Coluna Vitor Vogas
Com acenos a Casagrande, Marcelo Santos se lança à reeleição na presidência da Ales
Em entrevista cheia de recados endereçados ao governador, Marcelo reassumiu seu compromisso com a “estabilidade política” para o Estado (e para o governo). Também renovou seu voto de lealdade total a Casagrande agora e em 2026, garantindo que estará ao lado do governador e no projeto liderado por ele na sucessão estadual
O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União), convidou jornalistas do Espírito Santo para uma entrevista coletiva no Salão Nobre do Palácio Domingos Martins, na manhã desta quarta-feira (11). O objetivo inicial, segundo o presidente, foi “agradecer à imprensa” e fazer um balanço dos seus dois anos à frente da Casa de Leis. Mas, como Marcelo nunca dá ponto sem nó, o propósito da coletiva foi muito além. Na prática, o presidente da Mesa Diretora lançou sua pré-candidatura à reeleição por mais dois anos no comando da Assembleia e usou o momento para passar alguns recados públicos, voltados para a sociedade capixaba, para a classe política e, acima de tudo e de todos, para o governador Renato Casagrande (PSB).
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O recado para o governador – emblematicamente, logo após o plenário aprovar o orçamento estadual para 2025 – poderia ser assim traduzido: “Não tema, Renato! Siga contando comigo como aliado à frente da Assembleia e como parceiro incondicional em 2026”. Admitindo que está “inclinado” a disputar a reeleição, no dia 1º de fevereiro, Marcelo renovou publicamente seus votos de lealdade política a Casagrande, de quem se disse um “aliado histórico”. Reiterou, categoricamente, que estará ao lado do governador, declarando o compromisso de apoiar não só a possível candidatura de Casagrande ao Senado como também o projeto de sucessão liderado pelo governador e pelo vice-governador Ricardo Ferraço (MDB).
Para bom entendedor, Marcelo assumiu de público o compromisso de apoiar o candidato ao Palácio Anchieta que será lançado por Casagrande (hoje, o primeiro da fila é Ricardo, a quem Marcelo, aliás, rasgou elogios).
No mesmo sentido, foi muito significativa a declaração do presidente a respeito de Lorenzo Pazolini (Republicanos). Cotado para concorrer ao Governo do Estado em 2026, mas por uma frente política alternativa (ou adversária) à de Casagrande, o prefeito de Vitória teve sua reeleição apoiada por Marcelo, no pleito municipal deste ano – o que foi lido, inclusive aqui, como um possível sinal de que o presidente da Assembleia poderia estar ampliando seu leque de opções e ensaiando se movimentar de modo mais independente do Palácio Anchieta, com o olhar em 2026. Marcelo foi peremptório: seu apoio a Pazolini, segundo ele, foi exclusivamente em Vitória, e ele não tem compromisso eleitoral algum com o prefeito no futuro.
Tanto em sua fala inicial como nas respostas a mim e aos colegas, Marcelo também fez questão de enfatizar – até com certa insistência – que, sob sua liderança, a Assembleia garantiu estabilidade política total, nos últimos dois anos, ao Espírito Santo, aos outros Poderes e, especificamente, ao Governo Estadual.
De fato, é preciso registrar que, se no campo eleitoral e partidário Marcelo fez movimentos divergentes aos de Casagrande, à frente da Assembleia ele tem assegurado ao governo uma navegação serena em mar plácido. E aqui estamos falando dele mesmo, não de uma Mesa Diretora ou de um conjunto de deputados – haja vista a centralização de poderes nas mãos do presidente, que já era grande com Erick Musso (Republicanos) e se maximizou na gestão de Marcelo.
Com ele sentado na cadeira de presidente e senhor das decisões no Parlamento, Casagrande teve plena governabilidade e previsibilidade no primeiro biênio do atual mandato. Todos os projetos prioritários do Executivo foram pautados por Marcelo e aprovados sem óbices em plenário – quase sempre, em regime de urgência pedido por ele mesmo ou pelo líder do governo, Dary Pagung (PSB).
Mas, ao falar de “estabilidade”, Marcelo não somente olhou para trás, enfocando sua atual gestão. Partindo da retrospectiva recente para as perspectivas no curto prazo, ele indiretamente assegurou (para o próprio Casagrande) que essa tão bem-vinda estabilidade política e institucional seguirá preservada no próximo biênio se ele continuar à frente da Assembleia.
Espertamente, Marcelo na verdade o disse de maneira invertida: alertou para o risco de rápida perda dessa estabilidade, caso o Poder Legislativo caia em mãos erradas, levando a Assembleia a regredir a um passado inglório e ainda fresco na memória dos capixabas: “Temos que ter responsabilidade para não permitirmos a desconstrução do que alcançamos nos últimos anos… para que não tenhamos figuras que queiram avançar ainda mais com uma varinha de condão”. “Aqui não tem balcão de negócios”, completou, na mesma entrevista.
