Coluna Vitor Vogas
Ramalho não quer voltar para a Secretaria de Segurança Pública
Apuração da coluna indica que preferência de ex-secretário é assumir mandato na Câmara dos Deputados, no lugar de Gilson Daniel. Mas, se não Ramalho, quem? Saiba quem é o mais cotado

Coronel Alexandre Ramalho. Foto: Facebook
No começo de abril, ele “pediu para sair”, a fim de poder participar do processo eleitoral. Agora, está “pedindo para não voltar”. Se depender do coronel Alexandre Ramalho, ele não retornará para o comando da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) no próximo governo Casagrande. De acordo com as nossas apurações, Ramalho prefere ir para Brasília e exercer o mandato de deputado federal, no lugar de Gilson Daniel.
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Os dois são do mesmo partido, o Podemos, sigla que elegeu dois deputados federais pelo Espírito Santo na última eleição: Gilson Daniel e o vice-prefeito de Vila Velha, Victor Linhalis. Com mais de 30 mil votos, Ramalho ficou na 1ª suplência da chapa. Objetivamente, para assumir o mandato na Câmara, o ex-secretário estadual de Segurança precisa que Gilson Daniel volte para a equipe de Casagrande (PSB). Este, sim, como já explicamos aqui, tem total interesse em voltar a ser secretário de Estado.
Esse arranjo, portanto, é o que mais agrada tanto a Gilson quanto a Ramalho. Há tratativas em curso entre eles e Casagrande, mas nenhum martelo foi batido. Vai depender da vontade do governador, que tem a palavra final quanto à escalação de seu time.
A coluna apurou que Casagrande até gostaria de ver Ramalho de volta à Sesp, onde o trabalho do ex-comandante-geral da PMES foi bem avaliado nos dois anos em que esteve à frente da pasta. Ramalho, no entanto, entende já ter dado a sua contribuição para a segurança pública estadual, após 33 anos de serviço público dedicados à área.
Após disputar sua primeira eleição – sem ter feito feio nas urnas –, ele tomou gosto pela atividade política, e é por esse caminho que gostaria de seguir. De preferência em Brasília, onde atuaria para tentar implementar suas propostas de campanha desde os tempos em que ainda se dizia pré-candidato a senador: endurecimento da legislação penal.
Se Gilson Daniel não for puxado de volta para o secretariado – o presidente estadual do Podemos quer a Secretaria de Agricultura ou a de Desenvolvimento Urbano –, quem deve ser reacomodado no alto escalão do governo é o próprio Ramalho. Mas pessoalmente, como dito, ele prefere não reassumir a Sesp. Tampouco ser realocado na Secretaria de Estado de Justiça (Sejus).
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É uma área que também tem a ver com o perfil funcional do coronel e onde ele talvez também pudesse se encaixar, como já especulamos na coluna. Mas Ramalho, conforme apuramos, também não gostaria de assumi-la, justamente por esse motivo: é uma área muita afim à segurança pública.
A Secretaria de Justiça é a que administra todo o sistema penitenciário estadual. Hoje (aliás, há muitos anos), o sistema está superlotado. Seja como diretor de presídio (ele já comandou o da Serra), seja como comandante do Batalhão de Missões Especiais (BME), Ramalho já teve que lidar pessoalmente com muitas rebeliões de detentos, algumas delas envolvendo reféns. É muita pressão também. E ele não quer mais isso na sua rotina de trabalho.
Quo vadis?
Caso não assuma a vaga na Câmara nem queira ir para a Sesp ou a Sejus, o que restará para Ramalho na mesa de negociação com Casagrande? Talvez outra secretaria de Estado – ainda que, inicialmente, não coincida com o seu perfil. Ele está à disposição. Vai depender do governador.
Fato é que Ramalho se considera com os coturnos pendurados, aposentado da segurança. Se “missão dada é missão cumprida”, ele entende já ter cumprido a sua. Mas quer que essa retirada da área marque o início de outra trajetória, agora na política. Quer sair da segurança pública, mas de modo algum da vida pública.
Ramalho está cansado de ter que gerir quase diariamente crises em que uma decisão errada pode custar vidas. Prefere assumir um mandato ou uma pasta cuja rotina seja menos estressante e em que possa ter um pouco mais de tranquilidade na vida.
Só para avisar ao ex-secretário: na política, isso também é meio difícil (risos)…
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Se não Ramalho, quem?
Se Ramalho seria a primeira opção para a Sesp, mas ele mesmo não deseja retornar, quem vai assumir a secretaria no próximo governo Casagrande?
A coluna conversou com alguns agentes públicos da área, incluindo alguns coronéis da Polícia Militar. A opinião predominante é que, em não voltando Ramalho, Casagrande opte pela “jogada mais segura” numa área em que todo risco é temerário.
Nesse caso, a “bola de segurança” na Segurança é manter o atual secretário, Márcio Celante, pelo menos no começo do próximo governo. Mesmo porque, como destacam as fontes ouvidas, o coronel tem mantido o bom trabalho herdado de Ramalho e materializado, estatisticamente, no número mais importante e visado quando se fala em segurança pública: o de assassinatos no Estado.
Todos já dão por certo: o Espírito Santo fechará este ano com a menor taxa de homicídios da série histórica, alcançando uma marca ainda menor que a registrada em 2019, quando o Estado fechou o ano com menos de 1 mil assassinatos (precisamente, 978). Naquele ano, o secretário estadual de Segurança ainda era Roberto Sá, substituído em 2020 por Ramalho. Celante, portanto, está dando continuidade à curva de queda (e tem o apoio do próprio Ramalho para seguir no cargo, pelo que pudemos apurar). Nesse caso, Casagrande não teria por que inventar aí.
Correndo por fora, o governador também poderia promover um dos chefes das três forças estaduais de segurança: o coronel Alexandre Cerqueira (Bombeiros), o coronel Douglas Caus (PMES) ou o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda.
Uma fonte também cita o deputado estadual Alexandre Quintino (PDT). Coronel da reserva e aliado de Casagrande, ele ficou como 1º suplente do PDT na próxima legislatura na Assembleia, logo estará sem mandato a partir de fevereiro.
Mas todas essas alternativas a Ramalho e a Celante são consideradas muito pouco prováveis. A visão predominante é que hoje, se confirmado o não retorno de Ramalho, Casagrande só trocará Celante se quiser dar algum tipo de recado à sociedade, no sentido de mudança, de que o próximo governo não será pura continuidade do atual etc.
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Eugênio Ricas
O nome do superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, Eugênio Ricas, chegou a ser citado por um coronel da PMES como alguém que poderia ser chamado por Casagrande para seu próximo secretariado (na Sesp ou em outra área). Afastado do grupo político do ex-governador Paulo Hartung após ter tido sua pré-candidatura a governador travada em março, Ricas se reaproximou politicamente de Casagrande. Cultiva excelente relação com o governador, inclusive institucional, haja vista a força-tarefa criada entre a Polícia Federal e forças estaduais de segurança.
Não houve, porém, nenhuma sondagem a ele. Pelo menos, até o momento.
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