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Coluna Vitor Vogas

“Pazolini é muito diferente”, dizem aliados dele… Por quê?

Por seu comportamento, sua personalidade e seu modo de fazer política, prefeito de Vitória destoaria muito do padrão estabelecido. É tido como uma espécie estranha em uma selva política esquisita. Ouvindo aliados do prefeito, esboçamos aqui um perfil, com 10 traços singulares que explicam por que seus interlocutores o consideram tão “diferente”

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Lorenzo Pazolini em evento da PMV durante o Natal de 2024. Foto: reprodução Instagram

Lorenzo Pazolini em evento da PMV durante o Natal de 2024. Foto: reprodução Instagram

“Pazolini é muito diferente”. Ao longo dos últimos três anos, como colunista de Política do Portal ES360, perdi as contas de quantas vezes ouvi essa afirmativa, com algumas variações. Alguns incluem o advérbio de intensidade: “Pazolini é muito diferente”. Em geral, essas pessoas querem dizer que o prefeito de Vitória é uma espécie rara no ecossistema político capixaba: por seu comportamento, sua personalidade e seu modo de fazer política, destoaria muito da média ou do padrão estabelecido.

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Mas isso diz pouco.

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“Diferente” como? “Diferente” em quê, precisamente? Para tentar entender e explicar melhor o que está contido nesse vago adjetivo, conversei nos últimos dias com algumas fontes que colaboram e convivem de perto com o prefeito na administração de Vitória, na esfera política e/ou na eleitoral. A coluna de hoje é um compilado das explicações colhidas dessas fontes.

Em homenagem a um “parente muito distante” do prefeito, o diretor de cinema italiano Pier Polo Pasolini, divido este miniperfil em dez partes, tal como no “Decameron”. Boa leitura!

1. Republicanismo e princípios muito fortes

Em matéria de política, é difícil pôr a mão no fogo por quem quer que seja. Mas quem conhece Pazolini ficará extremamente surpreso se, no futuro, o nome dele aparecer diretamente envolvido em qualquer suspeita de corrupção, por menor que seja. O prefeito não só é descrito como incorruptível, mas como alguém que tem “tolerância zero” com qualquer mínima hipótese de irregularidade.

Como delegado licenciado, é profundo conhecedor da lei. Como ex-técnico do Tribunal de Contas do Estado, é versado em contabilidade e direito público. Rigorosamente, só age dentro da legalidade. Ninguém nem ousa lhe propor qualquer medida fora das quatro linhas, com “jeitinho” ou “interpretação elástica da norma”, pois já sabe de antemão a resposta: “Isso não dá pra fazer”.

“Ele tem na cabeça princípios dos quais não abre mão. É um líder jovem que está implementando o modelo dele. E o modelo dele não é o de fazer política a todo custo. Ele não é o tipo de cara que topa tudo. Tem coisa que é da política, que é natural acontecer, mas não é aquela coisa escandalosa… ele não topa. Ele é muito coerente e muito correto. A grande questão é conciliar os valores dele, altamente republicanos, com a maneira tradicional de fazer política”, formula um colaborador do prefeito na gestão municipal.

Segundo nossas fontes, Pazolini não pratica o modus operandi da política tradicional. Não é de fazer jogo nem jogada política. Isso o levou muitas vezes, sobretudo na metade inicial do primeiro governo (2021/2022), a ser criticado nos bastidores, por aliados não contemplados em seus pleitos, por supostamente “não fazer política” ou “não gostar de fazer política”. A crítica decorria justamente do estranhamento gerado pela implantação de um novo modelo, fora da lógica do puro “toma lá, dá cá”, como alguns estavam habituados “desde que o mundo é mundo”.

Em vez de se dobrar às pressões, o prefeito normalmente dobra a aposta. Um auxiliar exemplifica: “Se bater nele para ter alguma vantagem, aí esquece! Se um vereador, por exemplo, for à tribuna da Câmara criticar a gestão para conseguir mais cargos na prefeitura, Pazolini não apenas não cede como manda exonerar os que ele tem. Ele dobra a aposta. Não quer nem saber. Ele não topa esse jogo de chantagem, de troca de cargos por apoio”.

