Coluna Vitor Vogas
Balanço: os 10 destaques das eleições municipais no Espírito Santo
As maiores vitórias nas urnas! As maiores derrotas. As reviravoltas. Quem sai mais forte para 2026. Os partidos que mais crescem. Os que fizeram vergonha. Os recordes. Os fenômenos eleitorais. Os resultados mais apertados. E as mulheres, hein?
1) Vitória: Pazolini reeleito no 1º turno
Chegamos ao último domingo (6) com algumas grandes certezas, mas também algumas belas interrogações, a serem respondidas pelas urnas, ou melhor, pelos eleitores capixabas, por intermédio das urnas. Uma das maiores dúvidas, acentuadas por pesquisas eleitorais publicadas na véspera (5): Vitória teria ou não 2º turno? Ou melhor: Pazolini, favoritíssimo, de ponta a ponta, conseguiria ou não resolver tudo em turno único?
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O eleitor de Vitória respondeu. Mas a resposta também foi dada, de maneira incisiva, pelo próprio Pazolini.
Com 56% dos votos válidos – margem relativamente folgada, maior do que apontavam as pesquisas da véspera –, Pazolini conseguiu se reeleger, deixando para trás João Coser (PT), com 15%, e Luiz Paulo (PSDB), 12%, além de Assumção (PL), Camila Valadão (PSol) e Du (Avante).
Diante de tal resultado, Pazolini se estabelece, definitivamente, como líder político ascendente no Espírito Santo. É muito jovem e, com 42 anos, vem tendo uma carreira política meteórica, na qual ainda está invicto nas urnas e se mostra, desde a estreia, um candidato muito bom de voto.
Em 2018, foi o segundo mais votado para a Assembleia Legislativa, atrás apenas de Majeski (então no PSB). Em 2020, em sua primeira campanha a prefeito, foi o mais votado no 1º turno, superando João Coser (PT) e Gandini (Cidadania), e venceu bem no 2º. Agora, a reeleição com sobras.
Vitória mantém assim uma tradição de reeleger todos os prefeitos que tentaram a reeleição. Todos, sem exceção, nesta ordem: Luiz Paulo no ano 2000, João Coser em 2008, Luciano Rezende em 2016 e agora Pazolini em 2024.
Para Pazolini e seu grupo, também se trata de uma vitória politicamente muito significativa. O Palácio Anchieta dessa vez tentou derrotar Pazolini em duas frentes: com as candidaturas de Luiz Paulo e de João Coser. Então, ao conseguir se reeleger no 1º turno, o adversário do grupo de Casagrande deu uma demonstração de força política, derrotando nada menos que o Palácio Anchieta na cidade mais importante do Espírito Santo.
Casagrande ao menos teve o cuidado de não “dar a cara a tapa” e não se envolver publicamente na campanha em Vitória, expondo-se o mínimo possível e evitando, assim, que o triunfo de Pazolini possa ser tratado como uma “derrota pessoal do governador”.
2) O 2º turno na Serra e a incrível derrota de Audifax
O resultado mais surpreendente destas eleições municipais no Espírito Santo veio justamente do maior colégio eleitoral: na Serra, o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP) liderou a corrida quase de ponta a ponta, até a véspera da votação, e sofreu a derrota mais inesperada do processo eleitoral em todo o Estado.
No 1º turno, Weverson Meireles (PDT), candidato de Sergio Vidigal (PDT), chegou em primeiro lugar, com 39,5% dos votos válidos. Pablo Muribeca ficou em segundo, com 25,2%. Audifax chegou em terceiro, com 23,9%.
Audifax liderou a prova toda, mas perdeu fôlego na linha de chegada, ao passo que Weverson se manteve em terceiro durante toda a corrida e chegou atropelando na reta final. Muitos votos de Audifax migraram justamente para Weverson nas últimas 72 horas de campanha.
3) Quem teve mais votos válidos? Euclério, Arnaldinho ou Wanderson?
