Coluna Vitor Vogas
Eugênio Ricas: política nunca mais. Casagrande: “O futuro é o futuro”
Enquanto Ricas prefere fechar de vez a porta eleitoral (que aliás não chegou a atravessar), Casagrande parece reabrir uma frestinha para ele
“Não tenho pretensão política. Não penso em política para 2026”, respondeu, peremptório, Eugênio Ricas, durante a coletiva de imprensa realizada no Palácio Anchieta nesta terça-feira (6), ao ser questionado por uma colega sobre o tema. Mas é ainda mais que isso. Não é “não tenho pretensão agora, mas lá na frente posso reavaliar”. Em bate-papo com a coluna, o próximo secretário estadual de Segurança Pública, substituto de Alexandre Ramalho (Podemos), foi ainda mais taxativo: política, para ele, nunca mais. Não quer nem mesmo voltar a cogitar ser candidato ao que quer que seja. “Não cogito. Não passa pela minha cabeça. Sabe quando você tem um ‘livramento’? Pois é, foi o que eu tive. Nunca mais quero nem pensar em ser candidato a nada.”
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A quase candidatura de Ricas que acabou resultando em “livramento” ocorreu há pouco menos de dois anos. No início de 2022, incentivado por pessoas do grupo político do ex-governador Paulo Hartung (sem partido), o superintendente da Polícia Federal (PF) no Espírito Santo animou-se a lançar candidatura a governador pelo PSD, desafiando a reeleição de Renato Casagrande (PSB). Em março daquele ano, chegou a dar entrevistas apresentando-se como pré-candidato.
Mas logo depois – dias antes do fim do prazo para completar o salto para a política –, deu-se conta de que não tinha nem sequer legenda garantida no PSD para ser candidato. Mesmo deixando o cargo de superintendente, licenciando-se da PF e filiando-se ao partido, ele ainda teria de disputar a legenda com o então prefeito de Linhares, Guerino Zanon. Não havia nada realmente garantido pelos incentivadores. Então ele desistiu de tudo: continuou na Superintendência, não entrou no PSD e não foi candidato a nada. A experiência foi tão negativa para Ricas que ele decidiu: dessa fonte nunca mais nem sequer pensará em beber, aliás, não quer nem voltar a chegar perto dela.
Mas, com relação a esse ponto, o mais interessante na coletiva de imprensa foram as palavras e a postura de Casagrande. Questionado sobre um possível futuro eleitoral, o próprio Ricas, como dito, foi categórico quanto a isso estar fora de questão. Casagrande, nem tanto. Sinalizou preferir manter aberta essa possibilidade para Ricas, com uma frase carregada de intenções:
“O futuro é o futuro. Não tratamos de projetos eleitorais, até porque temos uma caminhada longa até chegar a 2026 e temos que apresentar os resultados para a população capixaba.”
Observem: “O futuro é o futuro”.
Enquanto Ricas prefere fechar de vez a porta (que aliás não chegou a atravessar), Casagrande parece reabrir uma frestinha para ele. Enquanto Ricas indica que o passado ficou no passado e não vai se repetir, Casagrande faz questão de dizer que “o futuro é o futuro”: comporta tudo. Mais significativo que isso, só se tivesse afirmado que “o futuro a Deus pertence”, mas aí já seria demais.
É aquilo… Ricas pode não querer, mas outros podem querer por ele. Foi assim que começou o seu ensaio em 2022. Vale lembrar que Casagrande não tem, até este momento, um candidato a governador para chamar de seu em 2026, nem no PSB nem genuinamente oriundo de sua equipe de governo.
A exceção evidente é o vice-governador e secretário estadual de Desenvolvimento, Ricardo Ferraço (MDB), que pode se sentar na cadeira de Casagrande já em abril de 2026, para disputar a reeleição seis meses depois. Mas há dúvidas de que Ricardo será “o candidato de Casagrande”.
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“Lo que pasó pasó… entre tú y yo”
Perguntamos a Ricas e a Casagrande se as rusgas pré-eleitorais de 2022 ficaram para trás e se eles chegaram a botar em pratos limpos o episódio da quase candidatura do primeiro contra o segundo.
Ricas respondeu que os dois já haviam conversado sobre isso no passado. “Sem mágoas sem ressentimentos, até porque nem teve disputa. Foi uma coisa que não influenciou em nada agora na nossa conversa sobre minha ida para a Sesp.”
Casagrande respondeu que, na conversa que tiveram há poucos dias sobre o convite para a Sesp, os dois passaram brevemente pelo tema da pré-eleição em 2022. E fez questão de contar ter perguntado a Ricas se ele tinha planos eleitorais e ter dito a ele que, em caso afirmativo, isso não seria impedimento para exercer o cargo de secretário.
