Coluna Vitor Vogas
A pista da direita bolsonarista está congestionada na eleição do ES
Manato, Erick Musso e agora… Guerino Zanon! Sem falar em outros três candidatos também situados do centro para a direita. Entenda os diferenciais de cada um e os acordos possíveis em uma disputa particular que, na verdade, pode favorecer Casagrande

Da esquerda para a direita: Erick Musso, Carlos Manato e Guerino Zanon
No caminho que leva ao Palácio Anchieta na eleição de outubro, a pista da direita está congestionada. Há não só muitos pré-candidatos trafegando pela faixa da direita como, mais especificamente, um certo excesso de concorrentes identificados com o bolsonarismo e apresentando-se como apoiadores do atual presidente, a fim de atrair e conquistar o mesmo segmento do eleitorado capixaba. O risco evidente para esses candidatos é o de ficarem estagnados, presos no engarrafamento gerado por eles mesmos, enquanto adversários passeiam pelas faixas do centro e da esquerda – aliás, adversário: Renato Casagrande (PSB).
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Recapitulando a lista parcial, no momento (ainda) temos na disputa:
. Casagrande (PSB)
. Contarato (PT)
. Manato (PL)
. Audifax (Rede)
. Guerino Zanon (PSD)
. Erick Musso (Republicanos)
. Rigoni (União Brasil)
. Aridelmo (Novo)
. Capitão Sousa (PSTU)
Tirando Casagrande, Contarato (que tende a ser excluído em breve pelo PT para apoiar o atual governador) e o Capitão Sousa (representante de uma sigla muito pequena de extrema-esquerda), restam seis concorrentes, todos posicionados do centro para a extremidade direita da pista, com destaque para os quatro primeiros da relação a seguir:
Dizendo-se candidato da “direita conservadora”, Manato é um bolsonarista convicto e está ao lado do presidente de extrema-direita, incondicionalmente, desde antes da vitória de Bolsonaro na eleição de 2018.
Evangélico e filiado ao Republicanos, partido que se declara o mais conservador do Brasil, Erick Musso também se considera um “conservador nos costumes” (mas “liberal na economia”). Direita, de todo modo. Também apoia Jair Bolsonaro.
Guerino se reconhece como um político conservador de centro-direita. Mais um “fechado com Bolsonaro”.
Totalmente identificado com o Novo, Aridelmo é como o partido: de direita e totalmente liberal. Votou e declarou voto em Bolsonaro já no 1º turno na eleição a governador em 2018 (ao vivo, em pleno debate final da TV Gazeta).
Rigoni vê a si mesmo como um “liberal por inteiro”, nos costumes, na economia e na área social. Considera-se um homem de centro. Mas a definição “centro-direita” não lhe cai mal, haja vista seu liberalismo econômico e seu desentendimento com o PSB que o levou até a sair da sigla de centro-esquerda. Cumpre lembrar que, a rigor, se traçarmos toda a árvore genealógica, o partido agora presidido por Rigoni no Espírito Santo, União Brasil, descende da Aliança Renovadora Nacional (Arena), que dava sustentação à ditadura militar (1964-1985). Na eleição presidencial, o deputado não apoiará nem Lula nem Bolsonaro no 1º turno.
Quanto a Audifax, evita se encaixar em qualquer definição ideológica específica, mas diz enxergar em si mesmo traços do centro, da esquerda e inclusive da direita – neste último caso, no que se refere a posicionamentos mais conservadores concernentes à pauta de costumes (ele frequenta a Igreja Batista). Quanto à disputa pela Presidência, topa apoiar quem o apoiar.
Disputa entre bolsonaristas: três podem jogar esse jogo
Na semana passada, após meses de recolhimento, Guerino Zanon botou enfim seu bloco de pré-campanha na rua – e o fez de maneira ostensiva. Além das críticas ácidas que distribuiu ao governo Casagrande em uma rodada de entrevistas a veículos da imprensa capixaba, o ex-prefeito de Linhares botou ainda mais tempero em uma disputa particular que já estava interessante: aquela travada dentro do flanco bolsonarista pelos pré-candidatos que se identificam com o atual presidente e procuram se vincular à sua imagem – evidentemente, com o intuito de capitalizar o eleitorado do capitão.
Guerino declarou, de maneira categórica, que não vota de jeito nenhum em Lula (PT) e que, se a disputa ficar resumida aos dois, votará sem pensar duas vezes em Bolsonaro. Com isso, obviamente, faz um aceno aos eleitores capixabas que pretendem fazer o mesmo (não hão de ser poucos). E assim entrou, sem pedir licença, num duelo que já era protagonizado por outros dois concorrentes também autodeclarados integrantes da “direita conservadora”: Manato e Erick.
“Fechado com Bolsonaro” pelo menos desde 2017 – quando ambos ainda eram deputados federais –, Manato tem feito de tudo para defender o território onde fincou uma bandeira nos últimos anos, desde os tempos de PSL. Por sinal, o ex-deputado não apenas se apresenta como representante de Bolsonaro como diz ter tido a candidatura endossada e incentivada pelo presidente em pessoa:
“No dia 10 de junho de 2021, eu tive uma reunião com o presidente Bolsonaro, e ele me autorizou: ‘Vai, você vai ser o meu candidato. Providencia tudo. Toca o projeto’. E aí comecei a tocar o projeto.”