Três certezas absolutas já havia desde o início do período de campanha, no dia 16 de agosto: com todo o respeito aos respectivos adversários, três prefeitos da Grande Vitória, candidatos à reeleição, chegaram à antessala do pleito tão bem avaliados, mas tão bem avaliados, que a disputa seria quase o cumprimento de uma formalidade legal: Arnaldinho Borgo (Podemos) em Vila Velha, Euclério Sampaio (MDB) em Cariacica e Wanderson Bueno (Podemos) em Viana.
Restou uma espécie de “duelo particular”, ou “disputa à parte” entre eles: qual dos três alcançaria o maior percentual de votos válidos?
O pódio ficou assim:
Wanderson (Viana): 92,4%
Euclério (Cariacica): 88,4%
Arnaldinho (Vila Velha): 79%
O prefeito de Viana, assim, saiu desta eleição como o maior fenômeno eleitoral em território capixaba.
Para muita gente – e não há exagero nisso –, o principal responsável pela vitória acachapante dos três aliados chama-se José Renato Casagrande. Para muitos, foi ele o verdadeiro “prefeito” das três cidades nos últimos quatro anos, com investimentos maciços do Governo do Estado. Em plena campanha, Euclério chegou a chamar o governador de “enviado por Deus para ajudar Cariacica”.
4) O feito histórico de Ferração
Eleito prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, a maior cidade do interior capixaba e a quinta mais populosa do Estado, com mais de 40% dos votos válidos, o deputado Theodorico Ferraço (PP) atingiu um feito histórico e de magnitude nacional.
O pai de Ricardo Ferraço voltará à Prefeitura de Cachoeiro aos 87 anos (completados por ele em novembro), para cumprir seu quinto mandato no cargo.
O primeiro destaque, absurdo, é o intervalo de mais de 50 anos entre o primeiro e o quinto mandato na prefeitura: ele se elegeu prefeito pela primeira vez em 1972.
O segundo é que, a partir de janeiro, a insaciável águia do sul será simplesmente o prefeito mais velho do Brasil inteiro a governar uma cidade com mais de 100 mil habitantes (Cachoeiro tem quase 200 mil). Daí a façanha nacional.
5) Como se saíram, no ES, o PT de Lula e o PL de Bolsonaro?
Assim como no Brasil inteiro, à exceção talvez da cidade de São Paulo, esta eleição municipal no Espírito Santo não foi nacionalizada; não foi, de modo algum, ditada pela polarização ideológica; e, definitivamente, não foi influenciada pelo discurso da luta ou do combate ideológico da direita contra a esquerda. Quem apostou nesse discurso se deu mal.
Tanto o PT da deputada federal Jack Rocha como o PL do senador Magno Malta amargaram resultados muito ruins.
Pela terceira eleição municipal seguida, o resultado do PT no ES foi de terra arrasada. Em 2016, o partido de Lula só elegeu um prefeito no Estado (o da modesta Barra de São Francisco); em 2020, não elegeu nem um prefeito sequer. E desta vez, adivinha quantos? De novo, nem sequer um prefeitinho, nos 78 municípios capixabas.
O PL, por sua vez, também protagonizou um verdadeiro fiasco eleitoral.
Sob a liderança de Magno Malta no Estado, o partido de Bolsonaro lançou a megalomaníaca quantidade de 50 candidatos a prefeito. Sabem quantos conseguiu eleger? Só cinco prefeitos, ou seja, 10% do total, e todos eles em cidades pequenas do interior. A mais populosa é Santa Maria de Jetibá. Ainda assim, a eleição do candidato do PL na cidade da Região Serrana está sob risco: o Ministério Público o acusa de fraude eleitoral.
No total, somando a população dessas cinco cidades, o PL, a partir de janeiro, vai governar cerca de 160 mil habitantes. Não chega a 4% da população capixaba. Se o de Santa Maria for cassado, serão cerca de 100 mil habitantes.
