Coluna Vitor Vogas
“Pronta para assumir”: quem é a primeira suplente de Marcos do Val?
Com viagem do senador capixaba para a terra de Trump, atenções se voltam para uma outra personagem, infinitamente mais discreta: a substituta imediata

Rosana Márcia Foerste da Silva. Foto: Reprodução Facebook
Mesmo proibido de deixar o país, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) está nos Estados Unidos. Descumprindo ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes que o impedia de sair do território brasileiro, ele se evadiu para o país de Donald Trump, em um voo que partiu de Manaus na noite da última quarta-feira (23), segundo apuração do UOL. Ao mesmo veículo, o senador pelo Espírito Santo disse que considera ter viajado legalmente e que ilegal é a medida cautelar de Moraes contra ele.
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Tudo ainda é muito incerto e será preciso acompanhar os desdobramentos do caso, mas, com a viagem de Do Val, as atenções novamente se voltam para outra personagem, infinitamente mais discreta: a substituta imediata do senador.
“Estou pronta para assumir, se for convocada pelo Senado”, afirma a desconhecida pedagoga Rosana Márcia Foerste da Silva, eleita na chapa de Do Val, em 2018, como sua primeira suplente. Rosana nunca exerceu cargo eletivo. Desde 2015, é filiada ao Cidadania (antigo Partido Popular Socialista), uma sigla pequena de centro-esquerda, unida desde 2022 ao PSDB numa federação partidária.
Embora nem o próprio senador se lembre disso, o Cidadania foi o partido pelo qual Do Val se elegeu para o Senado, em 2018, como o segundo candidato mais votado no Espírito Santo, atrás de Fabiano Contarato (então na Rede). Do Val foi um dos dois candidatos da coligação liderada por Renato Casagrande (PSB) – o outro foi o atual vice-governador e então senador Ricardo Ferraço, que não conseguiu se reeleger pelo PSDB naquele ano.
Rosana tinha forte ligação com o deputado estadual Fabrício Gandini (hoje no PSD). Inclusive, trabalhou pessoalmente na campanha dele para se eleger deputado estadual naquele mesmo pleito.
Àquela altura, Gandini era vereador de Vitória e o presidente estadual do Cidadania. Ao lado de Luciano Rezende, então prefeito de Vitória, e de Renato Casagrande (PSB), o dirigente avalizou a candidatura de Do Val e ajudou a montar a chapa do até então instrutor de segurança. Não é exagero dizer que, nesse contexto, Rosana só entrou como primeira suplente para completar a chapa. Segundo uma fonte que participou da composição na época, ela teria entrado até como solução provisória, para ser substituída depois, mas o prazo para isso expirou e ela acabou ficando.
Agora, nada menos que um mandato de senadora pode vir a cair no seu colo. Muito serena, em conversa por telefone com a coluna, Rosana se diz tranquila, aguardando os próximos capítulos, mas preparada para o desafio, se necessário for.
“Sou eleita. Fui eleita, na mesma chapa, para esse cargo. Estou pronta desde o dia em que houve a eleição até janeiro de 2027 [quando terminará o mandato de Do Val]. Na hora que acontecer, se acontecer, se for preciso, estou preparada para assumir o mandato. Quanto a isso, estou tranquila e aguardando. Estou sabendo dos acontecimentos da mesma maneira que todos. Por enquanto, vamos aguardar.”
Hoje com 57 anos, Rosana já é avó. É casada e mora em Vitória. Pedagoga por formação, ela já deu aula para crianças, na rede particular de ensino infantil. Tem duas pós-graduações: em Gestão e em Alfabetização e Letramento.
Antes de ser do Cidadania, ao qual segue filiada, passou pelo Progressistas (PP). Ocupou cargos comissionados de assessoria no governo passado de Casagrande (2019/2022) e no atual.
De fevereiro de 2019 a janeiro de 2023, foi chefe do Sistema Nacional de Emprego (Sine) no Espírito Santo, cargo vinculado à Secretaria de Estado de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades).
Por coincidência, ela lida diariamente com “evasão”
De fevereiro de 2023 até hoje, Rosana é assessora especial da Secretaria de Estado de Educação (Sedu). Dá expediente na sede da secretaria, na Avenida Cezar Hilal, em Vitória, e trabalha na Gerência de Busca Ativa Escolar, cujo objetivo é combater a evasão e fazer com que alunos evadidos, em idade escolar, voltem a estudar na rede estadual.
Se a evasão do senador Marcos do Val se prolongar no tempo, a julgar pelo texto do Regimento Interno do Senado, a Mesa Diretora da Casa não terá escolha senão convocá-la para assumir o lugar dele, em definitivo (até janeiro de 2027), na condição de primeira suplente.
Reza o Regimento Interno:
Art. 32. Perde o mandato o Senador (Const., art. 55):
III – que deixar de comparecer à terça parte das sessões deliberativas ordinárias do Senado, em cada sessão legislativa anual, salvo licença ou missão autorizada;
Além disso, nos termos do Regimento:
Art. 39. O Senador deverá comunicar ao Presidente sempre que:
I – ausentar-se do País;
Parágrafo único. Ao comunicar o seu afastamento, no caso do inciso I, o Senador deverá mencionar o respectivo prazo.
Ainda segundo o texto, que disciplina o funcionamento do Senado, o senador poderá “solicitar licença para tratar de interesses particulares, desde que o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa” (Art. 43, II).
Do Val não tirou licença do mandato. Perguntamos à assessoria do Senado se ele chegou a comunicar ao presidente, Davi Alcolumbre (União), que se ausentaria do país, mas não obtivemos resposta até o momento desta publicação. Se, até o fim do ano, o capixaba perder um terço (1/3) das sessões plenárias do Senado no atual exercício, perderá o mandato. Ao menos é o que diz o Regimento.
Em 2023, ficou no “quase”…
No começo de fevereiro de 2023, deflagrando uma sucessão de confusões e autodesmentidos, Marcos do Val declarou que, em dezembro de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) o tentou coagir para dar um golpe de Estado. Foram as palavras dele. Depois ele mudaria a própria versão algumas vezes. Na mesma sequência de eventos, o senador anunciou, via redes sociais, que estava renunciando ao mandato.
Menos de 12 horas depois, desmentiu-se. Em entrevista coletiva, afirmou que não renunciaria, indicando não ter bom relacionamento com Rosana.
Há muito tempo, os dois não têm contato algum. Foram unidos de fato, circunstancialmente, nas eleições de 2018, apenas na composição da chapa para o Senado pelo Espírito Santo.
