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Coluna Vitor Vogas

Os planos de Kassab para Paulo Hartung em sua chegada ao PSD

Como foi a cerimônia de filiação do ex-governador ao PSD, quem compareceu e o que disseram o próprio Hartung e Kassab sobre o papel reservado a ele

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Gilberto Kassab, Paulo Hartung, Antônio Brito, Renzo Vasconcelos e Erick Musso. Foto: Eduardo Mattos/Scriptum/PSD

Gilberto Kassab, Paulo Hartung, Antônio Brito, Renzo Vasconcelos e Erick Musso. Foto: Eduardo Mattos/Scriptum/PSD

O ex-governador Paulo Hartung filiou-se oficialmente, na segunda-feira (26), ao Partido Social Democrático (PSD), na sede nacional do partido, em São Paulo, ao lado de Gilberto Kassab e com a ficha abonada por ele, em cerimônia com tom nacional e discursos voltados para a eleição presidencial.

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Da cerimônia também participaram os governadores do Paraná e do Rio Grande do Sul, Ratinho Júnior e Eduardo Leite, ambos do PSD e potenciais candidatos à Presidência da República, além da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, filiada em março ao PSD. Participaram, ainda, os três ministros do governo do presidente Lula (PT): Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e André de Paula (Pesca).

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Na “ala capixaba”, compareceram o presidente estadual do PSD e prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos; o presidente do Republicanos em São Paulo, Roberto Carneiro; o presidente do Republicanos no Espírito Santo, Erick Musso, principal articulador político do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos); e o professor e empresário Aridelmo Teixeira (Novo), ex-secretário da Fazenda e de Governo de Vitória, na administração Pazolini.

Roberto, Erick e Aridelmo são antigos colaboradores de Hartung na política capixaba e, mais recentemente, de Lorenzo Pazolini – representado pelos dois primeiros no ato de filiação do ex-governador. Hartung tem citado Pazolini, ao lado do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), como “jovem talentoso” que tem potencial para ser candidato a governador do Espírito Santo e “oxigenar” a política estadual.

No Espírito Santo, PSD e Republicanos estão próximos desde as últimas eleições municipais, assim como no estado de São Paulo. Gilberto Kassab é o secretário estadual de Governo e Relações Institucionais na administração de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Também presidenciável, o governador de São Paulo prestigiou Hartung em um jantar de boas-vindas promovido pelo PSD na noite de domingo (25), no Hotel Emiliano. Os dois têm trocado elogios públicos.

Tanto Hartung quanto Kassab destacam que Tarcísio pode vir a ser apoiado pelo PSD na eleição à Presidência da República, se for mesmo candidato, mas que a prioridade do partido é lançar um candidato próprio ao Palácio do Planalto: Ratinho Júnior ou Eduardo Leite. Os três presidenciáveis são tratados, hoje, como alternativas por Kassab.

E quanto ao próprio Paulo Hartung? Qual o papel reservado por Kassab ao ex-governador do Espírito Santo em sua chegada ao PSD? Está nos planos uma nova candidatura de Hartung, a governador, senador ou até vice-presidente da República? Em entrevista coletiva concedida após o ato de filiação, o presidente nacional do PSD afirmou que não foi para isso que convidou Hartung, mas para cumprir outra missão: a de ajudar o partido, em plena expansão e com altas aspirações nacionais, a formar novos líderes Brasil afora.

“Se eu fosse capixaba, eu ia pedir para ele ser [candidato], mas o partido aqui hoje está muito feliz porque ele vai realmente, com a sua experiência, com o seu conhecimento, ajudar muito o Brasil, fazendo no PSD, dentro do PSD, um processo de formação de líderes, fazendo com que a gente possa ser exemplo dos outros partidos. É esse talento que o Paulo Hartung tem”, disse o ex-prefeito de São Paulo (2006/2012).

“Ele ser candidato ou não ser candidato é uma decisão lá na frente do Espírito Santo, mas ele vem realmente com esse objetivo. Eu ficaria muito feliz, como qualquer brasileiro, de ver o Paulo Hartung governando o seu estado ou sendo senador da República, mas efetivamente não falamos sobre isso. Hoje o que está realmente na mesa é isso. Mas eu vou falar, ele que não nos ouça: ter o Paulo Hartung como governador ou como senador, como presidente da República, como vice-presidente da República, em qualquer cargo, é algo que valoriza qualquer partido e ajuda qualquer país”, enalteceu Kassab. “Mas, no momento, o papel dele, ele aceitou essa missão, é trazer jovens e formar jovens”, completou.

Hartung confirmou a “missão”:

“O Kassab me convidou para ajudar a formar novos líderes, uma coisa que eu venho fazendo nos últimos anos, e partidariamente é muito melhor a gente fazer esse trabalho. E também ajudar, junto com outros companheiros, a formar ideias, projetos, programas, para que a gente transforme esse potencial do Brasil em bons empregos, em boas oportunidades para os jovens brasileiros”.

Sobre disputar um novo mandato eletivo em 2026, Hartung fez uma analogia entre Kassab e o novo técnico da Seleção Brasileira, o italiano Carlo Ancelotti, que, no mesmo dia, fez sua primeira convocação: “Não foi para isso que eu fui convocado. Eu sigo o mestre aqui, que o mestre é bom de convocações…”

Ele reiterou que, além de colaborar na formação de quadros, pretende ajudar a construir a programa do PSD: “O meu papel, pelo menos foi para isso que eu fui convocado pelo mestre Kassab, melhor do que o futuro técnico da Seleção Brasileira falando de política, é justamente para formar lideranças e ajudar nessa construção programática para a gente seguir em frente para melhorar o nosso país”.

