Coluna Vitor Vogas
As indiretas de Rose para Magno: “Não vou deixá-lo sentar naquela cadeira”
Na convenção do PSDB em Vitória, senadora mostrou que entra na campanha à reeleição disposta a polarizar com o ex-senador. Falou em “homem preguiçoso”, que “já passou por lá e não trouxe um tijolo” para o ES. Veja outras declarações e os bastidores da convenção tucana

Rose de Freitas e Magno Malta
A senadora Rose de Freitas (MDB) mostrou, na noite desta quinta-feira (28), que entrou com tudo na campanha pela reeleição, com a estratégia clara de polarizar com Magno Malta (PL) pela única vaga em jogo do Espírito Santo no Senado. Rose roubou a cena durante a convenção do PSDB, no Centro de Convenções de Vitória, evento em que recebeu a confirmação formal do apoio dos tucanos à sua reeleição. Em seu discurso, sem citar Magno Malta, a senadora disferiu uma série de indiretas endereçadas ao ex-senador – como há de concordar qualquer um que conheça minimamente o contexto político capixaba.
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A uma plateia empolgada, ao lado de líderes tucanos no palanque, Rose explicou por que decidiu lutar por um novo mandato. Disse que atendeu a “um pedido especial” quando “mexeram com sua honra” e quando viu que seu atual assento no plenário do Senado pode vir a ser ocupado por “alguém que já passou por lá” e não trouxe nada, nem “um tijolo”, para o Espírito Santo.
“Eu tive um pedido especial quando eu vi a minha honra invadida por alguém que, em vez de disputar o voto, quer achincalhar a minha vida pessoal. Depois de 40 anos na vida pública, eu tenho que encarar, pagar advogado, para falar que a casa em que eu moro há 40 anos é minha. Eu construí, tijolo a tijolo. É porque mexeram com a minha honra. Mais do que isso: porque, quando eu vi que poderia se sentar na cadeira do Senado Federal alguém que já passou por lá e não trouxe um balão, um tijolo, um remédio, um equipamento, ou visitou um hospital para saber como é que o povo é tratado”, discursou a senadora.
Magno foi senador pelo Espírito Santo por dois mandatos, de 2003 a 2018, perfazendo 16 anos consecutivos no Senado. Em 2018, ao tentar emendar um 3º mandato, perdeu a eleição para Fabiano Contarato (PT) e Marcos do Val (Podemos), ficando em 3º lugar.
Tornando à carga, Rose alertou para “a possibilidade de voltar pra lá […] alguém que não quer saber do povo do Espírito Santo e também não respeita mulheres”:
“Quando falaram que a possibilidade de voltar pra lá era alguém que não quer saber do povo do Espírito Santo e também não respeita mulheres, eu decidi, pedi desculpa ao meu filho, pedi à minha filha, arregacei estas mangas, estou na rua e não vou deixá-lo sentar naquela cadeira e não honrar o meu estado! Estou disposta!”
No arremate do discurso, sempre sem citar nomes, Rose insinuou que o ex-senador não seria muito dado a trabalhar.
“Em nome do Brasil e do estado que eu tenho que honrar e respeitar, eu estou na luta, estou com o pé na estrada, e vamos fazer um milhão de votos outra vez pra tirar um homem preguiçoso que quer sentar naquela cadeira!”
Segundo a senadora, enquanto valores importantes estiverem em risco, ela não se aposentará da política e da disputa de mandatos eletivos.
“Em qualquer idade, não espere que eu vá pra casa colocar um bom chinelo, uma boa música, quando estão em risco coisas valiosíssimas: democracia, liberdade, justiça social e emprego.”
Rose tem 73 anos e enfileira mandatos no Congresso Nacional desde os anos 1980. Como deputada federal, participou da Constituinte em 1988. Depois, exerceu uma série de mandatos na Câmara, até que, em 2014, pelo MDB, elegeu-se senadora. Por quatro anos, até 2018, dividiu a bancada capixaba com Magno e com Ricardo Ferraço (PSDB).
As decisões oficiais do PSDB
Ricardo, por sinal, esteve ao lado de Rose no palanque, elogiou muito a senadora e manifestou publicamente o seu apoio à reeleição da emedebista. Com o governador Renato Casagrande (PSB), os dois formarão a chapa majoritária da situação no Espírito Santo: Casagrande concorrendo à reeleição, Ricardo como candidato a vice-governador e Rose como candidata a senadora. É a chapa R3.
Esses serão os nomes apoiados não só pelos respectivos partidos, mas por todas as siglas integrantes da coligação majoritária liderada por Renato Casagrande.
A convenção estadual do PSDB foi prestigiada pelo presidente nacional do partido, o ex-ministro Bruno Araújo, de Pernambuco. Ele levou o apoio da direção nacional da agremiação a Rose, Ricardo e Casagrande.
Além de Rose, Ricardo e Araújo, o palanque do PSDB foi composto pelo presidente estadual da sigla, Vandinho Leite (candidato à reeleição na Assembleia), pelo deputado estadual Emilio Mameri (também aspirante à reeleição) e por quatro candidatos a deputado federal do partido: o deputado estadual Sergio Majeski, o ex-prefeito de Vila Velha Max Filho, a ex-vereadora de Vitória Neuzinha de Oliveira e o presidente da Câmara da Serra, Rodrigo Caldeira.
