Coluna Vitor Vogas
Magno sobre Meneguelli: “Não intervim para tirar ninguém”
Ex-senador seria beneficiado com eventual implosão da candidatura de Meneguelli ao Senado, mas nega atuação com esse fim
O ex-senador Magno Malta (PL) nega enfaticamente que tenha agido nos bastidores e usado sua influência política com o objetivo de remover a pré-candidatura de um dos seus principais concorrentes na eleição ao Senado pelo Espírito Santo: o ex-prefeito de Colatina Sérgio Meneguelli (Republicanos). “Não houve nenhuma intervenção da minha parte ou do PL para tirar qualquer pré-candidato ao Senado da corrida eleitoral aqui do Espírito Santo”, afirmou Magno à coluna, por intermédio de sua assessoria.
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Oficialmente, a pré-candidatura de Meneguelli segue mantida pelo Republicanos. Fazendo sua parte, o ex-prefeito agarra-se a ela com força: diz que vai apresentar seu nome na convenção estadual do partido, marcada para domingo (31), e vai lutar para ser candidato até o último momento. Para isso, ele pode ter que enfrentar um movimento em contrário por parte de dirigentes do próprio partido.
Ontem (25), o mercado político capixaba foi tomado por um novo tsunami especulativo envolvendo a pré-candidatura de Meneguelli. Até informações vindas de dentro do Republicanos davam conta de que ele não será mais candidato ao Senado, por determinação expressa da direção nacional do partido. Uma pessoa ligada à Executiva Estadual da sigla já dava por certa a retirada de Meneguelli, por decisão de cima, expedida pelo presidente nacional do Republicanos, o pastor e deputado federal Marcos Pereira (SP).
Segundo a mesma fonte – corroborando especulações que começaram a se espalhar no último sábado (23), durante a visita do presidente Bolsonaro (PL) a Vitória –, o sacrifício da candidatura de Meneguelli seria resultado de uma articulação protagonizada por Magno Malta. Presidente estadual do PL, o ex-senador teria se movimentado e acionado a sua rede de contatos em Brasília para tirar Meneguelli da pista, incluindo dirigentes nacionais do Republicanos e da Igreja Universal do Reino de Deus (ligada ao partido).
De acordo com essa narrativa – repito: sustentada até por fonte do Republicanos –, até o presidente Bolsonaro teria entrado no circuito e intercedido em favor de Magno, candidato do seu PL, requerendo a Marcos Pereira a retirada de Meneguelli. “Ora, se o presidente fez o mesmo até com a Damares Alves, que era pré-candidata ao Senado pelo Republicanos no Distrito Federal…”, compara membro da cúpula do Republicanos no Espírito Santo.
A ex-ministra da Família foi rifada pelo próprio partido na última terça-feira (19), por articulação do próprio Bolsonaro, em benefício da candidatura ao Senado da ex-secretária de Governo Flávia Arruda (PL) no Distrito Federal.
Como Magno se beneficia?
Voluntária ou involuntariamente, o fato inegável é que Magno seria o principal beneficiado com eventual implosão de Meneguelli. Evangélico, conservador, de direita e “fechado com Bolsonaro” da cabeça aos pés, o ex-senador veria eliminado, antes mesmo do tiro de largada, não só um rival competitivo, mas um concorrente forte que corre praticamente na mesma faixa político-ideológica.
Pesquisas publicadas pelos sites A Gazeta e Folha Vitória no mês de maio apresentaram os dois tecnicamente empatados como líderes dessa corrida, na “volta de apresentação”. Além disso, mesmo tendo perfil pessoal radicalmente diferente de Magno, Meneguelli se apresenta para essa disputa pelo Republicanos, um partido “terrivelmente cristão” (como diria Bolsonaro), conservador de direita e alinhado por inteiro ao bolsonarismo. Tem mais.
Ainda como prefeito de Colatina, Meneguelli ganhou extrema popularidade nas redes sociais, sobretudo entre grupos de direita, sob o epíteto de “melhor prefeito do Brasil”, graças a vídeos em que aparece como “gente como a gente”, pintando bancos de praça, fazendo as vezes de jardineiro em canteiros da cidade e indo dar expediente na prefeitura de bicicleta. Em dezembro de 2020, ele chegou a ser convidado por Bolsonaro para uma visita ao Palácio do Planalto e publicou vídeo com o presidente.
Por tudo isso, o ex-prefeito pode até se declarar “antenado”, dizer que não é “careta” e que “de conservador não tem nada” – como afirmou à coluna, em entrevista “sincerona” publicada no dia 12 de junho. Mas o fato é que, ao menos parcialmente, o ex-prefeito invade a faixa ideológica de Magno e divide-a com o ex-senador, disputando com ele parte do eleitorado bolsonarista capixaba.
E é por isso que a eventual queda de Meneguelli, se confirmada, deixa a faixa da direita para Magno, se não totalmente livre (Ramalho pode vir aí e o pastor Nelson Junior ainda pode vingar), bem mais aberta para o ex-senador percorrer. Ele passa a desfilar como representante único do bolsonarismo raiz, tendendo a capturar sozinho aquele voto mais ideológico nesse campo.
Esse é o raciocínio que explica eventual articulação de Magno.
Porém, como vimos no início desta análise, o próprio ex-senador refuta com veemência que tenha mexido um dedo a fim de empurrar Meneguelli para fora da pista. E mais: procurada pela coluna, a assessoria de imprensa de Marcos Pereira afirmou que “não procede” a informação de que o partido retirou Meneguelli para apoiar Magno ao Senado no Espírito Santo.
