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Coluna Vitor Vogas

Eleição em Vitória: Coser e Pazolini estão pintando cidades opostas

“Vitória da igualdade” ou mais desigual? Investimentos ou paralisação? Filas da saúde menores ou maiores? Índices de violência reduzidos ou crescentes?

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Coser e Pazolini

Coser e Pazolini

Quem assistir à propaganda eleitoral dos candidatos a prefeito de Vitória, sobretudo quem vir os programas de Pazolini (Republicanos) e João Coser (PT) em sequência, no horário eleitoral gratuito, poderá, com toda a razão, sentir-se bastante confuso. Respectivamente 1º e 2º colocados no momento em pesquisas eleitorais, o prefeito e o ex-prefeito estão pintando realidades completamente diferentes para o eleitorado. Nas imagens e no discurso, no texto visual e no verbal, o que surge diante do público são duas Vitórias opostas. Qual delas é a verdadeira? Em qual dos dois acreditar?

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Na Vitória de Pazolini, desde que ele assumiu o governo em janeiro de 2021, a igualdade foi promovida; grandes obras estruturantes foram feitas; oportunidades, criadas; índices de violência, reduzidos. Na de Coser, a cidade ficou mais desigual, carece de grandes projetos, viu os jovens perderem oportunidades e a criminalidade vicejar.

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Na hora do almoço ou no horário nobre, Pazolini aparece em cena dizendo ter feito “os maiores investimentos em segurança e educação da história da cidade”. Coser “rebate” que Vitória está perdendo recursos por “questões ideológicas” e pela “falta de diálogo” do prefeito, “um muro invisível que bloqueia investimentos de Vitória”.

Pazolini exibe intervenções urbanas entregues neste ano por ele, como a nova Curva da Jurema e a primeira etapa da reurbanização da orla noroeste, na Grande São Pedro. Coser “retruca” que o prefeito só tem projeto de PowerPoint e gastou R$ 200 milhões “com fins eleitoreiros”, às vésperas da campanha, para reasfaltar ruas que já estavam asfaltadas. A propaganda do petista ainda diz, fazendo as contas, tudo o que ele teria feito com essa mesma quantia (tantas habitações, tantas unidades de saúde e por aí vai…).

Falando em saúde, Pazolini garante ter diminuído e, em alguns casos, zerado os números da fila de espera dos usuários do SUS em Vitória por consultas e exames de especialidades (com direito a um gráfico enchendo a tela); em seguida, Coser aparece diante de uma unidade de saúde inaugurada por ele, a defender o contrário: a fila por exames e consultas, na verdade, só fez crescer nos últimos anos.

O atual prefeito se regozija de ter cumprido seu compromisso, firmado na campanha de 2020, de construir uma “Vitória da paz e da igualdade”. Em seguida, o candidato do PT enche a tela sustentando o contrário: segundo Coser, foi ele quem, ao fim de seu governo (2012), entregou uma Vitória com bem menos desigualdades sociais, as quais, nos últimos anos, sob a administração de Pazolini, teriam recrudescido.

No discurso do atual prefeito, ter conseguido promover a igualdade é o que vai lhe permitir agora dar o passo seguinte: promover a “Vitória da União” (seu novo slogan e campanha). Mas Coser reivindica que foi ele quem fez isso no passado e promete que o fará de novo: “Quando fui prefeito, eu uni a cidade. […] Quero governar para todos os moradores”.

Igualdade x Desigualdades

O locutor da propaganda de Pazolini diz que ele promoveu igualdade e deu dignidade a quem mais precisa. Na propaganda de estreia do prefeito no horário eleitoral gratuito, o próprio afirmou:

“Trabalhamos incansavelmente para levar paz e igualdade a cada canto da nossa cidade. Qualificamos o nosso povo e levamos sonhos onde antes só havia incerteza. E agora, com a força de cada um de nós, Vitória continuará seguindo o seu caminho rumo à paz e à união, porque, onde tem união, tem progresso para o nosso povo”.

O locutor embalou a mensagem com uma metáfora, em tom poético: “A Vitória que antes tinha um sol que nascia e brilhava para apenas um lado da cidade agora tem um sol que nasce, brilha e se põe para todos”.

Em seguida estreou João Coser, contradizendo todo esse discurso:

“Hoje, 12 anos depois de encerrado o meu segundo mandato, sinto dentro do meu coração que as desigualdades aumentaram. E, nos últimos anos, Vitória foi dividida novamente. Mas ela é uma só e é de todos”.

Investimentos x Falta de investimentos

Em seu programa veiculado no sábado (31), Pazolini afirmou, em frente ao Mercado da Capixaba restaurado, no Centro:

“Assumimos a prefeitura com uma previsão de apenas R$ 6,5 milhões para investimentos, pouco dinheiro para uma cidade como Vitória. Mas, com um rigoroso ajuste fiscal, qualificação dos gastos públicos, com o fim dos privilégios e mordomias, temos a satisfação de anunciar que alcançamos em 2024 a marca de R$ 2 bilhões em investimentos. E isso é um marco histórico para a nossa cidade”.

Citando que Vitória ganhou um prêmio de melhor gestão pública do Brasil, o prefeito arrematou: “Vitória está colhendo os frutos de uma gestão séria e responsável. Temos obras e investimentos em todos os cantos da cidade”.

Entre os investimentos realizados pela atual administração, o locutor de Pazolini mencionou as reformas de praças, parques e avenidas, as ciclovias e as “ruas asfaltadas” (graças ao “Asfalto Vix”).

Logo depois, no mesmo bloco, com o barulho de uma britadeira que quebra asfalto para depois refazê-lo, o locutor de Coser “desconstruiu” esse discurso:

“Duzentos milhões de reais: esse é o valor investido pela atual gestão para asfaltar ruas que já estavam asfaltadas e em boas condições. Agora veja só o que o João faria com o seu dinheiro que a prefeitura usou com fins eleitoreiros. João faria 18 equipamentos de assistência social, ou 13 escolas, ou 15 unidades de saúde, ou 2 mil moradias populares”.

Convém registrar que, em inserções, a propaganda de Pazolini afirma que ele “concluiu todas as obras paradas”.

Saúde: Filas zeradas x Sistema mais lento

No sábado de manhã, o locutor da propaganda de Pazolini afirmou: “Expandimos o horário de atendimento das unidades básicas de saúde para as 22 horas, inclusive nos fins de semana e feriados, […] e reduzimos a fila por exames especializados em quase 70%, além de zerar a fila em diversos procedimentos”. Na tela, um gráfico cheio de linhas se contraindo.

Logo depois, entrou no ar a propaganda de Coser. A imagem aérea, feita por drone, mostrou o Centro Municipal de Especialidades Médicas inaugurado na gestão do ex-prefeito, “com 250 mil consultas e 170 mil exames por ano”. Com a aproximação da câmera, pudemos ver o próprio Coser diante do equipamento, com uma senhora negra, moradora da cidade e usuária do sistema municipal de saúde. “Mas hoje a realidade é muito diferente”, pondera o ex-prefeito.

Ele passa, então, a “entrevistar” a senhora, que relata a sua situação e se queixa da demora para conseguir marcar um exame ali: “Antes era bem melhor. As consultas eram bem mais rápidas. Estou esperando até hoje, desde o dia 03 do 03 de 2021. Até hoje não fui chamada para fazer o exame”.

Coser pega a deixa e emenda: “A população de Vitória perdeu o acesso às especialidades. A marcação de consultas é lenta, e os espaços físicos não estão adequados. As pessoas precisam de mais médicos, mais especialistas, mais medicamentos, mais equipamentos para exames e mais consultas nas unidades de saúde”.

Segurança x Insegurança

O exemplo mais gritante desse constante jogo do contraditório, travado entre as campanhas de Pazolini e Coser, foi ao ar no horário eleitoral na noite dessa terça-feira (3). O atual prefeito dedicou o seu programa ao tema da segurança pública. E pintou uma cidade em que impera a paz e predomina a sensação de segurança. O próprio Pazolini disse ao público:

“Como delegado, encarei como uma grande responsabilidade cuidar da vida de todos e promover a paz, sendo rígido com os criminosos”.

Em seguida entrou o locutor, elencando medidas na área: valorização da Guarda Municipal com aquisição de aparelhamento novo e Plano de Cargos e Salários, implantação da Ronda Ostensiva Municipal, instalação de mais de 1 mil câmeras de segurança conectadas à Central de Videomonitoramento e Gerência de Inteligência, instalação de mais de 15 mil lâmpadas de LED, o Botão do Pânico Escolar em todas as unidades de ensino, o Botão do Pânico para mulheres vítimas de violência doméstica e o SOS Comércio (Botão do Pânico virtual para acionamento da Guarda Municipal).

O locutor também enumerou percentuais de redução nos índices de violência em Vitória, relacionados a roubos no comércio, roubos de veículos, roubos em vias públicas e feminicídio. (Seria importante precisar o intervalo, o que não foi feito, para possibilitar a checagem dos dados)

Atenta ao tema agendado por Pazolini – o mesmo programa fora exibido às 13h – e aproveitando a vantagem de poder exibir o seu programa logo depois, a campanha de Coser passou a tarde preparando uma “resposta”. E esta veio, de fato.

Veiculado “em cima” do programa de Pazolini, o de Coser começou com a voz em off do locutor, cobrindo imagens de um tiroteio a céu aberto na Avenida Leitão da Silva: “Você acabou de ver, no programa do candidato anterior, uma Vitória que só existe no PowerPoint. Agora, você vai assistir ao programa do melhor prefeito que Vitória já teve”.

E prosseguiu, com o barulho de rajadas de tiros ao fundo e uma trilha de programa policial do meio da tarde: “Sabe qual é o único município da Região Metropolitana que registrou aumento de homicídios em 2023? Vitória. A taxa de homicídios da Serra caiu em 15%. Em Vitória, aumentou mais de 21%”.

O próprio Coser entrou em seguida falando de ações de seus dois mandatos, entre 2005 e 2012, como o fortalecimento da Guarda Municipal e o Programa Mulheres da Paz, na Grande São Pedro. O candidato do PT “entrevistou” um agente da Guarda, que confirmou o seu discurso de que “a insegurança está muito forte” em Vitória.

“Vitória, hoje, tem violência crescente em todos os bairros, com mais intensidade nas áreas periféricas empobrecidas”, afirmou o deputado estadual. “As maiores vítimas são mulheres, jovens e pessoas negras. Vamos fazer segurança pública investindo em tecnologia, pessoal e programas sociais, como fizemos em meu governo. Afastar os jovens da criminalidade é o meu principal objetivo.”


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