Coluna Vitor Vogas
Paulo Hartung vai se filiar ao PSD em abril, anuncia Gilberto Kassab
Cotado para ser candidato ao Senado ou ao Palácio Anchieta, e aparentemente decidido a voltar à vida pública, ex-governador escolheu sigla de centro-direita para se reposicionar no jogo político-eleitoral do ES e do país. Por que o PSD? Leia aqui a nossa análise
Preparando seu retorno ao jogo político-eleitoral, o ex-governador Paulo Hartung vai se filiar, em abril, ao Partido Social Democrático (PSD). A informação foi confirmada neste sábado (28) por ninguém menos que o presidente nacional da sigla de centro-direita, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Gilberto Kassab. Hartung está sem partido desde que se desfiliou formalmente do MDB, no fim de sua terceira passagem pelo Governo do Espírito Santo, ao final de 2018.
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De imediato, Hartung entrará no PSD para presidir a fundação de estudos e formação política do partido, o Espaço Democrático.
Por meio de um post no Instagram, Kassab confirmou informação publicada na última quarta-feira (25) pelo jornalista Lauro Jardim, colunista de O Globo, sobre a filiação do ex-governador ao PSD. Na publicação, o ex-ministro elogiou Hartung e saudou sua iminente chegada ao partido, definindo-o como “um dos gestores públicos mais respeitados do Brasil”:
Uma boa notícia para o PSD.
Um entendimento discreto acabou sendo noticiado pelo competente colunista Lauro Jardim. A partir de abril, um dos gestores públicos mais respeitados do Brasil retorna às atividades partidárias, agora filiado ao PSD. Vai comandar as atividades da Fundação do PSD, o Espaço Democrático. O Espírito Santo e o Brasil ganham muito com a volta de @paulohartung.
Bem-vindo, Paulo!!
A data da filiação – exatamente um ano antes do fim do prazo para filiações partidárias de pré-candidatos nas eleições de 2026 – parece obedecer a duas razões. Hartung só entrará oficialmente no PSD após se desligar do cargo de conselheiro da empresa Vale. Seu mandato no Conselho de Administração da mineradora se encerra precisamente no mês de abril. A partir daí, ele terá mais de um ano, até agosto de 2026, para organizar seu projeto político e construir sua possível candidatura majoritária no Espírito Santo.
Hartung é cotado para concorrer a uma das duas vagas que estarão em disputa no Senado ou a voltar a disputar o cargo de governador, para uma quarta passagem pelo Palácio Anchieta. Ele foi senador por quatro anos, de 1999 a 2002 (por PSDB e PPS), e governou o Espírito Santo de 2003 a 2010 (pelo PSB; depois pelo PMDB) e de 2015 a 2018 (pelo MDB).
Nos últimos meses, o ex-governador tem emitido uma série de claros sinais de que está mesmo decidido a se recolocar no tabuleiro político capixaba. Um desses fortes indícios foi a entrevista concedida por ele ao telejornal EStúdio 360, no dia 26 de novembro.
O partido escolhido por Hartung para se reinserir no jogo é coerente com sua atual inclinação político-ideológica, resultante de certa inflexão observada em seu pensamento desde que chegou ao governo pela última vez, há uma década, em 2014.
Tendo entrado na vida pública com mentalidade de esquerda e por partidos desse campo, Hartung passou pelo PSDB nos anos 1990 e firmou-se como um social-democrata. Chegou ao Governo do Estado pela primeira vez, em 2002, pelo Partido Social Brasileiro (PSB), sigla de centro-esquerda. Nos anos seguintes, aproximou-se do centro. Pelo PMDB, reelegeu-se em 2006 e voltou ao Palácio Anchieta em 2014.
Mesmo durante o seu último governo, ele continuava se declarando em entrevistas, essencialmente, um “social-democrata”. Jamais se proclamou publicamente um homem de direita. No entanto, durante e após seu último governo, consolidou-se como um economista e um homem público de orientação marcadamente liberal na economia – vide sua proximidade com movimentos e think tanks que refletem essa linha de pensamento mais associada à direita na política, como o RenovaBR e a Casa das Garças, respectivamente
Hoje, se tivermos de escolher um rótulo, o ex-governador de fato pode ser classificado como um homem público mais alinhado à centro-direita.
