fbpx

IBEF CQC

Derivativos: É possível minimizar o risco em meio a incertezas?

Publicado

em

Por Alefe Gadioli

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Antes mesmo de entrar um pouco mais a fundo no conceito de derivativos agrícolas, é importante entender do que se tratam os derivativos de maneira geral. Derivativos nada mais são do que operações no mercado financeiro que acontecem com o objetivo principal de proteção de riscos.

Esses riscos podem estar relacionados ao fato da receita de uma determinada empresa estar atrelada à variação do preço de uma commodity, ao câmbio, ou a qualquer outro fator que possa trazer riscos de perda de recursos ao final de um determinado período. No caso dos derivativos agrícolas, leva-se em conta a receita financeira que está associada a uma commodity agrícola.

O derivativo agrícola é um importante instrumento financeiro de proteção de preço e de suas eventuais oscilações. Supondo que um agricultor precisa plantar café. Porém, ele só vai realizar a colheita dentro de aproximadamente 3 meses. No entanto, sabe-se que dentro desse período muita coisa pode ocorrer com a oferta e demanda do café e, consequentemente, na variação de seu preço.

Por conta desse risco do agricultor, a saber: de que o preço de sua soja no futuro — por exemplo — seja muito menor do que é hoje, ele pode vender um contrato futuro a um preço fixo de hoje. Isso acontece porque se esse agricultor deixar suas negociações expostas às variações do preço da soja, daqui a um determinado tempo o mesmo pode sofrer grandes problemas, o que poderá acarretar dificuldades até mesmo em recompor o valor das despesas que ele teve com o plantio e os insumos necessários.

O valor da soja até pode ser maior daqui a 3 meses, quando ele for realizar a colheita. No entanto, a presença do risco de perda existe, e pode ser incontrolável por meios naturais. A percepção de que essa redução de preço pode ocorrer faz com que se tenha a necessidade de elaboração desses contratos futuros a um preço pré-determinado.

Sendo assim, os derivados agrícolas são instrumentos financeiros atrelados a um produto que existe na sua forma física como, por exemplo, soja, milho, café, açúcar, ou qualquer outro que possa ser negociado através do mercado financeiro. Aqui entra uma curiosidade: ao dia, são negociados na B3 (Bolsa de Valores brasileira) aproximadamente 2 bilhões de reais em contratos de commodities, enquanto que no dólar negociam-se cerca de R$ 74 bi.

Infelizmente, é impossível prever com exatidão como vão ocorrer as variações de preço de uma commodity, pois isso vai depender de acontecimentos econômicos, mudanças no câmbio, alta ou baixa oferta do produto no mercado, enfim, fatores amplos que estão inseridos dentro da ideia de renda variável.

Por conta disso, existem análises que tangenciam a tendência direcional que o preço pode ir, de acordo com as informações que se tem no momento do mercado atual. Essas análises podem ser feitas por especialistas do mercado financeiro, analistas, gestores, ou pessoas que de fato acompanham o dia-a-dia do mercado agrícola e dessa commodity em específico.

Pelo fato dessas análises terem diferentes resultados sobre a projeção do futuro, existe um preço justo para aquele contrato, de forma que seja interessante a ambas as partes da negociação. É por isso que, mesmo a um preço fixo, existe um comprador e um vendedor daquele determinado contrato futuro.

Essa espécie de “trava” no preço para proteção das variações da commodity é chamado de hedge. Esses hedges vão estar utilizando justamente os derivativos agrícolas, nos quais se pode negociar através da bolsa de valores. Isso ocorre através do mercado futuro, por meio da negociação de contratos futuros.

As negociações dos derivativos agrícolas podem ser feitas de forma direta ou indireta. Se for feito de forma direta, o próprio investidor pode realizar a operação por si só, com os conhecimentos que ele possui para tal, podendo ser, inclusive, o próprio agricultor ou dono da produção.

Na forma indireta, o agricultor pode ter um profissional da área, gestor ou qualquer outro semelhante que possa realizar essas operações em nome dessa pessoa, mas de forma mais estratégica; são decisões que podem beneficiar a ambos.

Além do próprio objetivo de proteção, os derivativos agrícolas também podem ser usados para especulação. Por isso, através de análises de cenários, é possível buscar predizer se a probabilidade de comprar ou vender um contrato de uma commodity dentro de um determinado período pode trazer lucro ou não.

Independentemente do objetivo na negociação dos contratos futuros, a intenção primária é nunca sair da operação no prejuízo, e isso é algo que todos os investidores buscam. No entanto, como nem tudo são flores, a utilização de derivativos agrícolas exige muita responsabilidade e cautela, pois seus contratos podem acarretar em perdas significativas, tendo, como exemplo, o caso da Sadia, Aracruz Celulose e o mais recente, o da Suzano.

Falando um pouco sobre o caso da Aracruz Celulose, a empresa exportava cerca de 99% de sua produção e os custos eram de 85% em reais: logo, a empresa tinha que se preocupar com o câmbio. Para se ter uma ideia, a empresa chegou a ganhar cerca de US$ 350 milhões com operações de hedge cambial entre final de 2004 e junho de 2008. Porém, passaram a utilizar um instrumento chamado sell target foward, que permitia a empresa operar a venda de câmbio no prazo mais longo. No entanto, não contavam que no ano de 2008 estouraria uma das maiores crises econômicas mundiais: o dólar, que em setembro daquele ano estava em R$ 1,60, passaria para mais de R$ 2,00 em dezembro. Isso fez com que a Aracruz tivesse um prejuízo superior a US$ 2 bilhões, tornando-se um exemplo de como o gerenciamento do risco — na dimensão do tamanho da operação — é um elemento importantíssimo que não deve ser negligenciado.

Em resumo, derivativos são muito importantes para mitigar diversos tipos de riscos financeiros, e já salvaram muitos produtores agrícolas de prejuízos enormes para o seu negócio. Mas, devido ao risco que os derivativos podem oferecer, é aconselhável somente para profissionais mais experientes, de forma que maximizem os benefícios e, em contrapartida, minimizem os riscos da operação com esses instrumentos financeiros.

Sobre o autor

Alefe Gadioli. Foto: Divulgação

Alefe Gadioli. Foto: Divulgação

Alefe Gadioli é formado em Engenharia Mecânica. Atualmente é Diretor de Relacionamento da Lótus Investimentos e membro da Diretoria do IBEF Academy.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui

IBEF CQC

Os Comitês Qualificados de Conteúdos ou CQC’s são grupos qualificados e técnicos do IBEF-ES para geração de conteúdo mensal e tem como objetivo promover o debate sobre o desenvolvimento econômico e social no ecossistema de economia, finanças e gestão empresarial capixaba.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.