Coluna Vitor Vogas
Pazolini dá mais um pequeno passo na direção da direita bolsonarista
Confira aqui a nossa análise sobre a nomeação do “homem das câmeras”, filiado ao PL, para o cargo de “prefeitinho” do Centro de Vitória

O comerciante Martini vai assumir cargo comissionado na prefeitura de Vitória. Foto: Divulgação
A nomeação do comerciante Eugênio Inácio Martini para o cargo de “prefeitinho” do Centro de Vitória é mais um pequeno passo do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) na direção da direita bolsonarista. Martini é filiado ao Partido Liberal (PL), sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, segundo o vereador Armandinho Fontoura.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
O próprio Armandinho é um dos dois vereadores de Vitória filiados ao PL, ao lado de Dárcio Bracarense, e partidário do bolsonarismo – a ponto de seu escritório, na Praia do Canto, ser denominado “Casa Bolsonaro”. Autodeclarado independente, o vereador tem feito movimentos de aproximação política com a gestão de Pazolini. Foi ele quem mediou a nomeação de Martini para o cargo comissionado.
A nomeação do comerciante do Centro foi anunciada por Pazolini na quinta-feira (24). Na foto publicada nas redes sociais, além de Martini e do prefeito, veem-se o próprio Armandinho, a vice-prefeita de Vitória, Cris Samorini (PP), e o secretário municipal de Governo, Erick Musso (Republicanos). O decreto de nomeação foi publicado no mesmo dia, no Diário Oficial de Vitória.
Para exercer o cargo de gerente da Central de Serviços na Regional 1 (a do Centro), Martini receberá um total de R$ 5.596,16 por mês. Equivalente ao antigo “prefeitinho” – termo usado durante o governo de Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) –, o cargo é vinculado à Central de Serviços, comandada pelo secretário Léo Formigão. O gerente é diretamente responsável pela zeladoria urbana, pela manutenção de espaços públicos e pela articulação com comerciantes e moradores locais.
Eugenio Martini ganhou notoriedade por ter montado, voluntariamente, uma verdadeira “central de videomonitoramento particular” no Centro de Vitória, com 200 câmeras instaladas por conta própria, espalhadas pelas ruas do bairro, com a ideia de combater a criminalidade. As câmeras foram instaladas ao longo dos últimos 15 anos, em parceria com outros comerciantes locais.
No entanto, após denúncia formulada pelo advogado e ex-vereador André Moreira (PSol), o Ministério Público Estadual (MPES) requereu à Polícia Civil do Estado a instauração de inquérito policial sobre o caso. O objetivo é verificar a instalação de câmeras de propriedade privada em locais públicos, a utilização irregular de energia elétrica para funcionamento desses equipamentos e o uso e compartilhamento de imagens sem autorização.
O comerciante se antecipou e retirou os equipamentos voluntariamente. “Eu deixei minha vida comercial de lado para cuidar da vida comunitária. Acho que o que poderia ter sido feito era o poder público me chamar e criar um projeto legal. Eu trabalharia até de graça para o poder público”, declarou na ocasião.
Após a remoção dos equipamentos, o vereador Armandinho Fontoura defendeu Martini em plenário, criticando a ação proposta pelo ex-vereador André Moreira. Da tribuna, ele também destacou a importância da atuação do comerciante para a segurança do Centro e cobrou soluções do poder público. O parlamentar do PL sugeriu a criação de uma associação que pudesse formalizar a iniciativa e permitir sua continuidade dentro da legalidade.
A aproximação de Pazolini com o bolsonarismo
Tratado publicamente por seu partido, o Republicanos, como pré-candidato a governador do Espírito Santo em 2026, Pazolini tem dado uma série de sinais de que sua intenção é mesmo a de concorrer à sucessão de Renato Casagrande (PSB). Na semana passada, durante prestação de contas semestral no plenário da Câmara de Vitória, respondendo a um questionamento do próprio Armandinho sobre a sucessão estadual (num “passe açucarado” para ele), o prefeito admitiu que pode vir a disputar o cargo, em diálogo com sua família, “se for da vontade de Deus” e “só se for uma construção macro do Espírito Santo”. Também disse que sua vice-prefeita, Cris Samorini, pode cuidar da Capital “com muita competência”.
Desde janeiro, Pazolini tem feito incursões pelo interior do Estado – por exemplo, em eventos festivos da Região Serrana –, acompanhado de Erick Musso e do deputado federal Evair de Melo (PP). Com este último, na semana passada, foi fazer corpo a corpo com comerciantes na Ceasa, em Cariacica. Também já republicou em seu Instagram uma pesquisa eleitoral que o apontou com boas intenções de voto para governador, a esta altura do processo.
Quanto à aproximação gradual com a direita bolsonarista, os sinais são ainda mais explícitos. Em março, dando ao próprio secretariado um viés bem mais político, o prefeito nomeou o Coronel Alexandre Ramalho (sem partido) para o cargo de secretário de Meio Ambiente e a ex-deputada federal Soraya Manato (PP) para comandar a de Assistência Social. Ambos são reconhecidos como apoiadores declarados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Soraya foi indicada ao cargo por seu marido, o ex-deputado federal Carlos Manato, um dos mais conhecidos bolsonaristas do Espírito Santo. Filiado ao PL, Manato quer ser candidato a senador no ano que vem, em parceria com o Republicanos de Pazolini, e já declarou apoio total ao prefeito de Vitória para governador.
Já Ramalho desfiliou-se do PL para assumir a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, pois, segundo ele, o presidente estadual do partido, Magno Malta, prefere que o PL não ingresse oficialmente na administração de Pazolini neste momento. O senador, porém, reabriu conversas eleitorais com Erick Musso, presidente estadual do Republicanos e principal articulador político do prefeito de Vitória.
Por último, mas não menos importante, até então silente e distante de polêmicas ideológicas e da pauta política nacional, Pazolini marcou posição em defesa da anistia a todos os envolvidos nos atentados contra as instituições da República perpetrados em 8 de janeiro de 2023. E o fez enfaticamente. Em post publicado em seu Instagram no dia 5 de abril, em nítido aceno aos eleitores da direita bolsonarista (muito mais permeáveis a essa pauta), o prefeito defendeu a “anistia humanitária” em nome da “pacificação nacional”.
Na já mencionada prestação de contas à Câmara de Vitória, Pazolini foi parabenizado por isso pelo vereador Armandinho Fontoura. E, em resposta a outra pergunta do parlamentar do PL, sobre sua posição ideológica, afirmou que está onde sempre esteve: “Sempre fui um político de direita, de centro-direita”.
