Coluna Inovação
Você é de direita ou de esquerda?
As posições estão radicalizadas. Ou você está de um lado ou está do outro. Mas será que esse maniqueísmo explica direito o que as pessoas pensam? O que é direita ou esquerda? O que é extrema direita ou extrema esquerda? Seria bom que isso ficasse mais claro.
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Sem uma ordem natural de importância, imagino dividir essa discussão inicialmente em quatro eixos e o peso atribuído a cada eixo depende de cada pessoa. As pessoas podem situar sua opinião em qualquer posição do eixo entre as extremidades, menos radicais na centro direita ou centro esquerda e até uma posição mais de centro mesmo, aceitando um pouco de um lado e outro. Chamar de isentão ou dizer que está em cima do muro é conversa de radicais, que limitam suas escolhas aos polos de confronto.
Um primeiro eixo seria o da economia: na extrema direita estado mínimo, tudo privatizado, até saúde e educação. No Chile de Pinochet ou na Argentina de Milei, no anarcocapitalismo, a coisa iria por aí. A centro-direita quer privatizar quase tudo, menos saúde, educação e segurança. O que move a economia é a iniciativa privada. Na extrema esquerda tudo estatal e abolição da propriedade privada. A centro-esquerda aceita a propriedade privada mas pensa que o que move a economia é principalmente o estado e os trabalhadores das empresas, desprezando a importância do empresário. O texto é o tradicional, onde a palavra de ordem da direita é liberdade e a palavra de ordem da esquerda é igualdade, independentemente das implementações.
O segundo é o eixo social, fazendo uma redução de separar economia do social. Neste eixo, na extrema direita, nenhum programa social, nem coisas tipo SUS ou Obamacare e nem aposentadoria pública. Cada um que se vire. Meritocracia no sentido tradicional. A direita do Partido Republicano nos EUA puxa por esse lado. Na extrema esquerda, muitos programas de transferência de renda, bolsa família e outras bolsas, Igualdade independentemente do mérito, como costumam defender os sindicatos. No centro, meritocracia só faz sentido com igualdade de oportunidades. O texto depreciativo diz que a esquerda gosta de distribuir, mas não sabe como gerar riqueza e a direita sabe como gerar mas não gosta de distribuir. Ou que a direita não tem coração e a esquerda não tem cérebro.
O terceiro eixo, que ganhou relevância mais recentemente, é o eixo dos costumes. Na extrema direita religião e política se misturam, contra aborto, descriminalização de drogas, casamento homo afetivo , ideologia de gênero e a favor de armar todo mundo entre outras pautas. Na extrema esquerda, estado laico, a favor de aborto, casamento homo afetivo, pauta identitária, lugar de fala, desarmamento, cotas raciais e sociais, ações afirmativas. No meio, um pouco para lá e um pouco para cá.
No quarto eixo, não podemos falar em direita ou esquerda. É o eixo da democracia. Em um lado a democracia clássica com separação de poderes e aceitação dessa realidade, mesmo que discordando eventualmente da atuação desses poderes e acreditando que os pesos e contrapesos vão ajustando as coisas ao longo do tempo. Do outro lado, a aceitação de ditaduras do proletariado à esquerda como em Cuba ou militares à direita como em países da África e na
América do Sul no século passado, época das repúblicas de bananas. No meio do caminho, intervenções militares ilusoriamente temporárias, fechamento do Parlamento ou Suprema Corte e democracias iliberais, onde o poder executivo interfere nos outros poderes se perpetuando, à esquerda e à direita, como na Venezuela, Nicarágua, Hungria, Polônia, Rússia, Turquia, entre outras.
Poderíamos citar ainda outros eixos, como um da corrupção, também sem se relacionar à esquerda ou direita, mas que tem relevância absoluta em muitas opiniões, onde em um extremo está o roubo descarado do estado, no outro uma honestidade absoluta e no meio a complacência com nepotismo, sonegação de impostos, apropriação de presentes e o rouba mas faz.
Atravessando esses eixos, à direita e à esquerda, uma série de ismos, como o corporativismo que privilegia grupos em detrimento da população em geral, o populismo que pratica ações que dão voto e não que resolvem problemas, o patrimonialismo que coloca o poder pessoal na frente do geral, o negacionismo que rejeita até a ciência e um tal mais recente globalismo, que enxerga delirantes conspirações mundiais.
No fundo, quando se fala em extrema direita hoje, a referência é o extremo na direita dos 3 primeiros eixos e a posição muitas vezes a favor de ditaduras no quarto eixo. E quando se fala em extrema esquerda é o extremo à esquerda nos 3 primeiros eixos e a posição muitas vezes a favor de ditaduras no quarto eixo.
Há muitas posições que se referem como centro, que se situam, na verdade, na centro direita no primeiro eixo, na centro esquerda no social e de costumes e numa posição firme pela democracia no quarto eixo. Há tentativas tendenciosas de confundir centro com Centrão, um aglomerado fisiológico à direita que adora um cargo em estatal típica de esquerda.
Há posições que se misturam e confundem, mostrando que não é fácil classificá-las. Na ditadura militar brasileira, de direita, a economia foi altamente estatizada, prática típica de esquerda. Na ditadura chinesa de esquerda o socialismo de mercado liberou quase tudo ao capitalismo. Na Rússia, um regime mafioso, iliberal, onde o antiamericanismo da esquerda alimenta saudosismos. Na Argentina, o esquisito Peronismo de direita, esquerda e centro.
Como dito na abertura deste texto, cada pessoa entende que um dos eixos deva ter peso maior, com muita incompreensão com a preferência dos outros. Alguns escolhem o seu voto primordialmente pelo eixo da corrupção, outros pelo eixo da economia, outros pelo eixo social, outros pelo eixo dos costumes e outros pelo eixo da democracia.
Que a democracia, com todas as suas imperfeições, prevaleça sempre para permitir o avanço da liberdade e do desenvolvimento.
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