Na convenção, o PSDB estadual homologou a candidatura de Ricardo a vice-governador, o apoio a Rose para o Senado, o apoio a Casagrande para o governo e o ingresso na coligação do PSB e do MDB, entre outras siglas, tanto na eleição para o governo como para o Senado.
Participando da convenção nacional do seu PSB em Brasília, o governador, que é secretário-geral do partido no país, foi representado pela primeira-dama, dona Virgínia Casagrande.
“Não foi para o Magno”
Após a convenção, em breve entrevista à imprensa, Rose negou que suas alusões no discurso tenham sido dirigidas a Magno ou a alguém em específico:
“[Eu me referi a] qualquer homem preguiçoso que chegar. Qualquer um que ache que ser político é só um cargo. Não falei de ninguém. Tem muitos candidatos. Não foi direcionado a ninguém. Não vou estabelecer polêmicas. Não foi para o Magno. Não foi para o Erick. Não foi para o Serginho [Meneguelli]. Não foi para ninguém.”
Mas foi. Ela disse “voltar pra lá”, “já passou por lá”… Todos os presentes entenderam.
Troca de guarda
Durante a convenção, também foi formalizada a troca temporária de comando do PSDB no Espírito Santo. O diretor de Taquigrafia da Assembleia, Oziel Andrade, até então vice-presidente, assumiu a presidência estadual interinamente no lugar de Vandinho Leite, que se licenciou do cargo para se dedicar à própria campanha pela reeleição na Assembleia.
Max Filho federal
Negando rumores, Max Filho garantiu à coluna que será mesmo candidato a deputado federal e não “descerá” para estadual. Max opinou, porém, que o PSDB só conseguirá eleger um deputado federal. O mercado político dá por certa a eleição de Sergio Majeski, cotado para ser um dos campeões de votos para o cargo…
Assim, Max terá uma missão árdua e, das duas, uma: ou realmente acredita ser capaz de superar a votação de Majeski ou está resignado a pedir votos para si para ajudar a chapa do partido a eleger o professor. A conferir.
Rose sobre Majeski: “Tô até com medo dele”
Em seu discurso à militância do PSDB, Rose também provou que sabe como entreter uma plateia. Contou causos engraçados e levou o público às gargalhadas em dois momentos. Antes de ela subir ao palanque, Rodrigo Caldeira discursou e cumprimentou os colegas, um por um. Na vez de saudar Majeski, o vereador brincou com o fato de o deputado ter sido o campeão de votos para a Assembleia em 2018: “Majeski, pocador de urnas!”
Aí, quando chegou a vez de Rose cumprimentar Majeski, ela gracejou: “Como é mesmo? Poca o quê?!? Tô até com medo dele…”
“Dá um desconto, dona Julinha…”
Ao falar sobre sua experiência na vida pública, Rose contou uma bela anedota:
“Eu tava em Cariacica dando ordem de serviço para calçamento de uma comunidade. E aí todo mundo cantando parabéns para dona Julinha, uma moradora que estava fazendo 82 anos. Ela perguntou: ‘Você é Rose?’. Eu falei: ‘Sou’. E ela: ‘Eu lembro de você desde que eu era pequenininha’. Mas eu falei: ‘Dona Julinha! Dá um desconto aí, dona Julinha… Vamos cantar parabéns! Dona Julinha está fazendo 82 anos e eu, 110’.”
O público explodiu em gargalhadas.
Rose versus Vandinho
Pegando na mão de Vandinho Leite, Rose admitiu para a plateia: “Nós já brigamos muito, eu e Vandinho, vocês não imaginam… Mas nós estamos de bem! E estamos juntos nesta luta.”
Simone ou Lula?
Perguntei a Rose se, na eleição presidencial, ela vai apoiar a candidata do seu partido, Simone Tebet (MDB), ou o ex-presidente Lula (PT). “Ainda não me decidi”, respondeu a senadora.
No último dia 15, Rose recebeu Simone Tebet em um ato de pré-campanha em Vitória. No dia 18, porém, participou, em São Paulo, de uma reunião com Lula, com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e com outros líderes regionais do MDB, como os também senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM). Este último disse à imprensa que todos ali apoiariam Lula. É a ala lulista do MDB.
Suplentes da senadora
Também perguntei a Rose se o PT pode indicar seu primeiro suplente. “Não vou te responder isso não”, esquivou-se a senadora. Compreensível: era a convenção do PSDB.
Algumas pistas
Ela afirmou, porém, que está entre três nomes, admitiu que manteve conversas sobre isso com o ex-presidente da Findes Léo de Castro (PSDB) – um dos cotados para a vaga – e pincelou o perfil do suplente que deseja desta vez:
“Eu estou ainda engasgada. Tinha 14 [nomes]. Caiu para nove. Agora caiu para três. Conversei com o Léo de Castro, mas não tive a resposta se ele está disponível para o suplente que a gente deseja, que interaja durante o mandato de várias maneiras, não só para sentar para trabalhar quando eu estiver de licença, mas para participar de todas as discussões que envolvem o mandato.”
Rose quer um suplente atuante, que colabore de fato com o mandato.
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