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Coluna Vitor Vogas

Análise: pós-eleição virou campo político minado para Pazolini

Saldo do processo eleitoral foi ruim e politicamente perigoso para o prefeito de Vitória, com a reeleição de Casagrande e a vitória de adversários e potenciais concorrentes nas urnas (à direita e à esquerda). Visando à reeleição em 2024, ele precisa urgentemente recompor sua base e seu grupo

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Foto: Ellen Campanharo/ALES

Voz corrente na praça política capixaba: o saldo do processo eleitoral foi ruim e politicamente perigoso para o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). O pós-eleição virou um campo minado para ele, tanto à direita como à esquerda. Além de não ter emplacado nenhum aliado para cargo algum nas casas legislativas, o prefeito assistiu à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), um notório adversário político, e à ascensão ou reascensão de alguns potenciais concorrentes diretos no pleito municipal de 2024, por todos os lados do espectro ideológico: no centro, na esquerda e na direita bolsonarista.

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Ao mesmo tempo, ventos que sopram da Câmara de Vitória, onde o prefeito gozou de maioria ampla e relativa tranquilidade na primeira metade do mandato, indicam uma mudança de direção no segundo biênio da legislatura (sempre muito mais tenso e delicado para o prefeito no relacionamento com os vereadores), não só por conta de dois suplentes que chegam à Casa com as armas afiadas para lhe fazer oposição (Vinícius Simões e André Moreira) como também em razão da chegada de Armandinho Fontoura (Podemos) à presidência da Mesa Diretora.

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No conjunto, este pós-eleição acendeu não um, mas alguns sinais de alerta na Prefeitura de Vitória. Para pavimentar uma candidatura sólida à reeleição, o prefeito tem pela frente uma tarefa urgente: reconstruir o seu grupo político, ou melhor, criar um novo grupo político em torno dele, pois o atual dá sérios sinais de fragmentação (para não dizer esfacelamento mesmo). Ou ele faz isso ou corre o sério risco de cair numa das piores situações que podem acometer um mandatário que aspire à reeleição: isolamento político na antessala do processo eleitoral.

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O campo minado

Adversários ou potenciais adversários de Pazolini nas urnas em 2024 saíram fortalecidos do processo eleitoral, tanto à direita (Gilvan, Capitão Assumção) como à esquerda (João Coser e Camila Valadão).

Derrotado com autoridade por Pazolini no 2º turno em 2020, Coser (PT) viveu uma espécie de redenção, ou volta por cima, após passar uma década inteira sem exercer mandatos. Com quase 60 mil votos, volta à Assembleia Legislativa na condição de 3º candidato mais votado. É cotado não só para assumir a presidência da Mesa, como o candidato de Casagrande, mas também para buscar uma revanche contra Pazolini em 2024.

Oposicionista de Pazolini na Câmara de Vitória, a vereadora Camila Valadão (Psol) também elegeu-se com autoridade para deputada estadual. Como a 4ª candidata mais votada (logo atrás de Coser), terá nos próximos dois anos uma caixa de ressonância maior para criticar a gestão Pazolini.

Tanto ela como Coser tiveram participação ativa na campanha pela reeleição de Casagrande – assim como a filha do ex-prefeito e vereadora Karla Coser (PT), também opositora de Pazolini, ao lado de Camila, na Câmara de Vitória.

Isso à esquerda do prefeito.

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Já o palanque da extrema direita bolsonarista (à direita, portanto, de Pazolini), erguido em torno de Manato (PL), também alcançou triunfos eleitorais importantes.

Com a incrível marca de quase 100 mil votos, Assumção (PL) reelegeu-se como o 2º candidato mais votado a deputado estadual no Espírito Santo.

Com quase 90 mil votos, o vereador Gilvan da Federal foi além: “pulando” a escala na Assembleia, elegeu-se deputado federal – só me lembro de Neucimar Fraga ter conseguido esse feito, em 2002 –, também como o 2º mais votado no Estado. Chega com moral a Brasília, onde terá na tribuna da Câmara um microfone com amplificador.

Um dos dois bolsonaristas pode desafiar Pazolini, com o apoio do outro (e de Manato), na eleição de 2024.

Sintomática foi a recente mudança de comportamento de Gilvan em relação a Pazolini no plenário da Câmara de Vitória. Na semana passada, poucos dias antes do 2º turno, o vereador dirigiu palavras grosseiras ao prefeito, cobrando-lhe um posicionamento claro na eleição a governador (isto é, um apoio explícito a Manato, que jamais veio).

A manifestação nem um pouco cordial por parte do vereador não foi nenhuma novidade em si mesma. O fato novo foi ele tê-la direcionado ao prefeito, de cuja base sempre fez parte, pelo menos até o fim da eleição.

Além disso, outro ex-adversário de Pazolini no último pleito municipal e potencial concorrente no próximo, Fabrício Gandini (Cidadania), também conseguiu a reeleição na Assembleia.

E outro ex-vereador de Vitória, Mazinho dos Anjos, também chega ao Legislativo estadual. Mantém boa relação com Pazolini, mas elegeu-se na coligação e no palanque de Casagrande, pelo PSDB.

Enquanto isso, aliados de Pazolini, como os vereadores Davi Esmael (PSD) e Leandro Piquet (Republicanos), não conseguiram chegar à Assembleia.

