Soraya se filia ao PP, enquanto Manato se afasta de Magno Malta

Carlos Manato, Soraya e Magno Malta

A médica e ex-deputada federal Soraya Manato filiou-se ao Progressistas (PP). Soraya é esposa de Carlos Manato (PL) e exerceu um mandato na Câmara Federal, de 2019 a 2023. Na eleição estadual de 2022, filiada ao PTB, ela não conseguiu se reeleger.

O PTB acabou. Fundido ao Patriota, deu origem ao Partido Renovação Democrática, controlado no Espírito Santo desde janeiro pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (Podemos), aliado do governador Renato Casagrande.

Já está procurando partido para não ter problema lá na frente

O ato simbólico de entrada de Soraya no PP está marcado para esta quinta-feira, às 16 horas, na sede do partido, em Vitória. Mas, de acordo o presidente da sigla em Vitória, Marcos Delmaestro ela já está filiada. Segundo o dirigente, a ex-deputada assinou a ficha antes de sábado (6), portanto dentro do prazo de filiações de potenciais candidatos nas próximas eleições municipais. Com isso, ela tecnicamente está apta a se candidatar a qualquer um dos três cargos eletivos em disputa. Como o PP apoia a reeleição do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), restam vice-prefeita ou vereadora. O PP tem a preferência para indicar o/a companheiro/a de chapa de Pazolini.

“Ela se filiou dentro do tempo hábil, está à disposição dos quadros do partido e pode ser candidata sim, se precisar ajudar o partido”, afirma Delmaestro.

O marido de Soraya, no entanto, é peremptório: “Ela não será candidata a nada este ano. Nem ela nem eu”, afirma Manato.

Segundo o também ex-deputado federal, o plano é lançar Soraya candidata ao mesmo cargo novamente em 2026, pelo Progressistas, para que os Manato tentem voltar a exercer um mandato na Câmara dos Deputados.

Como não disputará nada este ano, Soraya não precisaria se filiar agora. Mas ela, Manato e o PP resolveram antecipar a filiação por outros motivos. Para o PP, é interessante ter a ex-deputada para apresentá-la como quadro do partido já durante o processo eleitoral, para reforçar seu rol de “quadros técnicos”. Em negociações partidárias lá na frente, com o processo eleitoral em andamento, Soraya pode ser incluída pelo PP até como uma indicação para ser secretária municipal de Saúde.

A outra razão é que Soraya se filia agora ao PP para se proteger (e ser protegida) politicamente. Nas conversas com Carlos Manato, o PP se apresentou como um abrigo político para a esposa do ex-deputado. “Ela já está procurando partido para não ter problema lá na frente”, explica Manato. O PP dá ao casal segurança e garantia de que vai mesmo bancar política e financeiramente a candidatura de Soraya à Câmara em 2024.

Os dois não encontram isso hoje no PL (ao qual Manato ainda está filiado) nem no grupo político de direita que gira em torno do senador Magno Malta. Desde as últimas eleições estaduais, em 2022, Manato e Magno se desentenderam e se afastaram chegando a uma quase ruptura.

Em tese, por ser do mesmo campo bolsonarista, Soraya poderia migrar para o PL, mas no partido ela não teria espaço para ser candidata a deputada.

No momento, Manato está enfrentando problemas sérios com Magno Malta e o PL. Problemas de fundo político e financeiro, que remontam à campanha estadual de 2022. Em suas declarações, ele deixa transparecer o abatimento e o desânimo com a política e, especificamente, com o PL em nível estadual:

“Não sou candidato a nada em 2024. Continuo no PL, mesmo não sendo demandado pelo partido, mas por lealdade a Bolsonaro.”

Em 2022, Manato foi candidato ao Governo do Estado pelo PL, presidido e controlado no Espírito Santo há muitos anos por Magno Malta. No 1º turno, Magno concentrou os recursos públicos do partido em sua própria campanha de retorno ao Senado. De acordo com as prestações de contas oficiais ao TSE, Magno investiu R$ 2,2 milhões do PL na própria campanha, destinando a Manato apenas R$ 100 mil para a campanha ao Palácio Anchieta. O próprio Manato e sua esposa puseram mais de R$ 300 mil.

