fbpx

Coluna Vitor Vogas

Marcelo, marmelo, martelo: a vitória política tripla de Marcelo Santos nesta semana

A conversa decisiva de Marcelo com Casagrande na segunda-feira, as cartas postas por ambos na mesa de negociação, o pedido negado por Marcelo e os termos do acordo que passa pelo comando da Assembleia, a direção estadual do União Brasil e a eleição para governador em 2026

Publicado

em


Marcelo, marmelo, martelo
. Marcelo é Alexandre Marcelo Santos, presidente da Assembleia Legislativa (Ales) desde fevereiro de 2023, virtualmente reeleito para o cargo na eleição da nova Mesa Diretora, no dia 3 de fevereiro. Do marmelo se faz a marmelada – no popular, uma vitória fácil, sabida com antecedência. Foi exatamente o que tivemos na última quarta-feira (22): com a decisão do União Brasil de permanecer na base de Renato Casagrande e apoiar o projeto eleitoral do governador no ano que vem, a reeleição de Marcelo Santos na presidência da Assembleia tornou-se “marmelada”. O acordo, então, foi fechado. E o martelo foi batido.

Marcelo, marmelo, martelo é o título de um clássico da literatura infantil brasileira, escrito por Ruth Rocha. A primeira frase do livro é: “Marcelo vivia fazendo perguntas a todo mundo”. Neste enredo de gente grande, a coluna de hoje se propõe fazer e responder duas perguntas capitais: como Marcelo Santos conseguiu renovar o apoio de Casagrande e assim garantir sua permanência na Assembleia pelos próximos dois anos? Por que esse triunfo, na verdade, é uma tripla vitória para ele?

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Eleição da Mesa: a influência de Casagrande

Na eleição interna da Assembleia, Marcelo Santos sempre foi o nome favorito dos próprios deputados para continuar à frente da Casa. Ele agrada aos pares, relaciona-se bem com todos, prestigia a todos, enfim, seria pule de dez desde o início, se essa “eleição interna” fosse, de fato, interna. Nunca foi.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Embora não tenha direito a voto, o eleitor mais influente desse processo sempre foi Renato Casagrande. A cada dois anos, o governador do momento influencia, em algum grau, a escolha do presidente da Ales. Poucas vezes, porém, essa influência foi tão sentida e um governador teve tanto peso na decisão, tanto controle pessoal sobre os rumos e o ritmo do processo, totalmente ditado por Casagrande.

Desde setembro, ele pediu à sua base – majoritária em plenário – para suspender qualquer movimento até segunda ordem: ninguém poderia se posicionar ou tomar qualquer atitude relacionada à Mesa antes de o governador se decidir. E assim foi feito. Diferentemente da eleição anterior, por exemplo, esta foi marcada pela quase absoluta inércia, quase nenhuma articulação de bastidores entre os próprios deputados. Todos em stand-by, esperando Casagrande se resolver – isto é, se entender com Marcelo.

Além do atual presidente, o único que se lançou – não publicamente, mas nos bastidores – foi o presidente estadual do PSDB, Vandinho Leite, como alternativa ao nome de Marcelo para o Palácio Anchieta, caso o governador decidisse tentar “retirar” o atual presidente do cargo. Vandinho é muito mais próximo politicamente do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) e está comprometido, desde o início, em apoiar a possível candidatura de Ricardo a governador do Estado em 2026. O vice-governador, hoje, é a principal aposta do Palácio Anchieta.

Início complicado: o que travou o acordo com Marcelo?

Quanto a Marcelo Santos, apesar de ser aliado de Casagrande, colocou, no meio do caminho, algumas pulgas atrás da orelha do governador e de seus conselheiros. No Palácio Anchieta, puseram-se a duvidar do grau de lealdade e do real compromisso de Marcelo em seguir no movimento de Casagrande e apoiar seu candidato à sucessão em 2026. Isso porque o presidente da Assembleia fez alguns movimentos não convergentes com os do Palácio ao longo de 2024.

Podemos citar, brevemente, o apoio de Marcelo a Lorenzo Pazolini (Republicanos), adversário de Casagrande, na eleição à Prefeitura de Vitória, e também sua tentativa de assumir a presidência do União Brasil em 2024, no lugar de Felipe Rigoni (também aliado de Casagrande), às vésperas da última eleição municipal. Esses e outros episódios deixaram Casagrande e companhia ressabiados, temerosos de sofrer uma “traição” de Marcelo até 2026, se bancassem sua reeleição.

