Coluna Vitor Vogas
O provável substituto de Philipe Lemos na Secretaria Estadual de Turismo
Jornalista não permanecerá no primeiro escalão do governo Casagrande. Saiba aqui quem é o mais provável substituto dele e por quê
O ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim Victor Coelho (PSB) tem grandes chances de se tornar o novo secretário estadual de Turismo, no lugar de Philipe Lemos (PDT).
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A decisão ainda não está inteiramente tomada, mas é, neste momento, a principal opção na mesa do governador Renato Casagrande (PSB). Entre hoje (4) e amanhã (5), a questão será fechada.
Se confirmada, a nomeação do ex-prefeito para o comando da Setur será uma forma de o governo, sem trocadilho, matar dois coelhos com uma só cajadada.
O primeiro coelho: independentemente do substituto, é certo que Philipe Lemos não continuará à frente da Setur. A decisão já foi tomada no Palácio Anchieta. A Philipe, será oferecida a permanência no governo, mas em algum cargo menor. Ou seja, se ele assim quiser, continuará colaborando com o governo Casagrande, mas não mais no primeiro escalão. Aí pesam uma questão partidária e de avaliação de desempenho.
Com relação à performance – fator de maior peso na decisão –, Philipe não está bem avaliado pelo setor – o famoso “trade turístico”. Há algum tempo, o governador tem sido muito pressionado para substituir o secretário.
Com menor peso, a questão partidária é que, embora sem militância no PDT, Philipe é filiado ao partido (desde 2022). Com a iminente chegada de Sérgio Vidigal ao cargo de secretário de Desenvolvimento, o PDT passará a somar três secretários de Estado, sendo um deles ninguém menos que o principal líder estadual do partido. O chefe da Casa Civil, Junior Abreu, também é pedetista. Assim, remanejar Philipe para o segundo escalão é uma maneira de reduzir a presença do PDT no alto escalão, desproporcional ao espaço de outros partidos importantes da coalizão de Casagrande.
O segundo coelho: nomear Victor para a Setur resolve plenamente a necessidade do governo e, principalmente, do PSB de encaixar num bom espaço político o ex-prefeito de Cachoeiro. Após dois mandatos seguidos e oito anos governando a maior cidade do sul do Espírito Santo, Victor é tratado nos círculos do PSB como uma das principais apostas da chapa de candidatos a deputado federal da legenda em 2026.
De modo mais específico, ele é tido, potencialmente, como o maior colhedor de votos da chapa em todo o sul do Estado, “cobrindo” esse território onde o partido do governador não tem nenhum outro pré-candidato forte. O norte já tem o deputado federal Paulo Foletto (de Colatina) e o presidente do DER-ES, Freitas (de São Mateus); a Grande Vitória tem o secretário estadual de Saúde, Tyago Hoffmann (que também circula bem pelo interior).
Só tem um detalhe: Victor acaba de ficar sem mandato nem cargo público. Incorporá-lo ao governo, ainda mais no primeiro escalão, é uma maneira de manter o ex-prefeito em evidência, debaixo de alguns holofotes, no relativamente curto espaço de tempo que nos separa do próximo processo eleitoral. Pode não ser muito, mas, para quem tem pretensões eleitorais, é bem melhor que ficar ao relento. Ao mesmo tempo, com sua experiência em gestão pública, o governo aposta que Victor possa chegar dando mais musculatura às ações da Setur.
O PSB reivindica a Casagrande esse espaço para Victor no secretariado. O próprio ex-prefeito, inicialmente, nutria preferência pessoal pela Secretaria de Esportes (Sesport). Mas ali é muito difícil mexer, pois trata-se da cota do PT, com o secretário José Carlos Nunes.
Philipe Lemos na vida pública
Após muitos anos apresentando telejornais da Rede Gazeta, o jornalista Philipe Lemos decidiu mudar de ares e ingressar na vida pública – desde o início, como aliado de Casagrande. Em 2022, por orientação do governador, entrou no PDT para disputar a sua primeira eleição, para deputado federal.
Teve até um desempenho respeitável, colhendo 45.260 votos – mais que Messias Donato (Republicanos), que entrou. Na chapa do PDT, ficou atrás apenas de Sueli Vidigal (58.251 votos). Mas, mesmo com a votação de ambos, a chapa careceu de outros candidatos competitivos, não atingiu o quociente eleitoral e não elegeu ninguém.
Philipe seguiu próximo a Vidigal e, no começo de 2023, o então prefeito da Serra o nomeou como secretário municipal de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer. Em meados daquele ano, Philipe chegou a ser especulado (e considerado de verdade) como possível aposta de Vidigal para a própria sucessão. Esse plano não vingou. Decidido a passar o bastão, Vidigal optou por Weverson Meireles, também do PDT, para ser seu herdeiro político.
Operou-se, então, uma curiosa troca. Desde janeiro de 2023, por indicação de Vidigal, Weverson era o secretário estadual de Turismo. Mas, no fim daquele mesmo ano, o então prefeito da Serra pediu Weverson “de volta” a Casagrande, isto é, pediu ao governador para liberar Weverson. Este de fato foi exonerado por Casagrande.
Para preparar a candidatura de Weverson a prefeito, Vidigal o nomeou como seu chefe de gabinete, colado a ele, na Prefeitura da Serra. E, para cobrir o lugar deixado vago por Weverson na Setur, o então prefeito da Serra indicou Philipe Lemos, que ocupava cargo equivalente na sua administração municipal. Casagrande aceitou a troca.
Philipe, assim, chegou à Setur no fim de 2023 e sairá no começo de 2025. Ficará por pouco mais de um ano no cargo.
Setur… seu turno
Não que estejamos defendendo Philipe Lemos ou quem quer que seja, mas é fato: existe ali um problema crônico, que não tem a ver com o desempenho pessoal desse ou daquele secretário que por ali tenha passado, mas diz muito mais sobre a maneira como o Governo do Estado encara tal secretaria.
Quando olhamos em retrospecto o que foi a Setur nos últimos anos, não encontramos uma secretaria prioritária, que cuida de uma área considerada como uma das esperanças de salvação do Espírito Santo para alavancar a arrecadação e compensar perdas de receitas nos próximos anos, decorrentes da reforma tributária. Negativo. O que vemos é uma secretaria que está sempre no fim da fila, usada pelo Palácio Anchieta para resolver questões políticas e abrigar aliados partidários.
A rotatividade de secretários ali é absurda. Não há como se esperar planejamento de longo prazo e continuidade na execução de projetos. A Setur está sempre recomeçando.
Foi assim em governos passados. É assim, novamente, agora. Se Victor assumir mesmo a pasta e for mesmo candidato a federal, a Setur terá, pelo menos, quatro secretários diferentes nos quatro anos do atual governo Casagrande.
Weverson ficou menos de um ano. Philipe ficará pouco mais de um. Aí, se Victor assumir, até poderá dar uma boa arrumada na casa, mas já chegará à secretaria com prazo bem curto de validade: em abril do ano que vem, terá de se desligar do cargo para poder disputar as eleições, em observância à legislação eleitoral. Então outro secretário, o quarto, deverá tocar a Setur por nove meses, até dezembro de 2026.
Fica parecendo turismo político.