Coluna Vitor Vogas
A resposta de Camila a quem duvidou de sua candidatura em Vitória
Incluo-me entre os que duvidaram. Deputada terá nome homologado em convenção no domingo, com vice indicado pela Rede. Leia aqui sua entrevista à coluna
Camila Valadão será candidata a prefeita de Vitória. Foto: Assessoria da deputada
No dia 9 de maio, publiquei aqui a relação de deputados estaduais (àquela altura, 13) que poderiam se candidatar à prefeitura dos respectivos municípios. A cada um, atribuí uma classificação de um a três asteriscos, conforme o grau de probabilidade de concretização da candidatura. Os fatos subsequentes provaram que cometi dois erros nas conjecturas. O primeiro e maior de todos foi ter dado apenas um asterisco para Theodorico Ferraço (PP), em função da sua avançada idade (86 anos). Subestimei a inesgotável volúpia política do insaciável deputado cachoeirense, candidatíssimo a prefeito da maior cidade do sul do Estado, com chapa fechada e tudo.
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Meu outro equívoco foi ter conferido somente duas estrelas para a deputada Camila Valadão (PSol), equivalente a um “pode ser, mas isso ainda não é certo”. Mantive até o último momento aquela ponta de desconfiança de que sua pré-candidatura a prefeita de Vitória – a primeira em sua trajetória política – poderia ser engolida pela conjuntura nacional.
O PT, afinal de contas, deixou de lançar candidato a prefeito em São Paulo, maior cidade do país, para apoiar o deputado federal Guilherme Boulos (PSol). Como compensação, a cúpula nacional do PT poderia exigir do PSol a retirada de algumas candidaturas em cidades estratégicas. A de Camila poderia entrar nesse pacote e acabar sacrificada em favor de João Coser (PT) na eleição em Vitória.
Isso, porém, não ocorreu nem tem mais chances de ocorrer. O que se confirmará, na verdade, é a presença de Camila no páreo. No próximo domingo (21), primeiro dia da temporada de convenções partidárias, às 9 horas, na Câmara de Vitória, a deputada terá a candidatura a prefeita de Vitória homologada na convenção municipal da federação de esquerda formada pelo PSol com a Rede Sustentabilidade. Seu candidato a vice-prefeito virá da Rede, até porque o parceiro de federação é o único aliado eleitoral. O nome já foi indicado e será anunciado na convenção.
Fato é que Camila resistiu, sobreviveu enquanto outros sucumbiram (Gandini, Majeski, Tyago Hoffmann). Na entrevista abaixo, ela é peremptória: “Não tem mais volta”. Além de listar as três prioridades de seu plano de governo, a deputada se arvora em “grande novidade da disputa”. “Se não fosse a nossa candidatura, a eleição em Vitória seria um museu de grandes novidades”.
Camila também demarca as distinções entre ela e João Coser, diferencia o perfil dos respectivos eleitores e responde à pergunta do milhão:
Por acaso a concorrência de duas candidaturas de esquerda, a do PSol e a do PT (algo raro em capitais brasileiras), não pode ser um tiro no pé da própria esquerda, na medida em que eles podem disputar e dividir os votos do mesmo estrato do eleitorado, enfraquecendo as chances da esquerda em benefício de adversários em comum?
Confira abaixo as respostas de Camila Valadão no bate-papo com a coluna:
Não tem mais volta, deputada? A senhora estará mesmo na disputa?
Sim. Não tem mais volta. A gente sempre disse isso. Quando tomamos a decisão no PSol, já conhecemos bem a nossa dinâmica partidária, no sentido da autonomia dos municípios na definição dessa tática. É óbvio que, em capitais, o que é decido no âmbito local pode ser revertido nacionalmente. Mas, desde o princípio, já vínhamos em diálogo com a nossa direção nacional. A presidente nacional do PSol [Paula Coradi] esteve duas vezes em Vitória. A gente sempre questionava: há alguma possibilidade de retirada por conta das alianças com o PT em outras cidades, como São Paulo? E isso nunca esteve colocado. Em determinado momento, no início do ano, eu fui convidada para ir a Brasília para fazer uma conversa com a presidente nacional do PT, a Gleisi Hoffmann, e alguns pré-candidatos do PSol. Na ocasião estariam Guilherme Boulos, a Bella Gonçalves, que era então pré-candidata do PSol a prefeita de Belo Horizonte. Eu também fui convidada a participar. Não pude ir naquela ocasião.
Mas o intuito dessa reunião era convencê-la a desistir da candidatura em Vitória?
Fiquei com essa sensação. Minha presidente nacional me disse que a reunião era para uma troca de impressões. Dessa reunião saiu a sinalização do acordo entre PT e PSol em Belo Horizonte, e a nossa candidatura em Belo Horizonte foi retirada em favor da candidatura do PT. Depois dessa reunião, a minha presidente veio aqui e me disse: “Fica tranquila. Há, obviamente, um desejo para que você seja retirada, mas não haverá nenhuma imposição nossa”. E então recebemos todo o apoio da nossa direção estadual e também da nacional para nossa candidatura. Na próxima sexta-feira [19], haverá reunião da Executiva Nacional para definir a resolução de financiamento de campanha. E a nossa pré-candidatura vai entrar entre as prioridades nacionais. Óbvio que não dá para comparar com os recursos dos grandes partidos. Mas a ideia é garantir, sim, recursos para fazermos uma boa campanha em Vitória.
