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Coluna Vitor Vogas

Neucimar: “Sou candidato”. Como isso afeta o jogo eleitoral em VV?

Análise: como entrada de Neucimar pode forçar um 2º turno; a chapa “anti-Arnaldinho” do PP; a possível mão de gato do Palácio para reduzir o prefeito

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Neucimar Fraga. Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Até o início deste ano, a eleição em Vila Velha tinha um, e apenas um, candidato certo à prefeitura. O atual prefeito, