Coluna Vitor Vogas
Sobe e desce (parte 1): quem são os maiores vencedores desta eleição no ES?
Encerrada a apuração dos votos, iniciamos aqui a nossa análise sobre o “perde e ganha”, ou “sobe e desce”, desta marcante eleição estadual. Primeiramente, os principais ganhadores!
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Encerrada a apuração dos votos, iniciamos aqui a nossa análise sobre o “perde e ganha”, ou “sobe e desce”, desta marcante eleição no Espírito Santo. Começamos por destacar quem foram os maiores vencedores neste domingo (2), com as respectivas considerações, e quem são os políticos e partidos “ressuscitados” pelas urnas.
Vamos à lista dos vencedores!
Bolsonaro e o bolsonarismo
O presidente e a linha ideológica encarnada por ele provaram que seguem muito fortes no Espírito Santo. Assim como há quatro anos contra Fernando Haddad (PT), Bolsonaro (PL) teria vencido a eleição presidencial em 1º turno contra Lula (PT) em solo capixaba: 52,2% a 40,4%.
Não só isso: os candidatos mais identificados com o presidente de extrema-direita em geral foram muito bem votados. Manato (PL) cresceu nos últimos dias e vai ao 2º turno contra o governador Renato Casagrande. Magno Malta (PL) retorna ao Senado.
Na Câmara, Gilvan da Federal (também do PL) foi o 2º candidato mais votado, com 87.994 votos. Um dos vice-líderes do governo Bolsonaro na Casa, o deputado federal Evair de Melo (PP) renovou o mandato como o 3º candidato mais votado (75.034 sufrágios).
Já na Assembleia, o deputado estadual Capitão Assumção (PL) estabeleceu a segunda maior votação da história para o cargo no Espírito Santo, com 98.669 sufrágios – a maior, como se verá na sequência, também foi registrada neste domingo.
Manato: em ascensão
Pela primeira vez desde o duelo entre Vitor Buaiz, do PT, e Cabo Camata, em 1994, o Espírito Santo terá 2º turno para governador. E o atual ocupante do Palácio Anchieta, Renato Casagrande, também estava lá, como candidato a vice de Vitor. Agora, é ele mesmo quem vai para o 2º escrutínio, contra Manato.
Enfrentando a máquina pública estadual, uma coligação bem mais forte, com muito mais recursos e muito mais tempo de propaganda eleitoral, Manato não conseguiu todos os votos conferidos pelos capixabas a Bolsonaro, mas cresceu o bastante na reta final para passar de fase: teve 38,4% dos votos válidos contra 46,9% de Casagrande.
Agora, tende a reunir os apoios de Audifax, Aridelmo e Guerino Zanon (o do último já está garantido) num “todos contra Casagrande”. Sua alegria só não foi completa porque a esposa, Soraya Manato (PTB), mesmo bem votada, não conseguiu a reeleição na Câmara
> Análise: Manato é o “grande vencedor” do 1º turno e Casagrande terá problemas no 2º
Magno Malta: tonteado, mas não nocauteado
Por mais controverso que ele seja, é preciso respeitar a história e a força política de Magno Malta – da qual ele deu nova demonstração neste domingo.
Ao conseguir retornar de maneira triunfal para o Senado, no estilo da ave fênix, o candidato do PL entra em definitivo para o Atlas Político do Espírito Santo, igualando-se a Gerson Camata como o segundo político a alcançar três eleições pelo voto popular para o Senado no Estado (2002, 2010, 2022), desde a redemocratização. E, desta vez (a primeira em sua carreira), com uma vaga só em disputa.
Em 2018, o então senador sofreu um knockdown dos capixabas (quando um lutador de boxe é derrubado, mas consegue se reerguer e voltar à luta). Mas escapou do nocaute político e, como tratou de mostrar de modo literal em sua propaganda eleitoral, calçou as luvas e voltou para a luta, em novo round eleitoral.
E foi assim, como num ringue de luta, que o ex-senador protagonizou uma campanha majoritária bem ao estilo Magno Malta: quase sempre com cara de bravo, falando em tom exaltado, com direito a algumas ameaças a destinatários não especificados (a “rataiada”). O ápice foi a inserção na TV em que ele apareceu falando em “porrada” e simulando, literalmente, um soco no cinegrafista – ou seja, em você que lhe assistia pela lente da câmera.
Foi um tom bem agressivo… mas deu certo.
Depois de ter apoiado Lula, Dilma e Temer, Magno colou em Bolsonaro, até no leito hospitalar, na campanha de 2018. Na deste ano, sob o lema “Tem que ter coragem”, mergulhou ainda mais fundo no bolsonarismo. Brigou com ministros do STF, alardeou o suposto risco de “fechamento de igrejas”, fez uma campanha focada exclusivamente na “direita conservadora cristã bolsonarista” – principalmente no segmento neopentecostal –, resgatando a sua velha agenda moral (contra o aborto, as drogas, a “ideologia de gênero” etc.).
Com 41,9% dos votos válidos, ficará por mais oito anos no centro do ringue, em Brasília.
> Segundo turno: Casagrande diz que está preparado e vai buscar apoios
Meneguelli: “Os humilhados serão exaltados”
Protagonista da maior novela pré-eleitoral do Espírito Santo, o ex-prefeito de Colatina, em sua controversa entrevista a esta coluna no início de junho, disse não ter nada de conservador. Mas é católico e poderia citar a Bíblia: “Os humilhados serão exaltados”.
Preparou-se para ser candidato a senador. Foi impedido pelo próprio partido, em uma operação estranhíssima cuja autoria, até hoje, ninguém reivindicou. Fato é que Erick Musso ficou com a candidatura dele ao Senado pelo Republicanos, enquanto a ele só restou descer dois patamares e buscar uma vaga na Assembleia.