Ao escolher o PSD para se reposicionar no jogo, Hartung – sempre um muito bom intérprete e analista de cenários políticos – também demonstra estar atento ao “recado” dado pelas urnas nas eleições municipais deste ano, a tendência ditada pelos eleitores brasileiros e capixabas, os novos ventos que sopram a favor da centro-direita.
No pleito municipal, os partidos mais bem-sucedidos foram forças de direita e, notadamente, de centro-direita. O PSD foi precisamente a legenda que mais elegeu prefeitos no país inteiro. A partir de janeiro, a sigla de Kassab governará 887 municípios.
No Espírito Santo, o quadro não foi diferente, indicando uma onda de centro-direita que começou a se formar no horizonte e que, também por aqui, pode alcançar o ápice daqui a dois anos. À parte a vitória do PDT na Serra e os mais de 20 prefeitos eleitos pelo PSB do governador Renato Casagrande, recordista nesse aspecto em solo capixaba (mas todos eles em cidades pequenas do interior), os partidos posicionados do centro para a direita fizeram a festa nas urnas no Estado, com destaque para o Podemos, o PP e o Republicanos.
Nesta sesmaria, os resultados do PSD foram tímidos, com a eleição de apenas três prefeitos. Um deles, o mais importante, foi Renzo Vasconcelos, prefeito de Colatina a partir da próxima quarta-feira (1º). Renzo é justamente o presidente do PSD no Espírito Santo.
No cenário político estadual, Hartung tem se aproximado muito do grupo político do qual faz parte, por exemplo, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), elogiado publicamente pelo ex-governador ao se reeleger, no dia 6 de outubro, e também na já referida entrevista ao EStúdio 360.
Pazolini e seu grupo, abrigado no Republicanos, são adversários políticos do governador Renato Casagrande. O atual governador e seu antecessor no cargo são notórios rivais e desafetos desde que romperam uma longa aliança e disputaram o comando do Executivo Estadual em 2014, em eleição vencida por Hartung no 1º turno. O PSD apoiou a reeleição de Pazolini em Vitória.
O presidente do Republicanos no Estado é o ex-deputado estadual Erick Musso, o mesmo que Hartung, como governador, praticamente levou à presidência da Assembleia no começo de 2017. Já o presidente da sigla em São Paulo é ninguém menos que Roberto Carneiro, outro antigo colaborador e parceiro político de Hartung.
Uma aliança de centro-direita entre PSD e Republicanos, objetivando a formação de uma coligação majoritária na próxima eleição estadual no Espírito Santo. Pazolini pode vir candidato a governador, com Hartung candidato ao Senado. Ou o próprio Hartung pode ser o postulante ao governo.
O PSD e o flerte antigo de Hartung com Kassab
Fundado por Gilberto Kassab, o PSD é uma derivação do antigo Democratas (DEM), outrora Partido da Frente Liberal (PFL), legenda que já foi considerada o símbolo da direita no país. Desde o fim de 2021, o DEM virou o União Brasil, ao se fundir com o PSL.
O namoro de Hartung com Kassab e o PSD remonta a outros carnavais.
Nos primeiros meses de 2022, parte do antigo grupo político do ex-governador (que jamais “apareceu” nessa articulação) filiou-se ao partido para disputar as eleições estaduais daquele ano. Já estava lá José Carlos da Fonseca Junior, ex-chefe da Casa Civil de Hartung. Em março, filiou-se o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon, candidato a governador pelo PSD naquele ano.
Já Neivaldo Bragato, ex-chefe de gabinete de Hartung e seu histórico braço direito, assumiu a presidência estadual da sigla durante aquele processo eleitoral. E o ex-secretário estadual de Justiça Eugênio Ricas, então muito próximo a Hartung, quase entrou no PSD, por influência do ex-governador, para disputar o Palácio Anchieta – mas desistiu ao se dar conta de que teria de disputar a legenda com Guerino Zanon.
No mesmo período, em meados de março para abril de 2022, o próprio Gilberto Kassab chegou a elogiar publicamente Paulo Hartung e declarar que gostaria de filiá-lo ao PSD e lançá-lo pelo partido à Presidência da República. Hartung nunca confirmou esse ensaio de movimentação. Mas ficou só no ensaio mesmo. Naquele momento, o ex-governador permaneceu sem partido e não disputou cargo algum no pleito de 2022. Seguiu tocando suas atividades na iniciativa privada.
Além de conselheiro da Vale, Hartung é, desde 2019, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). José Carlos da Fonseca Junior trabalha diretamente com ele.
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