2. “Ele não topa politicagem”

A alegação de que Pazolini “não faz política” tem seu quê de verdadeira, se compreendermos “política” nesse caso como aquela política pequena, miúda, comezinha, do varejo político, da negociação direta com os vereadores e líderes comunitários – a qual passa, sim, também na administração de Pazolini, por fisiologismo e loteamento de espaços na máquina pública. Não é que isso não exista por ali. Existe na Prefeitura de Vitória – e há gente especificamente designada para cuidar disso – como existe no Governo do Estado, na Assembleia e nas demais prefeituras.

Também na gestão de Pazolini, cargos comissionados são preenchidos por pessoas indicadas por aliados. Isso ficou evidente, por exemplo, em dezembro passado. Cinco vereadores da base ameaçaram se rebelar na Câmara de Vitória. No dia seguinte, o Diário Oficial trouxe mais de 30 exonerações. Eram comissionados indicados justamente pelos cinco em questão. Foi um exemplo de Pazolini “dobrando a aposta”.

As questões aqui são três. A primeira é que Pazolini se recusa a se envolver pessoalmente nessas negociações. Não “suja as próprias mãos”, não as mergulha na lama… embora tenha quem o faça por ele.

A segunda é que ele não disfarça o quanto esse tema lhe é indigesto (ainda que a prática em si não seja ilegal e que, muitas vezes, seja tida como um “mal necessário” para governar). “Esse tipo de barganha o incomoda muito. Tratar de cargos comissionados com ele é difícil”, diz um colaborador.

A terceira é que o número de cargos comissionados, desde o início do governo Pazolini, foi bastante reduzido na Prefeitura de Vitória. E não houve inchaço após a reeleição.

A “falta de jogo” de Pazolini nesse ponto, ainda mais acentuada no primeiro biênio de governo (2021/2022), levou até aliados do prefeito no Republicanos a se indignarem contra ele em meados de 2023. “Pazolini não é de grupo”, era o que repetiam, a bocca chiusa. O que essa queixa continha, ou dissimulava, era a insatisfação de correligionários com a falta de espaço(s) para eles mesmos na Prefeitura de Vitória. Todos queriam uma cota.

Foi então que o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, precisou entrar em cena para apagar o princípio de incêndio. Pazolini fez algumas concessões. Mais gente do partido assumiu cargos, inclusive secretarias. O prefeito realmente se recusava a cuidar disso e, após a saída do articulador Roberto Carneiro (hoje presidente do Republicanos em São Paulo), não tinha quem o fizesse por ele. Daí em diante, mesmo sem cargo na prefeitura, Erick passou a conduzir, em nome do prefeito, esse tipo de costuras políticas.

No novo mandato, o ex-deputado assumiu o cargo de secretário de Governo. Agora é ele, oficialmente, o encarregado de tocar esse varejo, confiado a ele por Pazolini, enquanto o prefeito pode ficar sossegado e se concentrar em questões mais importantes… como governar a cidade. Sem precisar ver diariamente como a salsicha é feita.

Ele está mais flexível, é verdade. Mas essa flexibilidade vai até aquele limite ditado pela régua dos seus princípios. “Desde que chegou à prefeitura, ele mudou muito. Aprendeu a negociar. Mas negocia em cima daquilo que, na visão dele, são bases republicanas. Ceder para o Legislativo espaço para aparecer em projetos? É razoável. Negociar para abrir espaços para vereadores na prefeitura? Ele não gosta…”, exemplifica outro colaborador.

3. Ele não é da articulação política

Não é só o “varejão político” que Pazolini delega a Erick Musso. O presidente estadual do Republicanos assume, em nome do prefeito, toda a parte – fundamental para quem quer chegar longe – de articulações partidárias, construção de alianças, montagem de chapas etc. Simplesmente não é a praia de Pazolini, que não demonstra o menor interesse, paciência e aptidão para isso.

Convenhamos: é preciso ter vocação e gostar muito dessa atividade, do contrário a coisa vira uma tortura… “Você toma café com o sujeito, sabendo que ele está tomando café com outros dez… Fecha um trato com ele, aperta a mão dele, e no outro dia o vê apertando a mão de outro. Engole dez sapos por dia… Tem que gostar”, resume um operador do meio.

Nesse sentido, Pazolini se diferencia muito, por exemplo, de Arnaldinho Borgo (Podemos). A título de comparação, o prefeito de Vila Velha cuida pessoalmente das suas articulações políticas. No ano passado, montou muitas das chapas dos mais de dez partidos que o apoiaram e sabia declamar de cabeça o nome dos 22 candidatos de cada uma.