O que Marcelo fez, então? Corrigiu a rota e recompôs com o governo. Em coletiva convocada por ele na Assembleia em dezembro, fez juras públicas de lealdade a Casagrande; garantiu que é, sempre foi e seguirá sendo seu aliado e que estará no projeto eleitoral liderado por ele em 2026; enfatizou a estabilidade política e institucional que, como presidente da Ales, ele proporcionou a Casagrande. Ao mesmo tempo, aproximou-se de Ricardo Ferraço.

A preferência dos deputados

Na semana passada, a convite de Casagrande, Marcelo começou a conversar com ele especificamente sobre a eleição da Mesa Diretora. Na última sexta-feira (17) e nos dias que se seguiram, o governador ouviu alguns deputados aliados, para tomar o pulso do plenário e sentir os humores dos deputados em relação a Marcelo. Um dos consultados foi o líder do governo, Dary Pagung (PSB).

O que o governador captou foi um sentimento bastante favorável à permanência do atual presidente. Em geral, os deputados se sentem contemplados por ele. Casagrande concluiu que o custo político de bancar a retirada de Marcelo seria muito alto. Era mais conveniente mantê-lo. Mas não de graça.

A conversa decisiva de segunda (20): cartas na mesa

Então, na última segunda-feira (20), Marcelo e Casagrande se reuniram e conversaram até altas horas da noite no Palácio Anchieta. Ali o acordo entre eles já ficou muito bem encaminhado. Casagrande aceitou apoiar novamente Marcelo, mas lhe fez alguns pedidos. Nem todos foram atendidos. Sabendo-se forte entre os pares, Marcelo não fez tantas concessões.

A concessão que Marcelo não fará

Um dos pedidos do governador – que não será atendido por Marcelo – foi que o atual presidente descentralizasse o comando da Assembleia. Numa escalada iniciada com Erick Musso (Republicanos) e intensificada na gestão de Marcelo, os poderes políticos e administrativos na Assembleia hoje estão altamente concentrados nas mãos do presidente.

Na prática, não há mais que se falar em uma “Mesa Diretora”. Resolução após resolução, os dois secretários da Mesa viraram cargos quase decorativos. Esse é um ponto que, faz tempo, incomoda muito o governo – de certo modo refém do presidente da vez. Casagrande gostaria que Marcelo revogasse algumas dessas resoluções. Ele não pretende fazê-lo. Mais difícil que acumular poder, é alguém abrir mão do poder adquirido.

Mas essa não era uma condição absoluta.

A condição maior: apoio do União Brasil

A condição maior para Casagrande – esta, sim, inegociável – não diz respeito à gestão da Assembleia, e sim à correlação de forças político-partidárias no tabuleiro eleitoral de 2026. O governo fazia questão de manter o União não só em sua coalizão para governar, mas, acima de tudo, na coligação majoritária que deve ter Casagrande e um segundo aliado como candidatos ao Senado e Ricardo (ou outro aliado) como candidato ao Palácio Anchieta.

Embora atrofiado no Espírito Santo, o União é, em nível nacional, um dos mais poderosos partidos. Nas últimas eleições gerais (2022), a sigla de direita fez a festa, elegendo alguns governadores e uma das maiores bancadas na Câmara Federal. Isso lhe dá um dos maiores quinhões do Fundo Partidário, do Fundo Eleitoral e do tempo de propaganda de rádio e TV. Nas eleições municipais de 2024, o União mais uma vez foi um dos partidos mais exitosos.

A gestão de Felipe Rigoni e sua insustentável situação

Desde 2022, o União é presidido no Espírito Santo pelo ex-deputado federal Felipe Rigoni, também aliado de Casagrande e seu secretário de Meio Ambiente. Todos os números provam que, como dirigente partidário, Rigoni não foi bem, a ponto de o União, essa potência nacional, ser hoje quase um partido nanico no Espírito Santo: dois deputados estaduais; um prefeito eleito em 78 cidades; nenhum representante na bancada capixaba no Congresso; nenhum vereador em Vitória, onde o partido nem sequer teve chapa.

