PT desiste de lançar Zé Carlos em Linhares e ex-prefeito quebra o silêncio

Militância do PT de Linhares com Zé Carlos Elias (de branco, em pé)

O PT do Espírito Santo adiou até o último momento uma decisão inevitável. Nesta quinta-feira (15), último dia para pedidos de registro de candidatura ao TRE-ES, o partido rendeu-se aos fatos e desistiu de registrar a candidatura de José Carlos Elias a prefeito de Linhares. Condenado por improbidade administrativa em mais de uma ação judicial, o ex-prefeito e ex-deputado federal está com os direitos políticos suspensos, portanto inelegível – segundo ele mesmo, até 2026 –, devido à Lei da Ficha Suja.

Ainda assim, apostando numa possível reversão da situação jurídica de Zé Carlos, dirigentes municipais e estaduais do PT o procuraram com a proposta de lançá-lo pelo partido a prefeito da maior cidade do norte do Espírito Santo, já governada por ele duas vezes. Ele embarcou no projeto, ciente de que a viabilização da candidatura dependia da recuperação, em tempo hábil, dos seus direitos políticos. No início do ano, o PT anunciou a filiação (simbólica) de Zé Carlos.

Desde o começo, tanto o PT como Zé Carlos tinham plena consciência de que sua candidatura só poderia se concretizar se houvesse decisão judicial em favor dele, derrubando a condenação e voltando a torná-lo “elegível”. Isso não aconteceu. Na verdade, a situação só piorou. Nem mesmo a filiação de Zé Carlos foi aceita pela Justiça Eleitoral.

Em julgamento realizado no dia 10 de julho, por unanimidade, os sete membros do TRE-ES negaram o pedido de filiação, precisamente pelo fato de ele estar com os direitos políticos suspensos.

Para tentar reverter a própria inelegibilidade, Zé Carlos moveu recurso, segundo ele, no STJ. Mas o recurso ainda aguarda julgamento. Enquanto isso, o PT interpôs recurso no TRE-ES contra a decisão que recusou a filiação do ex-prefeito, mas o recurso nem chegou a ser pautado no tribunal.

Chegamos, então, à véspera do início oficial da campanha com a seguinte situação: Zé Carlos segue tecnicamente inelegível, não pode votar nem ser votado e nem sequer está filiado ao partido que queria lançá-lo.

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O PT, então, jogou a toalha vermelha e substituiu Zé Carlos na cabeça da chapa. No lugar dele, a Federação Brasil da Esperança (PT/PV/PCdoB) disputará a Prefeitura de Linhares com o aposentado Wilson Ramos Filho, conhecido como Galego. O candidato a vice-prefeito é o médico-cirurgião Teobaldo Heleodoro (PCdoB).

O desabafo de Zé Carlos

Falando à coluna, Zé Carlos Elias confirmou que está inelegível até 2026 por conta de condenação que remonta ao caso da Máfia das Ambulâncias, descoberta pela Operação Sanguessuga (desvio de verbas do orçamento da União por meio de emendas parlamentares direcionadas), nos tempos em que ele foi deputado federal (entre 1999 e 2004).

O ex-prefeito e ex-deputado afirma que, na verdade, foi ele quem preferiu retirar a pré-candidatura, para não atrapalhar o PT e sua chapa de vereadores. Zé Carlos enfatizou que foi o PT quem o procurou com o objetivo de lançá-lo candidato.

“Achei melhor não atrapalhar ninguém. Não fui eu que vim até o partido, foram eles que vieram até mim, porque sou muito bem avaliado em Linhares. Eu não era candidato no início. Estava recolhido, na minha. Foi o PT que me procurou, dizendo que poderiam tentar algo na Justiça. Agora, estava quase acabando o prazo, então falei: é melhor vocês me substituírem, para não ficar essa incerteza, que podia até atrapalhar a chapa de vereadores. Com os direitos políticos suspensos, você não pode votar nem ser votado. Continuo inelegível até 2026. Embora injusto, é isso. Eu nunca me declarei candidato. Não tenho rede sociais e não dei nenhuma entrevista dizendo que seria candidato. Não tô morrendo de amor por política.”

Embora tenha tentado se filiar ao PT e se candidatar pelo partido, Zé Carlos afirma que nunca foi petista, nem mesmo um político de esquerda.

“Não sou de direita nem de esquerda. Sou um político de centro. Eles sabem da minha posição. Tem muitos programas que casam com o meu. Tem outros que não casam… Você sabe como é esse troço.”

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Mas e se o plano tivesse dado certo e ele tivesse recuperado os direitos políticos a tempo? Ele seria de bom grado candidato a prefeito pelo PT? “Seria, sim, tranquilo, porque quem iria governar seria eu”, responde Zé Carlos.

Prefeito de Linhares de 1993 a 1996 e de 2005 a 2008, Zé Carlos diz que a candidatura frustrada pelo PT foi, para ele, até uma boa experiência:

“Não estou aborrecido com isso, não. Minha família nem queria que eu fosse candidato. Mas foi bom: mostrou que ainda tenho muito carinho da população. Depois de tanto tempo e sem nem dizer que era candidato, sem nem usar redes sociais, apareci empatado na liderança em uma pesquisa eleitoral”.

A pesquisa em questão, realizada pelo Instituto Futura para a Rede Vitória e publicada pelo site Folha Vitória no dia 10 de julho, trouxe Zé Carlos com 24,1% das intenções de voto, tecnicamente empatado com o líder, Lucas Scaramussa (28%) e com o atual prefeito, Bruno Marianelli (23,1%).

Quem ele vai apoiar?

Sem poder exercer os direitos políticos, Zé Carlos não pode votar nem ser votado, ou seja, do mesmo modo que não pode ser candidato, não pode ser “eleitor” de ninguém (no sentido literal). Mas é claro que, como ex-prefeito, seu apoio a qualquer candidato pode ser importante, ainda mais com o resultado alcançado por ele na referida pesquisa.

Ele diz ainda não ter definido apoio a ninguém.

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A lista de candidatos

Além de Galego, agora candidato do PT, concorrem a prefeito de Linhares:

O atual prefeito, Bruno Marianelli (Republicanos), candidato à reeleição, com o apoio do seu antecessor, Guerino Zanon.

O deputado estadual Lucas Scaramussa (Podemos), candidato que tem o apoio de boa parte do governo Casagrande (mas não o apoio garantido do governador Renato Casagrande).

O empresário Maurinho Rossoni (PL), candidato bolsonarista na cidade.

Histórico

Além dos dois mandatos de prefeito (1993-1996; 2005-2008) e da pasagem pela Câmara Federal (1999-2004), José Carlos Elias foi vereador de Linhares, vice-prefeito do mesmo município e deputado estadual por um mandato, de fevereiro de 2011 a janeiro de 2015. Há uma década, não exerce mandatos. Aos 70 anos, é bancário aposentado.

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