Coluna Vitor Vogas
Quem são os cotados para as chapas de deputado estadual e federal de PT, PV e PCdoB
A nominata de candidatos “praticamente certos”, “possíveis” ou “ventilados, mas improváveis” à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados, pela Federação Brasil da Esperança

Parlamentares do PT-ES com Edinho Silva (ao centro), presidente nacional do PT
Hoje estreamos, na Coluna Vitor Vogas, a série Que chapa é essa?. Regularmente, apresentaremos aqui como está, a esta altura, o processo de montagem das chapas dos principais partidos e federações do Espírito Santo para duas disputas fundamentais nas eleições parlamentares: à Assembleia Legislativa (deputados estaduais) e à Câmara dos Deputados (deputados federais).
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Em nossa estreia, colocamos o foco nas chapas que estão em formação na Federação Brasil da Esperança (Fe Brasil), formada por três legendas de esquerda: o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Verde (PV) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). É a federação que governa o país, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Composta pouco antes das eleições de 2022, a Fe Brasil com certeza será renovada em 2026. Entre os três partidos, o PT é, com folga, o maior e mais importante, ocupando sozinho mais da metade das candidaturas nas chapas da federação. As vagas são divididas entre os três de acordo com o tamanho das respectivas bancadas na Câmara Federal.
No Espírito Santo, cada chapa para a Câmara dos Deputados (formada por um único partido ou uma única federação) terá direito a onze candidatos (o número total de vagas em disputa + 1), sendo pelo menos quatro mulheres, em virtude da “cota de gênero” que impõe um mínimo de 30% de candidaturas para cada gênero.
Cada chapa para a Assembleia Legislativa poderá conter até 31 candidatos (o número total de vagas em disputa + 1), sendo pelo menos 10 mulheres.
Na chapa de federais, por exemplo, o PT terá direito a sete vagas, enquanto PV e PCdoB poderão preencher duas cada um.
Abaixo, apresentamos a relação de candidatos “praticamente certos”, “possíveis” ou “ventilados, mas improváveis” da Fe Brasil nas duas disputas.
Como o PT tem múltiplas correntes internas, discriminamos, sempre que possível, a corrente a que pertence cada pré-candidato. A CNB (Construindo um Novo Brasil) é a corrente da deputada federal Jack Rocha. A Alternativa Socialista (AS) é a do deputado estadual João Coser. Há, ainda, a Resistência Socialista (RS), do deputado federal Helder Salomão, a Articulação de Esquerda (AE), da deputada estadual Iriny Lopes, e a Democracia Socialista (DS), reunidas num campo chamado Para Voltar a Sonhar.
Após as listas com os nomes, explicamos em que pé anda a possível candidatura de Helder a governador – e como a concretização desse projeto interfere nas chapas de deputados da federação. Por fim, revelamos a principal aposta interna nessas eleições legislativas no Espírito Santo. E lembramos as regras para composição das chapas proporcionais. Boa leitura!
CHAPA: CÂMARA DOS DEPUTADOS
Meta: eleger 2 deputados
Nomes praticamente certos
Jack Rocha (PT/CNB) – deputada federal
João Coser (PT/AS) – deputado estadual
Rafael Primo (PT/RS) – vereador de Vila Velha
Nésio Fernandes (PCdoB) – ex-secretário estadual de Saúde
Nomes possíveis
Helder Salomão (PT/RS) – deputado federal; só será candidato à reeleição se não for candidato a governador, mas hoje a tendência é que ele dispute o Palácio Anchieta pela Fe Brasil
Iriny Lopes (PT/AE) – deputada estadual; a princípio é candidata a estadual, mas subirá para a chapa de federal, no lugar de Helder, se este concorrer mesmo ao governo
Reinaldo Centoducatte (PT) – ex-reitor da Ufes; tem sido incentivado
Zé Carlos Elias (PT) – ex-prefeito de Linhares, entrou no PT no ano passado; tem sido incentivado
César Lucas (PV) – vereador de Cariacica e líder do prefeito Euclério Sampaio (MDB) na Câmara Municipal; a princípio é candidato a federal, mas pode descer para estadual
Nomes ventilados, mas improváveis
Serginho Vidigal (PDT) – médico e estreante nas urnas, o filho mais novo do ex-prefeito da Serra quer ser candidato a deputado federal e, para isso, está em busca de um partido. Hoje está no PDT do pai, mas a sigla enfrenta dificuldades em montar chapa para a Câmara. Foi convidado por Nésio Fernandes, em conversa com Sérgio Vidigal, para se filiar ao PCdoB. Mas, segundo o próprio Serginho, é muito improvável sua entrada no PCdoB ou outra sigla dessa federação. Isso porque, a exemplo de seu pai, ele tem o compromisso de apoiar Ricardo Ferraço (MDB) para o governo. Por isso, prioriza um partido comprometido com a candidatura de Ricardo.
CHAPA: ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
Meta: eleger de 3 a 4 deputados
Nomes praticamente certos
José Carlos Nunes (PT/CNB) – secretário estadual de Esportes e ex-deputado estadual
Genivaldo Lievore (PT/CNB) – ex-deputado estadual, ex-vereador de Colatina, ex-presidente estadual do PT e coordenador-geral da campanha de Lula no ES em 2022
Elcimara Loureiro (PT/CNB) – ex-vereadora da Serra
Karla Coser (PT/AS) – vereadora de Vitória
Julinho da Fetaes (PT/AS) – assessor da Casa Civil no Governo do Estado e 1º suplente da atual bancada do PT na Assembleia
Professor Roberto Carlos (PT/RS) – chefe de gabinete do senador Fabiano Contarato, ex-deputado estadual e ex-vereador da Serra
Açucena (PT/DS) – vereadora de Cariacica
Renata Alves (PT/AE) – vereadora de Alegre, ligada a Iriny
Maurício Abdalla (PT) – professor do Departamento de Filosofia da Ufes e cofundador do Movimento Fé e Política. Tem boa inserção na comunidade acadêmica e em segmentos da Igreja Católica (líderes oriundos das Comunidades Eclesiais de Base)
Geiza Pinheiro Quaresma (PCdoB) – presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do Espírito Santo (SindSaúde)
Nomes possíveis
Evani dos Santos Reis (PT/CNB) – presidente do Sindilimpe-ES, moradora da Grande Terra Vermelha; a princípio é candidata a estadual, mas, como acabou de assumir a presidência do sindicato, pode ser “guardada” para concorrer a vereadora de Vila Velha em 2028
Célia Tavares (PT/AE) – ex-secretária de Educação de Cariacica; colocou o nome à disposição, mas será preciso avaliar se ela e Iriny, de quem é muito próxima, não disputarão os mesmos votos, se Iriny disputar a reeleição
Rogério Favoretti (PT/AE) – subsecretário estadual de Agricultura Familiar; ligado a Iriny, aumenta suas chances de ser candidato se ela subir para federal; se não, pode ser o coordenador da campanha de Iriny à reeleição para estadual
Maria da Penha Lopes dos Santos (PT/RS) – superintendente do instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no ES
João Batista Babá (PT/RS) – ex-vereador de Vila Velha
Dandan ou Vilson Jaguareté (ambos do PT) – os dois são vereadores de Aracruz, sendo o segundo pertencente a uma comunidade indígena; um deles deve ser candidato
César Lucas (PV) – vereador de Cariacica; se não for candidato a federal, entrará na chapa de estadual
Candidatura de Helder ao governo cada vez mais quente
Deputado federal de três mandatos seguidos, Helder Salomão foi o campeão de votos para o cargo no Espírito Santo em 2022, com mais de 120 mil. A princípio, seria candidato a um quarto mandato na Câmara. Mas colocou-se à disposição da federação para ser candidato a governador.
O projeto de candidatura própria cresceu com os discursos do próprio Helder e de João Coser, no ato de posse desse último como presidente estadual do PT, em setembro. Cresceu mais ainda em reunião de uma comitiva do PT capixaba, em Brasília, com o presidente nacional do partido, Edinho Silva.
Para sacramentar o projeto, só faltam as bênçãos de Lula, que ainda precisa ser ouvido. Até o fim do ano, Helder, Coser e os outros parlamentares do PT-ES devem ir ao encontro do presidente da República para ouvir a sua orientação. Depende basicamente de Lula. A palavra final será dele.
A ideia de candidatura própria a governador tem crescido em razão da prioridade da Fe Brasil no Estado e no país inteiro, que é a reeleição de Lula. Para isso, militantes e dirigentes entendem que é importante erguer um palanque forte para Lula no Espírito Santo.
A candidatura de Fabiano Contarato ao Senado não seria suficiente. Um “palanque forte”, nesse caso, incluiria um postulante ao Palácio Anchieta, até porque, sem um candidato próprio na disputa estadual, não haverá nenhum candidato a governador do Espírito Santo que defenda o governo Lula e peça votos para ele – assim como já ocorreu em 2022. Petistas não querem a repetição desse filme.
