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Bem-estar

Alerta: Cigarro eletrônico não tem controle de composição

Segundo a pneumologista Ana Maria Casati, o equipamento pode expor a saúde do usuário a diversos riscos. E em alguns casos pode até matar

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A pneumologista Ana Maria Casati acaba de retornar de um congresso europeu onde foi apresentado os malefícios do cigarro eletrônico. "É altamente tóxico", diz. Foto: Divulgação

A pneumologista Ana Maria Casati acaba de retornar de um congresso europeu onde foi apresentado os malefícios do cigarro eletrônico. “É altamente tóxico”, diz. Foto: Divulgação

Mesmo proibidos no Brasil desde 2009, os cigarros eletrônicos são encontrados facilmente no mercado clandestino da internet. Entre os anos de 2017 e 2019, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) retirou cerca de 727 anúncios desses dispositivos eletrônicos – incluindo os cigarros. Aparentemente inofensivos, eles abusam de sabores doces e de recursos atrativos para conquistar novos adeptos. A pneumologista e professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) Ana Maria Casati Nogueira da Gama fala sobre os prejuízos à saúde pelo uso do equipamento e orienta que as pessoas que desejam parar de fumar não troquem o cigarro comum pelo eletrônico.

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Quais malefícios o cigarro eletrônico pode causar à saúde?
O Brasil tem um dos melhores programas do mundo de combate ao tabagismo, que conta com várias proibições (inclusive o cigarro eletrônico), mas as pessoas compram de fora. Nos Estados Unidos houve epidemia. Estudos computaram 54 lesões e duas mortes pelo uso do cigarro eletrônico, que causa uma lesão pulmonar muito grave e irreversível. Acabei de vir de um congresso europeu, em Madrid. A gente teve uma sessão clínica que mostrou que o estrago pulmonar é muito grande. Então, as pessoas estão iludidas achando que estão fumando um cigarro que não tem fumaça, mas que é altamente tóxico. O epitélio respiratório não aguenta e o pulmão fica com ares de hemorragia. O paciente fica com insuficiência respiratória, podendo levar ao óbito.

Como funciona?
No cigarro eletrônico, não existe controle de composição. O fabricante pode colocar o que quiser. Alguns adicionam aditivos e substâncias químicas para tornar o gosto mais agradável e não ter cheiro. Algumas usadas, por exemplo, são a menta e o chocolate. Não existe padronização. Outro problema é a temperatura muito alta. O cigarro chega a 600°C e nessa temperatura elevada várias substâncias são sintetizadas. A temperatura alta também causa lesão aguda grave com risco de morte. Essa inalação de pó no vapor é grave e nociva, mesmo não tendo essa aparência no ambiente que a pessoa está, por não ter fumaça.

Com o uso do cigarro eletrônico, em quanto tempo a pessoa começa a apresentar esse quadro clínico?
Isso é variável para cada pessoas e pela sensibilidade da mucosa. O cigarro comum tem filtro. A pessoa que fuma leva de 20 a 30 anos para desenvolver bronquite e enfisema. Já no uso do cigarro eletrônico, as lesões são mais graves e agudas e, por isso, pode ser mais rápido. O alerta é para não começar a usar.

Muitas pessoas já relataram benefícios ao trocar o cigarro pelo cigarro eletrônico. É possível?
Casos mostrados no congresso apontam que não. Um pesquisador americano, de Harvard, apresentou seus trabalhos mostrando essas pessoas que pararam de usar o comum e optaram pelo eletrônico. O estudo apontou que essa troca é inadequada e maligna e mostrou que a tomografia de tórax dos pacientes fica comprometida bilateralmente. Nesse caso, o pulmão fica inflamado e com sangue no interior do alvéolo e para de funcionar. Assim, o paciente tem insuficiência respiratória aguda, sendo necessário interná-lo e colocá-lo no respirador.

A fumaça do cigarro eletrônico faz mal para quem está perto, como o comum?
O cigarro comum faz muita fumaça e o fumante passivo também tem lesão com o tempo e pode até desenvolver câncer de pulmão. Já o eletrônico faz menos mal para quem está ao lado.

Então essa troca pelo cigarro eletrônico para parar de fumar não é recomendada?
Há outras opções para parar de fumar. Fiz muita campanha contra o fumo na minha carreira e no início não tinha nenhuma droga que ajudasse ao fumante. Hoje já temos algumas, que auxiliam no tratamento. O cigarro desencadeia um mecanismo neurológico que faz ele voltar ao vício com facilidade. E é importante não voltar pois o cigarro causa quatro distúrbios principais. No pulmão, causa bronquite, enfisema e infecção pulmonar de repetição. No coração, ele aumenta a arteriosclerose e fatores de predispõem infarte, arritmia e hipertensão. Pode aumentar ainda o ácido do estômago, evoluindo para úlceras, e pode provocar câncer de pulmão, laringe ou rim. Quando vejo uma pessoa fumando fico penalizada, porque ela está cultivando doenças evitáveis e criando hábitos que diminuem a qualidade de vida.