Os candidatos dos dois partidos, tanto PT como PL, perderam, e perderam feio, nas dez cidades mais populosas do ES: Serra, Vila Velha, Cariacica, Vitória, Cachoeiro, Linhares, Colatina, São Mateus, Guarapari e Aracruz
Nesses dez municípios, o mais votado do PL foi o vereador Léo Camargo, em Cachoeiro, com 23%. Ferraço teve quase o dobro. O mais votado do PT foi João Coser (PT) em Vitória: 15%. Pazolini teve quase quatro vezes mais.
6) O “Índice Casão de êxito”, ou seja, quantos e quais candidatos apoiados pelo governador tiveram sucesso nas urnas
O governador apoiou pessoalmente alguns candidatos em algumas cidades importantes, seja mandando vídeo de apoio, seja participando em carne e osso de algumas atividades de campanha.
As vitórias mais expressivas de Casagrande: Vila Velha com Arnaldinho, Cariacica com Euclério e Viana com Wanderson Bueno. Ainda pode ganhar com Weverson na Serra.
Em Linhares, o governador não entrou na campanha, mas seu governo foi em peso com Lucas Scaramussa (Podemos), deputado estadual da base triunfante nas urnas.
Por outro lado, Casagrande sofreu algumas derrotas politicamente dolorosas: Guarapari (com Zé Preto); Colatina (com Guerino Balestrassi); Vitória (com Coser e Luiz Paulo). Em Guarapari e Colatina, ele chegou a declarar apoio a seus candidatos. Em Vitória, foi aquele “apoio distante e cauteloso”, mencionada acima.
7) Quais partidos mais cresceram no ES?
Você pode analisar essa questão e responder-lhe a partir de dois recortes: número de prefeitos eleitos ou número de habitantes que serão governados por cada partido. Ou seja, um critério é o número de municípios que serão governados por cada sigla; um segundo critério é o tamanho da população desses municípios.
Aí a conclusão muda radicalmente.
Por número de prefeitos eleitos, o destaque total vai para o PSB, primeiro colocado disparado, com vitória em 21 municípios. O segundo foi o PP, com vitória em 12 municípios. E o terceiro colocado é o Podemos, que venceu em 11 cidades.
Notem que esses três partidos, sozinhos, vão governar mais da metade das 78 cidades capixabas.
Agora, já pelo segundo critério, o tamanho da população, o PSB de Casagrande é só o 5º colocado.
O partido vai governar 21 cidades, mas todas elas, somadas, não chegam a 400 mil habitantes. Dá mais ou menos a população de Cariacica. O PSB vai administrar mais de 25% das cidades capixabas, mas não vai governar nem 10% da população do Estado (falando, é claro, de governos municipais, pois o governo estadual é do partido até o fim de 2026…).
E então, tomando por critério a população, quem é que mais se destaca?
Aí o destaque vai todo para o Podemos. Presidido no ES pelo deputado federal Gilson Daniel, o Podemos vai governar mais de 1 milhão de capixabas, ou seja, mais de um quarto da população do Estado. Além da reeleição de Arnaldinho em Vila Velha e de Wanderson Bueno em Viana, o partido elegeu os prefeitos de cidades importantes do interior, como Linhares e São Mateus.
O segundo lugar é do Republicanos, que elegeu os prefeitos de Vitória, Guarapari e outras seis cidades. Vai governar mais de 600 mil habitantes.
Atenção: se o Republicanos ganhar com Muribeca na Serra, tomará do Podemos a primeira posição no ranking da população, com cerca de 1,2 milhão de pessoas sob suas administrações municipais. Se isso acontecer, esses dois partidos, sozinhos, Podemos e Republicanos, vão governar mais da metade da população capixaba nos municípios.
8) Quais os líderes políticos estaduais que saíram mais fortalecidos para 2026?
Pelos motivos já expostos, podemos destacar aqui:
. Lorenzo Pazolini (Republicanos)
. Arnaldinho Borgo (Podemos)
. Euclério Sampaio (MDB)
. Gilson Daniel, presidente estadual do Podemos
Os quatro já eram assim considerados antes da eleição municipal e saem das urnas consolidados como potenciais candidatos a governador do Espírito Santo daqui a dois anos – destacadamente, Pazolini e Arnaldinho Borgo.
Aliás, ninguém ficará propriamente surpreso se a próxima eleição ao Palácio Anchieta acabar virando um duelo de Pazolini com Arnaldinho, representando, respectivamente, o ex-governador Paulo Hartung (sem partido) e o governador Renato Casagrande (PSB): o atual prefeito de Vitória, com o apoio, velado ou não, de Hartung; o de Vila Velha, apoiado por Casagrande.
Zero surpresa teremos se, a partir de abril de 2026, a prefeita de Vitória se tornar Cris Samorini (PP) e o de Vila Velha passar a ser Cael Linhalis (PSB). São os vices eleitos, respetivamente, de Pazolini e Arnaldinho.
Os dois não foram postos ali por acaso pelos respectivos partidos. O PP foi fundamental para a vitória de Pazolini no 1º turno. O PSB de Casagrande, para o sucesso da administração de Arnaldinho.
Zero surpresa também teremos se, para ser candidato a governador em 2026, Arnaldinho trocar o Podemos, domínio de Gilson Daniel, por outra sigla de centro-direita.
A grande diferença entre Arnaldinho e Pazolini no que concerne a 2026 – e há vários registros disto – é que, durante a campanha, o prefeito de Vila Velha jurou, mais de uma vez, que não interromperá seu segundo mandato para ser candidato a governador, enquanto o de Vitória jamais descartou publicamente essa hipótese.
9) Linhares, Colatina e Guarapari: quem levou a melhor nas disputas mais equilibradas?
Três municípios importantes inseridos no Top Ten de maiores do Estado, todos do segundo escalão demográfico (entre 100 mil e 200 mil habitantes), chegaram à semana final da eleição com o desfecho totalmente em aberto:
Em Linhares, a briga era boa entre o deputado estadual Lucas Scaramussa (Podemos) e o atual prefeito, Bruno Marianelli (Republicanos). Segundo pesquisa da Futura para a Rede Vitória, os dois chegaram numericamente empatados à penúltima semana. Na última, porém, Lucas deslanchou.
No final, o deputado teve 52% dos votos válidos contra 39% do atual prefeito.
Em Colatina, maior cidade da Região Noroeste do Espírito Santo, a definição foi voto a voto, mas o atual incumbente também foi derrotado. O ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos (PSD) venceu o atual prefeito, Guerino Balestrassi (MDB), por margem muito apertada: teve 39% dos votos válidos contra 36% de Guerino.
Em Guarapari, situação parecida. Na cidade da Grande Vitória, o prefeito Edson Magalhães não podia disputar a reeleição e lançou um candidato pálido. A disputa pela sucessão ficou entre o vereador de oposição Rodrigo Borges (Republicanos) e o deputado estadual Zé Preto (PP), apoiado pelo governador e pelo governo Casagrande.
Rodrigo derrotou Zé Preto, com 41% dos votos válidos, contra 38% do deputado governista.
10) Quantas mulheres foram eleitas prefeitas no ES?
Em matéria de equidade de gênero, o Espírito Santo já chegou a esse processo eleitoral passando vergonha: com apenas 7% de candidaturas femininas às prefeituras dos 78 municípios, o Estado teve o menor índice no Brasil inteiro. Foram só 19 candidatas a prefeita, em um universo de 280.
Só duas mulheres se elegeram para governar suas cidades: Ana Malacarne, do MDB, reeleita em São Domingos do Norte, e Iracy Baltar, do Podemos, em Montanha. São dois municípios bem pequenos.
Duas de 78 dá 2,5% dos prefeitos eleitos no Espírito Santo. O percentual está bem distante da aplicação do conceito de paridade ou equidade de gênero nos espaços de exercício do poder político.
Mas fica pior: com essa marca, o Espírito Santo foi, dos 26 estados brasileiros, o que elegeu o menor percentual de mulheres para comandar as prefeituras municipais nos próximos quatro anos.
Lanterna no começo do processo; lanterna no final do processo.
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