Coluna Vitor Vogas
A influência suprapartidária e a maratona eleitoral de Marcelo Santos
Big player e influencer, presidente da Ales tem praticamente quicado de palanque em palanque, na Grande Vitória e em todas as microrregiões do Estado
O homem não para. Se há um personagem político que faz jus a esta frase no Espírito Santo é Marcelo Santos (União Brasil). Com sua notória e galopante influência política e seu conhecido projeto de crescimento no cenário estadual, o presidente da Assembleia Legislativa (Ales) tem percorrido o Espírito Santo de norte a sul, em ritmo alucinante, desde o dia 16 de agosto (e até antes), para reforçar pessoalmente a campanha dos candidatos a prefeito apoiados por ele. E são muitos.
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Entre as sessões plenárias e as festividades dos 190 anos da Assembleia, Marcelo tem praticamente quicado de palanque em palanque, na Grande Vitória e em todas as microrregiões do Estado. Não tem sobrado tempo nem para as famigeradas dancinhas, nem mesmo no acostamento da estrada (ontem à noite não rolou a do “sextou”).
Brincadeiras à parte, a coluna apurou que o presidente da Ales já definiu apoio a um candidato a prefeito em mais de 70 cidades capixabas. Seu objetivo é chegar aos 78: ter um candidato próprio, para chamar de “seu”, em cada município do Estado. Faltam poucos para fechar a lista. Na medida do possível, Marcelo pretende participar in loco da campanha de cada um. E a “medida do possível” está larga.
Não conseguimos obter a relação completa dos candidatos apoiados por Marcelo. Mas uma bela amostragem é oferecida pelo próprio em seu perfil no Instagram. Para esta análise, adotamos como recorte as postagens do presidente da Ales feitas nas últimas duas semanas, do dia 16 (abertura oficial do período de campanha) até ontem (30).
De pronto, dois dados chamam fortemente a atenção.
O primeiro, conforme destacado acima, é o ritmo maratonístico. Nesse intervalo de 14 dias, Marcelo publicou vídeos e fotos em atos de campanha de nada menos que 15 candidatos, ao lado dos próprios, em igual número de cidades diferentes.
No sábado passado (24), literalmente atravessou o Estado de uma ponta à outra, em diagonal: de manhã, fez campanha ao lado de Reginaldo (PSB), candidato a prefeito de Ibitirama, no Caparaó, divisa com Minas Gerais; de tarde, participou de carreata com Mateusinho (Podemos), candidato à reeleição em Conceição da Barra, no litoral norte, divisa com a Bahia (contra o candidato do União, Toninho de Deus).
O segundo dado a destacar é a pluralidade, a diversificação desses apoios dos pontos de vista partidário e ideológico. Não são esses os critérios que norteiam as escolhas de Marcelo sobre quem ele apoia ou deixa de apoiar.
Não tem nada a ver, por exemplo, com fidelidade partidária. Há casos em que ele, atualmente no União, apoia um adversário do candidato apoiado pelo próprio partido – assim como, se tivesse ficado no Podemos, seus apoios não necessariamente teriam aderência com os palanques dessa sigla.
Casos emblemáticos são a Serra e Vitória. No primeiro, Marcelo apoia Pablo Muribeca (Republicanos), enquanto o União está com Weverson Meireles (PDT); no segundo, Marcelo está com Pazolini (Republicanos), ao passo que o União apoia Luiz Paulo (PSDB).
A definição dos apoios de Marcelo tampouco tem a ver com uma linha de coerência ideológica. Não importa – ao menos não é fator preponderante – se o candidato é de esquerda, centro ou direita. Na verdade, todas essas correntes estão representadas no balaio de escolhidos por Marcelo.
Apesar de ser aliado do governador Renato Casagrande, esse tampouco é o critério do chefe do Legislativo Estadual. Às vezes coincide, mas, em inúmeros casos, o candidato apoiado por ele não é o do Palácio Anchieta.
A ausência de uma linha homogênea, de um critério discernível, de um padrão autoevidente, nos leva à conclusão mais importante: neste processo eleitoral, Marcelo definiu os seus apoios de maneira suprapartidária, acima de ideologias, consoante, aliás, com o modo de fazer política que sempre predominou em seus mandatos.