“Nós tratamos, sim, de política. Não ‘colocamos em pratos em limpos’ porque já temos uma relação boa, não temos uma relação difícil com Eugênio. Nunca tivemos. Ele teve uma reflexão sobre se seria candidato ou não, mas não teve à época ofensa ao governo nem ao governador. Considerei normal o movimento que ele fez. Refletiu, não foi. Ele me disse que não tem projeto político-eleitoral. Eu também não tratei desse tema. Meu tema com ele foi segurança pública. A gente tratou que o trabalho na Secretaria de Segurança é um trabalho que exige muita isenção. E ele afirmou que não tem projeto eleitoral, projeto político. Eu disse a ele que não tem problema nenhum ter, desde que isso não atrapalhe o trabalho na Secretaria de Segurança.”
Segundo Casagrande, as despretensões políticas declaradas por Ricas não foram condição para ele o escolher para a Sesp. “Isso não foi decisivo, até porque ele diz que não tem projeto político, mas, se lá na frente quiser ter, é responsabilidade dele.”
Como foi a articulação, a sondagem e o convite?
A primeira sondagem a Ricas em nome de Casagrande foi feita pelo secretário estadual de Planejamento, Álvaro Duboc, um amigo e antigo colega dele na Polícia Federal. Foi com ele que Ricas teve a primeira conversa sobre a possibilidade de voltar para o governo. Em 2012, no primeiro governo Casagrande, Duboc foi quem levou o colega para trabalhar na Secretaria de Estado da Justiça (Sejus).
Na sexta-feira passada (2), Ricas foi chamado a conversar pessoalmente com Casagrande na Residência Oficial da Praia da Costa e recebeu dele o convite para assumir a Sesp. Dali o delegado já providenciou a passagem de avião. Na segunda-feira (5), foi a Brasília para entregar pessoalmente o cargo ao diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues.
Cessão e pagamento
Como servidor de carreira da Polícia Federal, o delegado se tornará secretário sob regime de cessão. Ontem mesmo, Casagrande pediu a cessão ao novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, ao qual a Polícia Federal é subordinada. A expectativa de Ricas é que a cessão seja formalizada em uma semana e ele possa ser nomeado logo após o Carnaval.
Quanto ao pagamento do salário, funciona assim: a Polícia Federal segue pagando-o, e o Governo do Estado reembolsa a União. Pelo menos era assim quando ele foi secretário da Justiça e de Controle e Transparência entre 2013 e 2018.
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Estilo menos “linha de frente”
Como secretário estadual de Segurança, Alexandre Ramalho tinha por hábito atuar na linha de frente, acompanhando in loco e até participando de algumas operações policiais, devidamente paramentado, com uniforme e colete à prova de balas. É como se tivesse saído da PMES, mas a PMES não tivesse saído dele; como se tivesse ido para a reserva, mas seguisse atuando como coronel da tropa.
Ricas confirma que seu estilo de comando é diferente. “Não devo fazer isso. Eventualmente, num briefing [orientações transmitidas às equipes pelo comandante de uma operação], posso ter contato direto com a tropa. Mas dificilmente você vai me ver entrando na casa de alguém para cumprir um mandado.” O futuro secretário ainda define o seu estilo como não centralizador. “Gosto de ouvir as pessoas.”
Só elogios a Ramalho
Apesar dos estilos bem diferentes, Ricas rende elogios a Ramalho, exonerado a pedido no dia 1º de fevereiro. “O governador me pediu para continuar fazendo o bom trabalho que o Ramalho fazia. Ele foi um secretário excepcional. Não posso atrapalhar. Time que está ganhando joga sozinho.”
Durante o processo de definição do novo secretário, ele e Ramalho bateram um papo por meio de mensagens de texto. Ricas não quis importunar o antecessor durante as férias dele na praia em Morro de São Paulo, no litoral da Bahia.
Por que decidiu aceitar?
Ricas diz não ter sido fácil a decisão de trocar a Superintendência Regional da PF pela Sesp, mas o que prevaleceu foi a motivação gerada pelo novo desafio, em um cargo que jamais exerceu. Há dois anos e meio à frente da PF no Espírito Santo, ele receava ter entrado numa “zona de conforto”.
“Uma coisa que conversei com o [diretor-geral da PF] Andrei Rodrigues é que eu já estava há dois anos e meio à frente da Superintendência. Do ponto de vista administrativo e financeiro, estava tudo muito enxuto e muito redondo. Fizemos muitas coisas boas. Mas, após dois anos e meio, não tinha mais para onde crescer. Já tava dominado. O desafio era manter o trabalho. No Governo do Estado, o trabalho está sendo muito bem-feito, mas dá para contribuir. Hoje tenho um baita desafio e um monte de coisa para apreender.”
Apreensão de armas
Além do estreitamento do trabalho entre as instituições da segurança (internas e externas ao Governo do Estado), Ricas destaca a apreensão de armas como prioridade. “Tem que ser um foco importante. Arma é o que provoca homicídios. E tem muita arma nas mãos da criminalidade.”
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