fbpx

Coluna Vitor Vogas

Partidos de direita se reaproximam no ES para formar frente eleitoral em 2026

Depois de rompimento e troca de farpas nas eleições municipais, PL de Magno Malta e Republicanos de Erick Musso e Pazolini ensaiam reaproximação visando à formação de uma frente de oposição ao time de Casagrande na próxima eleição estadual. As evidências estão aí, em profusão

Publicado

em

Magno Malta e Erick Musso presidem, respectivamente, o PL e o Republicanos no ES

Magno Malta e Erick Musso presidem, respectivamente, o PL e o Republicanos no ES

No mapa político-partidário do Espírito Santo, hoje, poucos partidos não estão sob a influência do governador Renato Casagrande (PSB) e de seu governo, sustentado por uma invejável coalizão que vai da esquerda a representantes da direita. Entre as siglas mais relevantes, apenas três, de fato, operam fora do campo casagrandista. Há o Partido Social Democrático (PSD), futuro abrigo do ex-governador Paulo Hartung. E há, acima de tudo, o Partido Liberal (PL) e o Republicanos.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Tanto nacionalmente como na esfera estadual, PL e Republicanos têm muito mais semelhanças do que diferenças, seja na fisionomia ideológica, seja na agenda de costumes, seja nas aspirações eleitorais. O PL é a casa do ex-presidente Jair Bolsonaro; o Republicanos é a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Em que pese o Republicanos (Centrão na veia) ter espaços no governo Lula (PT), as duas siglas se destacam, no espectro partidário, como representantes de uma direita ultraliberal na economia e ultraconservadora nos costumes.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

No Espírito Santo, PL e Republicanos são presididos, respectivamente, pelo senador Magno Malta e pelo ex-presidente da Assembleia Erick Musso. Estão fora, repita-se, do movimento de Renato Casagrande.

Na eleição majoritária de 2026, para escolha do próximo governador e de dois senadores, não estarão no palanque montado e liderado pelo atual chefe do Executivo Estadual. Muito mais provável que estejam em palanque(s) adversário(s), fazendo-lhe oposição à direita. O uso do plural ou do singular é exatamente o ponto nodal aqui: para enfrentar o time de Casagrande, Republicanos e PL estarão juntos ou não, numa mesma coligação e num palanque unificado? Eis a questão.

Pela lógica, a resposta seria simples. Uma aliança estratégica, com a formação de uma frente de direita em torno de PL e Republicanos, faria perfeito sentido. Até porque o palanque governista tende a vir fortíssimo, com toda a máquina estadual a empurrar e uma ampla coligação erguida por Casagrande para fazer seu sucessor, enquanto ele mesmo pode ser candidato a uma vaga no Senado.

Hoje, o nome trabalhado pelo Palácio Anchieta para ser o candidato à sucessão de Casagrande é o do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). Enquanto isso, o Republicanos já trabalha a possível candidatura do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini. O PL, hoje, não tem um pré-candidato natural. Em teoria, unindo forças num palanque de oposição para fazer frente ao poderio do governo, Republicanos e PL logicamente se fortalecem no processo.

Mas a política não obedece à pura lógica.

Durante as eleições municipais de 2024, em vez de se aproximarem no Espírito Santo, PL e Republicanos praticamente racharam. O pano de fundo foi a disputa interna pela liderança do campo da direita conservadora no Espírito Santo.

O afastamento foi puxado por Magno Malta. O senador e líder maior do PL no Estado veio para a eleição municipal com uma tática de isolamento total, partindo da premissa (declarada) de que só o PL representaria a verdadeira direita e, portanto, quem PL não fosse, direita não poderia ser.

O pensamento ganhou concretude em um documento oficial: a poucos dias do encerramento das convenções, Magno fez circular pelos diretórios municipais do PL a imposição de veto total da direção estadual (ele mesmo) a alianças com todas as “agremiações partidárias de espectro político à esquerda”, incluindo o Republicanos.

Enquanto isso, o Republicanos foi pelo caminho oposto, bem mais pragmático: buscou o máximo de alianças estratégicas, com quem pôde e onde pôde.

É preciso registrar que o partido comandado por Erick saiu-se bem melhor nas urnas: elegeu oito prefeitos no Espírito Santo, incluindo o de Guarapari, Rodrigo Borges, e a reeleição de Pazolini em Vitória, enquanto o PL só fez cinco, todos em cidades pequenas. No meio do processo, em resposta direta a Magno, Erick contra-atacou: “Ele não é dono dos conservadores do Espírito Santo. Não fui eu que no passado andei o Brasil pedindo voto para Lula e Dilma”.

Ficou evidente o cisma na direita mais direitista no Espírito Santo.

Mas em política não há conflitos insuperáveis nem dissenso que não possa virar conciliação.