Por isso, a direção nacional do União, presidida pelo advogado Antônio de Rueda, já vinha cogitando há algum tempo intervir na Executiva do partido no Espírito Santo e substituir Rigoni na presidência. Desde que entrou no União, em junho do ano passado, o próprio Marcelo Santos vinha se aquecendo e se articulando para assumir o cargo e o controle do União no Estado. Às vésperas da eleição municipal, esse movimento foi brecado (ou apenas adiado) por Casagrande, em diálogo com outros dirigentes nacionais da sigla.

O partido continuou por mais um tempo nas mãos de Rigoni. Mas, após novo desempenho ruim nas eleições municipais, ele perdeu as condições políticas. Não havia mais como se sustentar no cargo. Uma intervenção nacional, com Marcelo assumindo a direção estadual do União, parecia uma questão de tempo.

Foi então que, nas conversas relativas à Mesa Diretora da Ales, Casagrande incluiu esse fator na equação. Topou apoiar Marcelo, sob a condição de que ele garantisse a permanência do União em sua base, sua coligação e seu palanque no ES em 2026.

Euclério Sampaio: surge a solução consensual

Na conversa de segunda-feira, surgiu então o nome de Euclério Sampaio, sugerido por Marcelo Santos. Os dois são aliados históricos na política cariaciquense e estadual. Ao mesmo tempo, assim como Marcelo e Rigoni, Euclério é muito aliado de Casagrande. O prefeito de Cariacica inclusive já pertenceu ao União, até passar para o MDB, em outubro de 2023.

A “solução Euclério” foi apresentada como uma saída consensual e boa para todos, uma terceira via entre Rigoni e Marcelo Santos – porém, certamente, mais próximo do presidente da Assembleia. Euclério na presidência é uma forma de Marcelo assumir a direção do União no Estado, mas sem ficar parecendo que ele tomou na marra o partido de Rigoni. Casagrande concordou com a saída. Marcelo topou fazer sua parte.

No dia seguinte – terça-feira (21) –, eles articularam a reunião decisiva em Brasília com Antônio de Rueda, para sacramentar todos os termos do acordo, envolvendo o comando da Ales, a direção local do União e a eleição estadual de 2026. Na quarta-feira (22), no primeiro voo comercial, Casagrande, Marcelo e Ricardo Ferraço seguiram juntos para Brasília, ao encontro de Rueda – “num voo sem turbulências”, contou-me um dos ilustres passageiros.

Acordo selado: o encontro decisivo com Rueda em Brasília

Na tarde de quarta-feira (23), após pitarem o cachimbo da paz política com o cacique Rueda, os quatro divulgaram a foto que vale mais que mil palavras, e Marcelo anunciou: no Espírito Santo, o União seguirá firme e forte no projeto político e administrativo liderado por Casagrande e Ricardo Ferraço – leia-se o projeto eleitoral.

Ricardo Ferraço, Antônio de Rueda, Renato Casagrande e Marcelo Santos

Ricardo Ferraço, Antônio de Rueda, Renato Casagrande e Marcelo Santos

Ato contínuo, Euclério confirmou à coluna: como resultado desse acordo e a convite do próprio Rueda, ele voltará para o União Brasil (prefeitos não perdem mandato por infidelidade partidária) e assumirá a presidência do partido no Espírito Santo, em fevereiro, para, segundo ele, “pacificar as coisas” e montar chapas competitivas nas eleições para deputados estaduais e federais. Essa última é a que interessa diretamente a Marcelo, pré-candidato a um assento na Câmara.

E Rigoni? A conversa nesta quinta (23) com Casagrande

Como não dá para fazer uma omelete sem quebrar ovos, quem saiu perdendo nessa combinação foi Rigoni – mas, como dito, ele já estava insustentável no cargo, sem força política para montar chapas fortes para 2026. Como dirigente, depois dos resultados fracos em dois pleitos seguidos, perdeu a confiança do mercado político capixaba. E precisa se concentrar nas entregas da Secretaria do Meio Ambiente, se quiser priorizar o seu próprio retorno à Câmara.

Na quinta-feira (23), então, Casagrande e Ricardo trataram de amarrar a última ponta solta dessa costura política. No Palácio Anchieta, receberam Rigoni e o braço direito dele no União, o advogado Victor Ricciardi. Casagrande postou foto da reunião em seus stories – todos muito sorridentes.

