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Coluna Vitor Vogas

Por que Erick Musso desistiu do governo para disputar o Senado?

Cavalo de pau do presidente da Assembleia engoliu a candidatura de Meneguelli e já entrou para a história das eleições no Espírito Santo. Coluna explica as reais motivações e o raciocínio estratégico de Erick e de seus aliados

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Iniciativa é do deputado Erick Musso. Foto: Tati Beling

Deputado Erick Musso agora é candidato a senador pelo Republicanos. Foto: Tati Beling

Num cavalo de pau daqueles de entrar para a história das eleições no Espírito Santo, o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, desistiu de concorrer ao governo do Espírito Santo para ser candidato ao Senado, com o apoio do União Brasil, do deputado federal Felipe Rigoni, agora candidato à reeleição.

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Com esse movimento, Erick passará a ocupar, no tabuleiro eleitoral capixaba, a casa até então preenchida pelo ex-prefeito de Colatina Sérgio Meneguelli. Agora, em vez de ser candidato a senador, Meneguelli disputará uma cadeira de deputado estadual pelo Republicanos.

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Republicanos, União Brasil, PSC e Patriota formarão uma coligação válida somente na eleição para o Senado, em torno de Erick, e não terão candidato a governador.

Como entender o cavalo de pau histórico de Erick? É o que passo a explicar.

Em primeiro lugar, para compreendermos a operação do presidente da Assembleia, é preciso ter em mente o seguinte: todo o meio político capixaba sabia desde o início – e o próprio Erick na certa tinha consciência disso – que, se insistisse em manter a candidatura ao governo, ele estaria entrando numa disputa suicida. Estou falando não apensas de suicídio eleitoral, mas talvez de suicídio político com desdobramentos pós-eleitorais.

Erick agregou o apoio de dois partidos pequenos (o PSC e o Patriota) e de algumas entidades de igrejas evangélicas. Mas sua pré-campanha ao governo em momento algum empolgou, muito menos deslanchou, o que se traduzia plenamente nos números muito tímidos atingidos por ele em pesquisas eleitorais que chegaram ao conhecimento público (3% das intenções de voto, na melhor hipótese, contra mais de 40% do governador Renato Casagrande).

Além disso, assim como Rigoni – na verdade, mais até que o deputado federal –, Erick entrou na pré-largada da corrida ao Palácio Anchieta destilando críticas ao governo Casagrande. Em entrevista à coluna, apresentou-se sem titubear como candidato de oposição ao governador socialista.

Tivesse se mantido na disputa, para preservar a mínima coerência, ele só poderia fazer uma campanha de oposição ao atual governo… o que poderia custar-lhe caro num futuro próximo, após a abertura das urnas, em caso de reeleição do atual governador.

Ficando na corrida ao Palácio, Erick teria que assumir o risco de uma campanha cara para o Republicanos (partido que, como é notório, prioriza a eleição de deputados federais), sem a mínima chance de vitória e que, do ponto de vista político, poderia trazer-lhe muitos dissabores e revezes após a eleição.

Erick não só ficaria pelo menos dois anos ao relento, sem a proteção legal de um mandato, como poderia ter que suportar os “ventos revanchistas” que poderiam sopram da Cidade Alta.

Só para citar um exemplo, como presidente da Assembleia, ele ainda terá contas de exercícios financeiros a serem apreciadas pelo plenário do Tribunal de Contas do Estado, onde, como não é segredo para ninguém, o governador tem antigos aliados indicados por ele no rol de conselheiros.

Por intermédio de aliados, Erick jogou a toalha e realizou uma recente reaproximação política com o governo Casagrande. Apesar das críticas do presidente da Assembleia – nunca desrespeitosas, como o próprio governo avalia –, essa ponte entre eles nunca foi dinamitada. Como sempre, um dos mediadores do acordo de não beligerância entre os chefes dos dois Poderes foi o vice-presidente da Assembleia e aliado em comum, Marcelo Santos (Podemos).

Concorrendo ao Senado, Erick ficará mais leve para fazer uma campanha sem críticas diretas a Casagrande. E, perdendo ou ganhando, não será acossado, muito menos perseguido por ninguém após o pleito.

Esse é um ponto.

Vai que ele surpreende?

No cálculo de Erick, também pesou o seguinte: trocar o governo pelo Senado pode não só ser uma saída estratégica e honrosa para ele… Pode ser, na melhor hipótese, um modo de trocar dois pássaros voando por um na mão.

Concorrendo ao governo, ele só tinha a perder: estava condenado a fazer feio nas urnas.

Já disputando o Senado, há esperanças para ele.

Na pior hipótese, ele “cai para cima”: não leva a única vaga em disputa, mas se projeta bem, como nunca antes, perante o eleitorado capixaba. Com o tempão de TV do União Brasil, somado ao do Republicanos, do PSC e do Patriota, ele poderá se apresentar devidamente e ganhar visibilidade aos olhos da massa de capixabas que até hoje ignoram sua existência. Se perder, mas não fizer feio, pode até se projetar para eleições futuras.