Os apoios e alianças de Marcelo foram estabelecidos muito mais na base dos relacionamentos políticos mantidos individualmente por ele em cada localidade. E vejam bem: ao longo dos últimos anos, construir relacionamentos políticos e costurar alianças têm sido a especialidade de Marcelo. O networking político dele é invejável. Começou na eleição retrasada para deputado estadual.
Em 2018, o deputado até conseguiu renovar seu mandato, mas com uma votação modesta. Prestes a emendar seu quinto mandato seguido na Assembleia e já tendo acumulado três derrotas seguidas em eleições para prefeito de Cariacica, sua carreira política perigava entrar em viés de baixa.
Marcelo, então, mudou o foco: entendeu que era o momento de deixar de ser um deputado metropolitano, com eleitorado concentrado na cidade governada no passado por seu pai, Aloizio Santos. Com isso em mente, começou a trabalhar com o objetivo de expandir os seus redutos. Os meios foram aqueles de sempre, empregados por vários deputados: emendas parlamentares, nomeações para cargos, ajuda nas eleições de vereadores e prefeitos em 2020, em troca de apoio para ele mesmo na eleição parlamentar seguinte. Deu certo. Sua área de influência cresceu.
Tanto que, em 2022, Marcelo mais que dobrou sua votação, alcançando a melhor marca de sua carreira parlamentar, com mais de 40 mil votos. Teve pelo menos um sufrágio em cada um dos 78 municípios. Logo em seguida, chegou à presidência da Assembleia, o que lhe proporcionou uma influência que ele nunca antes tinha concentrado – além dos recursos do cargo – e lhe permitiu se voltar para o próximo passo: chegar à Câmara Federal em 2026.
Para isso, a presente eleição municipal é uma escala decisiva. O cavalo está passando encilhado, é a oportunidade da vida de Marcelo, ele sabe que não pode desperdiçá-la e que é preciso trabalhar mais do que nunca.
A lógica é a mesma. Ele já tem uma extensa rede de relacionamentos por todo o Estado, cultivada nos últimos anos. Muitos dos seus aliados agora são candidatos apoiados por ele a prefeito e vereador Estado afora. Ora, quanto mais aliados ele conseguir ajudar a se eleger, mais forte ficará essa rede. Consequentemente, mais essa rede de aliados o fortalecerá em sua própria campanha em 2026.
Fortalecidos agora por ele, esses aliados, eleitos com sua ajuda, o fortalecerão de volta, daqui a dois anos. Lei da retribuição.
A articulação precipitada de Marcelo na Grande Vitória
Na Grande Vitória, os candidatos apoiados por Marcelo são bem conhecidos por todos:
Vitória: Lorenzo Pazolini (Republicanos)
Serra: Pablo Muribeca (Republicanos)
Vila Velha: Arnaldinho Borgo (Podemos)
Cariacica: Euclério Sampaio (MDB)
Viana: Wanderson Viana (Podemos)
Tirando Muribeca – que hoje divide o favoritismo na Serra com Audifax Barcelos (PP) –, todos são francos favoritos nas respectivas cidades, donde se conclui que são grandes as chances de Marcelo fazer um strike eleitoral, ou quase, na Região Metropolitana.
Marcelo parece, no entanto, ter buscado dar um passo maior que as pernas. No início da semana – sem ter combinado direito com os principais convidados –, anunciou em suas redes sociais um evento eleitoral insólito, neste sábado, às 9h, em uma casa de shows perto do Sambão do Povo, em Vitória:
“Neste sábado, dia 31, vai rolar o Dialoga ES na Região Metropolitana! Junto com os candidatos a prefeito da região, vamos bater um papo, compartilhar ideias e falar o futuro que queremos. Vem comigo demonstrar o nosso apoio a essas figuras importantes da Grande Vitória, que estão com uma disposição danada de contribuir ainda mais”, convidou Marcelo.
Checamos com os respetivos assessores dos cinco candidatos. O único que confirmou presença foi Muribeca, o que faz total sentido, não só porque ele é o único que não lidera hoje a respectiva corrida (donde o apoio de Marcelo se torna ainda mais valioso), mas também porque é, do quinteto, tranquilamente, o que pode ser considerado mais dependente do apoio e da proteção política do presidente da Assembleia – que já intercedeu a favor dele, por exemplo, em sua briga política e judicial com Vidigal.
