Coluna Inovação
Coluna Inovação | A bola de ferro nos pés do Brasil
Além dos salários, Custo Brasil explica a dificuldade das empresas em contratar. Soluções exigem reformas estruturais e investimento em produtividade

Em um país com custo Brasil elevado, máquinas substituem humanos para compensar baixa produtividade. Foto: Freepik
Empresas não conseguem contratar pessoal. Quando isso é exposto nas redes sociais logo o comentário aparece: é só pagar mais que aparece quem queira ser contratado. Será verdade? Não é só pelo salário. Muitos não querem mais se submeter a horários, chefes, dificuldades de trânsito ganhando pouco se podem fazer um bico e ganhar mais apesar de comprometer o futuro. E como faz para pagar mais sem repassar o custo para o produto ou serviço, considerando que o consumidor não queira pagar? Só tem uma saída: aumentar a produtividade. Fazer mais com menos ou os mesmos recursos. Uma parte do problema está na mão do empresário: gerir melhor processos e pessoas. A maior parte, porém, fica por conta do custo Brasil. Que bicho é esse? A CNI definiu esse indicador como a despesa adicional que as empresas nacionais enfrentam para produzir localmente, comparada à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Inúmeros são os exemplos dos diferenciais de custos de se produzir no Brasil em relação a outras economias concorrentes da OCDE: o contencioso administrativo tributário no Brasil equivale a 25,8% do PIB, ante 0,28% da média da OCDE; o tempo gasto para pagar impostos aqui corresponde a 1.501 horas, muito superior às 164 horas da média da OCDE; por sua vez, o custo logístico no Brasil foi estimado em 11,6% do PIB, três pontos percentuais acima da média da OCDE. Ainda, no Brasil, tem-se 27.957 processos trabalhistas por milhão de habitantes, ante 3.486 na média da OCDE. E tem os juros nas alturas, o custo da segurança, a insegurança jurídica, a educação precária.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Para se defender da concorrência de fora do país, que não tem essa bola de ferro amarrada nos pés, a indústria pede proteção tarifária e com isso fica restrita ao mercado interno que representa não mais de 2% do mercado mundial, sem escala e sem incentivo para competir no mundo. Os 98% ficam lá fora, inacessíveis.
E mais essa agora de não ter gente para contratar. O empresário é um herói mesmo. E tem gente que acha que empresário não é trabalhador.
A consequência natural para a falta de mão de obra e para aumentar a produtividade acaba sendo a automação de todo jeito, o que é uma coisa estranha em um Brasil com tanta carência social, mas inevitável.
A redução do custo Brasil passa por reformas que têm sempre adversários e redução de juros que dependem da redução de gastos do governo que logo alguém acha que é para reduzir no social e não nos desperdícios. Depende de fazer concessões de infraestrutura para a iniciativa privada e logo aparecem os que não sabem fazer contas e acham que o governo gerenciaria melhor. A ignorância confunde concessão de parques com privatização do espaço público, concessão de saneamento com prejudicar os pobres, licitação de poços de petróleo com perda de soberania nacional, concessão de administração de escolas com privatização da educação e depois dizem que os juros estão altos por causa da ganância da Faria Lima. Assim fica difícil. E ainda nos perguntamos porque a Coreia se desenvolveu mais que o Brasil. Vamos então automatizar tudo logo e pelo menos acompanhamos um pouco o que acontece na tecnologia no mundo.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.
