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Coluna Vitor Vogas

Pazolini está isolando a ilha de Vitória? Ele responde aos adversários

Lançado oficialmente à reeleição, prefeito antecipou um pouco do que será o seu discurso de campanha. Rebateu ataques de adversários e os contra-atacou: “Incomodo a velha política”

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Pazolini (ao centro) na convenção do Republicanos em Vitória. Crédito: Max Fonseca

Pazolini (ao centro) na convenção do Republicanos em Vitória (02/08/2024). Crédito: Max Fonseca

Grande parte do território de Vitória se situa em uma ilha de mesmo nome, onde se localiza, inclusive, a sede da Prefeitura Municipal, na qual dá expediente o prefeito Lorenzo Pazoloni, cuja família é de origem italiana, assim como seu nome e sobrenome. Em italiano, a palavra para “ilha” é isola (com tonicidade no i). Em latim, temos insula. É daí que vem o adjetivo “isolado”, que, resgatada a origem etimológica, significa, literalmente, “ilhado”. Do mesmo modo, o verbo “isolar” pode ser originalmente traduzido como “transformar numa ilha”.

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Antes mesmo do início da campanha, o verbo e seus derivados ganharam centralidade no debate eleitoral em Vitória. Por toda a extensão do espectro ideológico, da esquerda da esquerda (Camila Valadão, do PSol) à direita da direita (Capitão Assumção, do PL), passando por João Coser (PT). Luiz Paulo (PSDB) e até Du da Kawasaki (Avante), os adversários eleitorais de Pazolini têm feito a mesma acusação, praticamente em uníssono: a de que o atual prefeito estaria “isolando” a capital capixaba. Sob a administração de Pazolini, Vitória teria virado uma “ilha” não só do ponto de vista geográfico, mas também político e administrativo.

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Com isso, alegam os oponentes, a cidade estaria perdendo investimentos importantes dos governos estadual (Casagrande) e federal (Lula). Esse “isolamento” seria ainda mais grave numa pauta especialmente delicada, carro-chefe da campanha de Pazolini em 2020: a do combate à violência urbana. Na gestão do delegado de polícia, viria faltando a necessária integração da Prefeitura de Vitória e sua Guarda Municipal com as forças estaduais de segurança pública (PMES etc.).

Na última sexta-feira (2) – dia que lembra Robson Crusoé, que também lembra isolamento numa ilha –, o partido de Pazolini, Republicanos, realizou sua convenção municipal e confirmou oficialmente a candidatura do prefeito à reeleição. Logo após a lavratura da ata, o prefeito falou pela primeira vez à imprensa nessa condição de candidato assumido. Questionado pela coluna, rebateu com veemência as alegações citadas acima.

Desvelando um pouco o tom que deve adotar na campanha, Pazolini partiu para o contra-ataque: sem citar nomes, disse estar “incomodando a velha política”. Repetiu a expressão três vezes na entrevista, em diferentes momentos.

“O isolamento não existe. Eu caminho nas ruas todos os dias. O que existe é que a velha política ficou para trás, mas alguns ainda insistem em tentar ressuscitá-la. A velha política foi sepultada na nossa gestão. Essa é a grande questão. E é isso o que incomoda. Só isso.”

Novamente sem nominar ninguém, o prefeito afirmou que, em sua gestão, a Prefeitura de Vitória não está no radar de operações de combate à corrupção e ao crime organizado (sugerindo, nas entrelinhas, que antes estava) e que, com essa mudança, alguns podem ter deixado de lucrar por vias ilícitas, o que explicaria a oposição a ele:

“Vitória está ‘isolada’ da corrupção? Isso está. Vitória está ‘isolada’ das operações de combate ao crime organizado? Isso está. Vitória deu um salto de qualidade para melhorar a vida das pessoas. Por isso se tornou a capital mais transparente do país. Eu dialogo e frequento todos os ambientes junto com a população. A velha política ficou para trás. E, naturalmente, isso gera algum sentimento de perda, talvez até perda patrimonial para alguns”.

Antes de Pazolini, Vitória foi governada, nesta ordem, por Luiz Paulo Vellozo Lucas (1997-2004), João Coser (2005-2012) e Luciano Rezende (2013-2020). O tucano e o petista são seus adversários agora nas urnas. Luciano (Cidadania) apoia Luiz Paulo.

Indagado diretamente sobre quem seria essa “velha política” em Vitória, Pazolini terceirizou a resposta para a população da cidade, nas urnas, em outubro: “Quem define são os cidadãos. O cidadão é protagonista da decisão. Cada um exerce o seu voto democrático e elegeu para tirar a velha política. Quem ficou para trás…” Ele não completou a frase.