O prefeito de Vitória também se distancia, nesse aspecto, do governador Renato Casagrande (PSB) e do ex-governador Paulo Hartung (sem partido). Os dois não só sempre assumiram pessoalmente as próprias articulações como sempre demonstraram habilidade nessa tão difícil arte – vide as coligações gigantescas que marcam suas eleições para o Palácio Anchieta.

Mas o desinteresse de Pazolini por essa complexa tarefa tão própria da política tem tudo a ver com o tópico seguinte do nosso Decameron.

4. O desapego ao poder e à política

Enquanto alguns podem ser considerados, indiscutivelmente, verdadeiros “animais políticos”, Pazolini está mais para uma espécie estranha nessa selva esquisita. “Ele está na política, mas não se sente como sendo da política. Ele não depende da política. A sensação é que, se não for para seguir um ideal, ele volta para a carreira de delegado, tranquilamente, e segue sua vida”, resume um interlocutor do prefeito.

Em linguagem muito popular, Pazolini não tem, e não quer ter, “rabo preso” com quem quer que seja.

Emblematicamente, a entrada do delegado na política, em 2018 – ano de sua primeira candidatura, a deputado estadual –, coincide com o fim das doações empresariais para campanhas eleitorais, decretado pelo STF um ano antes. Até então, como grandes financiadoras de campanha, as “empresas patrocinadoras”, de certo modo, podiam mandar no candidato e no seu mandato em caso de vitória. O pleito de 2018 foi o primeiro dominado pelo financiamento público de campanha.

“Minha sensação é a de que, se ele tivesse de pedir doações de campanha, ele nem teria entrado na política. Não consigo nem imaginar Pazolini pedindo dinheiro a alguém para ser candidato. Simplesmente não é do feito dele”, afirma a mesma fonte.

Esse desprendimento todo confere a Pazolini não só desapego ao poder como, consequentemente, uma das suas principais características: o destemor.

5. É destemido e não tem medo de desgaste

“Se tem um cara destemido na política do Espírito Santo hoje, é Lorenzo Pazolini”, carimba um líder de outro partido.

“Ele não tem apego ao poder nem ao mandato, embora tenha gostado muito da sensação de ter sido eleito. E nem se trata daquela história de que ‘o poder é inebriante’. É o carinho do povo, ser aclamado pelas pessoas, pelas crianças… Isso mexe com qualquer um. Mas não, ele não tem apego nenhum ao poder”, afirma um colaborador do prefeito.

Em grande medida, esse desapego ao poder lhe dá ainda mais… poder: é difícil negociar com alguém que, naquele momento, não tem medo de perder nada.

Pazolini também é “muito diferente” por não temer o desgaste político, como temem quase todos os chefes de Executivo, cujas decisões em geral levam em conta as reações populares e a possível perda de prestígio. “Ele não tem problema algum em tomar uma medida impopular se tem convicção de que aquilo trará um benefício mais à frente para a população”, diz o mesmo interlocutor.

A reforma da Previdência municipal, primeira medida do seu governo, ainda em janeiro de 2021 – parcialmente revista em agosto de 2023 –, é um exemplo gritante. Mas há outros.

No fim de 2022, Pazolini havia alinhado uma correção salarial para os agentes de saúde de Vitória. Os membros da categoria lotaram o auditório da sede da prefeitura, só aguardando o anúncio para explodir em festa. Em vez disso, ouviram do prefeito que, infelizmente, naquele momento, ele não tinha como se comprometer em garantir a eles o reajuste no orçamento do ano seguinte. Isso porque o vereador Armandinho Fontoura, que acabara se se eleger presidente da Câmara, mandara à prefeitura um ofício solicitando um acréscimo ao orçamento da Casa de Leis.

Entre a decepção e a revolta, os agentes desceram as rampas da prefeitura blasfemando e xingando o prefeito… Mas o aumento pedido pela Câmara não foi dado, e a situação se resolveu. É claro que a atitude de Pazolini também foi uma forma de expor o presidente eleito da Câmara e jogar sobre ele a responsabilidade por eventual frustração do reajuste para a categoria.

