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Coluna Inovação

As consequências imprevisíveis das inovações

Em todas as revoluções tecnológicas há um desdobramento social inesperado, com a disseminação paulatina da novidade

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As consequências imprevisíveis das inovações. Foto: IA/Reprodução

As consequências imprevisíveis das inovações. Foto: IA/Reprodução

Em todas as revoluções tecnológicas há um desdobramento social inesperado, com a disseminação paulatina da novidade.

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Na primeira revolução, a máquina a vapor reduziu substancialmente o tempo de viagem entre os continentes acelerando uma globalização incipiente. As ferrovias permitiram a aproximação entre regiões do mesmo país e países próximos e as novas indústrias substituíram os artesãos criando o operariado com seus sindicatos e pressão social, a urbanização e mudando a geopolítica do mundo.

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Na segunda revolução, a eletricidade introduziu a noite nas relações sociais, permitiu o rádio, a TV, o cinema, o telégrafo, o telefone e mudou as relações sociais aproximando mais ainda as regiões e continentes. Criou também o elevador e verticalizou as cidades. O outro símbolo dessa revolução, a linha de montagem de Henry Ford, permitiu a produção em massa de bens, reduzindo o seu custo e criando o consumo de massa.

A terceira revolução, a dos computadores, possibilitou a computação pessoal e o surgimento da internet, o Google, o iPhone, o comércio eletrônico e as redes sociais com todas as consequências na maneira de trabalhar, se divertir, namorar, comprar, vender, brigar e estudar.
A chamada quarta revolução industrial, já no século 21, acelerou tudo, e não só no mundo digital, mas também no biológico.

Um novo fenômeno social, que já vinha acontecendo, foi acelerado, mais ainda, pela pandemia. Pessoas são contratadas para trabalhar remotamente, independentemente de cidade, estado ou país. Médicos atendem pacientes em qualquer lugar por telemedicina, que permite até cirurgias robótica à distância. Universidades e empresas de treinamento oferecem seus cursos fora das suas cidades ou regiões de origem. Gigantescos marketplaces digitais comercializam produtos de pequenos fornecedores que não precisam nem sair das suas cidades para vender para o mundo. Softwares de tradução, que beiram a perfeição, permitem negócios onde a língua não atrapalha mais. Veículos autônomos começam a se espalhar levando à especulação que seres humanos dirigindo automóveis poderão deixar de existir em alguns anos. Mas não dava para imaginar Youtubers, influencers e Tiktokers.

Antigamente, quando alguém se mudava para outro país ou até para outro estado, os contatos se reduziam drasticamente. Os amigos de cada fase da vida ficavam esquecidos nas fases seguintes, hoje você mantém as amizades por toda a vida, compartilhando reminiscências, fotos, vídeos e opiniões nas redes sociais.

Você agora pode morar em uma pequena cidade do interior, vender para o mundo todo e comprar de qualquer lugar, falar de graça pelo mundo, fazer os cursos que quiser, assistir os filmes recentes, ler os livros recém lançados e os jornais do mundo, visitar digitalmente qualquer lugar e saber qualquer informação. O Google Maps e o Waze eram inimagináveis antes de aparecerem no mercado, hoje são imprescindíveis. Telefones estão sendo conectados por satélite em qualquer local escondido.

A disseminação da IA e a chegada recente do “momento GPT” para os robôs humanoides prometem novas consequências. Vamos deixar de nos comunicar com as máquinas por teclas e conversar com elas. Vamos ter assistentes pessoais que conhecem tudo de nós e nos ajudam em atividades. Curas para doenças serão aceleradas.

Tem o lado ruim também. Golpes cibernéticos, guerras com drones e robôs, fake news e deepfakes perfeitos, vigilância completa com reconhecimento facial que já está em todos os prédios comerciais. Algoritmos manipulam nossas vontades e vendem nossos dados. Desemprego dos que não acompanharem as tendências.

O acesso a todas essas inovações é desigual. Socialmente podemos caminhar para uma classe de inúteis como prevê Harari ou para a distopia de Admirável Mundo Novo de Huxley, com uma sociedade que sacrificou a liberdade e as emoções humanas em nome da estabilidade e do progresso tecnológico.

Vamos olhar pelo lado bom. Alexandre Dumas, pai, antecipou tendências: “Suprimir a distância é aumentar a duração do tempo. A partir de agora, não viveremos mais; viveremos apenas mais depressa”. Mas ele viveu em outra época. Se o mundo digital nos faz viver mais depressa, das inovações do mundo biológico se espera o que mais importa: viver mais, para aproveitar tudo isso.

Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.