Coluna Vitor Vogas
Vereador do PT em Vila Velha se lança a deputado federal
Observando um vazio de candidaturas à Câmara dos Deputados no segundo maior colégio eleitoral do ES, Rafael Primo decide entrar numa chapa que ele mesmo considera “pesadíssima”. Saiba aqui por quê

Rafael Primo é vereador de Vila Velha. Foto: CMVV
O vereador Rafael Primo anuncia aqui, em primeira mão: será candidato a deputado federal em 2026, pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
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Primo é o único vereador do PT na Câmara Municipal de Vila Velha e é o único que faz oposição declarada ao prefeito Arnaldinho Borgo, além do Pastor Fabiano (bolsonarista, da bancada do PL). Desde janeiro, cumpre o seu primeiro mandato eletivo, para o qual se elegeu em 2024.
A empreitada que Primo se propõe é, como ele mesmo admite, dificílima. Neste século, em Vila Velha, só um vereador conseguiu saltar diretamente para a Câmara Federal, “pulando” a etapa intermediária da Assembleia Legislativa. Foi Neucimar Fraga, em 2002 – à época, com o apoio de Magno Malta, que chegou ao Senado no mesmo ano.
Mas não é só isso. Para ser candidato a federal, Primo se juntará a uma chapa “pesadíssima” – na definição do próprio vereador. A chapa é aberta pelos dois atuais deputados federais do PT pelo Espírito Santo: Helder Salomão e Jack Rocha, ambos candidatos à reeleição. A eles se soma o deputado estadual e ex-prefeito de Vitória João Coser, que quer voltar a Brasília e que reassumirá, neste sábado (13), a presidência estadual do PT. A expectativa é que os três sejam os puxadores de voto da chapa. Helder, inclusive, foi o candidato a federal mais votado no Estado em 2022.
No PT, é quase consenso que o partido fará dois deputados federais no Espírito Santo. De fato, há boas chances de repetição do resultado obtido nas urnas em 2022. Menos de dois, soa pouco provável; mais de dois, quase impossível. Dois é o número realista.
“Acredito com muita força que elegeremos dois. Em momentos muito difíceis, como na última eleição, conseguimos fazer duas cadeiras. Hoje o governo Lula se apresenta numa ascensão. Aquela campanha de cancelamento que havia contra o PT, de maneira recorrente, na mídia hegemônica, perdeu força. A luta pela soberania nacional coloca o presidente Lula de novo em posição de destaque. Então temos as condições objetivas de manter as duas vagas”, avalia Primo.
A tendência é que essas duas vagas projetadas para o PT sejam disputadas por Helder, Jack e Coser. Primo correrá por fora. Ele reconhece a dificuldade e o favoritismo dos companheiros citados, mas afirma que não entrará na disputa para fazer figuração:
“É óbvio que entendemos o tamanho dessas figuras na política. São pessoas com uma prestação de serviços já testada pelo eleitor e que fazem, no meu entendimento, um excelente trabalho. Mas me coloco não somente para figurar, mas para disputar realmente. Tenho a pretensão de fazer uma campanha bem disruptiva, com uma abordagem um pouco diferente da tradicional, nas formas de interagir com as pessoas”.
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Dirigentes partidários estimam que, em 2026, para um partido eleger dois federais no Espírito Santo, sua chapa terá de ultrapassar a marca dos 250 mil votos totais (soma dos votos de todos os candidatos da chapa e dos votos de legenda, os quais, no caso do PT, nunca são desprezíveis). Em 2022, Helder e Jack, juntos, somaram 171.654 votos. A chapa inteira da Federação Brasil da Esperança (PT com PV e PCdoB) totalizou 217.787.
Por isso, perguntamos a Primo se ele efetivamente entra nessa disputa com a esperança de surpreender os figurões e lutar por uma das duas vagas projetadas para o PT ou se, realisticamente, entrará para cumprir a missão de ajudar a chapa do partido a acumular mais votos, contribuindo assim com a eleição de dois dos companheiros mais “cascudos”.
“Acredito realmente que eu possa ser uma surpresa no processo, porque as dinâmicas da política e das eleições mudaram bastante. E eu entro realmente para me colocar como uma nova opção nessa chapa, respeitando totalmente a caminhada de todos. Mas eu não me colocaria numa disputa desse tamanho, tão pesada, tão dolorida, se não fosse realmente para lutar. Isso registrado, é óbvio que o compromisso com o desempenho do PT estadual também está sendo levado em conta. Mas se engana quem acredita que estou entrando meramente para carregar o piano.”
No PT, Primo pertence à corrente Resistência Socialista, a mesma de Helder Salomão. É uma das que fazem parte do campo Para Voltar a Sonhar. Assim como a corrente e o campo, o vereador apoiou o retorno de João Coser à presidência da legenda, na eleição interna de julho.