Virada a página das eleições municipais, com as perdas e ganhos gerais devidamente computados, todos já entraram no modo “eleições 2026”. É o momento de reagrupar as tropas e se reposicionar no jogo. De olho na próxima disputa – a mais importante de todas –, PL e Republicanos, por meio dos respectivos líderes, já começam a ensaiar fortemente uma reaproximação.

A virada de página começou na virada do ano.

O pródigo conjunto probatório

No dia 31 de dezembro, Erick mandou uma mensagem de texto para Magno, com votos de feliz ano novo. O senador lhe respondeu com um aceno, sinalizando que os dois precisam se sentar para conversar. O muito aguardado encontro ainda não ocorreu. Poderá se consumar em breve. Até lá, o que não falta são evidências, fortes evidências, desse princípio de reaproximação estratégica.

Só na semana passada, Erick recebeu dois deputados do PL em seu gabinete na Prefeitura de Vitória (desde janeiro, ele é secretário de Governo de Pazolini): Lucas Polese (de Colatina) e Callegari (de Cachoeiro). São, desde o início do atual mandato, em 2023, os dois deputados que fazem a mais ruidosa oposição ideológica ao governo Casagrande no plenário da Assembleia – mais até que o Capitão Assumção (PL), que passou a centrar fogo em pautas nacionais e no governo Lula.

Além disso, na última quinta-feira (13), Erick tomou café numa padaria com o deputado federal Gilvan da Federal. Também conversou por telefone com o deputado estadual Danilo Bahiense e com o ex-vereador Léo Camargo, candidato derrotado à Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim no ano passado. Todos do PL.

Erick Musso em encontro com Gilvan

Erick Musso em encontro com Gilvan da Federal

Em outro forte sinal, o Republicanos deu guarida a dois assessores do Coronel Alexandre Ramalho, também do PL, candidato derrotado à Prefeitura de Vila Velha em 2024, incluindo o coordenador da campanha dele, Anderson Barbosa, no principal bunker do partido no Estado: a Prefeitura de Vitória. A nomeação para os cargos comissionados foi feita por Pazolini. A costura, por Erick Musso.

No Republicanos, é sólida a convicção de que, nas eleições de 2026, PL, Republicanos e PSD precisam estar juntos numa frente de direita no Espírito Santo, para se fortalecerem mutuamente. O PSD já está bem entrosado com o Republicanos, desde as eleições municipais. O presidente estadual do partido é o prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos, e o apoio do Republicanos foi fundamental para ele chegar à prefeitura da terceira maior cidade do interior.

O próprio Erick Musso acredita que essa frente, com esses três partidos, seja bem provável. Falta, é claro, convencer o PL a ir junto… Ou, mais especificamente, convencer Magno Malta a levar o PL junto.

O sonho do partido de Pazolini: uma frente de direita ampliada

Ao mesmo tempo, o Republicanos quer manter conversas com União Brasil, PP e Podemos. São siglas posicionadas do centro para a direita.

Hoje, no Espírito Santo, esses três partidos estão na aba do Palácio Anchieta, mas os republicanos não desistirão de tentar atraí-los para uma frente de direita e de oposição, até o último momento. Acreditam que a permanência desses partidos na coligação de Casagrande vai depender do candidato escolhido para sua sucessão.

Enquanto turbina a possível candidatura de Ricardo Ferraço, o Palácio Anchieta mantém duas cartas na manga: Sérgio Vidigal (PDT) e Arnaldinho Borgo (Podemos).

Se for mesmo Ricardo, é mais provável que PP, Podemos e União fiquem no palanque da situação. Se for, por exemplo, Vidigal, já é mais difícil, por ser ele um homem público historicamente de esquerda.

O Republicanos também faz questão de manter excelente relação e conversas com Arnaldinho até 2026.

O sonho de consumo do Republicanos é ter o prefeito de Vila Velha apoiando o candidato de oposição dessa frente – Pazolini, se a eleição fosse hoje. O Republicanos apoiou a reeleição de Arnaldinho e está na base do prefeito. Tem seu novo líder na Câmara Municipal de Vila Velha, o vereador Devanir Ferreira.

Mas é difícil até imaginar Arnaldinho apoiando Pazolini, ou qualquer outro candidato que não seja o do grupo de Casagrande. O Governo do Estado injeta muitos recursos em Vila Velha. Seu vice-prefeito, Cael Linhalis, é do PSB – e a escolha foi fruto dessa parceria, aparentemente inquebrável.

O prefeito já reiterou à imprensa seu compromisso de lealdade a Casagrande e seu apoio a Ricardo Ferraço como o candidato do grupo. Arnaldinho está, literalmente, correndo lado a lado com o governador. “No pique do Casão”.

Casagrande e Arnaldinho correndo juntos

Casagrande e Arnaldinho correndo juntos

Pazolini foi a Marcos Pereira

No início de dezembro, Erick Musso levou Pazolini ao presidente nacional do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira, em São Paulo. Sem especificar mandato, Pazolini disse ao dirigente que está à disposição do partido para as eleições de 2026.