Reiterando que está “inclinado” a concorrer à reeleição, Marcelo confirmou que buscará, sim, novamente, o apoio de Casagrande – decisivo, com seu apoio explícito, em sua chegada à presidência no começo da atual legislatura. Mas disse que o fará na hora certa: em janeiro, segundo ele.
O atual presidente e virtual candidato à reeleição opinou que não se deve confundir a eleição da Mesa Diretora com as próximas eleições gerais de 2026, para “não contaminar” o processo interno de escolha… Mas, de novo: ele não dá ponto sem nó. Sendo até contraditório com o próprio discurso, Marcelo usou boa parte de sua fala para externar seu compromisso inarredável de se manter integrado ao grupo político e à frente ampla liderada por Casagrande visando à sucessão estadual daqui a dois anos.
Marcelo sabe que, na balança de Casagrande, para definir seu apoio na eleição da Mesa em janeiro, pesará muito este fator: o grau de comprometimento do próximo presidente da Mesa com o projeto eleitoral liderado por ele; o quanto o presidente, no próximo biênio, estará disposto a garantir navegação em águas calmas não só para ele, mas, principalmente, para Ricardo, caso o vice-governador assuma mesmo o governo no seu lugar em abril de 2026.
Ao assumir esses dois grandes compromissos – o de manter a estabilidade política para Casagrande à frente do Poder Legislativo e o de apoiar seu candidato ao governo –, Marcelo faz um grande aceno duplo ao dono da caneta no Palácio Anchieta, cuja posição, como sempre, será decisiva na eleição da Mesa. Marcelo disse esperar que haja uma chapa de consenso, como tem sido a regra na Assembleia desde 2003. Quer liderar uma vez mais essa chapa, novamente com o endosso de Casagrande. E é precisamente esse endosso que ele começou a pleitear e construir, a partir dos “recadões” mandados nesta quarta-feira.
Marcelo também repetiu que será candidato a deputado federal em 2026, fazendo inclusive algumas críticas ao comportamento do Congresso Nacional, o qual, segundo ele, nos últimos anos, tem se perdido em discussões de fundo ideológico “sobre o sexo dos anjos” e permitido, pela própria inação, que o STF tome o protagonismo e exerça o “ativismo judiciário”. “O papo agora é federal”, sorriu.
Logo após a coletiva de imprensa de Marcelo, ele seguiu para o Palácio Anchieta, onde o governador promoveu o seu tradicional almoço de fim de ano para os deputados estaduais, com pouquíssimas ausências.
No almoço, com a presença também de Ricardo Ferraço, só falaram Casagrande, Marcelo, Dary Pagung e secretário-chefe da Casa Civil, Juninho Abreu. O governador (olha aí) destacou a “estabilidade política” do Espírito Santo, na relação entre os Poderes.
O ponto de vista do governo
Na cozinha política do Governo do Estado, ainda não existe definição sobre a eleição da Mesa Diretora. Mas a orientação é clara: deixar as definições para janeiro.
O governador está determinado a participar ativamente do processo de escolha do próximo presidente, mas só pretende entrar em campo depois das festas de fim de ano. Exatamente por isso, o secretário-chefe da Casa Civil, Juninho Abreu, responsável pela interlocução política do governo com a Assembleia, já entrou em contato com todos os deputados da base, individualmente, fazendo o mesmo pedido: para que nenhum deles assuma compromisso algum relacionado à eleição da Mesa sem antes ouvir o governador, em janeiro.
Fica evidente, assim, que o governador quer ter nas mãos as rédeas do processo desde o início desta vez, para não correr o risco de repetir janeiro de 2023: na ocasião, ele deixou o processo correr solto e quando percebeu que a definição da Mesa estava se configurando de um jeito que o preocupava, tratou de dar um cavalo de pau, interferindo ostensivamente no processo decisório do outro Poder, em favor de Marcelo, e desconstruindo todo o movimento até então construído e encabeçado por Vandinho Leite (PSDB). Ficou até feia a “tratorada”.
Na cozinha política do Palácio Anchieta, hoje, não existe uma preferência em prol de Marcelo, nem este é considerado necessariamente um passo à frente dos demais por ter sido apoiado por Casagrande em 2023 e por já estar no cargo.
Além de Marcelo, três nomes de aliados são ventilados como “presidenciáveis”: Dary Pagung, Vandinho e o vice-líder do governo, Tyago Hoffmann (PSB).
Palacianos reconhecem que, para o governo, Marcelo foi um bom presidente, que entregou tudo o que o Executivo pediu. O “pé atrás” se deve, justamente, a dúvidas quanto ao nível de compromisso de Marcelo com o projeto sucessório de Casagrande e Ricardo, dúvidas essas geradas pelo próprio Marcelo em seus movimentos eleitorais de apoio a adversários do Palácio, como Pazolini em Vitória, e em sua tentativa (frustrada, ao menos em julho) de tomar por cima a presidência estadual do União Brasil, hoje com o secretário estadual de Meio Ambiente Felipe Rigoni, também aliado de Casagrande.
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