Coluna André Andrès
Vinhos de supermercado: prove sem preconceito
Antes tratado com menosprezo, os chamados vinhos de supermercado ganham cada vez mais diversidade e qualidade. Linha Doña Dominga é prova disso

Setor de vinhos em supermercado: algumas regras simples podem ajudar na hora da escolha do rótulo. Foto: redes sociais
O ano era 1999. Jean Paul Gaultier fazia mais um de seus aclamados desfiles na Europa. Desta vez, as novidades não estavam apenas nas criações do estilista francês. Modelos traziam nos pés uma peça conhecida dos brasileiros, surgida no início dos anos 1960, muito querida, bastante popular, mas ainda em busca de sua real valorização. As Havaianas começavam ali uma mudança, consolidada desde então: sem deixar de ser popular, a marca também passou a ser aceita em ambientes sofisticados. Não é caso único, lógico. Antes restritas a ocasiões informais, camisetas viraram quase um uniforme no mundo corporativo. São “simples e modernas”. Com os vinhos de supermercado aconteceu algo parecido. Antes tratados com um certo menosprezo, eles hoje podem significar produto de qualidade, muitas vezes com a vantagem de ter bom preço. E a variedade só cresce.
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De Almadén a Almaviva, nas prateleiras dos bons supermercados é possível encontrar de tudo. Desde vinhos populares até as principais linhas de chilenos, argentinos, portugueses, australianos… Tem para todos os gostos e bolsos. Muitas vezes, as vinícolas produzem rótulos específicos para os supermercados. Trata-se de uma questão comercial, de diferenciação dos vinhos vendidos em restaurantes. É uma prática adotada, inclusive, por produtores tradicionais, como a grande Casa Silva, uma das mais premiadas vinícolas do Chile. De lá saem os rótulos da linha Doña Dominga, comercializados no estado pelas redes Extrabom e Extraplus.
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A degustação do Doña Dominga

O Doña Dominga Merlot Gran Reserva: ótimo custo-benefício e vendido em rede de supermercado. foto: André Andrès
Dias atrás, o Doña Dominga foi a base de uma degustação no restaurante Balthazar, na Praia do Canto, em Vitória. Foram provados o Rosé Reserva, para abrir os trabalhos, o Carménère e o Merlot, ambos Gran Reserva safra 2022, e o D6 2019, um blend bastante saboroso. A principal característica dessa linha é o custo-benefício. Quando se usa essa expressão, normalmente se pensa em algo barato. É um equívoco. Um vinho de bom custo-benefício é aquele com uma qualidade notadamente superior ao seu preço (ou um preço inferior à sua qualidade). Sob essa lógica, uma garrafa pode custar R$ 150 e ter qualidade equiparada a de outras, bem mais caras.
O catálogo do Doña Dominga é extenso. Começa com vinhos de entrada, a partir de R$ 35, até o D6, em torno de R$ 200. A linha Gran Reserva estava sendo vendida, em promoção, por R$ 59. Um preço bem vantajoso diante da qualidade oferecida pelos tintos provados na noite da degustação. São vinhos bem feitos, sem exageros nos taninos, no álcool e muito menos no valor. Equilibrados, gostosos, fáceis de beber. Seu sucesso é medido em carregamento: a rede responsável pela comercialização vende 13 contêineres por ano no estado. Convenhamos, é muito vinho.
Tendência e consolidação
Os vinhos produzidos pela Casa Silva, vendidos com um rótulo alternativo, só confirmam uma tendência cada vez mais consolidada nas redes de supermercado: a ampliação da oferta, para atender tanto quem deseja algo mais descompromissado, para o dia a dia, quanto aqueles interessados em um produto mais complexo, estruturado. É um salto de qualidade, sem dúvida alguma, perseguida ao longo dos últimos anos. É a união do simples e do sofisticado. Não sei, não. Mas Jean Paul Gaultier aprovaria…
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