Como modernizar o agronegócio em tempos de alta na SELIC

Fortalecer o agronegócio em tempos de alta na SELIC. Foto: Gemini/IA

O Paraná tem experimentado mudanças profundas em sua economia nos últimos anos. O setor agrário viu o valor da produção agrícola duplicar de 2019 para 2024, segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), enquanto projetos que industrializam essa cadeia têm tomado forma, fortalecendo os produtores e gerando melhores salários. Outro elemento importante a se destacar, foi o projeto de concessão de rodovias estaduais e federais que garantiram investimentos para os próximos 30 anos para mais de 3 mil quilômetros de vias de transporte, segundo o governo do estado, barateando o frete e dando previsibilidade aos empresários.

Neste contexto, o governo do Paraná apresentou um programa pioneiro para fortalecer o agronegócio com investimentos de longo prazo. Foi criado um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) dedicado a esse setor, com taxas semelhantes ao Plano Safra do governo federal, voltado a melhorias na infraestrutura.

Em um cenário de alta histórica da taxa de juros, os agricultores cada vez mais apresentam dificuldade em obter financiamento barato. Mesmo com alguns programas federais, não é possível que todos os produtores alcancem essas linhas de crédito, especialmente os de pequeno e médio porte. Para suprir essa demanda, a partir de um administrador privado, o governo paranaense iniciou esse projeto de um mecanismo que capte dinheiro no mercado financeiro e de cooperativas, que irão se combinar ao aporte feito pelo governo, com taxas subsidiadas. Gerando ao final dessa miscelânea uma taxa de juros que seria menor do que a encontrada no mercado.

Para o mercado financeiro, este produto aparece como um investimento em recebíveis oriundos da cadeia do agronegócio. Segundo divulgado pelo governo estadual, é um veículo que agrupa o dinheiro de investidores para comprar dívidas (os direitos creditórios) que serão pagas no futuro pelos produtores rurais. Um dos diferenciais é que o valor captado será usado de forma majoritária para financiar bens de capital como a compra de máquinas, equipamentos, sistemas de irrigação ou a construção de armazéns. E para mitigar o risco, o fundo exige um conjunto de garantias, permitindo inclusive a alienação dos próprios equipamentos financiados.

Para o Estado, a melhoria projetada da infraestrutura agrária jamais seria possível apenas com o valor que ele injetará no fundo. Com os demais investidores, uma quantidade maior de agricultores poderá ser beneficiada por este juro mais barato, disseminando o ganho de produtividade de longo prazo apesar do cenário adverso.

Mesmo que este projeto tenha um bom desenho, é importante destacar que a gestão estadual tem entregado sucessivos resultados superavitários, segundo a Secretaria da Fazenda do Paraná, ao passo que elevou a qualidade da transparência da máquina pública à excelência, pois, possui o Selo Diamante pelo Programa Nacional de Transparência Pública, conforme a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon). Esses são fatores que alimentam a confiança de empresários e investidores no Paraná, em meio a um ambiente nacional com estados instáveis financeiramente e escandalosos casos de má gestão.

Este caso serve de exemplo para o Espírito Santo à medida que tem um setor agrário que responde por quase um terço do PIB (Instituto Jones dos Santos Neves), além de um histórico consistente de superávits fiscais, segundo a Secretaria da Fazenda, conquistando inclusive no ano passado o mesmo Selo Diamante de transparência. Existe, portanto, em solo capixaba, um potencial claro de se aproveitar essa criatividade na política pública em prol da modernização do agronegócio.

*Mateus Rios é formado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atua como assessor de investimentos na Valor Investimentos.