Soaria mesmo muito estranho – logo, muito improvável – que Arnaldinho, Euclério, Wanderson Bueno e Pazolini se dispusessem a interromper as próprias maratonas de campanha para se postarem ao redor de Marcelo, numa reunião mediada por ele, a fim de discutir neste momento alianças metropolitanas, só porque são “unidos” pelo fato de que Marcelo apoia todos eles.
Estranho, em primeiro lugar, porque, sim, a integração metropolitana precisa ser priorizada e discutida atentamente por representantes dos cinco municípios, mas não agora, precocemente, por candidatos que nem eleitos estão, e sim pelos prefeitos efetivamente vitoriosos nas urnas, após o processo eleitoral.
Agora, o momento é de pé no acelerador, cada um por si, tratando de garantir a própria vitória em sua própria disputa, nos respectivos municípios. Antes de pensar em tratar de integração ou alianças com candidatos que podem vir a ser prefeitos de cidades vizinhas, cada um deles precisa assegurar que será o futuro prefeito da própria cidade. Esse é um ponto.
Em segundo lugar, uma articulação como essa proposta por Marcelo esbarra em alguns evidentes inconvenientes políticos. Se concretizada, colocaria alguns deles – três em particular – em situação para lá de embaraçosa.
Muribeca e Pazolini são do mesmo partido, o Republicanos, que está nas coligações de todos esses cinco candidatos. Além disso, não têm o apoio nem do Governo do Estado nem de Renato Casagrande. Para eles, em primeira análise, essa reunião seria mais “tranquila”, ainda que o pretexto seja fora de timing e de propósito. Não é o caso dos outros três.
Arnaldinho, Euclério e Wanderson são apoiados pessoalmente pelo governador – adversário de Pazolini em Vitória e apoiador de Weverson Meireles (PDT) na Serra.
O Podemos, partido de Arnaldinho e Wanderson Bueno, está com Weverson na Serra. Contra Muribeca, portanto.
O MDB, partido de Euclério, está com Weverson na Serra e com Luiz Paulo em Vitória. Contra Muribeca e Pazolini, portanto.
Pelo conjunto de fatores, natural que eles tenham discretamente se esquivado do encontro, para evitar o constrangimento.
Na busca por protagonismo no cenário político estadual, Marcelo, por vezes, pode estar a pecar por excesso de voluntarismo. Esse foi um exemplo de movimento, no mínimo, precipitado; uma articulação extemporânea, que não cabe e não faz sentido agora.
Em tempo
A relação de Marcelo com Casagrande já esteve muito melhor…
Os candidatos apoiados por Marcelo
Eis a maratona do presidente da Assembleia nos últimos 14 dias, com base em seus registros no Instagram. Apontamos a data, a cidade do ato de campanha e o candidato a quem ele manifestou apoio:
16/08 – Zé Valério (PSD), em Jerônimo Monteiro
16/08 – Tininho (Republicanos), em Marataízes
16/08 – Dr. Antônio (União), em Itapemirim
17/08 – Pablo Muribeca (Republicanos), na Serra
17/08 – Uesley Corteletti (PP), em Itaguaçu
20/08 – Vander (PSB), em Itarana
21/08 – Dorlei (PSB), em Presidente Kennedy
22/08 – Guerino Balestrassi (MDB), em Colatina
23/08 – Diego Libardi (Republicanos), em Cachoeiro de Itapemirim
24/08 – Reginaldo (PSB), em Ibitirama
24/08 – Mateusinho (Podemos), em Conceição da Barra
25/08 – Robinho (PSD), em Vila Valério
25/08 – Evandro (PDT), em Muniz Freire
26/08 – Euclério Sampaio (MDB), em Cariacica
27/08 – Arnaldinho Borgo (Podemos), em Vila Velha
27/08 – Rogério Schereder (Podemos), em Santa Maria de Jetibá*
27/08 – Kleber Medici (PSDB), em Santa Teresa*
27/08 – Fernando Rocha (PP), em Santa Leopoldina*
* Declarações de apoio via post no Instagram, não em ato de campanha
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