Ele conta que, informalmente, já comunicou sua decisão a Coser e também ao novo presidente do PT em Vila Velha, o ex-vereador João Batista Babá.
O lugar na chapa, segundo ele, ainda não é 100% garantido. Essa garantia plena, diz, só têm mesmo os dois pré-candidatos à reeleição, Helder e Jack Rocha, até porque não há assentos sobrando.
No Espírito Santo, uma chapa para a Câmara Federal poderá ter, no máximo, 11 candidatos. No caso do PT, se for mantida a federação com o PV e o PCdoB, a tendência é que o partido de Lula preencha sete das 11 vagas, enquanto os outros dois partidos, menores, ocuparão as outras quatro (duas para cada um).
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Entretanto, segundo Primo, são grandes as chances de ele ser um dos sete candidatos do PT, mesmo porque o próprio Coser já sinalizou positivamente para ele. “Há uma construção sólida nesse sentido. Assim que comuniquei essa vontade ao João Coser, ele foi completamente receptivo à ideia.”
Estímulo: vazio de candidaturas em Vila Velha
Um dos grandes incentivos de Primo para concorrer diretamente a federal é que ele e sua equipe de estrategistas políticos constatam um vácuo de candidaturas à Câmara dos Deputados no município de Vila Velha, segundo maior colégio eleitoral do Espírito Santo.
Com efeito, hoje, entre os políticos com reduto em Vila Velha, quem se pode mencionar de cabeça como pré-candidato a deputado federal? É difícil apontar alguém além de Victor Linhalis, o Dr. Victor, que já foi vice-prefeito de Arnaldinho e, em 2022, chegou à Câmara dos Deputados com apoio pessoal incisivo do prefeito de Vila Velha e a máquina pública municipal jogando pesadamente a seu favor.
No último sábado (6), Victor revelou aqui que se candidatará à reeleição pelo seu atual partido, o Podemos. Primo acredita, porém, que “o deputado do Arnaldinho” virá “bem menor” na eleição do ano que vem, pois, na sua opinião, tem feito um mandato “apagado” na Câmara dos Deputados.
“Só tem para mostrar as emendas parlamentares impositivas, mas se esquece de dizer que os recursos são do Governo Federal”, critica o vereador do PT. “O que era uma aposta carregada pela máquina naquele momento, hoje é um deputado federal apagado. Essa concentração de votos num candidato, que foi uma aposta quatro anos atrás, certamente não se repetirá em 2026”, arrisca Primo.
Enquanto isso, os ex-prefeitos Max Filho (PSDB) e Neucimar Fraga (PP), velhos conhecidos do eleitorado canela-verde, presentes em praticamente todas as disputas eleitorais, para vários cargos, ao longo deste século, dessa vez não devem concorrer a deputado federal.
Já na própria Câmara de Vila Velha, os vereadores Renzo Mendes (PP) e Patrícia Crizanto (PSB) são cotados para disputar lugar na Câmara dos Deputados, assim como Primo.
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Dentre os poucos nomes cotados, além de Primo, a única num partido de esquerda é Patrícia Crizanto, mas ela é evangélica e mais conservadora nos costumes.
Portanto, há um vácuo de candidaturas a deputado federal em Vila Velha, mas há, especificamente, um vazio ainda maior de candidaturas dentro do campo progressista. É esse filão que Primo pretende desbravar, apresentando-se como opção de voto, principalmente, para os eleitores desse campo. “Vamos capinar esse lote inteirinho! (risos)”
Vereador não descarta ser candidato a prefeito em 2028
Rafael Primo reconhece: o degrau seguinte natural, em sua subida, seria a Assembleia Legislativa. “Mas, pensando em estratégias do nosso grupo e visualizando cenários de 2026, 2028 e até 2030, a nossa equação aponta que devo ser candidato a deputado federal agora”, explica o petista.
Ou seja: a candidatura a federal é uma passo estratégico que lhe servirá para se projetar para outras candidaturas nos pleitos seguintes. Quando nada, aumentará o seu recall e a sua visibilidade.
“Nosso grupo tem desejos. Entendemos que algumas disputas agora serão doloridas, mas essa etapa é necessária para atingirmos os nossos objetivos nas próximas eleições”.
Indagado especificamente sobre esses “desejos” e “objetivos eleitorais”, Primo admite que avalia se candidatar a prefeito de Vila Velha em 2028.
“Não descarto a possibilidade. Quem vai avaliar será o cidadão. Se em 2028 ele disser que nosso nome ajuda, que nosso nome está preparado e que nossas ideias estão conectadas com a cidade, nós vamos para a disputa, sim”, antecipa.
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