Pazolini ainda enfatizou que, em seu governo, pôs um fim na prática de distribuição de cargos comissionados na Prefeitura de Vitória em troca de apoio político. Segundo ele, “líderes comunitários não participam da gestão com cargos, mas com representatividade política”, participando das decisões no gabinete do prefeito em reuniões semanais, toda quinta-feira.

“Esta é a diferença da nossa gestão: não tem intermediários. É por isso que incomoda a velha política, porque é feita diretamente: lideranças comunitárias, prefeito e morador. É assim que a gente constrói.”

Governo do Estado e Casagrande

Sobre um possível autoisolamento ou, no mínimo, grande distanciamento em relação ao Governo do Estado e ao governador Renato Casagrande (PSB), Pazolini negou que isso exista em termos administrativos, mas fez questão de ressalvar que eles têm “crenças e valores” diferentes. Em Vitória, Casagrande apoia Luiz Paulo e Coser, precisamente os dois candidatos que, implicitamente, o atual prefeito começa a buscar associar à ideia de “velha política”, supostamente superada por ele e “deixada para trás”.

“O diálogo [com o Governo do Estado] é permanente. O diálogo existe. As nossas equipes conversam. Uma coisa são crenças, são valores. Outra coisa é a vida das pessoas. A vida das pessoas sempre vai estar em primeiro lugar. Vitória faz e já fez todas as parcerias possíveis e continuará fazendo. Mas nós temos crenças e valores. E nós fomos eleitos para isso, para dialogar e construir coletivamente”, afirmou Pazolini.

Uma colega perguntou se, em caso de reeleição, haverá maior proximidade política entre ele e Casagrande. “Não há nenhuma dificuldade. Nossa prioridade é cuidar das pessoas. Foi para isso que recebemos o mandato”, reiterou o prefeito.

Para exemplificar as mencionadas “parcerias” entre o Executivo Municipal e o Estadual, Pazolini citou prédios públicos cedidos pelo município ao Estado, operações conjuntas e investimentos. “Não tem problema nenhum. Nós nos inscrevemos, por exemplo, quando tem editais. Em diversos editais, a prefeitura tem verbas de outros entes federados. Nós nos inscrevemos, competimos em igualdade de condições e temos sido contemplados diariamente.”

Segurança pública

Especificamente quanto à segurança pública, área mais delicada neste debate sobre isolamento versus integração, Pazolini tornou a salientar que “não há dificuldade alguma”. Afirmou que conversa diretamente com o secretário estadual de Segurança Pública, Eugênio Ricas, fazendo questão de frisar que os dois são delegados, ainda que de instituições distintas:

“Nós saímos de 24 para 1.060 câmeras de videomonitoramento. Trouxemos inteligência artificial. Reformulamos a Guarda. Esses resultados, é claro, são muito expressivos, e é essa a linha que vamos continuar. A integração existe. Eu dialogo diretamente com o Doutor Eugênio, inclusive, que é delegado assim como eu, ele delegado da Polícia Federal, eu da Polícia Civil. Então não tem dificuldade nenhuma. Essa integração é permanente, e a orientação é para que possamos seguir.”

Pazolini ainda citou redução dos feminicídios em Vitória e diminuição do número de furtos e roubos no Centro: “Todos esses índices mostram que o caminho é o da integração”. O prefeito também destacou a prisão de uma quadrilha, efetuada na véspera, pela Polícia Civil, com a ajuda da Guarda Municipal: “Informações coletadas em conjunto”. Salientou, ainda, que “a Guarda Municipal prendeu o segundo criminoso mais procurado do Espírito Santo, sem disparar um único tiro, e colabora todos os dias”.

Por fim, para ilustrar a ideia de “integração” com o Estado nessa área, ressaltou que o município cede alguns imóveis ao Estado, entre eles o da sede da Primeira Delegacia Regional da Polícia Civil.

Reconstrução e protagonismo

Oponentes de Pazolini têm dito que, nos últimos quatro anos, Vitória “perdeu protagonismo”. Ele defende exatamente o contrário. “Vitória é a capital mais transparente do Brasil no ranking da Transparência Internacional. Tem a melhor saúde do Brasil e a melhor educação do Brasil, entre as capitais. Quem diz isso são organizações privadas, independentes.”

Austeridade fiscal

Nas suas últimas prestações de contas obrigatórias à Câmara de Vitória, em 2023 e neste ano, Pazolini deu uma amostra do que deve ser o seu discurso de campanha, priorizando duas vertentes: apresentação das entregas para a população, na forma de obras, serviços e programas, e valorização da austeridade fiscal (precisamente o que teria permitido a entrega dos resultados).