Então a sua candidatura sobreviveu, mas a do PSol em BH acabou sucumbindo a essa pressão do PT?
Exato. Mas isso tem a ver com as análises do contexto de cada cidade. Em BH, a pré-candidatura da Bella sempre apareceu com porcentagem muito baixa em pesquisas. Aqui, desde que começaram as sondagens neste ano, a nossa sempre aparece em terceiro ou quarto lugar. Então esse foi um dado também relevante nesse processo de diálogo e entendimento nacional com o PT.
Qual será o valor do Fundo Eleitoral destinado à sua candidatura?
Ainda não temos. Sabemos que a prioridade 1 do PSol é o Boulos em São Paulo, por motivos óbvios, e a reeleição do Edmilson Rodrigues em Belém do Pará. Então é possível que a gente entre aí dentro do que seria uma segunda faixa.
Por ora, a Federação PSol/Rede está sozinha na disputa em Vitória. Há a expectativa de atraírem mais algum partido para formação de uma coligação?
Não. Mas acredito no nosso potencial de atrair outros partidos em eventual segundo turno, se lá estivermos. Trabalharemos para isso e acreditamos que é possível.
Dividindo os votos do mesmo pool de eleitores, a senhora e João Coser não podem se atrapalhar mutuamente, na medida em que um pode reduzir a votação do outro e impedir o outro de passar de fase? Essa divisão não pode proporcionar a ida de outro candidato para o 2º turno contra o prefeito Lorenzo Pazolini e, em última análise, favorecer a direita? Em outras palavras, os dois não poderão morrer abraçados na praia, beneficiando adversários em comum?
Não acho. Não concordo. Acho que a eleição em Vitória será uma eleição em dois turnos. Essa é a primeira coisa a ser dita. E entendo que a nossa candidatura ajuda a ter segundo turno em Vitória. Então é uma pré-candidatura que contribui para isso, não só a minha, como inclusive outras que estão colocadas. Todas elas ajudam a impulsionar um segundo turno na Capital. E quem ganha com o segundo turno em Vitória é a cidade, que ganha um tempo a mais para debater o seu futuro. Cada candidatura, com o seu perfil, vai incidir para um público na definição de votos, contribuindo para que tenhamos segundo turno. Acredito muito nisso. E acho que o nosso perfil é um perfil que dialoga com os eleitores de esquerda, mas também com o eleitorado jovem. Sou um nome que posso me considerar um nome leve, vou usar esta expressão, para a disputa eleitoral na cidade. Aliás, esta é a primeira vez que disputo o Executivo Municipal. Então tenho um perfil para contribuir para que a eleição na Capital seja decidida em segundo turno. E, entre as pré-candidaturas hoje postas, sou quem tem a menor rejeição. Isso demonstra que temos um potencial de crescimento.
Os perfis dos respectivos eleitorados também são diferentes, na sua avaliação?
Tenho certeza disso. Considero que eu dialogo com o perfil de eleitorado jovem, e Vitória tem um público bastante jovem; um perfil de eleitorado que quer, por exemplo, ver uma mulher ocupando os espaços de poder; um perfil de eleitorado que quer ver um debate mais qualificado do ponto de vista político e programático. O João tem um eleitorado, inclusive pela experiência dele, já como prefeito de Vitória por oito anos de gestão. Então ele já tem um público que foi cativado até pela condução e pela experiência dele. Eu acho que a gente dialoga com um eleitorado mais recente, uma parte que não viveu essa experiência, que se deu muitos anos atrás [Coser foi prefeito de 2005 a 2012], ou mesmo com um eleitorado que quer a mudança, que não quer repetir essa experiência, que quer algo novo. Então acho que somos a grande novidade desse processo eleitoral. Se não fosse a nossa pré-candidatura, a eleição em Vitória seria um museu de grandes novidades.
E programaticamente? O que diferencia a sua candidatura da de João Coser?
João e eu temos perfis diferentes. Eu me defino como uma militante que atua e defende de maneira muito firme os direitos humanos. Esse foi o espaço que me projetou e em que me construí politicamente. Então esse é um campo prioritário de atuação para mim.
Quais serão os principais pontos do seu plano de governo para a cidade?
A primeira demanda que está colocada para nós é recuperar o protagonismo dos espaços públicos de Vitória, o protagonismo da gestão pública nas diferentes políticas sociais. Vitória é historicamente reconhecida como uma cidade que tinha saúde de qualidade, educação de qualidade, espaços públicos de qualidade, e percebo que isso foi praticamente deixado de lado pela gestão do Pazolini, então esse é um eixo que pretendemos trazer de forma bem direta. A segunda coisa é que o prefeito apresentou em sua plataforma política de delegado que resolveria o problema da segurança em Vitória, que o problema seria tratado no gabinete do prefeito, e não foi isso que nós vimos. Então queremos fazer o debate de segurança de maneira séria, inclusive retomando a articulação entre município e Estado. Isso se perdeu em todas as áreas, mas a área da segurança grita a ausência de articulação entre município e Estado. Tanto que a população tem sentido, com aumento de homicídios e aumento de confrontos. Isso é falta de gestão pública municipal na área da segurança. E, por último, eu diria que Vitória carece de uma política na área cultural. Eu me debrucei muito nesse tema quando estava vereadora, até porque recebíamos muitas denúncias. A prefeitura transformou a cidade, nessa área, em um centro de eventos. E sentimos que falta uma política
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