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Coluna Vitor Vogas

Cariacica: vereadora processa vereador que a processou na Corregedoria

Única opositora da gestão Euclério Sampaio, Açucena (PT) denuncia Sérgio Camilo por quebra de decoro parlamentar, tal como ele a denunciou

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Vereadores Sérgio Camilo e Açucena, de Cariacica

Vereadores Sérgio Camilo e Açucena, de Cariacica

A vereadora Ilona Açucena (PT) decidiu oferecer denúncia à Corregedoria da Câmara de Cariacica contra o vereador Sérgio Camilo (União Brasil) por quebra de decoro parlamentar. A representação será protocolada na próxima semana, no órgão disciplinar da Câmara, responsável por apurar denúncias contra os próprios vereadores. Açucena pedirá a cassação do mandato de Camilo. Os dois são adversários políticos: Camilo é um dos principais aliados do prefeito Euclério Sampaio (MDB) na Câmara, enquanto Açucena é a única parlamentar de oposição.

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De certo modo, evocando aqui ditados populares, “o feitiço voltou-se contra o feiticeiro”; “quem com ferro fere com ferro será ferido”; e Açucena decidiu “responder fogo com fogo”. No dia 27 de junho, Camilo representou na Corregedoria da Câmara contra a vereadora do PT, acusando-a, igualmente, de quebra de decoro parlamentar – tal como agora Açucena faz em relação a ele. Camilo também pediu à Corregedoria para suspender imediatamente o mandato de Açucena.

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Entretanto, o órgão disciplinar da Câmara ainda nem havia sido constituído. Só recentemente, no dia 6 de agosto, após o recesso parlamentar, a Corregedoria foi realmente instalada. Ela agora é composta pelos vereadores Jades Amorim (MDB), como corregedor, Romildo Alves (PP), como secretário, e Renato Machado (PSD). O vereador Cleidimar Alemão (Republicanos) é o suplente. Todos são aliados da gestão Euclério Sampaio. Eleitos em chapa única, eles têm mandato no órgão até dezembro de 2026. Agora, terão trabalho em dobro. A eles caberá analisar a denúncia de Camilo contra Açucena, e vice-versa.

Açucena decidiu protocolar a representação contra Camilo porque, segundo seu gabinete, ela tem sido alvo constante de agressões verbais, de cunho misógino, proferidas em plenário pelo vereador, durante as sessões deliberativas. Reiteradamente, Camilo viria mandando Açucena se calar. A gota d’água, para ela, foi episódio ocorrido na sessão plenária da última quarta-feira (13), no qual, segundo a assessoria da vereadora, Camilo, aos gritos, mandou-a literalmente “calar a boca”.

“É assim. Sempre com insultos, difamações e de forma machista e misógina que o vereador Sérgio Camilo tem se dirigido constantemente à vereadora Açucena dentro da Câmara de Cariacica. […] Em vez de debater os problemas da cidade, Sérgio Camilo prefere atacar o mandato de Açucena com provocações, insultos e coações”, registra, em nota, a assessoria da parlamentar petista.

A própria Açucena se pronunciou assim sobre o caso:

“É inadmissível o que aconteceu hoje [quarta-feira] na Câmara Municipal de Cariacica! Eu, vereadora democraticamente eleita, tenho sido atacada dia após dia por esse vereador. Nós faremos um requerimento para a Corregedoria para que possa ser instaurado um processo disciplinar e administrativo contra ele, que, hoje, chegou ao cúmulo de me mandar calar a boca em plena sessão, em razão das minhas denúncias sobre o impedimento de visitar as unidades de saúde em Cariacica. Não vou admitir violência política dentro deste espaço”.

Ela conclamou os colegas (todos eles, homens): “Quero também que meus pares não aceitem que isso se torne uma prática recorrente dentro desta Casa”.

Além de ser a única vereadora de oposição, num universo de 19 edis, Açucena é a vereadora mais jovem de Cariacica e a única mulher na atual legislatura. Suas bandeiras incluem a defesa das mulheres e da juventude, pautas ligadas à diversidade religiosa (especificamente, o respeito a religiões de matriz africana), o fortalecimento do SUS, o Orçamento Participativo, a educação, os professores e professoras.

“Esse vereador vem tentando me interromper, me silenciar, me chamando de desqualificada em praticamente todas as sessões. As agressões verbais têm se tornado cada vez mais frequentes, chegando ao ponto, agora, de me mandar calar a boca! Nós não aceitaremos tentativa de silenciamento, de deslegitimação da nossa atuação dentro desta Casa. E é por isso que vamos apresentar requerimento à Corregedoria para que se instaure um procedimento para responsabilizar as condutas desse vereador com a minha pessoa e meu mandato”, destacou Açucena.

A representação movida por Camilo

Sérgio Camilo representou contra Açucena na Corregedoria, em junho, por quebra de decoro parlamentar, sob a alegação de que ela teria dito que ele era um vereador suplente e que chegara ao cargo por meio de acordos. O parlamentar solicitou, além da cassação, que a vereadora fosse afastada imediatamente do mandato, defendendo que o suplente assumisse sua cadeira até a conclusão do processo. “Ela atacou a minha honra”, alegou o vereador então, em entrevista à coluna.

Na ocasião, Açucena argumentou que só havia mencionado, em pronunciamento da tribuna, fatos de conhecimento geral: que Sérgio Camilo não ficou entre os 19 vereadores eleitos diretamente em Cariacica, pelo voto popular, no pleito municipal de outubro de 2024, tendo ficado como primeiro suplente da chapa do partido dele; que, num acordo de bastidores costurado pelo prefeito Euclério Sampaio, ele pôde assumir o mandato, justamente por ser o 1º suplente de seu partido, já que o vereador Edgar do Esporte, eleito pelo União Brasil, foi convidado por Euclério, em fevereiro, para assumir o cargo de secretário extraordinário de Relações Comunitárias da Prefeitura de Cariacica.