RRRR: Ricardo, Rigoni, Renato e Ricciardi

RRRR: Ricardo, Rigoni, Renato e Ricciardi

Em seguida, a assessoria de imprensa de Rigoni divulgou uma nota cheia de mensagens nas entrelinhas (reproduzida abaixo), sem tratar objetivamente do tema “presidência do União”.

Ele afirma que, “sobre a discussão em relação ao novo comando do partido”, participou “desde o início de todas as discussões com os atores envolvidos”. Também diz que seu foco “está em continuar realizando um bom trabalho na Secretaria de Estado de Meio Ambiente”.

As determinações de Euclério

Logo depois da conversa com Casagrande, Rigoni ligou para Euclério, pedindo um encontro com ele. Euclério vai recebê-lo após obter alta hospitalar – está internado para tratar uma infecção urinária.

O prefeito de Cariacica vai mesmo assumir a presidência estadual do União, no lugar de Rigoni. Resta saber como, isto é, em qual formato. O que apurei é que, por proposição de Casagrande, Rigoni poderá abdicar da presidência e passar o bastão espontaneamente para Euclério, a fim de evitar uma “intervenção da Executiva Nacional”, ou a “dissolução da Executiva Estadual” – o que torna tudo mais feio para todos os envolvidos. Querem construir uma transição pacífica.

Rigoni também quer manter voz ativa nas decisões da futura direção estadual. Euclério não deve se opor a isso. O prefeito de Cariacica será o presidente de fato, com direito à palavra final. Mas tanto Marcelo quanto Rigoni deverão ter participação no novo órgão diretivo.

Para Euclério, o principal será construir, com a ajuda de Casagrande, uma boa chapa para a Câmara dos Deputados em 2026, começando com Marcelo e Rigoni. O deputado estadual Bruno Resende já está na sigla e também quer ser candidato a federal. Criação política de Euclério, o deputado federal Messias Donato, hoje no Republicanos, pode ser puxado pelo prefeito para esse “novo União” que deve surgir de tudo isso.

A vitória tripla de Marcelo

Nesta história nem um pouco infantil, quem saiu como maior vitorioso, por todos os lados e frentes, foi sem dúvida Marcelo Santos, que fez barba, cabelo e bigode:

Ganhou porque manteve a presidência da Assembleia Legislativa – cargo cujo poder político, no contexto estadual, talvez só perca para o de governador.

Ganhou porque conseguiu, por intermédio de Euclério, aquilo que tanto buscava desde 2023: influência na direção de um partido grande no Espírito Santo.

Ganhou porque, nos termos do acordo firmado com o governo, agora tem a expectativa de poder concorrer a deputado federal em 2026 em uma chapa forte e competitiva, a qual o Palácio Anchieta ajudará a construir, em troca da presença do União na coligação governista de Casagrande, Ricardo e companhia.

Vitória tripla para ele.

A nota de Felipe Rigoni

O União Brasil segue firme e dentro do projeto do nosso governador Renato Casagrande e do vice-governador Ricardo Ferraço.

Sobre a discussão em relação ao novo comando do partido, participei desde o início de todas as discussões com os atores envolvidos.

Tenho mantido um forte diálogo com o prefeito e amigo Euclério Sampaio e todos temos um objetivo claro e único: manter a harmonia do partido e fortalecer o projeto liderado pelo governador Renato Casagrande e o vice Ricardo Ferraço.

Sobre a reunião desta quarta-feira, fui convidado e só não participei por estar em uma viagem já agendada, fora do país.

Meu foco está em continuar realizando um bom trabalho na Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Trabalho este que colocou o estado em 3° lugar na lista dos que mais recuperam áreas verdes no Brasil e em 1° lugar no ranking de estados da ODS de ações contra a mudança global no clima.

O trabalho continua firme, sempre com o mesmo objetivo: melhorar a vida de cada capixaba.

Em tempo…

Ainda na quinta-feira (22), Casagrande e Ricardo receberam Marcelo e Vandinho Leite no Palácio Anchieta, com o chefe da Casa Civil, Junior Abreu (PDT).

Ricardo Ferraço, Vandinho Leite, Renato Casagrande, Marcelo Santos e Junior Abreu

Ricardo Ferraço, Vandinho Leite, Renato Casagrande, Marcelo Santos e Junior Abreu


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui