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Coluna Vitor Vogas

Tempo, tempo, tempo, tempo… o maior desafio de Luiz Paulo em Vitória

Tucano está na dobra do tempo na eleição a prefeito de Vitória, segundo Caetano, Paulinho da Viola e, intruso entre os mestres, o colunista que assina

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Luiz Paulo discursa em ato de campanha

Luiz Paulo discursa em ato de campanha

“Tempo, tempo, tempo, tempo…” A palavra, repetida aqui e no título desta análise, resume o maior desafio enfrentado por Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) para conseguir deslanchar na disputa pela Prefeitura de Vitória.

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Não se trata do tempo de exposição no horário eleitoral gratuito. Com uma boa coligação, o ex-prefeito tem, ao lado de Lorenzo Pazolini (Republicanos), a maior quantidade de minutos no rádio e na TV até o dia 3 de outubro. O “tempo” a que me refiro é outro. É aquele do deus Cronos, na Grécia Antiga; o do estribilho da antológica “Oração ao Tempo”, canção de Caetano Veloso, lançada em 1979: “Tempo, tempo, tempo, tempo…” É o tempo que vai, deixa marcas e não volta, mas que pode ser revisitado e, quem sabe, até “revivido”, com as devidas atualizações, em adaptação contemporânea. É o que Luiz Paulo parece estar buscando e propondo.

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Mas tudo a seu tempo. Já chegaremos lá.

Antes eu preciso lembrar a vocês, como já detalhado aqui: na propaganda eleitoral gratuita de rádio e TV, Lorenzo Pazolini (Republicanos) e João Coser (PT) – hoje, respectivamente, líder e vice-líder na eleição na Capital – estão protagonizando uma autêntica batalha de narrativas: enquanto o atual prefeito apresenta uma Vitória exageradamente maravilhosa, em que problemas passam longe de existir e tudo funciona perfeitamente, o candidato do PT exibe uma cidade na qual só existem problemas e nada funciona direito, por obra, segundo ele, da atual administração.

Também opositor de Pazolini e igualmente integrante do grupo político liderado por Renato Casagrande (PSB) – o governador o apoia, como a Coser –, Luiz Paulo tem seguido por um caminho diferente em sua própria propaganda eleitoral.

Embora mantenha muitas críticas à atual administração – o “populismo fiscal” é só uma delas –, o candidato do PSDB, pelo menos por enquanto, tem preferido “poupar munição”. No lugar das críticas a Pazolini, vistas em profusão no programa de Coser, a equipe de marketing do tucano tem optado por concentrar o programa no próprio Luiz Paulo, em um esforço de (re)construção e (re)apresentação do candidato para o eleitorado de Vitória.

Tendo encerrado seu segundo mandato de prefeito há 20 anos – e há 14 sem exercer cargo eletivo algum – , Luiz Paulo está nitidamente empenhado em se reapresentar aos moradores de Vitória e se reconectar com eles. Como parte dessa estratégia, em vez de um discurso mais incisivo contra o atual prefeito, a campanha do tucano tem optado, desde o programa de estreia, por resgatar o legado de Luiz Paulo como prefeito, sublinhando a sua importância e suas marcas até hoje presentes na cidade.

Ainda mais importante que a demarcação do legado é o esforço no sentido de exaltar as qualidades de Luiz Paulo como gestor que, alegadamente, é alguém que enxerga à frente do seu tempo… numa palavra, um “visionário”, como o candidato é, literalmente, definido em sua propaganda.

Luiz Paulo, não obstante o “tempo, tempo, tempo, tempo” passado desde que governou a cidade, seria o candidato mais capacitado para “fazer um governo transformador” e colocar Vitória no futuro, se não o único capaz de fazê-lo. O candidato convida o público a se unir a ele em um “projeto de futuro”.

A questão – e aqui tudo fica mais interessante – é que, também em sua propaganda eleitoral, para confirmar esse suposto “visionarismo” do candidato, o que se destaca são feitos da sua administração em Vitória, com ênfase no Projeto Terra, carro-chefe do governo do tucano, já muito distante no tempo.

Eis o ponto: certamente foi um governo importantíssimo para a cidade de Vitória, ninguém pode tirar isso de Luiz Paulo… mas é também, por certo, um governo muito antigo, iniciado em 1997 e encerrado em 2004, há exatamente duas décadas; um governo situado em “outro tempo”, que já ficou muito para trás na timeline da História…

Luiz Paulo surge em cena perguntando a um morador de Jardim da Penha como seria o bairro se não fosse a sua administração em… 1997. “Existe uma Vitória antes e uma depois do Projeto Terra”, afirma o tucano, após encontrar uma moradora do bairro Mangue Seco, contemplado pelo Projeto Terra.

“Você sabia que Vitória já teve palafitas?”, pergunta o locutor, enfatizando as moradias populares e a urbanização de bairros pobres proporcionadas pela gestão de Luiz Paulo. Uma capital com palafitas era na certa algo terrível, mas o problema foi superado, e outros agora se impõem, em uma outra realidade, decorrido um quarto de século.

Luiz Paulo não está escondendo ou desmentindo sua quilometragem nessa estrada da vida pública, nem tentando maquiar o longo tempo passado desde que governou Vitória – seria brigar com os fatos, o que não é do seu feitio. Antes, está a assumir isso. “Vinte anos depois, nós vamos fazer de novo, nós vamos fazer mais”, promete, em seu programa. A questão é como.

Nessa dobra do tempo, como conciliar um passado tão distante com o presente, o futuro imediato e a promessa de “futuro no presente”, de certo modo oferecida por Luiz Paulo? Como convencer o eleitorado de Vitória que ele é, de fato, o candidato mais talhado para colocar a capital no futuro, numa condição mais moderna, tendo governado tanto tempo atrás e enumerando realizações, repito, sem dúvida alguma importantíssimas, mas implementadas literalmente no século passado?

Foram as perguntas que propus a Luiz Paulo em sua entrevista concedida nessa quarta (4) ao telejornal EStúdio 360, da TV Capixaba.

Luiz Paulo e Paulinho: “Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado”

Grande amante do samba e da MPB, o ex-prefeito não citou Caetano, mas outro gênio contemporâneo àquele. “Eu vou começar citando a música do Paulinho da Viola: ‘Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado’”. A canção é a “Dança da Solidão”, composta pelo bamba em 1972, na mesma década da “Oração ao Tempo” de Caetano.

“Quando eu me refiro ao impacto transformador da minha primeira experiência como prefeito de Vitória, é para mostrar o que é ser transformador. Governar bem não é gastar o dinheiro do Tesouro no ano da eleição, nomear os amigos e demitir os inimigos. Governar bem é liderar a cidade na direção do progresso, da prosperidade, do aproveitamento das suas potencialidades. O papel nobre do prefeito é fazer essa liderança, é fazer com que todos remem na mesma direção: as forças do mercado, junto com as políticas públicas. Isso é que é fazer transformação”, formulou Luiz Paulo, com direito a uma “metáfora aquática” que poderia também ser associada a Paulinho da Viola e que igualmente remete à obra musical do mestre, em canções como “Foi um rio que passou em minha vida” e “Timoneiro”:

“E, quanto mais remo, mais rezo / Pra nunca mais se acabar / Essa viagem que faz / O mar em torno do mar”.

Em Vitória, a viagem é em torno da ilha, pela baía e pelo manguezal que banha bairros como Mangue Seco, contemplado pelo Projeto Terra. É a ilha que Luiz Paulo, após vinte giros do planeta de mesmo nome em torno do Sol, quer voltar a governar.

Para isso, ele se diz motivado como há muito tempo não se sentia e mais preparado do que quando assumiu em 1997, aos 40 anos. Mas admite a evidente dificuldade, salientada acima: quem tem menos de 30 anos, ou não era vivo ou era criança quando ele foi prefeito; quem tem mais de 30 anos, em grande parte, talvez nem se lembre mais direito. Tempo, tempo, tempo, tempo…

“Então, a minha referência é essa. A minha motivação para ser candidato agora, Vitor, com 67 anos, aposentado do BNDES… Eu me aposentei e voltei a estudar, voltei para a universidade, eu fiz mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Eu fiz uma dissertação de mestrado sobre Governança Metropolitana. Quando eu saí da prefeitura, eu escrevi um livro chamado ‘Qualicidades’. Eu trabalho no setor público e na política há 50 anos. Então eu preciso me apresentar para quem não me conhece. Quem viveu o período em que eu fui prefeito sabe o que eu fiz. Mas muita gente nova, muita gente que veio morar aqui há pouco tempo…”

Luiz Paulo: “Eu sou a novidade na política deste ano

Daquele jeito meio sardônico que o caracteriza – ele não perde uma boa piada, nem contra si mesmo –, entre a seriedade e a ironia, Luiz Paulo conclui dizendo ser ele a verdadeira “novidade” na política capixaba este ano, obviamente não por ser uma cara nova, mas, ao contrário, por ser um rosto antigo voltando a dar as caras depois de muito tempo sumido da política. Em atividades de ruas, alguns moradores daquela faixa 45+, que têm uma memória mais viva do seu governo, têm ficado até surpresos em vê-lo em pessoa e saber que ele é de novo candidato.

“Então eu sou novidade na política deste ano, porque estou há muito tempo fora, mas comprometido em fazer neste momento uma administração transformadora”, encerra o tucano, reafirmando sua principal promessa: a de novamente transformar a cidade.

Para isso, o tempo, esse deus implacável, reassume um sentido muito mais urgente: a partir de hoje, ele tem exatos 30 dias (um mês cheio) até 5 de outubro, véspera do 1º turno, para convencer os eleitores mais velhos de que merece um novo voto e os mais jovens de que o mais velho pode representar algo mais novo.

Para ter alguma chance de implementar sua anunciada “transformação”, Luiz Paulo tem 30 dias para transformar um cenário eleitoral hoje desfavorável para ele.


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