Coluna Vitor Vogas
Análise: quem está de verdade na disputa por vagas(s) na Câmara dos Deputados no ES
Quais partidos com certeza terão chapa completa? Quais provavelmente terão? Quais só por força de um milagre? Um por um, dissecamos as condições reais de cada partido, hoje, no ES

Plenário da Câmara dos Deputados
Este texto é daqueles para guardar e cobrar colunista mais à frente (daqui a pouco mais de um ano, em agosto de 2026): exercício de antecipação. O vaticínio é o seguinte: nas próximas eleições gerais, no Espírito Santo, teremos um número de candidatos a deputado federal sensivelmente menor do que tivemos nas duas eleições mais recentes. Isso será consequência da nossa segunda previsão: poucos partidos, bem poucos, conseguirão efetivamente botar de pé uma chapa completa de candidatos a deputado federal em nosso estado. A disputa real pelas dez vagas da bancada capixaba na Câmara dos Deputados no próximo mandato (2027/2030) ficará circunscrita a poucas siglas.
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Com o sarrafo lá em cima – uma cláusula de barreira bem exigente nas eleições de 2026 –, temos assistido a um fenômeno na política nacional, com repercussão em todos os estados. Praticamente todos os partidos mais importantes do país têm avaliado e negociado a composição de fusões ou federações com outras siglas – simplificadamente, uma união de forças.
Alguns, menores, buscam essa saída por receio de não superar a cláusula de desempenho e, com isso, perder verbas públicas e relevância política a partir de 2027. Outros, de médio ou grande porte, o fazem para não “ficar para trás”, reagindo a movimentos similares por parte de partidos “concorrentes”. No mercado político brasileiro, deflagrou-se uma corrida visando à formação de “oligopólios partidários”.
O Brasil tem muitos partidos registrados no TSE, mas relevantes, relevantes mesmo, há algo em torno de 15. No Espírito Santo, menos. Com a onda de fusões, incorporações e federações, isso tende a se reduzir ainda mais para 2026.
Segundo dados oficiais da Justiça Eleitoral, nas eleições gerais de 2018, o Espírito Santo teve 170 candidatos a deputado federal (uma concorrência de 17 candidatos por vaga). No pleito de 2022, o número subiu para 201 candidatos ao cargo (20 postulantes por vaga). No próximo processo eleitoral, esse número talvez não passe de 100. Se chegar a isso, serão, em média, dez candidatos para cada vaga em disputa. Cem candidatos a federal correspondem a, no máximo, nove chapas completas.
No Espírito Santo, uma chapa completa à Câmara Federal deverá ter 11 candidatos, sendo pelo menos quatro mulheres, em respeito à cota de gênero de 30%. Dirigentes partidários estimam que, para eleger um deputado, uma chapa terá de totalizar cerca de 210 mil votos. Esse tende a ser o quociente eleitoral (número de votos válidos para deputado federal no Estado, dividido pelo número de vagas em jogo). Cabe lembrar que, desde o pleito de 2022, partidos não podem se coligar na eleição para deputados. Cada partido ou federação precisa montar e lançar a própria chapa.
Hoje, com chapa completa 100% garantida, eu diria que só existem três partidos no Espírito Santo. Dois deles são justamente aqueles situados nas duas pontas da polarização ideológica nacional desde que Jair Bolsonaro se filiou ao primeiro: o Partido Liberal (PL), do ex-presidente da República, e o Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Lula. O terceiro é o Partido Socialista Brasileiro (PSB), do governador Renato Casagrande.
No escopo desta análise, os três saem em vantagem sobre os demais porque, neste momento, já reúnem um bom núcleo de pré-candidatos à Câmara muito identificados com as respectivas legendas, que podem ser considerados competitivos e que certamente permanecerão onde estão – isto é, não têm a menor chance de entrar no mercado do troca-troca partidário nos próximos meses, até abril do ano que vem, quando terminará o prazo para filiação de quem vai disputar.
Numa segunda prateleira dentro do quesito “probabilidade”, outros três partidos também têm chances muito elevados de bater uma chapa completa: o União Progressista (resultante da federação do União Brasil com o Progressistas), o Podemos e o Republicanos. Dizendo o mesmo pelo avesso: dificilmente essas três agremiações deixarão de competir com uma chapa completa. A diferença para aqueles do parágrafo acima é que, sobre esses três partidos, ainda pairam algumas incertezas: gente que pode entrar até abril, gente que pode sair… Vale dizer que, no Espírito Santo, as chapas do UP, do Podemos e do Republicanos ainda são um projeto em construção: a montagem ainda precisa ser completada e receber acabamento. Para isso, os dirigentes dos três vão ao mercado.
Num terceiro pelotão, temos um punhado de partidos que, embora bem tradicionais e/ou atualmente pujantes em nível nacional, terão que cortar um dobrado para conseguir erguer uma chapa em condições reais de competir e fazer uma cadeira de federal. Aqui incluo o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o Partido Social Democrático (PSD). Podem lançar chapa completa? Podem. Mas hoje o caminho para cada um deles parece muito difícil. Seria praticamente um começar da estaca zero, ou da “estaca um”, erguendo toda a chapa em torno de um puxador de votos.
Fora isso, quem resta? Partidos hoje bem pequeninos, com pouca expressão política no Espírito Santo. Podem até registrar uma chapa, mas passarão longe da disputa real por uma cadeira na Câmara. O Novo, por exemplo, tende a lançar uma chapa, mas sem a expectativa de chegar nem perto de beliscar um lugarzinho na bancada capixaba. O objetivo, realista, é atingir uma votação total mínima (algo em torno de 40 mil a 50 mil votos) que ajude o partido a superar, nacionalmente, a cláusula de barreira. Outros poderão fazer o mesmo, só para cumprir tabela, com o mesmo objetivo “pés no chão”, cientes de que não têm tamanho para brigar lá em cima, com os grandes.
Abaixo, passamos a analisar detidamente o quadro atual para a montagem da chapa de cada uma das siglas destacadas acima, aquelas que de fato estão na briga pelos dez lugares na bancada federal do ES:
Partido dos Trabalhadores (PT)
Seguramente terá chapa completa, puxada por três candidatos de peso, conhecidos pelos eleitores e atualmente com mandato. Os dois primeiros são os atuais deputados federais Jack Rocha e Helder Salomão. O outro é o deputado estadual João Coser, que tentará voltar à Câmara. Na radiografia do PT, cada um pertence a uma corrente diferente. A partir de setembro, Coser assumirá a presidência estadual do partido no lugar de Jack.
Quanto a Helder, a única hipótese de ele não disputar a reeleição é para ser candidato a governador. Mas tal possibilidade está cada vez mais distante. O próprio deputado já disse que está à disposição do partido se for convocado para a missão, mas que é pré-candidato à reeleição. E, durante a disputa pela presidência do PT-ES, tanto Coser quanto Jack Rocha deixaram claríssimo que tentar chegar ao Governo do Espírito Santo não está entre as prioridades do partido em seu planejamento eleitoral.
Partido Liberal (PL)
Na certa terá chapa completa, baseada, hoje, em três pilares: o deputado federal Gilvan da Federal, candidato à reeleição, o deputado estadual Lucas Polese e o vereador de Vitória Dárcio Bracarense. Os três têm a cara do bolsonarismo no Espírito Santo: são visceralmente antipetistas (e radicalmente contrários à esquerda em geral); defendem com unhas e dentes o ex-presidente, seus ditos e feitos.
Um quarto pilar, em tese, pode reforçar a chapa: Wellington Callegari. Contudo, o deputado estadual de Vargem Alta quer ser candidato a senador. Hoje, esse lugar no PL-ES está preenchido por Maguinha Malta, filha do senador Magno Malta, por vontade do próprio, que preside o partido no Estado. Sem espaço para concretizar a aspiração, Callegari tem flertado com outros partidos, como o Novo e o Republicanos.
Partido Socialista Brasileiro (PSB)
O partido no poder no Espírito Santo desde 2019 também tem chapa 100% assegurada. A “sustança” está em um punhado de aliados do governador Renato Casagrande, muito leais a ele, maior líder do partido no Estado desde o fim do século passado. Gravitando em torno de sua liderança estão o deputado federal Paulo Foletto (pré-candidato à reeleição), o secretário estadual de Saúde, Tyago Hoffmann, o presidente do DER-ES, Eustáquio de Freitas, e a secretária estadual de Governo, Emanuela Pedroso. Todos serão candidatos a federal.