Já na melhor hipótese, vai que Erick realmente acaba beliscando essa vaga no Senado? Seria tão absurdo acreditar que isso é possível? Hoje, não me parece. É uma aposta alta, mas vai que…

A aposta na queda de Ramalho e no desgaste de Magno e Rose

Apurei que a decisão de Erick e sua guinada estratégica também passaram por uma aposta que ele e seu grupo já vinham fazendo: a aposta na implosão da pré-candidatura ao Senado do coronel Alexandre Ramalho (Podemos).

A decisão de Erick já está tomada, independentemente do destino de Ramalho. A provável queda do coronel não é uma condição para o novo projeto de Erick… mas, se confirmada (como de fato tende a ser), pode ajudá-lo consideravelmente.

O grupo político de Erick está apostando na retirada de Ramalho. Se o ex-secretário realmente ficar fora da corrida ao Senado, abre-se, em tese, para Erick, uma pista que ele pode percorrer e um filão que ele pode explorar.

No momento, os principais concorrentes ao Senado na disputa são a senadora Rose de Freitas (MDB) e o ex-senador Magno Malta (PL), dois veteranos da política capixaba, cada um com mais de 30 anos de rodagem e de mandatos acumulados.

Se Ramalho entrasse na disputa, teoricamente, poderia dar trabalho para os dois, apresentando-se como “novidade política”, jamais testado nas urnas, atraindo a atenção e os votos dos eleitores ansiosos por renovação política.

Sem Ramalho no páreo, Erick pode tentar preencher esse vácuo, apresentando-se ao eleitorado capixaba como a “terceira via”, a “novidade eleitoral”, a verdadeira “alternativa” a quem está cansado de Magno e Rose.

Aos 35 anos de idade – completados no mês de fevereiro –, Erick não é propriamente uma novidade política, aliás pelo contrário. Tendo começado muito jovem a sua ascensão política como vereador em Aracruz, vem emendando mandatos há uma década. E, só na presidência da Assembleia, já leva quase seis anos.

Mas, em primeiro lugar, essa informação passa ao largo do conhecimento de grande parte do eleitorado, que só deixa para pensar em política no período eleitoral (ou até no dia de ir votar, mais ainda no caso do Senado).

Além disso, juventude ele com certeza tem: com 35 anos recém-completos, acaba de atingir a idade mínima exigida pela Constituição Federal para que um cidadão brasileiro possa disputar o cargo de senador. Difícil encontrar um candidato ao Senado mais jovem que ele.

Como se não bastasse, a parceria eleitoral que ele acaba de firmar com Rigoni (outro jovem, de 31 anos) pode ajudar a conferir à campanha de Erick ao Senado o frescor e a ideia de “novidade” que ele pretende transmitir ao eleitorado.

Pressupondo a ausência de Ramalho, ele fica livre para desfilar sozinho por esse filão.

Mudança de planos agrada aos deputados “Casamusso”

A mudança de planos de Erick é obviamente muito boa para ele. Não chega a ser o fim do mundo para Sérgio Meneguelli, já conformado em disputar uma das 30 vagas de deputado estadual. Para o governo Casagrande, é certamente interessante, pois o governador se livra de mais um oponente antes mesmo da largada – aliás, Erick e Rigoni “morrem” abraçados na pré-largada –, o que aumenta as suas chances de vitória até no 1º turno.

Mas a guinada é boa, acima de tudo, para aqueles cerca de 20 deputados estaduais que são, ao mesmo tempo, apoiadores do presidente da Assembleia e integrantes da base de Casagrande. Fiéis ao governo (e às suas muitas benesses), eles não poderiam apoiar Erick na eleição ao Palácio Anchieta, por mais que sejam aliados também dele nas questões internas da Assembleia.

Agora, com Erick deslocado para a disputa ao Senado, há quem aposte que, de saída, cerca de 15 deputados passarão automaticamente a apoiar a reeleição de Casagrande ao governo e a campanha de Erick para o Senado.

De quebra, esses parlamentares poderão levar para a campanha de Erick os inúmeros prefeitos e vereadores dos respectivos redutos eleitorais. Muitos destes são bem relacionados com Rose e podem ter pré-compromisso de apoiar a reeleição da senadora. Mas, com a ajuda de seus deputados aliados, Erick pretende disputá-los.

“Muitos deputados da base governista que teriam dificuldade em apoiar Erick para o governo vão aderir tranquilamente à campanha dele ao Senado. Somados, esses deputados têm enraizamento por todo o Estado. Erick ganha musculatura eleitoral e, por osmose, recebe o apoio de vários prefeitos. Muitos deles iriam com Rose, mas iriam porque Erick não estava postulando o Senado. Esse é o verdadeiro ‘desce ganhando’. Ele desceu para ganhar”, sintetiza um forte aliado do agora candidato a senador.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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