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Coluna Vitor Vogas

A família Ferraço em dez frases de “O Poderoso Chefão”

Homenagem com análise: para celebrar os 50 anos de um dos maiores filmes da história, interpretamos a situação política de Ricardo e Theodorico Ferraço a partir de falas icônicas de Michael e Don Vito Corleone

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Presença obrigatória em qualquer lista de melhores filmes da história, a primeira parte da trilogia “O Poderoso Chefão” (“The Godfather”) acaba de completar 50 anos. Em 24 de março de 1972, estreava no circuito comercial americano o filme que tanto nos ensina sobre poder, política, estratégia, traição, negócios e família, através da história da imprevista ascensão de Michael Corleone (Al Pacino) ao lugar do pai (Marlon Brando) na chefia da mais poderosa família de mafiosos ítalo-americanos em Nova York.

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Para celebrar a data, listamos abaixo as analogias possíveis entre dez frases lendárias de “O Poderoso Chefão” e a história de uma das famílias mais tradicionais e importantes da política capixaba: os Ferraço. Boa leitura!

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1) “Some day, and that day may never come…”

A sequência inicial de “O Poderoso Chefão” é, sem trocadilho, uma das mais poderosas da história do cinema. O ano é 1945. Em sua mansão em Nova York, Don Vito Corleone promove a festa de casamento de sua filha, Costanza (Connie). Como reza a tradição siciliana, no dia das bodas da filha, o pai da noiva não pode negar nenhum pedido aos convidados, por isso se forma enorme fila à porta do escritório do “Padrinho”.

A filha do senhor Bonasera, dono de um necrotério, havia sido espancada por dois jovens. E ele está lá, diante de Don Corleone, clamando-lhe por “justiça”. Após alguma relutância, o Padrinho aceita conceder-lhe o “favor”, mas deixa muito claros os seus termos: “Um dia, e pode ser que esse dia nunca chegue, vou procurá-lo e pedir-lhe que faça um serviço para mim”.

Bonasera cochicha ao ouvido de Don Vito o que deseja que ele faça aos agressores de sua filha

Frase aplicada aos Ferraço

Em 2018, as gestões internas de Ricardo Ferraço foram fundamentais para levar o PSDB a apoiar o retorno de Renato Casagrande ao Palácio Anchieta. O então senador venceu a queda de braço com o então presidente estadual do PSDB, César Colnago. Agora de volta ao partido, ao qual tornou a se filiar em março, Ricardo também deve operar para garantir a adesão do PSDB à coligação em prol da reeleição de Casagrande.

Mas a fatura para o governador pode ser apresentada agora. Em retribuição pelos favores e bons serviços de Ricardo, o governador poderá escolher o ex-senador para o tão cobiçado posto de candidato a vice-governador, ao seu lado, na chapa governista.

2) “Never tell anybody outside the family what you’re thinking again!”

Após uma reunião de negócios com o narcotraficante Virgil “Turco” Solozzo, Don Vito repreende seu filho mais velho, Santino “Sonny” Corleone. Solozzo buscava uma sociedade, mas a proposta é recusada pelo Padrinho.

Durante o encontro, porém, seu filho deixa escapar a Solozzo que gostaria de fechar o negócio. Já a sós com Santino, o pai dá uma bronca no filho: “Qual é o seu problema? […] Nunca mais diga a ninguém que não seja da família o que você está pensando!

Frase aplicada aos Ferraço

Nos últimos anos, especialmente depois que encerrou seu mandato no Senado (jan/2019), Ricardo Ferraço se firmou como um dos políticos mais enigmáticos do Espírito Santo. Afora sua aliança com Casagrande, pouco se sabe sobre seus passos. O ex-senador dá pouquíssimas declarações à imprensa e raramente é visto em público.

Mesmo em reuniões com outros políticos, seus interlocutores costumam relatar que Ricardo não é de falar muito e evita dar a saber o que está pensando e planejando. Guarda para si suas estratégias, como bem ensina Don Vito.

3) “Look how they massacred my boy…”

Vítima da própria impulsividade, Santino cai em uma cilada e é metralhado na praça do pedágio de uma autoestrada. Don Vito entra em contato com Bonasera. É chegado o dia de cobrar aquele favor. O Padrinho mostra ao dono do necrotério o cadáver devastado de seu querido filho e, mal contendo o choro, desabafa: “Não quero que a mãe dele o veja assim. Olhe como massacraram o meu menino…

Frase aplicada aos Ferraço

Em 2010, Ricardo Ferraço era o vice-governador do Estado e pule de dez como candidato à sucessão a ser lançado pelo então governador Paulo Hartung. Mas, em abril daquele ano, Hartung optou pelo então aliado Casagrande como candidato do grupo, em detrimento de Ricardo.