O PT está no atual governo Casagrande (PSB) e apoiou sua reeleição em 2022. Se o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) for o candidato oficial em 2026, a coisa muda muito de figura. Os dois são mutuamente incompatíveis: o PT terá enorme dificuldade em apoiar Ricardo (relator da reforma trabalhista); este, por sua vez, não há de querer o apoio do PT, muito menos pedirá votos para Lula (ainda que o MDB fique na coligação do presidente da República).
Por tudo isso, é bem possível que Helder seja mesmo candidato a governador. Se isso se confirmar, o “plano de recomposição das chapas” já está traçado: inicialmente candidata à reeleição, a deputada estadual Iriny Lopes “subirá” para a chapa de federal, preenchendo a lacuna de Helder e suprindo, ao menos em parte, a perda de votos da chapa. No lugar de Iriny, aliados dela entrarão na chapa de estadual.
Karla Coser, a grande aposta interna
Todas as fontes da Fe Brasil ouvidas nesta apuração citam a vereadora Karla Coser como grande aposta interna para ser a puxadora e campeã de votos da chapa da federação para a Assembleia Legislativa. Alguns acreditam que ela ficará entre os três candidatos mais votados do Espírito Santo para deputado estadual.
Atualmente gozando licença-maternidade do mandato na Câmara de Vitória, onde faz oposição ao prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), Karla é definida por correligionários como uma “política carismática”, “treinada no ambiente familiar” por ser filha de João Coser.
Mas apontam-se outros fatores que transcendem a militância no PT para explicar o tamanho da aposta. O primeiro é que, na definição de um petista, “Karla virou uma popstar nas redes sociais”. O segundo é que ela consegue furar, ainda que parcialmente, a bolha do PT, atraindo a atenção e os votos de certas camadas da classe média-alta de Vitória – e quiçá de outras cidades, como se poderá tirar a prova no ano que vem.
ENTENDA AS REGRAS PARA MONTAGEM DAS CHAPAS
O sistema eleitoral
No Brasil, senadores e chefes do Poder Executivo (prefeitos, governadores, presidente da República e respectivos vices) são eleitos pelo chamado sistema majoritário: ganha quem receber mais votos. Simples assim.
Vereadores, deputados estaduais e deputados federais são eleitos por um sistema diferente, mais complexo: o sistema proporcional. Nesse modelo, as vagas em disputa são distribuídas proporcionalmente à votação total de cada chapa. Os membros de uma mesma chapa se ajudam, ao mesmo tempo em que competem entre si; são companheiros, mas também são concorrentes.
Os candidatos integrantes de uma chapa se ajudam porque os votos de todos eles se somam para que a chapa consiga atingir o quociente eleitoral (garantia de uma vaga) e, se possível, ultrapassá-lo com sobras, para fazer duas cadeiras ou mais. Quanto maior a votação total da chapa (e aí também entra o voto na legenda), maiores as suas chances de eleger mais parlamentares.
Ao mesmo tempo, os companheiros de uma chapa competem entre si porque, supondo que a chapa faça apenas uma vaga, esta ficará com o candidato que dentre eles tiver obtido a maior votação individual. Se a chapa fizer duas vagas, estas ficarão com seus dois integrantes mais votados individualmente… E assim por diante.
Sem coligação
Desde a reforma eleitoral de 2017, só são permitidas coligações partidárias nas disputas majoritárias (prefeito, governador, senador e presidente da República). Nas disputas proporcionais, as coligações são proibidas. A última eleição em que elas foram permitidas foi a de 2018.
Desse modo, cada partido (ou federação partidária) deve montar e registrar a própria chapa, sem a “ajuda” de outras agremiações.
O quociente eleitoral estimado
Na disputa para a Câmara Federal, dirigentes estimam que o quociente eleitoral (número mágico para fazer um deputado), em 2026, no Espírito Santo deve ficar entre 200 mil e 210 mil votos. Trata-se do número total de votos válidos estimados para deputado federal (pouco mais de 2 milhões), dividido pelo número de cadeiras em disputa (10).
Já para fazer dois federais, estima-se que a chapa precisará atingir algo em torno de 260 mil ou 270 mil votos. Para lograr a proeza de eleger três federais, a chapa precisará superar os 340 mil votos. Muito dificilmente alguma chapa chegará a três.
Na disputa para a Assembleia, as previsões variam. Para fazer um estadual, alguns falam em algo entre 50 mil e 60 mil votos. Outros projetam entre 70 mil e 80 mil.
Em todos os casos, para poder se eleger, o candidato precisará atingir pelo menos 20% do quociente eleitoral.