Coluna Vitor Vogas
Entrevista: Douglas Caus fala sobre as Eleições 2026
Comandante-geral da PMES abre o jogo sobre possível candidatura a deputado. Diz estar à disposição de Casagrande e Ricardo Ferraço, seja qual for o chamado

Comandante-geral da Polícia Militar do Espírito Santo, coronel Douglas Caus. Foto: Divulgação/PMES
O longevo comandante-geral da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES), Coronel Douglas Caus, está no cargo há mais de cinco anos, desde abril de 2020. Conforme as próximas eleições gerais se aproximam, ele passou a ter o nome seriamente cotado, inclusive nos corredores do Palácio Anchieta, como potencial candidato a deputado pelo grupo político do governador Renato Casagrande (PSB). Isso por conta da longevidade, da folha de serviços prestados e dos bons resultados apresentados pelo governo na área da segurança – da qual ele é um dos rostos principais –, notadamente a queda no número de assassinatos nos últimos anos e a prisão de líderes de facções criminosas.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Na entrevista exclusiva a seguir, o comandante abre o jogo sobre a ideia de entrar para a política e trocar a farda pelo terno e gravata no próximo ano. Diz que está à disposição de Casagrande e do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), seja qual for o chamado – inclusive para discutir eventual candidatura. Conta qual é a sua maior preocupação na segurança pública do Espírito Santo neste momento. Também dá sua opinião sobre a megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro no fim de outubro, sobre a PEC da Segurança Pública proposta pelo governo Lula (PT) e sobre a ideia de equiparar facções criminosas a grupos terroristas, defendida por alguns setores… e também por ele.
O senhor está avaliando ser candidato a deputado em 2026?
Esse assunto não está sendo colocado em pauta por mim.
O senhor não será candidato?
Esse assunto não está sendo avaliado comigo. Eu sou do grupo do governador Renato Casagrande e do vice-governador Ricardo Ferraço. Em momento algum, nem o governador nem o vice-governador me chamaram para falar sobre política. Ninguém até agora me chamou para falar sobre política. Eu vou até abril junto com o governador. Se o governador Ricardo Ferraço vai me convidar para continuar [como comandante-geral da PMES] ou se o grupo do governador e do vice-governador vai me apresentar outra solução, que pode ser uma pasta no governo ou uma questão política, eu não sei. Eu não estou trabalhando hoje na perspectiva de política. Estou trabalhando hoje na perspectiva de enfrentamento às facções criminosas, que é o assunto que mais nos aflige hoje.
O senhor falou em alguns “se”. E se de fato, daqui a alguns meses, surgir esse convite para uma candidatura, seja por parte do governador Casagrande, seja por parte do futuro governador Ricardo Ferraço, o senhor estará disposto a avaliar tal possibilidade?
Aí nós estamos falando da avaliação de um grupo. O governador Renato Casagrande e o vice-governador Ricardo Ferraço fazem parte de um grande grupo. E eles podem ter uma avaliação nesse sentido e trazer até mim. De novo: eu posso continuar sendo comandante-geral do governador Ricardo Ferraço, se ele quiser que eu permaneça. Ou o grupo pode me trazer outras opções, que não só opções políticas. Pode ser uma pasta no governo. Quanto à opção política, até agora eu não tive nenhuma sinalização do governo sobre esse aspecto.
O senhor já recebeu convite de filiação a algum partido?
Não.
Então o senhor não diz “não serei candidato em hipótese alguma”?
Não. Nunca vou falar “em hipótese alguma”. Seja para o cargo de comandante-geral ou para outro cargo público, eu estou à disposição de Renato Casagrande e de Ricardo Ferraço. E repito: até agora, não falaram em política comigo. Se você me perguntar: eu, na minha cabeça, o meu intuito, o que eu penso hoje? Hoje eu penso que tenho que entregar viatura, eu tenho que recompor efetivo. E o assunto que mais me preocupa hoje é que as facções criminosas não dominem o território capixaba. Já dominaram o Rio de Janeiro. Estão dominando Salvador, Pernambuco, Ceará, Alagoas, Piauí, Maranhão, Amazonas… E isso muito me preocupa. Desde o dia 07 de abril de 2020, temos feito uma revolução na engenharia administrativa e operacional das ações da Polícia Militar. Enquanto eu não for chamado para conversar sobre um possível novo cargo público, eu não vou desviar meu foco em um milímetro. Tanto que você tem visto uma série de operações. Desde que assumi o comando-geral da Polícia Militar, em abril de 2020, tenho andado pelo Espírito Santo inteiro.
