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Coluna Vitor Vogas

Câmara de Vitória aprova criação do Dia Municipal do Homem

Proposto por Davi Esmael, projeto virará lei e data entrará no calendário oficial se Pazolini o sancionar. Única mulher no plenário o chamou de piada

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Plenário da Câmara de Vitória. Foto: CMV

Plenário da Câmara de Vitória. Foto: CMV

A capital do Espírito Santo pode passar a celebrar, todo ano, o Dia Municipal do Homem. Sob argumentos altamente duvidosos, a Câmara de Vitória aprovou, nessa segunda-feira (15), projeto de lei que introduz a data no Calendário Oficial de Eventos e Datas Comemorativas do Município. O projeto agora segue para análise do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), que pode vetá-lo ou aprová-lo. Se o prefeito o sancionar, virará lei municipal, e a data passará a ser comemorada anualmente no dia 15 de julho, mesmo dia da aprovação no Legislativo Municipal.

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A iniciativa foi proposta pelo vereador Davi Esmael, filiado ao partido do prefeito e pré-candidato à reeleição na Câmara – como todos os atuais 15 vereadores, à exceção do presidente da Casa, Leandro Piquet (PP). Durante a fase de discussão da matéria em plenário, o próprio autor foi o único que subiu à tribuna para defender o projeto abertamente. Também da tribuna, a proposição recebeu críticas de dois parlamentares de esquerda que fazem oposição a Pazolini: Karla Coser (PT) e André Moreira (PSol). Foram os dois únicos votos contrários.

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Quando lido pelo presidente da Mesa Diretora, o projeto chegou a gerar risos abafados entre alguns vereadores no plenário, de deboche e de constrangimento. Isso não impediu a aprovação da matéria, por seis votos a dois, além de uma abstenção. Pouco antes da votação, alguns parlamentares se ausentaram do plenário. Dos 15 vereadores, só nove votaram.

Justificativa: “versão que Deus sonhou”

A justificativa oficial do projeto mistura argumentos de cunho médico (saúde preventiva) com outros de natureza moral e religiosa. O texto começa citando a importância de se alertar os homens para a necessidade de se prevenirem e adotarem cuidados contra doenças que atingem especificamente a população masculina.

Nesse caso, o projeto teria finalidade semelhante à do Novembro Azul (mês dedicado à conscientização quanto à prevenção ao câncer de próstata). Mas o texto vai muito além disso. Logo em seguida, o proponente já alega que o homem atual se distanciou da “versão que Deus sonhou para ele”:

“O intuito da apresentação deste projeto de lei, ao propor a inserção da data no calendário comemorativo do município de Vitória, é também fortalecer a necessidade de reflexão sobre o papel do homem em nossa sociedade. Urge a necessidade de discutir o distanciamento do homem atual da versão que Deus sonhou para ele.”

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Na sequência, Davi Esmael define o conceito de “hombridade masculina” e enumera virtudes vinculadas à masculinidade:

“A hombridade masculina, além de carregar o conceito de alguém corajoso, viril, destemido e honrado, também comporta o significado de integridade e dignidade. A masculinidade necessita estar vinculada também à bondade, cuidado com o próximo e coerência entre suas crenças e atitudes.

No entendimento do autor, é preciso discutir mais os exemplos que os pais têm transmitido a seus filhos e o “cultivo de valores tradicionais”:

“Precisamos falar mais sobre a influência que os meninos recebem desde cedo em seus lares, os exemplos de vida que seus pais têm repassado e a necessidade de proteção das famílias, do cultivo de valores tradicionais de honra e respeito às autoridades, professores, aos idosos, às mulheres e a todos. […] Que possamos ter como referência homens que cuidam de suas famílias, que promovem influências positivas em todos os espaços em que estão inseridos e são exemplos a serem seguidos.”

No discurso em plenário, Davi ainda argumentou: “O pedido não é de exaltação, muito pelo contrário, porque a infantilização, a covardia do homem nos dias de hoje precisam nos levar a debater o papel do homem em nossa sociedade, aquilo que ele tem sido em sua família e na sociedade. E, refletindo, acredito de verdade que conseguiremos adultizar o homem, torná-lo na sua idade, seu papel de provedor, seu papel de homem, seu papel de responsável perante seus filhos, a esposa e a sociedade”.

Presidiários e assassinos de mulheres

Em outro trecho, confusamente, o autor do projeto destaca estatísticas de feminicídios – assassinatos de mulheres, por homens, em geral companheiros ou ex-companheiros, motivados por machismo, sentimento de posse, ciúmes, inconformismo com o fim de um relacionamento, entre outras razões relacionadas ao gênero da vítima: a mulher morre por ser mulher.