A road trip pré-eleitoral pelo ES

Em janeiro, Erick e Pazolini decidiram colocar o pé na estrada para começar a tornar o prefeito de Vitória mais conhecido pelo interior do Estado – onde vive metade da população capixaba. Acompanhados do deputado federal Evair de Melo (PP), opositor de Casagrande, já passaram por Venda Nova do Imigrante, Domingos Martins e Vargem Alta.

Os vídeos das excursões, com direito a muito corpo a corpo, têm sido publicados pelo prefeito em seu Instagram com o título “Na Estrada com Pazola”. A legenda do último é bem de pré-candidato: “Cada abraço, cada conversa e cada jogo reforçam o que sempre acreditamos: juntos, podemos construir um Espírito Santo cada vez mais forte e unido”.

Desde janeiro, como já observado aqui, todos os seus posts, inclusive sobre ações da Prefeitura de Vitória, são assinados com “Prefeito Pazolini” nas três cores da bandeira do Espírito Santo. Além de “Viva, Vitória!”, ele passou a gritar, em qualquer ocasião, “Viva o Espírito Santo!”.

O contato com Paulo Hartung

No Republicanos, a percepção é a de que Paulo Hartung será candidato a governador e incentiva Pazolini a se candidatar ao governo. Erick e Hartung se falam pessoalmente uma vez por mês e, por telefone, pelo menos uma vez por semana.

Se Hartung entrar mesmo no PSD – o que está previsto para abril – e quiser ser candidato a senador, ficará em posição curiosa. Caso essa frente de direita se concretize, ele, no PSD, ficará ao lado do Republicanos e até do PL de Bolsonaro e de Magno.

Como governador, de 2015 a 2018, Hartung foi um grande crítico de Bolsonaro, alertando para os riscos contidos no extremismo e no populismo de direita representados pelo então deputado federal em caso de chegada à Presidência.

Em entrevista dada em novembro ao programa EStúdio 360, Hartung respondeu a uma pergunta relacionada a Bolsonaro. Naquele mesmo dia, era esperada a apresentação do inquérito da Polícia Federal, indiciando o ex-presidente por golpe de Estado – o mesmo que resultou, na última terça-feira (18), em denúncia da PGR contra ele. Hartung contemporizou. Não fez uma só crítica a Bolsonaro. Destacou que a experiência o ensinou a ter prudência e cuidado com prejulgamentos.

Quem entrará no trem eleitoral puxado por Pazolini?

Quem entrará no trem eleitoral puxado por Pazolini?

Sérgio Meneguelli convidado pelo PSD… Mas e Hartung?

Hartung pode ser candidato a senador pelo PSD. Evair de Melo está no PP, partido hoje na base de Casagrande, mas também pode ser candidato a senador por essa frente de direita, incentivado pelo próprio Bolsonaro.

Enquanto isso, o deputado estadual Sérgio Meneguelli confirma: foi convidado por Renzo Vasconcelos, presidente estadual do PSD, para se filiar e ser candidato a senador pelo partido em 2026. Nesse caso, o PSD só poderá ter um candidato: ele ou Hartung.

Renzo deve muito a Meneguelli. Na última eleição em Colatina, a entrada do deputado e ex-prefeito pessoalmente em sua campanha, nos últimos dias, foi determinante para sua virada sobre o então prefeito, Guerino Balestrassi (MDB). Apesar do mandato discreto na Assembleia, Meneguelli provou ainda ter força política e eleitoral.

Amaro Neto: federal ou estadual?

Falando em mandato discreto, Amaro Neto tem feito um mandato apagadão em Brasília – ainda mais que o anterior. No mercado político capixaba, muitos apostam que ele será candidato a deputado estadual na próxima eleição, se quiser seguir na política – após ter visto a própria votação já sofrer uma queda brutal de 2018 para 2022.

Mas a direção do Republicanos não tem dúvida: quer que ele seja candidato a federal pela terceira vez seguida. Se não ganhar, no mínimo ajudará o partido a fazer de um a dois deputados federais. Na chapa do Republicanos para a Câmara, deverão estar Erick Musso e o vereador e pastor Devanir Ferreira. O partido tenta atrair e lançar Ramalho. Poderá perder o deputado Messias Donato, por sua ligação umbilical com Euclério Sampaio. O prefeito de Cariacica em breve assumirá o comando do União Brasil no Espírito Santo.

Aridelmo Teixeira não volta

Em meados de janeiro, surgiu uma intensa especulação sobre possível retorno de Aridelmo Teixeira (Novo) à Secretaria da Fazenda de Vitória. Erick e ele chegaram a conversar sobre isso, sem tratarem de uma pasta específica. Tal conversa não evoluiu. Aridelmo não voltará.