“Ele dobra a aposta, mas não blefando”, afirma um colaborador interno, o mesmo que filosofa: “Ao homem, não basta ser bom. Ele tem de ser inteligente e corajoso. O prefeito é corajoso, impetuoso. Não tem medo do desgaste”.

6. Possui convicções muito sólidas e as persegue

Esse destemor dialoga com outra característica de Pazolini: ele é descrito por todos como um homem que tem convicções muito fortes e que segue, obstinadamente, as próprias convicções.

“Se ele acredita que está certo e que está fazendo a coisa certa, ele vai seguir firme naquele caminho até o fim, custe o que custar. Não adianta o governador ou o papa ligar para ele…”, ilustra um auxiliar.

Foi assim, por exemplo, no auge da pandemia, em 2021 – primeiro ano do governo Pazolini. Um dos pontos nevrálgicos dos atritos entre a Prefeitura de Vitória e o Governo do Estado foi que a primeira resolveu se antecipar ao segundo, reabrindo as escolas da rede municipal para retorno ao ensino presencial parcial, antes da rede estadual.

Disputas políticas à parte, não foi para se destacar nem para criar caso, muito menos para fazer birra, mas por convicção sincera. Pazolini estava convencido de que, se o poder público seguisse adiando a reabertura das escolas, perderia para o tráfico aquelas crianças e adolescentes ociosos, sem ensino presencial, nos morros e na periferia.

Para se respaldar juridicamente, o prefeito se aconselhou com procuradores municipais e outros consultores jurídicos. Seguro de que estava respaldado, ele promoveu a reabertura lenta, segura e gradual.

“Ele segue suas convicções, mas não faz isso de maneira aleatória, da cabeça dele. Ele vai ouvir alguém da área técnica, vai ouvir um secretário, vai se aconselhar… Talvez a convicção dele já esteja até formada, mas ele se cerca de segurança técnica e jurídica para poder agir”, relata um secretário.

7. Frieza à prova de fogo e imunidade a pressões

Frio. Muito frio. Cold as hell, como se diz em inglês. Assim é descrito Pazolini por todos que privam do seu convívio. Isso inclui as situações mais tensas, de crise no governo a caos na campanha, passando pela preparação para os debates eleitorais. O mundo pode estar pegando fogo ao redor de Pazolini. Ele se mantém impávido. Assustadoramente calmo.

“Ele é extremamente frio. Dificilmente se deixa pressionar. Ele é muito calmo, o tempo inteiro. Raciocina muito bem sob pressão. Pode ser a situação mais crítica, ele mantém a calma. Nesse ponto, se assemelha ao Paulo Hartung”, compara um colaborador.

A frieza e o controle dos nervos certamente foram aprimorados nos tempos de delegado… Mas com certeza também é algo dele. Quantos delegados por aí não serão muito mais passionais e dados a rompantes de fúria ou algo assim?

Diretamente relacionado a essa frieza, outro traço a destacar é o calculismo. Não no sentido maquiavélico – de tramar para se vingar de adversários e prejudicá-los –, mas no da extrema racionalidade. Na política ou na gestão, ele pondera e calcula bem cada passo antes de executá-lo.

No sangue frio, na resistência a pressões de toda ordem e no extremo calculismo, aproxima-se mesmo de Hartung.

8. Objetividade como líder: “sim é sim, não é não”

“Ele é muito objetivo, direto e resolutivo.” Assim o define um secretário. Essa objetividade se expressa principalmente no trato com os subordinados. “Isso vale tanto para o ‘sim’ como para o ‘não’. Não tem enrolação, ‘amanhã você vai lá ontem’. Se não dá pra fazer, ele diz que não dá e pronto, porque no momento não dá, ou porque a legislação não permite. Ele é muito transparente quanto a isso. Não tem muito senão, muita volta.”

Os despachos com os secretários são sumários. Alguns deles contam nos dedos quantas vezes foram recebidos a sós pelo prefeito. Normalmente eles despacham rapidamente com Pazolini após algum evento público ou a famosa reunião semanal com líderes comunitários, realizada toda quinta-feira, às 14h, no gabinete dele.

Pazolini costuma cobrar os secretários, por telefone mesmo – sempre de maneira tranquila e educada. Cobra a resolução de problemas que lhe chegam, sobretudo quando prejudicam comunidades ou segmentos sociais mais vulneráveis, como idosos e crianças. “Ele nos aborda assim: ‘Resolva isso’. ‘Atenção a isso, resolva’. Fica extremamente incomodado quando a gente não se atenta aos mais vulneráveis”, conta um deles.

