tem algumas estrelinhas coloridas… Mas o vermelho do PT não se destaca.
A propaganda do petista é dirigida pelo marqueteiro Fernando Carreiro, que assinou a campanha de Manato (PL) ao Governo Estadual no 1º turno em 2022.
O programa de estreia de Coser também seu jingle de campanha, composto pelo músico Carlos Papel, o mais longevo compositor de jingles no Espírito Santo, em atividade desde meados dos anos 1980. É de Papel também a voz principal de um coro de seis cantores, que entoam: “Venha Vitória de volta! Venha de volta, João!”
Assumção: nova roupagem… mas nem tanto
De imediato, visualmente, o que chama a atenção na propaganda de Assumção é a tentativa de sua equipe de marketing em conferir, literalmente, uma nova roupagem e maior leveza ao candidato. A tradicional farda da PMES, que ele não tira jamais em sessões da Assembleia e que também fez questão de trajar na campanha passada a prefeito, agora dá lugar a uma camisa social de cor clara e tecido leve.
Como já discorremos aqui, o programa de governo de Assumção também, incrivelmente, sugere um candidato mais leve, quase um Assumção Paz e Amor.
Mas a inflexão termina aí.
A estreia de Assumção no vídeo põe em evidência o deputado no seu velho estilo: travando o embate ideológico, combatendo a esquerda e colando com força em Jair Bolsonaro (PL). Assumção se apresenta como o único candidato da direita de verdade em Vitória, tachando Pazolini como falso representante dessa linha ideológica.
“Se você também não se conforma com o morno, com o mais ou menos, com o mesmo filme sem graça outra vez, a gente tem muito em comum”, afirma o deputado. Também diz que é candidato para defender “as nossas famílias”.
Enquanto se alternam imagens da posse de Bolsonaro no Planalto em 2019 e de Assumção ao lado do deputado federal Gilvan (PL), ouvimos do locutor que “o 22 mudou o Brasil e vai transformar Vitória”.
Também é enfatizado o episódio, entre o fim de fevereiro e março, em que Assumção foi preso por ordem de Alexandre de Moraes e, oito dias depois, teve a prisão sustada pela Assembleia e revogada pelo ministro do STF. Com imagens dele dentro do camburão e saindo do Quartel de Maruípe, o episódio é lembrado para apresentar o deputado como inimigo do sistema:
“Enfrentou uma prisão inexplicável, mas, armado com fé e coragem, como Bolsonaro, desafiou os poderosos. Na batalha contra a censura, mostrou que a fé e a convicção são mais fortes que qualquer tentativa de supressão”.
A mensagem final do programa é que, mesmo após Vitória ter se livrado da esquerda (com a eleição de Pazolini em 2020), as coisas não mudaram na cidade, pois Pazolini seria sinônimo de “falsa direita”.
É o campo nitidamente disputado por Assumção com Pazolini para crescer nas pesquisas e tentar chegar ao 2º turno.
Coser e Assumção “se encontram” no alto da pedra
Um detalhe curioso, aliás curiosíssimo, é que o programa de Assumção também o exibiu caminhando sobre uma pedra no maciço central da cidade. Ou seja, os dois podem até ser opostos do ponto de vista ideológica, mas tiveram e executaram rigorosamente a mesma ideia.
No meio do caminho político, há uma pedra entre Coser e Assumção. Mas, na estreia no horário eleitoral, os dois se encontram, quem diria, no alto da pedra.
Em tempo: a campanha de Assumção é dirigida pelo marqueteiro Pedro Roque Rodrigues, filho da já falecida Bete Rodrigues, lenda do marketing político capixaba. Bete dirigiu muitas campanhas de Coser, inclusive a sua última, para prefeito, em 2020, um ano antes de morrer, e aquela da sua primeira vitória, na qual ele “subiu na pedra”, em 2004.
Enquanto isso, nas ondas do rádio…
Na estreia no rádio, com relação ao texto falado, o único candidato que veiculou um programa bem diferente do exibido na TV foi João Coser. Sua estreia no rádio seguiu aquele formato tradicional de locutor entrevistando o candidato. Com fala acelerada demais (efeito que precisa ser revisto), o petista deixou críticas a Pazolini.
Disse que quer ser prefeito de novo “para tirar Vitória do isolamento”. “Nossos investimentos permanecem. Não são obras de PowerPoint ou rua asfaltada duas vezes, essa falta de responsabilidade com dinheiro público nos últimos anos”, condenou, firmando um contraponto ao discurso de responsabilidade fiscal do atual prefeito.
Já o programa de estreia de Assumção não foi exibido no rádio ao meio-dia.
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