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Coluna Vitor Vogas

Pesquisa na Serra escancara os dois desafios de Vidigal e Weverson

Levantamento feito pela Futura Inteligência para a Rede Vitória revela que a aposta do atual prefeito precisa crescer (e muito) para além da sombra de Vidigal. Do contrário, até agosto, será necessário acionar o plano B

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Weverson Meireles discursa após ser apresentado pelo casal Vidigal como pré-candidato a prefeito da Serra. Foto: Samuel Chahoud

Encerrando o quarto governo, num total de 16 anos no cargo, Sérgio Vidigal (PDT) tinha tudo para buscar emendar um quinto mandato como prefeito da Serra. Mas desta vez, surpreendendo meio mundo, decidiu arriscar um movimento bem mais audacioso. Em março, citando o sentimento de missão cumprida, a doença enfrentada pela primeira-dama Sueli Vidigal (PDT) e o desejo de passar mais tempo com a família, a lenda viva da política serrana anunciou à imprensa e à militância a decisão de não concorrer à reeleição. No mesmo ato, lançou seu chefe de gabinete, o também pedetista Weverson Meireles, como seu pré-candidato à sucessão.

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À aposta ousada de Vidigal, sobrevieram imediatamente dois imensos desafios, os quais o grupo político do prefeito tem, agora, menos de três meses para cumprir. O primeiro é massificar a imagem de Weverson, tornando-o muito mais conhecido pelo eleitorado do município mais populoso do Estado. O segundo é pôr em prática uma delicada – e nem um pouco assegurada – operação transferência de prestígio, capital político e votos do atual prefeito para o pupilo.

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As duas tarefas precisam ser executadas nesta ordem: para Vidigal conseguir transferir sua votação para Weverson, o jovem pré-candidato, de 33 anos, precisa ser apresentado à cidade. Presidente estadual do PDT por três anos e secretário estadual de Turismo em 2023, o fiel escudeiro de Vidigal é muito conhecido no meio político capixaba, mas, para o grande público, é mais um rosto anônimo na multidão.

Pois bem…

Na manhã desta sexta-feira (10), o jornal online Folha Vitória publicou pesquisa eleitoral realizada na Serra pela Futura Inteligência para a Rede Vitória. Os resultados não chegam a surpreender (ninguém esperava um Weverson “bombante” desde o início), mas demonstram que o desafio, para o PDT, é ainda mais difícil do que se poderia imaginar.

O levantamento ainda prova cabalmente que um desafio extra, para Weverson, é conseguir sair da sombra do seu mentor e adquirir luz própria. Em todos os quesitos da sondagem, quem se sai muito bem, obrigado, é o próprio Vidigal, enquanto o protegé do prefeito inicia a sua jornada com números muito tímidos, para não dizer pífios.

Quem hoje entraria no processo em excelentes condições seria o próprio prefeito, enquanto Weverson ainda é uma grande aposta, um projeto em construção. Se a eleição fosse hoje, Vidigal teria chances expressivas de vitória (mas não em 1º turno, de modo algum em 1º turno).

O conjunto de indicadores da pesquisa também revela que outros dois pré-candidatos na Serra, desafiantes de Vidigal e seu grupo, dão a partida em ótima posição: o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP) e o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos) demonstram-se muito competitivos. Se o candidato for Vidigal, darão trabalho; se for Weverson, podem dar ainda mais.

Nas intenções espontâneas de voto – que traduzem basicamente o recall político de cada um –, Vidigal é o mais citado: no universo de 600 entrevistados, 24,5% dizem que votaram nele. Muribeca tem 10,4% e Audifax, 9,0%. Weverson, por sua vez, não chega nem sequer a um dígito: 0,9%. É a prova mais acachapante do que afirmamos acima: o baixíssimo recall com que ele entra nesta corrida.

A Futura também testou dois cenários de intenção estimulada, ambos com nove nomes na cédula apresentada aos entrevistados. A única diferença é precisamente a que mais importa: na primeira, o nome incluído é o de Vidigal; na segunda, o prefeito é substituído por Weverson.

Vale frisar que, dos outros oito nomes nas duas listas, só quatro são de fato pré-candidatos: Audifax, Muribeca, o ex-deputado estadual Roberto Carlos (PT) e o vereador Igor Elson (PL). Os outros quatro – Xambinho (Podemos), Bruno Lamas (PSB), Vandinho Leite (PSDB) e Thiago Carreiro (União Brasil) não são nem serão candidatos a prefeito.

No primeiro cenário, com Vidigal, o prefeito lidera com 35,8% das intenções estimuladas. A vantagem é de 14 pontos percentuais para o 2º colocado, Muribeca, que também já larga muito bem, com 21,8%. O terceiro é Audifax, com 16,7%. Como a margem de erro da pesquisa é de 4,0 pontos percentuais para mais ou para menos, Muribeca e Audifax estão tecnicamente empatados, no limite da margem de erro. Roberto Carlos (2,1%) e Igor Elson (1,1%) largam lá atrás.

Já na segunda simulação, com Weverson no lugar de Vidigal, o pré-candidato do PDT é citado por apenas 1,9% dos entrevistados, em mais uma evidência cabal do muito chão que ainda tem a percorrer. Sem Vidigal no páreo, quem assume a ponta é Audifax, com 27,9%. Em segundo (mas tecnicamente empatado com o ex-prefeito), fica Muribeca, com 24,6%. Roberto Carlos melhora um pontinho, passando para 3,1%, enquanto Igor Elson permanece com a mesma marca: 1,1%.