De tão repisado por ele e seu mentor nessa área (e possível vice), Aridelmo Teixeira (Novo), o número ficou na cabeça de quem ouviu com atenção: segundo eles, no início do mandato, em janeiro de 2021, a Prefeitura de Vitória só tinha R$ 7 milhões livres em caixa.

Por isso, afirmam, eles precisaram tomar medidas amargas (como a imediata reforma previdenciária municipal), cortaram gastos, cargos comissionados etc… E foi exatamente essa política austera o que teria permitido a eles deslanchar e “soltar” os investimentos que se viram do ano passado para cá.

A linha de raciocínio e o discurso se assemelham muito ao do último governo Paulo Hartung, de 2015 a 2018, antes da volta de Casagrande ao Palácio Anchieta. Não por acaso, em sua equipe de governo, Pazolini está cercado de antigos colaboradores do ex-governador, entre os quais o próprio Aridelmo.

Alfinetada no PT, em Lula e em Coser

“O Brasil precisa desse debate [sobre austeridade e saúde financeira]. Nós estamos sofrendo. Olha o debate lamentável que nós estamos passando hoje em nível nacional. E quem sofre mais são os mais pobres. No noticiário nacional, hoje, qual é a pauta? Contingenciamento e corte de gastos, exatamente nas políticas públicas que as pessoas mais precisam. É isso que nós não queremos para a nossa cidade. Aqui queremos cuidar das pessoas e valorizar esses investimentos em saúde, educação, assistência, melhorar a vida de quem mais precisa e levar de fato a igualdade”, afirmou Pazolini.

Implicitamente, o prefeito está a criticar o governo Lula (PT), o próprio presidente – governante conhecido por sua equivocada despreocupação com o equilíbrio fiscal, beirando o desdém e o desprezo por esse tema. Ao dar esse disparo, quem ele atinge indiretamente é seu hoje principal adversário, o candidato de Lula, João Coser (PT).

Mirando no Luiz, ele acerta no João.

Sobre o/a vice…

“A cidade tem um sonho. E o nome que a cidade sonhar, nós vamos sonhar.” Esta foi a resposta de Lorenzo Pazolini sobre os critérios para a escolha do seu companheiro ou companheira de chapa.

Aí realmente a fala foi onírica, surreal. Quem vai escolher o vice de Pazolini não será “a cidade”. Será ele mesmo com Erick Musso, Da Vitória (PP) e Aridelmo Teixeira. Acima de tudo, a decisão será dele mesmo, de maneira pessoal e intransferível. Não dá para a delegar, muito menos a colocar na conta, dos mais de 300 mil munícipes.

Republicanos x PL de Magno

Pazolini preferiu não entrar na polêmica que tem sido travada entre seu partido, o Republicanos, e o PL, nas pessoas dos respectivos presidentes estaduais, o ex-presidente da Assembleia Legislativa Erick Musso e o senador Magno Malta.

Os dois partidos de direita têm disputado o protagonismo desse campo ideológico no Espírito Santo. Magno não perde uma ocasião para criticar publicamente o Republicanos, chamando o partido de Erick e Pazolini de “direitinha” ou “direita relativa”, dizendo que o Republicanos tem pastas no governo Lula e reivindicando que o PL é “o único partido de direita de verdade”.

Em resposta, Erick afirmou que Magno criou “uma utopia que só existe na cabeça dele” e que o senador está colocando em prática “um projeto pessoal”, regido por “egoísmo e egocentrismo”. Lembrou ainda que Magno apoiou Lula e Dilma Rousseff no passado, tendo pedido votos para ambos.

“Sou filiado ao Republicanos. Meu presidente Erick Musso já se manifestou. E eu respeito a posição do meu presidente. O partido já se expressou. E, consequentemente, se eu estou filiado, é porque estou contemplado com a posição do meu presidente”, esquivou-se o prefeito.

Por ora, Assumção fala sozinho. Por ora…

Num nível mais pessoal, o candidato do PL a prefeito de Vitória, Capitão Assumção, tem “chamado Pazolini para a briga”, tachando-o de “omisso” e “covarde”. O deputado estadual disse isso da tribuna da Assembleia e, no dia 28, na convenção do PL em Vitória, na qual foi oficialmente lançado. Isso porque Pazolini não declarou apoio a Jair Bolsonaro (PL) em 2022.

“Quem responde isso é a sociedade. É a população que vai avaliar. Respeito muito o voto popular, a democracia, as instituições. Esses são os pilares do Estado Democrático de Direito. Nós precisamos disso no nosso país. Então quem responde sobre isso é o povo, que é soberano”, respondeu Pazolini.

Por ora.


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