Muito de vez em quando, o prefeito pede opinião a um secretário sobre algum detalhe técnico do respectivo métier. Ao mesmo tempo, ele confere bastante autonomia aos secretários nas respectivas áreas. “Não tem aquele negócio de você projetar, organizar tudo, e de repente vir uma ordem do gabinete do prefeito mudando tudo de cima para baixo. Uma frase que ele usa bastante é: ‘Pode tocar’”, relata um membro da equipe.

9. Esfinge política: fechado, introspectivo e enigmático

Por personalidade, Pazolini é considerado um homem fechado (“na dele”), introspectivo e bastante reservado. Quando levamos essa característica para a arena política, ela se maximiza. O “reservado”, então, vira “enigmático”. Todo fechado em copas, o prefeito se transforma numa esfinge, um enigma ambulante.

Não é que ele transmita sinais ambíguos, embaralhados, para despistar o público e adversários, como Paulo Hartung era mestre em fazer. Ele simplesmente não fala de política.

E não é só em público, não. Mesmo secretários municipais e pessoas que trabalham diariamente com Pazolini não têm a menor ideia do que se passa na cabeça dele. Em se tratando de política, o prefeito não diz o que pensa.

Hoje, poucos duvidam de que Pazolini será candidato a governador. É o que seu partido quer para ele e é também, segundo apuramos, o que ele mesmo almeja. O prefeito está com aquele brilho nos olhos – como diria Hartung – para concorrer ao Palácio Anchieta. Mas ele não abre isso para ninguém. E no momento, que se saiba, o único ser humano na Terra com quem ele trata diretamente de política e de planos eleitorais é Erick Musso. Mesmo assim, talvez não diga a Erick nada além do estritamente necessário.

Na verdade, a pessoa com quem Pazolini tem a relação de mais estrita confiança, de conversa ao pé do ouvido mesmo, é bem menos conhecida. Chama-se Leandro Borges. A relação política entre eles nasceu na primeira campanha de Pazolini, a deputado estadual, em 2018, quando Leandro foi o único a acompanhar o delegado em cada passo. “Talvez o prefeito se abra 100% com ele. Talvez…”, especula uma de nossas fontes.

Hoje, Leandro é o presidente do Republicanos em Vitória e o subsecretário municipal de Relações Comunitárias, cargo ligado à Secretaria de Governo, comandada por Erick Musso. A proximidade é até física: a sala do subsecretário fica bem ao lado do gabinete do prefeito.

10. Sensibilidade social e emotividade

A introspecção de Pazolini, ressalvam nossas fontes, não pode se confundir com inacessibilidade. De igual modo, o estilo gélido do prefeito para liderar e lidar com momentos de tensão não pode se confundir com insensibilidade – seja no nível pessoal, seja para com as questões sociais.

“Aparentemente, para quem o vê de fora, ele parece frio, pois mantém distância mesmo e não se abre. Mas ele é até muito sensível e emotivo. Já foi visto várias vezes chorando em público, principalmente em entregas que envolvem causas sociais, crianças e idosos. Ele sempre pede muita atenção aos mais vulneráveis”, relata um integrante do secretariado.

Outra fonte também destaca uma preocupação genuína, “que é dele”, com políticas públicas envolvendo a pobreza. “O PT nunca imaginava que ia perder a eleição para ele nas áreas mais pobres da cidade. Isso é consequência da reforma das escolas, do programa de transferência de renda, da revitalização da orla noroeste…”

Essa sensibilidade, de acordo com os relatos, também se manifesta na escuta. “Ele aprendeu a ouvir. Aquela ‘Quinta Comunitária’, a reunião no gabinete dele, começou por necessidade, porque ele entendeu que precisava ouvir melhor e se aproximar das lideranças. Mas o negócio fez o maior sucesso, e ele tomou gosto por aquilo. Hoje, ele adora aquilo ali, adora ouvir os problemas do bairro e cobrar dos secretários as soluções. Mas ele tem uma visão de que ninguém vai pressioná-lo”, comenta um auxiliar.