O mais interessante a notar nessa comparação entre os dois cenários é que, com a ausência de Vidigal, quem mais lucra eleitoralmente é Audifax, que herda a maior parte do espólio de seu arquirrival. Eis um indicativo robusto de que, não obstante toda a rivalidade, os dois possuem eleitorado com perfil parecido, formado possivelmente por aqueles cidadãos que preferem ir no “voto de segurança”, na opção já testada e aprovada, não “trocando o certo pelo duvidoso”. Em outras palavras, ironicamente, muitos dos que votam em Vidigal votam também, sem piscar, em Audifax.

Já na medição da rejeição, em mais uma prova da competitividade de Vidigal, a do atual prefeito pode ser considerada bem baixa para alguém que governou a Serra por incríveis 16 anos: só 18,5% dizem não votar nele de jeito nenhum. A de Audifax (23,0%) também é administrável. A de Muribeca (16,9%) é ainda menor. As de Roberto Carlos (18,1%), Igor Elson (14,4%) e Weverson (14,1%) também estão sob controle. Portanto, nenhum deles começa o jogo eliminado por antecipação.

A Futura testou ainda quatro possíveis cenários de 2º turno: os dois primeiros colocando frente a frente Vidigal com o par Audifax/Muribeca; os outros dois, confrontando Weverson com os dois mesmos adversários. Aqui também dispara o sinal de alerta para o QG na Prefeitura da Serra: a performance do atual prefeito é muito superior à de seu pupilo.

No confronto direto com Audifax, Vidigal hoje derrotaria a sua nêmesis por 49,9% a 30,0%. Contra Muribeca, uma vitória ainda mais dilatada: 56,9% a 31,2%.

Por sua vez, Weverson hoje perderia feio para ambos. Contra Audifax, seria derrotado por 61,2% a 9,5%. Contra Muribeca, por 45,7% a 9,3%.

Vidigal tem plano A e plano B

Como anotamos aqui dois dias antes do anúncio oficial de Vidigal, apresentando Weverson como seu pré-candidato, essa ousada estratégia já nasceu com plano A e plano B – até porque Vidigal é psiquiatra, não louco.

O plano A é apostar tudo em Weverson e no seu crescimento eleitoral até às vésperas do período de campanha, cujo início oficial está marcado para 15 de agosto. O “ponto sem retorno” é a convenção municipal do PDT, a ser realizada entre 20 de julho e 5 de agosto, como determina a legislação eleitoral.

Se até lá Weverson tiver crescido e adquirido musculatura política o bastante para se provar competitivo, bem, ele será de fato o candidato. Para isso, precisa melhorar substancialmente seus índices, chegando em julho num patamar de lançamento que inspire em Vidigal e companhia a segurança de que tem condições de seguir crescendo ainda mais no decorrer da campanha, com a superexposição que ganhará na condição de candidato, o apoio e a onipresença de Vidigal a seu lado e máquina municipal jogando toda a seu favor. Nesse caso, será então colocada em prática a fase dois da operação: a tentativa de transfusão de votos de Vidigal para o seu candidato à sucessão.

Contudo, se assim não for, se Weverson não conseguir melhorar as suas marcas atuais, se chegar a julho magrinho, mirrado, minúsculo… bem, o grupo de Vidigal não terá escolha senão acionar o plano B, a porta de saída, a boia de autossalvação, que nada mais é que o “Protocolo Vidigal”.

No evento em que lançou a pré-candidatura de Weverson, o prefeito declarou à imprensa que não voltará atrás em sua decisão de não concorrer à reeleição. Dois dias depois, em entrevista ao telejornal EStúdio 360, reiterou que não fará isso, pois, segundo ele, seria até um desrespeito à militância para a qual anunciara a decisão.

Ora, se o plano Weverson não vingar e houver risco iminente e comprovado de o PDT perder o poder na Serra, não haverá por que um prefeito em exercício, com legitimidade para pleitear novo mandato e comprovadamente competitivo (vide a pesquisa Futura), simplesmente abdicar da disputa. Independentemente do que ele tenha dito antes, será fácil montar uma narrativa, até com contornos heroicos, para justificar a “desistência da desistência”: “chamado do partido”, “apelo da população”, “vou para o sacrifício pelo bem da Serra, para evitar o retrocesso”, “precisamos concluir a nossa obra” e assim por diante.

Dentro do próprio PDT, não falta quem defenda teimosamente a candidatura de Vidigal, incluindo antigos aliados e até o filho mais velho dele, Eduardo Vidigal, que agora preside o PDT no Espírito Santo no lugar do próprio Weverson.

Os próximos meses prometem, e a evolução de Weverson precisará ser monitorada com lupa.

Ressalva

Por precisão e justiça com todos os pré-candidatos, é imprescindível registrar que houve uma demora considerável, de nada menos que um mês, entre o campo da Futura e a divulgação dos resultados. Reza um surrado ditado no meio político que “pesquisa é o retrato do momento”, mas neste caso não se pode dizer isso.

Os números acima não traduzem o retrato do momento, mas o de um mês atrás, em princípios de abril. Weverson foi anunciado por Vidigal no dia 16 de março. Não teve tempo de se projetar até a realização da consulta. Igor Elson realizou o seu evento de lançamento no fim de abril. Roberto Carlos promoverá o seu nesse sábado (11).

É preciso ter em conta esta ressalva.

Metodologia

A Futura Inteligência realizou 600 entrevistas por telefone assistido por computador, entre 2 e 9 de abril de 2024, com eleitores de 16 anos ou mais.

A pesquisa tem margem de erro de 4,0 pontos percentuais para mais ou para menos e índice de confiabilidade de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número ES-04118/2024.


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