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Câmara de Vitória

Ao mesmo tempo, a próxima composição da Câmara Municipal de Vitória, a partir de janeiro, tende a dar muito mais trabalho ao prefeito, não só por conta dos suplentes de oposição que assumirão mandatos na Casa como também em decorrência da mudança na direção da Mesa Diretora, com a iminente chegada à presidência de Armandinho Fontoura (Podemos).

Se não chega a se opor a Pazolini nem a ameaçar lhe fazer oposição, o próximo presidente é certamente muito menos atrelado ao prefeito que o atual, Davi Esmael (PSD), tem ambições políticas próprias e, mesmo agora neste período de “transição”, já deu sinais de que, ao contrário de Davi, pode criar contratempos para a Prefeitura.

Como não dependeu de Pazolini para vencer a eleição interna em agosto, Armandinho não tem dívida política com ele, o que lhe dá liberdade de ação para conduzir o Legislativo com um grau de independência bem maior em relação ao Executivo (a conferir). Em linguagem das ruas: o rabo dele não está preso.

Aqui e ali já aparecem focos de insatisfação da base com a prefeitura. A própria eleição de Armandinho foi um grande sintoma disso. O próximo presidente da Câmara não era o candidato preferido de Pazolini, mas prevaleceu entre os pares.

Segundo fontes internas, o prefeito e Davi Esmael tinham preferência pelo vereador André Brandino (PSC), que seria um presidente muito mais subordinado a ambos, mas não conseguiu se viabilizar. Os vereadores não queriam um novo Clebinho no comando da Casa.

Além disso, a partir de janeiro, o prefeito terá de conviver com três vereadores de oposição, vinculados, respectivamente, a João Coser, Camila Valadão e Gandini:

Karla Coser (PT) seguirá por lá.

O advogado André Moreira assumirá o mandato de Camila, como 1º suplente do Psol, devido à eleição da vereadora para a Assembleia. Deve chegar cheio de disposição para exercer o primeiro mandato eletivo de sua vida (o segundo da história do Psol no Espírito Santo, após Camila e por causa dela). Quem conhece o estilo combativo de Moreira sabe que ele pode fazer a oposição de Camila a Pazolini nos últimos dois anos parecer um passeio de domingo no Parque Moscoso.

Mas, se no caso do Psol uma oposicionista é substituída por outro (soma zero na correlação de forças), o caso de Vinícius Simões é ainda pior para a administração Pazolini, pois significa menos um na base. Ligado a Luciano Rezende e Gandini, de quem já foi assessor parlamentar, o ex-presidente da Câmara voltará ao plenário como suplente de Denninho Silva (União Brasil), eleito para a Assembleia. Denninho era aliado de Pazolini. Simões será tudo menos isso.

Para piorar, o relacionamento dos vereadores com o prefeito costuma ser muito mais instável na segunda metade do mandato, pois então os edis entram no “modo reeleição”, cada um começa a priorizar os próprios interesses e projetos eleitorais, e rebeliões da base não são incomuns. Entre 2015 e 2016, o então prefeito de Vitória, Luciano Rezende, enfrentou uma verdadeira revolta na Câmara que muito dificultou sua reeleição.

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Eleições legislativas

A bem da verdade, Pazolini não “elegeu” nem assistiu à vitória eleitoral de nem um aliado sequer nas eleições legislativas (nem na Câmara nem na Assembleia).

A aposta inicial do grupo dele para a Câmara, delegado Ícaro Ruginski, implodiu. O ex-secretário municipal de Segurança Urbana nem sequer foi candidato. Desistiu da candidatura e anunciou a desistência no início de julho, num textão no Instagram repleto de mensagens cifradas que soaram como indiretas para o prefeito, sugerindo desgaste no relacionamento político.

O único candidato explicitamente apoiado por Pazolini, Erick Musso, não passou de 17% dos votos na disputa pela vaga no Senado, chegando em terceiro lugar, bem distante de Magno Malta (PL) e de Rose de Freitas (MDB), apesar do bom volume de recursos do Fundo Eleitoral e da mobilização de comissionados da Assembleia na campanha.

Eleição para o Palácio Anchieta

Pazolini não se posicionou publicamente a favor de Manato na eleição para governador (aliás, nem para um lado nem para o outro), mas é reconhecidamente adversário do atual chefe do Executivo estadual, postou críticas contundentes a Casagrande (sem o citar pelo nome) durante o segundo turno, principalmente no episódio dos ataques a ônibus em 11 de outubro… e, no fim, deu Casagrande de novo.

O resultado para Pazolini é obviamente pior do que se Manato tivesse vencido, com direito a um ingrediente extra e um tanto quanto embaraçoso:

A própria vice-prefeita de Pazolini, Capitã Estéfane (Patriota), indo contra o partido dela, entrou pessoalmente na campanha de Casagrande, em comícios, redes sociais e até no horário eleitoral gratuito. E, ao anunciar o apoio ao lado do governador, também fez afirmações que podem ser lidas como indiretas ao prefeito.

Como se fosse pouco, os três antecessores de Pazolini no cargo, que já brigaram muito entre si no passado e que preservam influência política na cidade (Luiz Paulo, Coser e Luciano), uniram-se em torno de Casagrande no mesmo palanque em outubro, literalmente, ao lado ainda de Estéfane, em comício voltado para líderes comunitários de Vitória.

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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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