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Coluna Vitor Vogas

Frente de direita dá sinais de divisão, e jogo começa a mudar na Câmara de Vitória

Formada por Monjardim, Davi Esmael e Luiz Emanuel, Frente Parlamentar de Direita rachou na simples escolha do representante da Câmara em um conselho municipal. O que pode parecer mera disputa pelo preenchimento de uma vaga na verdade denota mudanças bem mais profundas em andamento por ali: uma nova correlação de forças está surgindo em Vitória. É o que explicamos nesta análise

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Davi Esmael, Leonardo Monjardim e Luiz Emanuel formam Frente Parlamentar de Direita Conservadora

Até semana passada, a Frente Parlamentar de Direita Conservadora mostrou-se extremamente coesa na Câmara de Vitória. Criada em fevereiro, a frente é formada pelos bolsonaristas Leonardo Monjardim (Patriota), Davi Esmael (PSD) e Luiz Emanuel (sem partido). Na votação do projeto Escola sem Partido, apresentado pelos dois primeiros, os três perderam por muito a votação em plenário (8 a 3), mas perderam com dignidade e, o mais importante, unidos. Morreram abraçados, “estreando” na Casa um novo bloco minoritário, mas politicamente íntegro e coeso. Ou pelo menos assim parecia.

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Essa solidez absoluta durou pouco. Na última terça-feira (21), menos de uma semana após a votação do Escola sem Partido, a Frente de Direita rachou, ou pelo menos exibiu as primeiras rachaduras na superfície. Na primeira oportunidade em que os interesses práticos dos três entraram em conflito, a aliança deu lugar à disputa interna, especialmente entre Monjardim e Davi, coautores do Escola sem Partido.

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A situação concreta foi a escolha do representante da Câmara de Vitória no Conselho Municipal de Políticas Urbanas (CMPU), o qual, entre outros temas, discute o Plano Diretor Urbano (PDU) da Capital.

Em reunião a portas fechadas convocada pelo presidente da Câmara, Leandro Piquet (Republicanos), um dos itens da pauta foi a designação dos vereadores que vão representar a Casa nos diversos conselhos municipais. A Câmara tem direito a uma cadeira de titular em cada um desses colegiados, além de um suplente. A representação é renovada a cada dois anos, e agora chegou o momento.

Reza a tradição que a vaga em cada conselho seja automaticamente preenchida pelo vereador que preside na Câmara a comissão permanente afim ao tema. O presidente da Comissão de Saúde da Câmara se torna o titular no Conselho Municipal de Saúde, e assim por diante.

Na reunião de terça, essa regra não escrita foi seguida em quase todos os casos, e todas as indicações foram definidas por consenso, exceto a de um conselho: a do CMPU foi disputada justamente pelos três integrantes da Frente de Direita, e o representante precisou ser escolhido por votação.

Luiz Emanuel foi o único a votar em si mesmo. Davi recebeu o próprio voto e o do líder do prefeito Pazolini (Republicanos), Duda Brasil (União Brasil). Obtendo uma vitória esmagadora, Monjardim obteve a indicação de quase todos os demais, incluindo vereadores da bancada de esquerda com quem tem se batido em plenário, como André Moreira (PSol) e Vinicius Simões (Cidadania) – a vereadora Karla Coser (PT) se absteve.

“Votei mesmo no Léo [Monjardim]”, confirma André. “Eram três vereadores de direita, e achei que ele era o melhor.”

Segundo a versão do próprio Monjardim, no início do ano, logo após chegar à Câmara no lugar do vereador cassado e agora deputado federal Gilvan (PL), ele assumiu o comando da Corregedoria e a presidência da Comissão de Finanças. Mas também pleiteou a presidência da Comissão de Políticas Urbanas, Mobilidade, Obras e Serviços. Essa aí não deu para ele. Ficou com Davi Esmael.

Monjardim deixou claro então que, quando chegasse o momento, gostaria de pleitear a vaga de titular ou suplente no Conselho Municipal de Políticas Urbanas. Mas, na véspera da reunião, Davi lhe comunicou que pretendia ocupar a vaga de titular (já ocupada por ele no passado), até por ser o presidente da comissão afim na Câmara.