Curiosamente, esse lado mais “popular” de Pazolini se manifesta nas ruas. Ele gosta muito de rua, de sair do gabinete, bater perna e interagir com as pessoas. É nessas situações que ele “se solta mais” e revela uma faceta mais extrovertida. Segundo relatos, também não é “um cara de luxos”, de fazer questão de ir comer em restaurantes caros e esse tipo de coisa.

Aliados dele o descrevem como um “homem bom”, “cara do bem”, “bem-intencionado”, “de bom coração” e até “de coração generoso”. Um deles faz uma interessante analogia com o governador Renato Casagrande (PSB). Segundo essa fonte, embora separados pela política, os dois se assemelham muito nessa “generosidade”:

“O Renato demonstra muito isso. É algo inato a ele. Pazolini talvez não demonstre tanto. É curioso… O prefeito lembra muito o Paulo, na calma, no raciocínio, na condução das finanças públicas… Mas também tem muito do Renato, na preocupação com as políticas públicas e nessa generosidade com as pessoas”.

Bônus: cordialidade, foco, disciplina e palavra

Muito elegante, muito educado, muito polido e cavalheiresco. Esses são outros atributos unanimemente associados ao prefeito. Todas as fontes ouvidas para esta coluna também destacam sua inteligência e o quanto ele é estudioso e preparado, além de leitor contumaz.

Mas duas outras características sobressaem, e talvez nelas também esteja o “diferente”. A primeira é a disciplina, inclusive pessoal, e o poder de concentração para ir atrás de uma meta, que leva um aliado a compará-lo a uma fera em posição de ataque:

“O cara é obstinado. Muito focado e determinado em tudo o que faz. Altamente disciplinado. Come sempre no mesmo horário, como um reloginho. Todos os dias, às 7h da manhã, está nas ruas. Quando ele se propõe um objetivo… Sabe aquela onça-pintada, na caçada, olhando o rebanho passar, escondida, paradinha, mas com o olhar fixo ali, focada, só esperando para dar o bote? Esse é o Lorenzo”.

A segunda é o peso da sua palavra empenhada. Não tem meio termo nem meia volta. “Ele é de palavra. É difícil de dar a palavra, mas, quando dá, pode ter certeza que ele vai até o fim”, afirma um aliado.

A conferir, então, se (ou quando) Pazolini dirá que quer mesmo se tornar governador. A se fiar em todo o exposto acima, se ele disser isso uma vez, não tem mais volta.

Observações finais

A proposta desta coluna foi fazer um esboço do perfil do prefeito sob a ótica de quem convive e colabora com ele. Quem convive e colabora com ele é, naturalmente, seu aliado e, portanto, tem coisas predominantemente positivas a dizer sobre ele. A visão dessas fontes é parcial. Seguramente, se ouvíssemos adversários, eles teriam outros traços a realçar, não tão favoráveis ao prefeito.

Como jornalista, sinto-me no dever de registrar – pois o leitor na certa há de questionar – que alguns episódios marcantes do primeiro biênio de Pazolini na prefeitura se chocam com algumas virtudes atribuídas a ele: a frieza e o cavalheirismo, por exemplo, não se coadunam com o episódio em que ele fez acusações vazias e gratuitas ao governador (mostrando impulsividade), nem com aquele em que retirou um microfone da mão da então vice-prefeita, Capitã Estéfane – ambos ocorridos publicamente em 2022. As duas ocasiões deram ao prefeito certa pecha de “brigão”.

Registre-se, contudo, que Pazolini, desde então, não cometeu mais deslizes do gênero. Publicamente, tem parecido mais leve e mais equilibrado. Em entrevista a esta coluna, no início de 2023, ele disse ter amadurecido.

Particularmente, acho-o bem “político tradicional” na maneira como busca extrair, nas redes sociais, o máximo ganho político de cada mínima ocasião (eventos da prefeitura, ordens de serviço, pequenas entregas etc.). E está tudo bem: todo mundo faz isso. Mas, por óbvio, ele não “difere” em nada nesse aspecto da “autopromoção”.

O tratamento dispensado à oposição – a ponto de ter “boicotado” o discurso de Karla Coser (PT) na cerimônia de posse – denota, por vezes, postura pouco democrática e baixa capacidade de convívio e diálogo com quem discorda dele; baixa tolerância a críticas. É um ponto sempre destacado por adversários. E, de fato, parece-me algo a ser trabalhado.