Alexandre Brito
Aumento dos afastamentos médicos por transtornos mentais no Brasil
Em 2024, o Brasil registrou 472.328 afastamentos médicos, com 68% de aumento, destacando a crise de saúde mental que afeta trabalhadores
Em 2024, segundo o Ministério da Previdência Social, o Brasil registrou 472.328 afastamentos médicos por transtornos mentais, um aumento de 68% em relação a 2023. Os diagnósticos mais comuns foram ansiedade e depressão. Nesse cenário alarmante, mais de 300 mil mulheres foram afastadas, enquanto 179 mil homens também se afastaram, ambos com idade média de 41 anos.
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Essa realidade é frequentemente tratada como uma “crise de saúde mental”, reduzindo os transtornos mentais a questões individuais, como se fossem apenas problemas internos, sem considerar os diversos fatores envolvidos. Além disso, ainda não contamos com os trabalhadores informais que também estão adoecidos, mas não têm acesso ao INSS.
No entanto, esses não são casos isolados. A abordagem individualizante ignora os aspectos econômicos e sociais que afetam nossas condições de vida e trabalho. A precarização das relações trabalhistas, a sobrecarga, a falta de reconhecimento e o assédio moral são determinantes no adoecimento coletivo.
Além disso, machismo e racismo estrutural também têm impacto profundo na vida e na saúde mental das pessoas. Portanto, não se trata de uma crise de saúde mental em que as pessoas não estão se adaptando ou se tornando menos produtivas, mas sim de um modo de existir que transforma a exaustão em norma e lucra com o sofrimento.
Cuidamos exaustivamente de nossa produtividade e resultados, mas negligenciamos nossa saúde. Esse modelo de trabalho nos leva ao limite de nossas capacidades, com ciclos incessantes de cobranças e exploração.
A solução apresentada muitas vezes é o tratamento de saúde mental visando o desenvolvimento de resiliência e a capacidade de adaptação a ambientes abusivos, em vez de questionarmos as condições que estão nos adoecendo.
Até quando vamos normalizar esse modo de viver e trabalhar? Até quando o sofrimento será tratado como falha individual, em vez de ser compreendido como resultado de um sistema exaustivo? A saúde mental e o descanso não podem ser considerados luxo ou privilégio, mas sim direitos que devem ser assegurados. Afinal, um transtorno mental não é um problema individual, mas um sintoma de um sistema que precisa ser transformado para não se tornar cada vez mais letal.
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