Se tivesse se mantido na disputa contra Casagrande, Ricardo teria colocado em xeque a unidade do grupo de Hartung. Preferiu recuar e lançar-se ao Senado pelo MDB, na mesma chapa. No início de maio, Ferraço fez o célebre desabafo em evento público: “Sangrei pelo fogo amigo”.

Seu pai, Theodorico, não o disse, mas certamente guarda até hoje grande mágoa de Hartung pelo modo como “massacraram seu menino”…

4) “Senator Corleone. Governor Corleone, or something…”

Com Santino morto e Don Vito debilitado após ter sofrido um atentado, quem precisa ascender ao comando da família é o filho caçula, Michael Corleone (o mais inteligente de todos e o mais parecido com o pai). Mas, ciente do potencial de Michael, Don Vito tinha outros planos para seu rebento preferido: queria-o ocupando uma posição de poder, mas não diretamente envolvido com os negócios da família.

Em uma linda e decisiva cena (na verdade, a única com os dois a sós na tela), o Padrinho expressa a Michael a sua frustração: “Eu me recusei a ser um tolo, dançando conforme a música tocada por aqueles figurões. Não me arrependo. Foi a minha vida. Mas achei que, quando sua hora chegasse, seria você quem tocaria a música. Senador Corleone. Governador Corleone. Algo assim…

Michael (Pacino) e Vito Corleone (Brando) em seu único diálogo a sós em cena

Frase aplicada aos Ferraço

Theodorico Ferraço exerceu muitos mandatos como prefeito de Cachoeiro e deputado. Mas nunca chegou perto de ascender ao Palácio Anchieta. Certamente alentava o sonho de ver o filho Ricardo virar um dia o “Governador Ferraço”. Ricardo bateu na trave, mas o mais perto que chegou do cargo foi como vice de Hartung. Tornou-se, porém, o “Senador Ferraço”, de 2011 a 2019.

5) “I’m gonna make him an offer he can’t refuse.”

Possivelmente a citação mais conhecida de “The Godfather”. Em diferentes tempos verbais, a frase aparece mais de uma vez no roteiro e traduz basicamente o modus operandi de Don Vito Corleone (bem assimilado por Michael). Algum problema pela frente? Alguém atrapalhando os interesses da família ou de algum de seus “afilhados”? “Não se preocupe. Farei a ele uma oferta que ele não poderá recusar”. (A “oferta irrecusável”, em um dos casos, era ou a assinatura do sujeito ou os seus miolos em um contrato.)

Frase aplicada aos Ferraço

No intenso período de negociações durante a janela para troca de partidos (de 3 de março a 1º de abril), Theodorico Ferraço decidiu que não ficaria no União Brasil, partido cujo comando o deputado Felipe Rigoni tomou de Ricardo Ferraço. O deputado recebeu propostas de diversas siglas, mas acabou fechando mesmo com o Progressistas (PP).

Por quê? Porque o PP lhe fez uma oferta que ele não pôde recusar, incluindo boas condições não só para sua própria reeleição na Assembleia, mas também para a recondução de sua esposa, Norma Ayub, à Câmara Federal.

6) “Women and children can be careless, but not men.”

A trilogia de “O Poderoso Chefão” retrata um universo 100% masculino, onde as mulheres literalmente não têm voz. A matriarca, esposa de Don Vito, mal abre a boca até morrer na segunda parte da saga. Tal como ditava a cultura ítalo-americana de então, as mulheres da família Corleone cozinhavam, cuidavam dos filhos e da casa. E, em hipótese alguma, podiam perguntar aos maridos sobre os negócios da família.

A mentalidade patriarcal se manifesta em muitas falas, como neste aforismo de Don Vito, no já citado diálogo final com Michael: “Passei a vida inteira tentando não ser descuidado. Mulheres e crianças podem ser descuidadas. Homens, não”.

Theodorico Ferraço. Foto: Assembleia Legislativa

Frase aplicada aos Ferraço

Não é que ela seja totalmente desprovida de autonomia política… Mas, no meio político capixaba, ninguém tem dúvida de que o verdadeiro mentor e articulador político da deputada federal Norma Ayub é seu marido, Theodorico Ferraço.