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Davi ainda ressalta que, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os homens correspondem a 90% da população encarcerada no país.

Na opinião do colunista, o argumento é particularmente confuso porque, lembremos, o projeto visa celebrar o homem. Todos os homens, indistintamente. Pretende-se incluir a data no “Calendário Oficial de Eventos e Datas Comemorativas” de Vitória.

Ora, se a preocupação é com a incidência de feminicídios, condenar esses agressores, honrar a memória das vítimas e promover ações que combatam esse tipo de crime (ainda que seja simbolicamente, com a criação do “Dia Municipal da Luta contra o Feminicídio”) são iniciativas que fariam muito mais sentido do que, simplesmente, celebrar o homem.

De igual modo, se existe a preocupação com a quantidade de homens que praticam crimes e vão presos, combater a criminalidade e prevenir suas causas faz muito mais sentido do que celebrar, indistintamente, todo representante do sexo masculino.

Karla Coser: “Piada”

Da tribuna, a vereadora Karla Coser chamou o projeto de “piada”:

“A gente não precisa de um Dia Municipal do Homem. Esse projeto é uma piada, assim como serão vocês se votarem sim, na imprensa, no dia de amanhã. Lembrem-se disso e saibam disso. Tenho certeza porque foi aprovado em Vila Velha, por exemplo, e foi deboche nas redes sociais. A gente não precisa de um Dia Municipal do Homem. O que a gente precisa de fato é refletir sobre o papel do homem em todas as esferas, o que não será feito a partir de um Dia Municipal aqui nesta cidade”.

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Segundo a vereadora do PT, o foco da reflexão está distorcido:

“Quero refletir sobre como homens não são assassinados, por exemplo, todos os dias, por terminar um relacionamento. Quero refletir sobre como homens não são assassinados por ir de short jogar futebol. Quero refletir, por exemplo, sobre como homens não deixam de progredir nas suas carreiras porque foram pais. Essas são as reflexões que a gente precisa fazer. A nossa sociedade é estruturada, pensada, organizada por homens desde a sua fundação. Não apenas hoje, aqui no plenário desta Casa, onde apenas uma mulher se faz presente, como representação de uma sociedade que tem 53% de mulheres”.

Para a vereadora, sob outros pretextos, o projeto na verdade estaria inserido em uma onda nacional de reação política conservadora aos avanços de mulheres e de grupos sociais minoritários (como a comunidade não heterossexual) na luta por direitos, reconhecimento e equidade. Nesse mesmo contexto, alguns homens chegam a se queixar de um ataque ao comportamento masculino tradicional e da suposta prática de “heterofobia”, a ponto de não poderem mais expressar livremente a própria masculinidade.

“Esse Dia Municipal é uma estratégia política que vem sendo colocada em todas as cidades do Brasil, nacionalmente inclusive, porque tem gente que diz que os homens estão sendo atacados. Tem gente que diz que os homens estão perdendo os seus direitos, que daqui a pouco nem vai poder ser homem mais, porque só se pensa nas mulheres, nos LGBTs, e que por conta disso o papel do homem estaria sendo apagado da sociedade.”

André Moreira: “Projeto jocoso”

O vereador do PSol afirmou que o real objetivo do projeto de Davi Esmael não seria o que foi sustentado:

“Se o projeto fosse para aquilo que Vossa Excelência colocou, talvez a gente pudesse até, com algumas emendas, construir um projeto. Um projeto de responsabilização, de combate à violência contra a mulher, de combate à homofobia, de conscientização do homem em relação a isso, poderia ter o nosso apoio. Mas um projeto de Dia do Homem parece jocoso, parece somente uma pilhéria, uma piada contra os dias que são necessários, de conscientização contra a violência contra pessoas que estão em situação minoritária ou precária, o que não é o caso do homem em geral.”

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COMO VOTARAM OS VEREADORES

A favor (6)

  1. André Brandino (Podemos)
  2. Dalto Neves (Solidariedade)
  3. Davi Esmael (Republicanos)
  4. Duda Brasil (PRD)
  5. Leonardo Monjardim (Novo)
  6. Luiz Emanuel (Republicanos)

Contra (2)

  1. André Moreira (PSoL)
  2. Karla Coser (PT)

Abstenção (1)

  1. Aloísio Varejão (PSB)

Ausentes (5)

  1. Anderson Goggi (PP)
  2. Chico Hosken (Podemos)
  3. Luiz Paulo Amorim (PV)
  4. Maurício Leite (PRD)
  5. Vinícius Simões (PSB)

Obs: Leandro Piquet (PP) não votou, por ser o presidente da Mesa Diretora.


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