Na terça, durante a reunião, quando chegou a hora da definição do representante no CMPU, Monjardim levantou o dedo e informou que também tinha interesse na vaga e gostaria de disputá-la democraticamente. Davi evocou o acordo de cavalheiros e a tradição mantida pela Câmara. Monjardim bateu o pé e propôs a Piquet que se escolhesse o titular pelo voto.

Acolhendo a proposta, o presidente submeteu a decisão aos colegas, numa votação sumária e improvisada. O placar foi o informado acima. Segundo relatos de participantes, após perder a votação, Davi abandonou a reunião.

O episódio pode parecer banal, corriqueiro, pontual… mas também pode ser bem revelador, se dermos dois passos atrás para não olharmos a maquete tão de perto e conseguirmos enxergar melhor o todo. Pela forma como se deu, essa votação comezinha para preenchimento da vaga em um conselho contém significados bem maiores, envolvendo quatro constatações:

1) Na primeira situação prática em que os objetivos concretos do trio não coincidiram, antes colidiram, a Frente de Direita Conservadora deu sinais de divisão interna, isto é, o que parecia um bloco monolítico de repente já não aparenta ser assim tão consistente.

2) A base de Lorenzo Pazolini também começa a emitir alguns sinais de fragmentação, que deveriam acender o alerta na sede da prefeitura. Já houve fracionamento na votação do Escola sem Partido; agora, mais uma vez… O fato de Duda Brasil, ninguém menos que o líder do prefeito, ter sido o único a votar em Davi, evidencia duas coisas: primeiro, que Davi era o nome preferido da prefeitura para o CMPU; segundo, que a prefeitura também foi derrotada nessa, solidariamente.

3) Monjardim chegou à Câmara chamando bastante a atenção e investindo numa intensa polarização ideológica do conservadorismo de direita (“nós”) com a esquerda (“eles”), vide não só a sua postura combativa em plenário, mas, por exemplo, a pressão que tem feito, como presidente do Patriota em Vitória, sobre a Capitã Estéfane, ameaçando-a até de expulsão da sigla, por conta do que avalia como aproximação indevida da vice-prefeita com forças de esquerda.

Todavia, na primeira ocasião em que isto se fez necessário, o vereador não dispensou os votos da esquerda, muito pelo contrário. O pragmatismo falou mais alto e, para impor uma derrota interna justamente aos seus colegas à direita, ele não abdicou de receber os preciosos votos de alguns de seus adversários à esquerda, como André e Vinícius Simões. Há quem vá além e diga que, nos bastidores, Monjardim chegou a ser articular previamente com os colegas do campo oposto – o que ele mesmo desmente.

De todo modo, se é exagero dizer que foi “graças aos votos da esquerda” que Monjardim derrotou Davi e Luiz, é fato que esses votos o ajudaram a triunfar sobre os próprios colegas de frente. E voto, como diz sob sigilo um vereador, “não se nega, não se escolhe, não tem cor ideológica”.

“Davi achou que o jogo já estava definido. Mas Monjardim pediu voto pra todo mundo! Quem quer ganhar eleição pede voto pra centro, direita e esquerda”, completa o mesmo vereador.

Simplificando: mesmo que pontualmente, Monjardim aliou-se à bancada de esquerda para derrotar colegas de direita… o que no mínimo relativiza toda aquela fachada de polarização que predomina para quem assiste de fora ao show.

4) Esse episódio se soma a outros para mostrar algo evidente: uma gradativa mudança na direção dos ventos políticos e da correlação de forças no plenário da Câmara de Vitória. A direita bolsonarista hoje já não parece tão hegemônica em plenário.

A esquerda, que começou a legislatura em absoluta minoria, está começando a crescer e conseguindo atrair aliados do centro (ou Centrão), ainda que circunstancialmente, em determinadas votações. E, por incrível que pareça, quem está ficando isolada é aquela Frente de Direita Conservadora que representa justamente o bolsonarismo mais atávico. O jogo está virando.

Sempre atentos às mudanças da maré política e ao balanço do pêndulo do poder, vereadores do Centrão estão acompanhando e seguindo esse movimento. Isso ficou muito bem estampado na votação do Escola sem Partido. E o próprio Monjardim – reforçando a constatação anterior – também tem feito episodicamente esse deslocamento, votando sozinho com os três vereadores de esquerda, mesmo que isso signifique ir contra os outros representantes da Frente de Direita.