Eleições presidenciais: “Vamos ter candidatura própria”, diz Kassab

Hartung citou Ratinho Júnior, Eduardo Leite e Tarcísio de Freitas como “boas alternativas para o país”. Definiu o governador de São Paulo como “um nome espetacular”.

“Acho que o partido está bem servido. Se você olhar para aquele palco ali, você vai ver o Ratinho num lado, o Eduardo Leite no outro. Você vê dois jovens talentosos, bons de política, bons de administração. A gente tem que combinar a boa política com a boa gestão. Os dois combinam. Então nós temos hoje alternativas boas no nosso país, inclusive fora do nosso partido. A gente tem tranquilidade de ver fora do nosso partido, por exemplo, o governador de São Paulo. Está fora do nosso partido, é um aliado e está fazendo uma boa administração, então nós temos outras opções”, afirmou o ex-governador.

Para ele, diferentemente de 2018 ou de 2022, existe hoje um novo ciclo de lideranças se formando no país. “Eu ouso dizer que um deles vai ser presidente da República. Isso vai ser muito bom para a gente, a gente oxigenar o país e criar aí um espaço novo de trabalho e de realizações”.

Quanto à corrida presidencial, Kassab foi taxativo: o PSD terá candidato próprio. Ele não descarta, porém, vir a apoiar Tarcísio em uma frente de direita, caso o governador de São Paulo decida-se por ser candidato – muito embora o PSD esteja no governo Lula, inclusive com três ministérios. No momento, o governador de São Paulo espera uma sinalização por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político, que insiste em dizer que vai concorrer, embora esteja inelegível.

“A posição do PSD é muito clara: nós vamos ter candidatura própria”, carimbou Kassab. “Nós temos, tínhamos um excelente candidato, o Ratinho Júnior, que já está em campo, está construindo plano de governo, está visitando e conhecendo o Brasil inteiro. E agora vem [se] somar a ele o Eduardo Leite, que é outro grande quadro, também se colocando à disposição para ser candidato. E todos sabem também que no mesmo campo, como o Paulo acabou de citar, nós temos o Tarcísio, que está no mesmo campo político, que tem também as suas preocupações, ele tem o seu dever de lealdade junto ao presidente Bolsonaro, sabe a hora de se manifestar, de se posicionar. O PSD, no momento, trabalha ter candidato próprio. E nós temos dois bons pré-candidatos.”

Segundo o grande líder do partido de centro-direita no país, ter candidato próprio à Presidência é um sonho e um passo importante para o crescimento do PSD: “Não há grande partido que não queira ter o sonho, não há grande partido que se consolide sem ter uma candidatura própria nas eleições majoritárias, para prefeito, para governador, para presidente da República. Essa é a razão do PSD afirmar que terá um candidato para presidente da República”.

Com “visão de coruja” – na definição de Paulo Hartung –, o ex-prefeito de São Paulo lembrou que, em 2022, o PSD chegou a trabalhar a pré-candidatura do senador Rodrigo Pacheco (MG), então presidente do Senado, mas o próprio preferiu não se lançar, deixando o partido sem tempo de buscar uma alternativa. Agora, segundo ele, o cenário é outro, pois, além de ter crescido muito desde então, o PSD já tem neste momento dois governadores de grandes estados como presidenciáveis:

“Quatro anos atrás, nós levamos a candidatura. Ele [Rodrigo Pacheco] entendeu que iria ser mais importante como presidente do Senado. Aí não tivemos mais tempo de viabilizar uma candidatura e ficamos sem apoiar ninguém. Nessa é diferente. O partido cresceu, tem bons quadros, tem dois postulantes. No primeiro momento o Ratinho, que já está em campo, tem todo o nosso apoio. E chegando agora, se somando, o Eduardo Leite passa também a ser uma alternativa importante”.

Entre o jantar de boas-vindas a Hartung no domingo e a cerimônia de filiação na segunda-feira, fizeram-se presentes a bancada de senadores do PSD, os quatro governadores da sigla, os prefeitos do partido nas capitais (exceto Eduardo Braide, de São Luís), o líder do PSD na Câmara, Antônio Brito, e outros deputados federais.

O multifacetado PSD

Hartung define o PSD como um partido de “centro”. Está mais na centro-direita, até porque, originalmente, derivou do Democratas (DEM), antigo Partido da Frente Liberal (PFL), por sua vez descendente direto da Arena, o partido de sustentação da ditadura civil-militar que governou o Brasil de 1964 a 1985.

Atualmente, o PSD é, no Congresso, um dos principais representantes do Centrão. Como o MDB em seus áureos dias, as divisões do grande partido são flagrantes no mapa político nacional. O PSD é governo Lula? Sim, é governo Lula. Tanto que ocupa três lugares na Esplanada dos Ministérios. Na Bahia, por exemplo, é aliadíssimo do PT. Na cidade do Rio de Janeiro, a segunda maior do país, tem no prefeito Eduardo Paes um grande aliado do presidente da República. Ao mesmo tempo, em São Paulo, é importante na coalizão de Tarcísio de Freitas, um dos maiores aliados de Bolsonaro. E, em estados da Região Sul, está muito mais alinhado à direita.