Os três primeiros são filiados de longa data ao PSB. Já Emanuela filiou-se neste ano – e assumiu a presidência da legenda em Vila Velha. Ela, Tyago e Freitas têm se valido das respectivas posições estratégicas no Governo do Estado como vitrine para impulsionar suas candidaturas.
União Progressista (UP)
Assim como no resto do país, a federação do União Brasil com o Progressistas (PP) nasce como uma potência, inclusive eleitoral, no Espírito Santo, com boas chances de eleger pelo menos dois candidatos a federal, se mantido o quadro atual. Hoje, filiados a uma dessas duas siglas, a federação tem cinco potenciais candidatos competitivos no Espírito Santo: no PP, os atuais deputados federais Evair de Melo e Josias da Vitória (este, presidente estadual do PP e futuro presidente da federação no Espírito Santo); no União Brasil, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos, o deputado estadual Dr. Bruno Resende, e o secretário estadual do Meio Ambiente, Felipe Rigoni.
Ocorre que o solo em que se fundam as bases dessa chapa é um tanto quanto instável. Dependendo dos futuros movimentos de alguns de seus integrantes, ela pode se esvaziar bastante. Nesse caso, as baixas precisariam ser repostas por outros quadros com musculatura política.
Da Vitória quer ser candidato a senador (apoiando Ricardo Ferraço ao governo), ou até a governador (no lugar de Ricardo), na chapa majoritária do governo Casagrande. Passou a ser considerado pelo próprio governador em suas mais recentes listas de possíveis sucessores.
Evair sonha em se candidatar a senador, mas na superfederação não terá brecha para isso. Já foi até incentivado por Bolsonaro a concorrer ao Senado e, de tão bolsonarizado, é sempre cotado para ingressar no PL. Mas o lugar ali, como vimos, está guardado para Maguinha. Por pragmatismo, Evair pode ficar no PP e concorrer a federal mesmo, ainda que o União Progressista esteja no palanque do governo Casagrande/Ricardo.
Rigoni pode sair do União e tem conversado com outras siglas (entre as quais o Podemos). O mesmo tem feito Dr. Bruno.
Podemos
Provavelmente terá chapa completinha, projeto em andamento nas mãos do deputado federal Gilson Daniel, seu presidente estadual há muitos anos. O próprio Gilson é o centro da chapa, ao lado do outro deputado federal do Podemos na bancada capixaba, Victor Linhalis. Os dois dão a sustentação necessária, mas é preciso reforços. Para isso, Gilson conta com a ajuda do governador Renato Casagrande. O Podemos foi um dos primeiros a embarcar na candidatura de Ricardo. O acordo passa pela filiação de soldados de Casagrande ao partido, para engrossar a chapa. Um deles pode ser Rigoni; outro, Philipe Lemos, antiga paquera do Podemos, hoje em cargo menor na Cesan. Gilson já filiou a ex-deputada federal Lauriete, popular no meio evangélico como cantora gospel.
Existe a possibilidade de Victor Linhalis sair do Podemos. Ele é, hoje, o aliado mais próximo de Arnaldinho Borgo, que saiu do próprio Podemos em março e, desde então, busca um partido que dê guarida à sua pré-candidatura a governador. Para isso, nos diálogos com dirigentes partidários, o prefeito de Vila Velha tem oferecido sua ajuda pessoal para filiar quadros e montar as chapas de deputados – algo em que ele tem experiência e traquejo. Nesse contexto, Linhalis pode mudar de partido, ainda mais se Arnaldinho virar adversário eleitoral de Ricardo (já apoiado pelo Podemos). Mas pode não ser uma boa para “o deputado do Arnaldinho”. Ele pode ficar “vendido”, como único candidato viável em uma chapa fraca, sem chances de atingir o quociente eleitoral.
Republicanos
Presidido no Espírito Santo por Erick Musso, o Republicanos tem sua chapa iniciada com o próprio ex-presidente da Assembleia. Seu desafio é manter e montar o resto. Hoje, o partido conservador tem dois membros na bancada capixaba na Câmara: Amaro Neto e Messias Donato. Este com certeza buscará renovar o mandato. Amaro tende a fazer o mesmo, embora com poder de fogo eleitoral provavelmente reduzido em relação a 2022 e longe do que foi em 2018, devido a seu mandato muito apagado.