Não é apenas teorização. Isso de fato aconteceu, em caso concreto e recentíssimo. Na sessão da última segunda-feira (20), véspera da reunião convocada por Piquet, a Câmara votou um projeto da legislatura passada, de autoria do hoje deputado estadual Denninho Silva (União Brasil), sobre oportunidades de primeiro emprego para jovens em Vitória.

A orientação da prefeitura era pela rejeição ao projeto. E assim votou a maioria dos vereadores da base de Pazolini. Contra a determinação da prefeitura, portanto a favor do projeto de Denninho, votaram somente quatro vereadores: os três de esquerda e oposição declarada e, surpreendentemente, ninguém menos que Leonardo Monjardim – ao lado de André, Vinicius e Karla.

Monjardim: “Esquerda não é minha inimiga”

Segundo Monjardim, a cisão da Frente de Direita no caso do CMPU foi circunstancial e, da parte dele, não terá nenhuma consequência mais séria:

“Não sei como vai ser o desencadeamento da parte deles [Davi e Luiz]. Da minha parte, não tem problema nenhum. Sou o lado vencedor e não vou guardar nenhuma mágoa. Sempre respeito quem pensa diferente de mim, não levo nada para o campo pessoal. Os alinhamentos que nos unem vão continuar existindo. É óbvio que em determinados momentos os nossos interesses podem conflitar. Era um espaço que eu queria e que eles também queriam, mas só cabia um. Não precisamos levar isso a ferro e fogo. É da democracia”, ameniza Monjardim, também indicado como titular do Conselho Municipal de Tributos Imobiliários.

Quanto ao perfilamento dele com os vereadores de esquerda no projeto de Denninho, ele justifica assim:

“Tenho minhas convicções. Se tiver que perder democraticamente, vou perder e vou para casa quietinho. Ali foi posicionamento e convicção mesmo. Sou coerente com as pautas. Naquilo que for importante para a cidade, não terei coloração ideológica. Meu voto não teve nada a ver com posicionamento de esquerda. Projeto bom vai ter meu voto. Se o projeto fosse do PSol e fosse projeto bom, teria meu voto do mesmo jeito. Hoje tenho pautas conservadoras, mas a esquerda não é minha inimiga. Tenho relação respeitosa com todos.”

Davi Esmael: “Mais unidos que nunca”

Por sua vez, Davi Esmael considera que, na escolha de Monjardim como representante da Câmara no CMPU, houve uma “quebra de tradição”, mas põe panos quentes na situação:

“Houve uma quebra de tradição. Mas, como a obrigação não é regimental, era perfeitamente possível a candidatura do Monjardim. E o entendimento do Colégio de Líderes foi pelo nome do Monjardim, a quem desejo total sucesso. Estou na torcida entusiasmada para que ele vá bem. Naquilo que depender do Davi, não haverá nenhum tipo de rancor. Já fiz parte do conselho em outras oportunidades, entendo que tenho mais experiência, mas acho legítimo ele querer ganhar experiência que o tempo lhe dará.”

Davi diz não acreditar que Monjardim tenha se articulado com a esquerda a fim de derrotá-lo nessa votação interna:

“Não acredito nisso. Monjardim é um vereador que estreia na Casa e terá dois anos de mandato. Os vereadores chegaram a um entendimento de que seria interessante dar uma projeção a ele nesse tema, até porque eu já fui presidente da Câmara e representante nesse conselho. É uma coisa muito interna, que não envolve direita e esquerda e sim um vereador novo que pediu uma chance de debater um tema importante da cidade.”

O ex-presidente da Câmara nega qualquer possível sequela ou fissura deixada por esse episódio na Frente de Direita:

“Não há crise política. Não há mortos nem feridos nessa relação. O que há é um entendimento de parte dos vereadores de projetar o vereador Leonardo Monjardim para o exercício dessa tarefa em detrimento do meu nome. Em momento algum vou me deixar levar por um movimento político que julgo normal e natural do Parlamento.”

Ainda segundo ele, a coesão da Frente de Direita da Câmara permanece inabalada, como prova a inauguração do perfil coletivo da frente no Instagram, ontem, com uma postagem crítica ao ex-prefeito e hoje deputado estadual João Coser (PT).

“A coesão não se dá em razão de pretensões individuais. Estamos mais unidos que nunca.”


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