Vigilante, Manato tem espantado com uma foice (ops! foice não; com um ancinho) todos os concorrentes que se atrevam a disputar com ele esse cobiçado espaço. Na mais recente entrevista a esta coluna, espetou Erick Musso.
O presidente da Assembleia foi de fato o primeiro a fazer um movimento mais ostensivo em direção ao bolsonarismo, buscando avançar justamente sobre aquele território onde Manato fincara sua bandeira.
Cumpre notar que, em alguns pontos, o discurso adotado por Erick recende até um pouco ao de Magno Malta (aceno ao ex-senador?), por acaso presidente estadual do PL e fiador da candidatura de Manato ao governo estadual. Em entrevista concedida a este espaço, o pré-candidato do Republicanos defendeu a “tradicional família brasileira”, além de ter-se declarado contra “a liberação da maconha”, “o casamento homossexual” e “a política de ideologia de gênero dentro das escolas”.
E aí de repente surgiu Guerino, também querendo entrar na brincadeira: “Entre Lula e Bolsonaro, cravarei Bolsonaro”.
Diferenciais de Guerino
O diferencial de Guerino em relação aos dois primeiros é que ele, de fato, está mais posicionado ao centro. Até para definir conservadorismo, em vez de um discurso ao estilo de Magno, o ex-prefeito citou Edward Burke, filósofo irlandês considerado o pai do conservadorismo moderno (ideia da assessoria dele, sem dúvida: ele pronunciou “Baker”).
Além disso, diferentemente de Manato e de Erick, Guerino está investindo pesadamente num discurso que visa realçar sua própria capacidade como gestor público. E, como gestor público, ele de fato tem muito mais a exibir, após quatro mandatos e meio à frente da maior cidade da região Norte do Estado.
Assim, dizendo-se eleitor de Bolsonaro, mas adotando discurso mais moderado e mais, digamos, gerencial, Guerino pode crescer e dar trabalho aos concorrentes internos nesse campo da direita: ao mesmo tempo, pode atrair votos de eleitores bolsonaristas e, como diria Paulo Hartung, “fazer brilharem os olhos” dos eleitores de centro (que são a grande maioria).
Dentro do eleitorado que não vota de jeito nenhum em Casagrande nem em Lula, Guerino pode angariar o apoio daqueles que não votam por ideologia e dos que até se reconhecem mais na direita, mas não curtem tanto assim o radicalismo de Bolsonaro.
Pelo que a coluna apurou, esse potencial de crescimento de Guerino correndo pela pista da direita – e talvez até vindo a superar Manato –, provavelmente captado em pesquisas de monitoramento dos cenários no Palácio Anchieta, teria sido um dos fatores que levaram Casagrande a bater o martelo e decidir que deseja, sim, o apoio do PT, fazendo sua parte para que o partido de Lula desista de lançar Contarato e apoie a sua reeleição, mesmo que para isso ele precise manifestar aquele apoio meio envergonhado ao ex-presidente contra Bolsonaro lá para os idos do mês de setembro.
Hartung sempre criticou
Guerino pode até ter apostado na estratégia de se apresentar como eleitor de Bolsonaro. Mas não deixa de ser curioso que seu padrinho e presumível mentor – vide a turma de hartunguistas que o circunda – seja um antibolsonarista convicto. Ainda no cargo e após deixar o Palácio Anchieta, o ex-governador Paulo Hartung nunca deixou de criticar o extremismo representado por Bolsonaro.
Cruzamento M&M
Como relatamos aqui nesta sexta-feira (10), tem se intensificado no meio político capixaba a suspeita de que o PL (leia-se Magno) pode puxar o tapete de Manato para apoiar Erick Musso, em um acordo cujo maior beneficiário seria o próprio Magno em seu projeto de retorno ao Senado. O ex-senador nega isso, assim como Manato (ambos com veemência).
Erick pode ser vice de Guerino
Bem, se a jogada descrita acima realmente não passar de especulação, Erick não vai herdar os eleitores de Manato. Nesse caso, supondo que lá para o fim de julho o presidente da Assembleia não tenha saído dos seus atuais 3% das intenções de voto nas pesquisas, ainda que eu esteja equivocado, acho muito pouco provável que ele siga na disputa. Mais provável que tope, por exemplo, um acordo para ser vice de Guerino – como o próprio Erick admitiu que poderia ter sido se o candidato do PSD (leia-se Paulo Hartung) tivesse sido Eugênio Ricas! E, cá para nós: também há a impressão de PH nessa pré-candidatura do presidente da Assembleia…
Conclusão
Se todos esses concorrentes do polo de direita teimarem em manter a candidatura e seguirem brigando entre si até agosto, o atual governador agradece: é o maior beneficiado com isso.
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