Magno: respeito às outras candidaturas
Perguntei a Magno também, por intermédio de sua assessoria, o que ele pensa sobre a existência de mais de uma candidatura a senador por partidos da base de Bolsonaro e identificados com a direita no Espírito Santo. Isso não é estrategicamente ruim, na medida em que pode favorecer ao candidato (ou candidata, ou candidatos) do governo Casagrande (PSB)? Ele disse respeitar todas as outras pré-candidaturas, inclusive as de direita:
“Respeito o direito de quem quer participar das eleições e apresentar projetos para a sociedade. Eu sou a favor do debate de ideias dos pré-candidatos (inclusive, de direta, mesmo concorrendo para o mesmo cargo), pois possibilita à população conhecê-los e, posteriormente, escolher seus futuros candidatos.”
O apelo emocionado de Meneguelli
De todo modo, Meneguelli dá todos os sinais de ter plena consciência de que está sob uma nova onda de ataques especulativos e que sua candidatura se encontra novamente ameaçada.
No início da tarde de ontem, atendendo à coluna, ele deu nome aos bois e acusou Magno Malta de estar por trás de uma orquestração para o derrubar (o que, repita-se, o ex-senador nega).
Por volta das 21 horas, o que o ex-prefeito acusou foi a própria preocupação. Quase às lágrimas, publicou um vídeo em que fala aos seus seguidores:
“Estou meio chocado. […] Forças ocultas, forças estranhas, fora do meu partido, estão tentando convencer para eu não ser candidato. […] E agora estão querendo me tirar. […] Forças ocultas, estranhas, estão querendo matar um sonho, estão querendo matar um projeto em benefício de outra candidatura. Não tenho nada contra Magno Malta. Mas isso não pode acontecer. Isso é balela! Um presidente da República não vai se meter em campanha no Espírito Santo com os partidos que o apoiam”, duvidou.
Indiretamente, Meneguelli também falou ao presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira. Mais de uma vez, afirmou que confia na palavra dele: “Estou num partido que, até [que] me provem o contrário, é um partido sério, presidido por um homem de palavra, que gravou vídeo comigo. Depois, agora, novamente, com toda essa polêmica, ele compreendeu que eu realmente tenho a ver com o partido e disse, sim, que eu seria candidato.”
“O voto de confiança” de Marcos Pereira
É um gesto estratégico e preventivo. Se nas próximas horas ou dias se confirmar a sua derrubada, o movimento terá toda a marca de traição interna, devidamente sublinhada desde já por Meneguelli, ao lembrar que recebeu do próprio presidente nacional da sigla a garantia de que seria candidato ao Senado.
De fato, recebeu.
Após a polêmica entrevista concedida a este espaço no início de junho, Meneguelli mergulhou num inferno astral, e sua candidatura esteve entre a vida e a morte. No dia 15 de junho, o próprio Pereira afirmou à coluna que ele e outros líderes do Republicanos haviam se sentido ofendidos e desrespeitados por algumas declarações de Meneguelli na entrevista e que ele não enxergava mais viabilidade na pré-candidatura do colatinense.
Meneguelli passou um mês agonizando, no purgatório eleitoral, até que, no dia 12 de julho, Marcos Pereira resolveu lhe dar uma nova chance, “porque todos merecem um voto de confiança”. Naquele dia, o presidente nacional reuniu-se com o presidente estadual do Republicanos, Roberto Carneiro, o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, e o deputado federal Amaro Neto (todos do mesmo partido), e discutiu-se o caso Meneguelli.
No dia seguinte, Pereira declarou à coluna que Meneguelli havia pedido desculpas a ele por eventuais ofensas. Garantiu que o ex-prefeito seria o candidato do Republicanos ao Senado no Espírito Santo e, instado a explicar por que tomou essa decisão, escreveu exatamente o que reproduzi acima: “Porque todos merecem um voto de confiança”.
Nos próximos capítulos, saberemos o quanto durou esse novo “voto de confiança” do Republicanos em Meneguelli. Mais importante: saberemos se todos realmente merecem um voto de confiança, incluindo a cúpula nacional do Republicanos.
Troféu Survivor
Uma coisa é certa: se Meneguelli chegar vivo até o fim, se no dia 15 de agosto realmente conseguir registrar a sua candidatura, já poderá levar o “Troféu Survivor” desse processo eleitoral no Espírito Santo. Nenhuma pré-candidatura foi alvo de mais tentativas de sabotagem que a dele… incluindo certa dose de autossabotagem acidental.
O destino de Erick Musso
O mercado político acordou nesta terça (26) ainda mais nervoso que na véspera, com muitas especulações envolvendo também o destino eleitoral da outra estrela do Republicanos neste pleito estadual: Erick Musso. Oficialmente, ele continua como pré-candidato a governador pelo partido.
Alguns, porém, já o colocam como novo candidato a senador pelo Republicanos, pressupondo que a queda de Meneguelli é mesmo certa e iminente, o que deixa um vácuo que poderia ser ocupado por Erick. Nesse caso, o chefe do Legislativo estadual poderia se tornar o candidato a senador de Felipe Rigoni, postulante ao governo pelo União Brasil, numa dobradinha entre os dois partidos.
Mas também já há quem coloque Erick como candidato a vice-governador do ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD). Nesse caso, seus dois partidos uniriam forças, numa coligação que também arrastaria as quatro pequenas siglas que ambos já têm a reboque: o PMB e a Democracia Cristã (DC), no caso de Guerino, e o PSC e o Patriota, no caso de Erick.
A coligação liderada por Guerino ficaria assim: PSD, Republicanos, PMB, DC, PSC e Patriota. Nesse caso, sobrevivendo à nova tormenta, Meneguelli poderia até ser o candidato a senador da chapa.
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