Coluna Vitor Vogas
“Inusitado”: a reação de Casagrande aos ataques do Coronel Ramalho
“Sem querer responder”, governador responde às recentes investidas do ex-secretário de Segurança contra seu governo e o PSB. Leia aqui
“Inusitado”. Assim o governador Renato Casagrande (PSB) define a recente série de ataques desferidos pelo Coronel Alexandre Ramalho (PL) contra o seu governo e, notadamente, contra o seu partido, o PSB. Evitando polemizar com o agora candidato a prefeito de Vila Velha, Casagrande responde (sem responder) ao seu ex-secretário de Segurança Pública. “Achei o caminho que ele escolheu um caminho inusitado, porque é um caminho de posições mais exacerbadas, e meu governo não é um governo de posições exacerbadas.”
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Por quase quatro anos, de abril de 2020 a janeiro deste ano, Ramalho fez parte desse mesmo governo, com protagonismo, à frente da Secretaria de Estado de Segurança Pública. Em janeiro, o coronel da reserva da PMES entregou o cargo, para se concentrar em suas articulações visando às eleições municipais.
Em Vila Velha, Casagrande, seu partido e seu grupo político já tinham o compromisso de apoiar a reeleição do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos). Preferiam que Ramalho concorresse a prefeito de Vitória. Ramalho preferia disputar a prefeitura de Vila Velha, cidade onde mora. Para isso, saiu do Podemos em fevereiro. No mês seguinte, filiou-se ao PL, após se aproximar do senador Magno Malta, presidente do partido do ex-presidente Bolsonaro no Espírito Santo, lançando a candidatura a prefeito canela-verde.
Desde o início, Ramalho foi “magnetizado”, isto é, atraído por aquele discurso político tipicamente de Magno, incorporado pelo ex-secretário. Passou a investir intensamente na polarização ideológica e no combate à esquerda em Vila Velha, tratando de associar Arnaldinho a essa corrente ideológica. Reiteradamente, afirma que o prefeito é de esquerda e que a cidade “é governada pela esquerda”. Embasa essa afirmação no fato de a extensa coligação de Arnaldinho incluir partidos de esquerda, com destaque para o PSB do governador.
Apesar dessa estratégia de Ramalho e dos palanques opostos em Vila Velha, ele e Casagrande, até meados de junho, ainda vinham buscando manter uma posição de respeito mútuo. Em entrevista ao EStúdio 360, telejornal da Rede Capixaba, Ramalho manifestou seu respeito ao governador. Este, por sua vez, chegou a dizer, em entrevista à BandNews, que ainda considerava o ex-secretário alguém com quem mantinha “relação política”. A corda estava esticada, mas não rompida.
Eis que, em 27 de junho, na presença de Eduardo Bolsonaro, em evento de lançamento de sua pré-candidatura, Ramalho “muda a direção do seu fuzil” e passa a mirar diretamente no governo Casagrande e no PSB. No referido evento, criticou duramente o uso da máquina estadual para reeleger o atual prefeito. Em uma live pouco tempo depois, falando a apoiadores, o candidato do PL chegou a dar uma banana (“Aqui pra eles!”) para o governador, o prefeito e o Podemos.
Desde então, Ramalho passou a intensificar ataques ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), partido de centro-esquerda com lugar de destaque na coligação de Lula (PT) em 2022 e no governo petista em Brasília. Além de ministérios, o partido de Casagrande tem ninguém menos que o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
Em consonância com sua estratégia de demonização da esquerda, Ramalho passou a demonizar, especificamente, o PSB. Uma decisão de Arnaldinho, até certo ponto surpreendente, deu combustível a tal estratégia: no dia 2 de agosto, o prefeito anunciou seu ex-secretário de Planejamento Cael Linhalis como companheiro de chapa, em detrimento do presidente da Câmara de Vila Velha (MDB), Bruno Lorenzutti, tido como favorito para a vaga. O candidato a vice de Arnaldinho foi uma indicação direta da direção estadual do PSB.
Pegando essa deixa, Ramalho postou um vídeo em suas redes sociais associando o PSB à “velha política” e a vilanias como “traição”, “ingratidão” e “deslealdade”.
Fidelíssima a Casagrande e ao PSB, a secretária estadual das Mulheres, Jacqueline Moraes, respondeu ao post do ex-colega de secretariado, apontando incoerências em seu discurso, já que Ramalho serviu ao mesmo governo que agora ataca e costumava elogiar o Programa Estado Presente, liderado por ele na Sesp. A ex-vice-governadora escreveu, ainda, que foi o governo do PSB que proporcionou ao coronel as melhores oportunidades de trabalho para se projetar.
Em resposta, Ramalho afirmou que serviu ao governo Casagrande exclusivamente como quadro técnico, que nunca se relacionou com o PSB e que o grupo político de Casagrande nunca lhe deu o devido reconhecimento. “Segue seu caminho na esquerda e me deixe na direita”, arrematou.
“Debate superficial”: a reação de Casagrande
Voltando à reação de Casagrande, o governador evita responder diretamente se ainda considera Ramalho um aliado ou alguém com quem cultive (ou queira cultivar) algum tipo de relação política, mas dá a entender que é Ramalho quem está se esforçando muito para explodir a ponte após completar a travessia para um extremo ideológico. Segundo Casagrande, é a sociedade de Vila Velha quem dará a resposta, a Ramalho e a todos, por meio das urnas, em outubro.
“Relação política você só pode manter quando as duas partes desejam. Mas não quero ficar respondendo ao Ramalho. É um momento eleitoral, é um mês e meio de campanha. Nas eleições, as pessoas exacerbam e reverberam posicionamentos que podem não estar em sintonia com a sua história, a sua vida e as funções que já exerceram”, afirma Casagrande, também insinuando, nas entrelinhas, incoerência nas críticas de Ramalho a um governo no qual ele mesmo ocupou função proeminente.
“Mas não quero ficar fazendo um debate com nenhum candidato, não quero entrar nisso”, prossegue Casagrande.
“Acho que a sociedade de Vila Velha é que vai dar essa resposta ao ex-secretário. Se aquilo que ele estiver falando tiver consistência, ele vai ter um bom desempenho nas urnas. Se aquilo que ele estiver falando não tiver sustentação, ele não terá. Se eu entrar nisso agora, começo a arrumar briga desnecessária para o Governo do Estado. A gente tem tanta coisa mais importante para se preocupar, então deixa a população responder.”
Segundo Casagrande, ele só dará uma resposta mais enfática se Ramalho chegar a ofender a honra dele e a do seu governo. Para ele, apesar do gesto da “banana”, esse limite não foi ultrapassado pelo candidato do PL em Vila Velha.
“Ele está num debate político superficial e ideológico. Qualquer resposta que eu der vai alimentar isso. O governo tem tanta coisa para se preocupar… Não vou ficar alimentando esse debate eleitoral que não tem consistência”, emenda Casagrande, “respondendo sem responder” e “criticando sem criticar” o comportamento adotado por Ramalho.
“Mas tem que respeitar a escolha dele, pois ele acha que é um caminho que lhe dá sustentação”, completa o governador.
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