Agora está aí, como o candidato a deputado estadual mais votado da história do Espírito Santo. Aliás, trucidou o antigo recorde, estabelecido por Guerino Zanon em 2006. Naquele ano, Guerino obteve 65.704 votos. Meneguelli obteve simplesmente mais que o dobro dessa marca: 138.523 votos.
Com seu estilo “digo o que penso, critico mesmo e não faço joguinho político”, promete falar e dar muito o que falar da tribuna da Assembleia. Na ausência de Majeski, este outro Sérgio tem tudo para virar o novo foco de independência da Casa, mas num estilo, digamos, mais popular.
Em tempo, a operação que removeu Meneguelli da disputa ao Senado provavelmente foi decisiva para o retorno de Magno ao Senado. Para reflexão.
Camila Valadão: enfim chegou lá
Em 2018, a assistente social passou perto: ficou entre os 30 candidatos a deputado estadual mais votados individualmente, mas não conseguiu se eleger porque a chapa do Psol era fraca. Agora como vereadora de Vitória, Camila enfim chega à Assembleia, com a 4ª maior votação, em um triunfo que pode ser considerado histórico por dois motivos.
Com 52.221 votos, pela chapa da Federação Rede/Psol, Camila se torna a mulher mais votada para o cargo na história do Espírito Santo, superando Sueli Vidigal (PDT), que em 2002 obteve 36.500 votos. Além disso, torna-se a primeira deputada estadual do Psol eleita no Espírito Santo – após já ter se tornado a primeira psolista eleita pela sigla para qualquer mandato eletivo no Espírito Santo, ao chegar à Câmara de Vitória em 2020.
> Bancada capixaba terá 50% de deputados federais novatos
Helder: a oposição se pagou
Na convenção do PT, realizada no dia 4 de agosto, Helder Salomão avisou à imprensa: “Minha votação vai crescer”. O ex-prefeito de Cariacica apostava no fato de ter sido, no atual mandato, dos dez deputados federais do Espírito Santo, o único que fez oposição ao governo Bolsonaro. Sua confiança tinha motivo e sua previsão se cumpriu.
Com 120.337 votos, foi o federal mais votado do Estado. Na próxima legislatura, ele continuará em minoria (só não se sabe se na bancada do governo Lula ou de oposição ao governo Bolsonaro): a bancada capixaba eleita continua com perfil predominante de direita. Mas ao menos Helder agora terá companhia: a presidente estadual do PT, Jack Rocha, que teve 51.317 votos e a quem ele ajudou a “puxar”.
João Coser: volta por cima
Desde que encerrou sua bem avaliada administração em Vitória, em 2012, o maior líder do PT no Espírito Santo estava sem mandato. Nesse período, perdeu as eleições para o Senado em 2014, para a Câmara em 2018 e para a Prefeitura de Vitória em 2020.
Agora, o deputado que ajudou a escrever a Constituição Estadual em 1989 volta para a Assembleia, em grande estilo: como o 3º candidato mais votado. Para muita gente, pela experiência e pela antiga relação de confiança com Casagrande (além da parceria do PT com o PSB), o ex-prefeito retornará à Casa cotado para disputar a presidência da Mesa Diretora em fevereiro de 2023. Isso, é claro, em caso de vitória do governador sobre Manato no 2º turno. Do contrário, deve ir para a oposição.
> Dos 30 deputados estaduais, apenas 14 são reeleitos
PT: vitória parcial, com gosto amargo
Nas urnas, o desempenho no Espírito Santo não foi propriamente excelente. Lula, como vimos, teria perdido a eleição em 1º turno para Bolsonaro. Mas, para quem já quase beijou a lona, sair das cordas e poder respirar já é uma vitória e tanto. Em número de mandatários, o PT hoje no Espírito Santo tem uma presença pífia para um partido do seu porte nacionalmente: uma deputada estadual (Iriny Lopes), um deputado federal (Helder Salomão) e, simplesmente, nem um prefeito sequer.
O resultado eleitoral deste domingo (2) pode ser o marco zero, a mola propulsora para um processo de reascensão política. Primeiro, porque o PT conseguiu aumentar a sua bancada na Assembleia de um para dois representantes. João Coser foi o 3º mais votado, enquanto Iriny foi a 6ª, com 36.720 votos.
Segundo e mais importante, porque o partido conseguiu dobrar a sua presença na bancada capixaba na Câmara dos Deputados, tendo feito inclusive o candidato mais votado para o cargo (Helder), além de Jack Rocha.
Mas, para realmente terem chance de se reerguer no Espírito Santo nos próximos anos, os petistas dependem fundamentalmente das vitórias de Lula contra Bolsonaro e de Casagrande contra Manato no 2º turno. No segundo caso, o partido tende a ter algum protagonismo em um novo governo Casagrande. E, na soma desses fatores, poderá voltar a se fortalecer visando às eleições municipais de 2024.
Arnaldinho e Euclério
Os dois prefeitos da Grande Vitória conseguiram eleger seus candidatos. Euclério (UB) declarou apoio a seu parente e e-assessor Denninho Silva (UB) para estadual e a seu ex-secretário de Governo em Cariacica, Messias Donato (Republicanos), para federal. Os dois triunfaram.
Destaque ainda maior para Arnaldinho Borgo (Podemos). Fazia tempo que não se via um prefeito empenhar-se tanto e de maneira tão pessoal na campanha de um aliado como fez o de Vila Velha para seu vice-prefeito, Dr. Victor Linhalis (Podemos), tratado até no jingle de campanha como “o federal do Arnaldinho”. Por outro lado, seu candidato a estadual, Anadelso (também do Podemos), não chegou à Assembleia.
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