Falando em operações policiais, qual é a sua opinião sobre a Operação Contenção, realizada pelas forças policiais do estado do Rio de Janeiro no dia 28 de outubro?
Uma ótima operação. Bem-sucedida. Infelizmente perdemos quatro policiais. Mas houve a apreensão de mais de 90 fuzis num território onde a população é oprimida por esses traficantes. Acabou aquela figura do “faccionado Robin Hood”, que dá remédio, que dá água… Acabou. Hoje, o faccionado extorque a comunidade, rouba dos moradores e impõe o “tribunal do crime”. Ele entra na casa de família, pega uma menina de 12, 13 anos, e diz que aquela menina será dele, na condição de mulher.
E quanto ao número de mortes em combate, que chegou 121, incluindo as dos quatro policiais, além de 117 criminosos? Como o senhor avalia? Foi necessário e inevitável, ou poderia ter sido evitado?
Todo o planejamento da operação, eu desconheço. Mas você vê claramente nos vídeos que estão sendo publicados que aquela tropa foi recebida com muitos tiros de fuzil. Foram mais de 90 fuzis apreendidos. E, para você progredir num terreno sob fogo de fuzil, ou você interrompe esse fogo atingindo quem está atirando em você, ou você será atingido e não consegue avançar. É uma guerra urbana. Na minha opinião, isso se assemelha à questão do terrorismo, porque nós temos um “pequeno Estado” dentro do Estado.
A propósito, qual é a sua opinião sobre as propostas de mudança da legislação penal, inclusive da tipificação penal, alargando o conceito de terrorismo e equiparando organizações criminosas como o Comando Vermelho a organizações terroristas? Na sua avaliação, essas facções criminosas praticam o crime de terrorismo?
Pelo domínio territorial alcançado por essas organizações, elas passam a ser um miniEstado. E quando essas ações visam, por exemplo, fechar avenidas, essas ações são contra o Estado. E ações contra o Estado, na minha opinião, são análogas ao terrorismo. Outra coisa importante é que sou a favor do endurecimento das penas: o Estatuto da Criança e do Adolescente, a questão da audiência de custódia, penas mais duras para crimes hediondos… Concordo com tudo isso. Mas tem uma coisa que ninguém fala: você pode botar 500 anos de cadeia para o indivíduo faccionado, mas, se o seu aparato policial não tiver um efetivo alto, bem armado, bem equipado e valorizado, esse efetivo não alcançará seus objetivos. Então a população precisa aprender a deixar de ouvir o discurso pronto de latinha, enferrujado e mofado, de que só o endurecimento das leis fará a diferença e vai resolver. Não vai resolver!
É preciso fortalecer as polícias?
Se você não tiver uma Polícia Militar, uma Polícia Civil, uma Polícia Técnico-Científica, uma Polícia Penal, um sistema carcerário que consiga fazer fiscalização para que esses presos não se comuniquem para fora, tecnologia de inteligência, integração e um plano forte de governo nas três instâncias (município, Estado e União), você pode botar mil anos de cadeia que não vai resolver.
Por falar nessa integração entre as três instâncias federativas, União com os entes subnacionais, qual é a sua posição sobre a PEC da Segurança Pública, apresentada pelo Governo Federal? O governo afirma que um dos grandes objetivos e méritos da PEC é justamente o de promover essa integração maior entre as esferas, além de aumentar a participação da União no combate à criminalidade. Os críticos da proposta, por seu turno, argumentam que ela tende a enfraquecer a autonomia das forças de segurança nos estados…
Eu sou contra. Tira a autonomia dos estados. Na segurança pública, a União precisa se preocupar com crimes interestaduais (droga e arma) e com os crimes internacionais. Toda a droga vendida no Brasil entra pela fronteira. A União tem que se preocupar com a nossa Receita Federal, trabalhando forte, com as nossas aduanas, com a Polícia Federal e com a Polícia Rodoviária Federal. Se ela fizesse isso, o reflexo nos estados seria muito melhor: menos drogas, menos armas, menos homicídios. Nós temos que fortalecer as forças de segurança em todas as esferas. Quando você centraliza isso, ou tenta centralizar, isso até facilita a vida do criminoso.
E, do ponto de vista ideológico, como o senhor se identifica?
Você pode ver no meu Instagram e nas minhas entrevistas à imprensa que eu sou de centro-direita. Claramente, de centro-direita. Não só o meu discurso, mas a minha gestão é uma gestão onde a gente tem que ter um aparelho policial forte, onde temos que fazer valer a prevalência do domínio territorial a qualquer custo, sob pena de virarmos um Rio de Janeiro. Os meus valores morais, éticos e religiosos me colocam ali na centro-direita. Mais para a direita e um pouco de centro.