Mais uma prova disso acaba de ser dada: na janela partidária, Norma só trocou o União Brasil pelo PP porque Ferraço assim quis e decidiu. Foi ele quem conduziu pessoalmente, em seu nome e no de Norma, as negociações com os dirigentes partidários, deixando claro desde o início que ela o acompanharia aonde fosse.

7) “Don’t ever take sides with anyone against the family again!”

Já interinamente no comando da família, Michael Corleone vai a Las Vegas para um encontro de negócios: que comprar a participação de um sócio num hotel-cassino e assumir pleno controle da empresa. O sócio, Moe Greene, fica ultrajado com a proposta, recusa-a e ofende um inflexível Michael.

O irmão mais velho de Michael, Fredo Corleone, tenta sem sucesso interceder em favor de Moe Greene. Quando este vai embora, Michael passa uma descompostura no irmão (com uma frase que se revelaria premonitória): “Fredo, você é meu irmão mais velho e eu te amo… Mas nunca mais se alie a ninguém contra a família novamente! Nunca mais!”

Frase aplicada aos Ferraço

Como vimos, o casal Theodorico e Norma migrou junto para o PP. Já Ricardo, também convidado pelo PP, preferiu retornar ao PSDB. Estaria indo contra a família? Bem, não exatamente. Aqui é preciso fazer ressalvas. Durante essas negociações, o próprio Theodorico chegou a dizer ao colunista que “política à parte, a família é indivisível”. Para ele e Norma, o melhor era ir para o PP. Para Ricardo, não… o que nos leva à frase seguinte.

8) “It’s not personal, Sonny. It’s strictly business.”

Uma das grandes reflexões propostas por “O Poderoso Chefão” diz respeito às fronteiras existentes (ou não) entre o mundo dos negócios e interesses, desejos, preferências e impulsos pessoais. Muito passional, Santino tendia a permitir que o lado pessoal afetasse suas decisões “profissionais”. O irmão adotivo, Tom Hagen, era o oposto: frieza, calculismo e impessoalidade.

Na cena “divisora de águas” do filme, na qual Michael começa a entrar e a assumir protagonismo nos assuntos da família, ele se propõe matar pessoalmente um inimigo da família (Solozzo). E explica ao irmão, incrédulo diante da ideia: “Não é nada pessoal, Sonny. São só negócios”.

Frase aplicada aos Ferraço

Foi por isso que Ricardo Ferraço decidiu ir para o PSDB. Nada pessoal contra Felipe Rigoni no União Brasil. E sua relação é ótima com o presidente estadual do PP, Marcus Vicente. Mas para ele simplesmente, por estratégia política, o melhor a fazer agora foi voltar a ser tucano.

9) “Just when I thought I was out, they pulled me back in!”

Esta na verdade é de “O Poderoso Chefão 3”. A esta altura, um já idoso Michael Corleone está cuidando dos últimos acertos para conseguir legalizar completamente os negócios da família.

Mas não tem jeito: uma nova traição e um novo atentado o obrigam a recorrer novamente à violência que permeia a eterna guerra entre as famílias rivais. Antes de sofrer um infarto, ele pragueja: “Logo quando eu pensava estar fora, eles me puxam de volta para dentro!

O ex-senador Ricardo Ferraço. Foto: Senado

Frase aplicada aos Ferraço

Desde o encerramento do mandato no Senado no início de 2019, Ricardo Ferraço está cuidando da vida e atuando na iniciativa privada. Não concorreu a mais nenhum mandato e nunca mais chegou perto de exercer protagonismo político. Mas isso pode estar perto de acabar nas eleições estaduais deste ano. A conferir.

10) “Hail Mary, full of grace…”

A nossa última analogia não é bem uma frase do filme… Mas, apesar do já destacado espaço nulo das mulheres, a Virgem Maria é figura onipresente na saga da família Corleone (obviamente, católica).

Mary é o nome da filha de Michael. Em “O Poderoso Chefão 2”, é durante uma procissão em homenagem à mãe de Jesus que o jovem Vito Corleone pratica o seu primeiro assassinato. No mesmo filme, Fredo é assassinado por vingança, a mando do irmão Michael, num barco de pesca, enquanto reza uma “Ave Maria”.

Frase aplicada aos Ferraço

Como família ítalo-capixaba, os Ferraço também são católicos, e não é raro que Theodorico cite a mãe de Jesus em entrevistas. Há cerca de 15 dias, em meio às negociações de trocas de partido, liguei para ele no início da tarde para saber se tomara alguma decisão. O deputado respondeu assim:

“Só às 18 horas, na hora da Ave Maria.”

Sua ida ao PP foi mesmo anunciada às 18 horas, mas em um dia posterior.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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