Amaro tende a ficar no Republicanos. Difícil mesmo será manter Messias, que é fiel a Deus, à sua igreja evangélica, ao bolsonarismo e a seu padrinho político e prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), por sua vez apoiador de Ricardo Ferraço (MDB), por sua vez adversário do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, por sua vez probabilíssimo candidato a governador pelo… Republicanos.
Sem perder tempo, Erick já tem ido ao mercado. “Contratou” o passe da ex-deputada federal Soraya Manato (hoje no PP), que será candidata ao mesmo cargo pelo Republicanos (ajudando o partido, ainda, a cumprir a cota de gênero), após ter sido nomeada secretária de Assistência Social na gestão de Pazolini em Vitória. Movimento parecido foi conduzido com o Coronel Alexandre Ramalho, agora secretário de Meio Ambiente de Vitória. Para assumir o cargo, ele saiu do PL. Na certa será candidato a deputado pelo Republicanos – a princípio a estadual, mas pode subir para federal.
No entanto, o Republicanos e toda a montagem da sua chapa são um daqueles casos sobre os quais paira um grande asterisco: a possibilidade real de federação com o MDB. A proposta tem sido discutida à vera pelos respectivos caciques nacionais. Caso se concretize, com replicação obrigatória nos estados, será esse, como já sustentado aqui, o movimento de cima para baixo com o maior potencial para bagunçar o tabuleiro eleitoral do Espírito Santo. No Republicanos está Pazolini e sua candidatura ao Anchieta; no MDB está abrigada a de Ricardo Ferraço (aliás, presidente estadual da legenda). Com qual lado ficaria o comando dessa possível federação em plagas capixabas? A resposta pode importar desfiliações e baixas na chapa, de um lado ou do outro da cerca.
PDT, PSD e MDB
O partido de Sérgio Vidigal (PDT) é um dos mais consistentes aliados do PSB e do governo Casagrande, desde sempre. O filho mais novo de Vidigal, Serginho Vidigal, é pré-candidato a federal. Herdeiro da profissão, do carisma e do capital político do pai, o médico tem tudo para ir bem nas urnas em sua estreia eleitoral. Mas ele sozinho não basta. O filho de Sérgio e Sueli será a espinha dorsal da chapa, mas hoje, fora ele, não há nada (quiçá Philipe Lemos)… O PDT precisará ser socorrido pelo governador e por Ricardo, para conseguir ter chances de brigar por uma vaga. Do contrário, nada feito.
Por sua vez, o PSD está com as portas escancaradas para o deputado estadual Sérgio Meneguelli, “poca-urna” da eleição de 2022 para a Assembleia Legislativa. O ex-prefeito de Colatina está determinado a, desta vez, ser candidato a senador. A única chance, hoje, de o PSD ter uma chapa para a Câmara é se Meneguelli for candidato a federal pela sigla… e olhe lá.
Quanto ao MDB, hoje é muito difícil enxergar o partido de Ricardo Ferraço com uma chapa para a Câmara dos Deputados. Só se a ex-senadora Rose de Freitas for de novo candidata a federal e se o secretário estadual de Recuperação do Rio Doce,Guerino Balestrassi, der um passo adiante. Hoje o ex-prefeito colatinense se diz pré-candidato a deputado estadual… Mas pode, em tese, candidatar-se a federal, no lugar de Paulo Foletto, se este descer um degrau e for candidato a estadual – senão os dois vão brigar pelos mesmos votos em Colatina e adjacências. Eventual chapa do MDB também poderia ser encorpada com ajuda de Casagrande (mas haja bocas para alimentar!).
Sobre o partido de Ricardo Ferraço, vale o mesmo asterisco destacado acima com relação ao Republicanos: se concretizada uma federação entre as duas agremiações, precisaremos voltar à prancheta para redesenhar todo o cenário.
Por exemplo, se a federação do MDB com o Republicanos sair mesmo e o comando no Espírito Santo ficar com Ricardo, o grupo de Pazolini/Erick pode se abrigar em peso no PSD… que então passaria a ter uma chapa em potencial.