No dia 2 de outubro de 2022, Magno elegeu-se senador e Manato passou para o 2º turno contra Renato Casagrande (PSB). Logo no início do 2º turno, já eleito, Magno passou a se concentrar em eleger Manato e assumiu a direção da campanha. Por incompatibilidade, o marqueteiro Fernando Carreiro, responsável por toda a campanha de Manato no 1º turno, “foi desligado da campanha” por Magno.

A campanha mudou radicalmente de tom, apostando na polarização ideológica com Casagrande – como fez Bolsonaro com Lula na disputa presidencial. Há sérias dúvidas de que tenha sido uma decisão acertada, em nível local. O Manato leve, propositivo, quase “paz e amor” apresentado na propaganda do 1º turno deu lugar a um candidato sempre no ataque (e também sempre atacado por Casagrande). No vídeo, o locutor e uma das filhas de Magno Malta alertava o público para “os riscos da esquerda no poder”. A filha de Magno chegou a dizer que Casagrande não tinha “medo de perder a eleição, mas de ser preso”.

Não deu certo.

Desapontado com o próprio partido, Manato está afastado da política desde essa derrota eleitoral. Ao contrário de Bolsonaro no plano federal, acolheu imediatamente o resultado das urnas e desejou um bom governo a Casagrande. Em 2023, concentrou-se em seu último empreendimento, a construção de uma pousada em Pedra Azul. Não tem mais participado de eventos políticos e partidários. Uma exceção foi a afiliação de Audifax ao… PP, no fim do ano passado. No PL, Manato está sendo deixado no ostracismo.

No último dia 4, o ex-deputado apareceu para prestigiar o evento de filiação do vereador afastado Armandinho Fontoura ao PL, em um hotel da Praia do Canto. Magno não estava lá, fez-se representar pelo tesoureiro estadual do PL, o pastor Carlos Salvador. Muito mais magro que em 2022, Manato pareceu um homem bem diferente, muito distante daquele candidato vibrante e cheio de energia de um ano e meio atrás.

Assim como Soraya, ele não será candidato a nada este ano. Mas, ao contrário da esposa, não mudará de partido. Vai ficando no PL, pelo menos por enquanto, não só por lealdade a Bolsonaro, mas porque precisa resolver com o partido (ou ver resolvidas pelo partido) as questões que ficaram pendentes da campanha de 2022.

Piquet dificilmente será candidato a qualquer cargo

A princípio, a favorita do PP para a vaga de vice de Pazolini é mesmo a presidente da Findes, Cristhine Samorini.

O presidente da Câmara Municipal de Vitória, Leandro Piquet, entrou no PP na janela partidária e é cotado para o mesmo cargo. Ele não será mesmo candidato à reeleição na Câmara. Para além dos motivos pessoais, há o risco de implosão da chapa proporcional já montada pelos dirigentes do partido. Os candidatos do PP já entraram na chapa sob a expectativa de que Piquet não seja candidato. Esse é o acordo.

Quanto a ele ser candidato a vice de Pazolini, também é muito difícil. Para companheiro ou companheira de chapa, os titulares costumam escolher alguém com perfil muito diferente do próprio, buscando ampliar o seu eleitorado em potencial. Piquet tem perfil praticamente idêntico ao de Pazolini: homem branco de meia idade, conservador e delegado de Polícia.

Além disso, apesar de atualmente parecerem “de bem”, Piquet e a gestão Pazolini viveram um relacionamento político meio turbulento no ano passado. Como pode em tese se candidatar ao governo do Estado em 2026, Pazolini precisa escolher como vice alguém de sua extrema confiança, com quem possa deixar a administração municipal daqui a dois anos, se reeleito em outubro.

De todo modo, da mesma forma que pretende fazer com Soraya, o PP entende que Piquet fortalece a galeria de quadros técnicos do partido e que é mais um trunfo nas negociações eleitorais com parceiros de outros partidos. Piquet é visualizado, por exemplo, como um possível secretário municipal de Segurança no futuro, pois, além do mandato de vereador e de sua origem na Polícia Civil, já exerceu muitas funções de comando no poder público, inclusive no Governo Estadual.

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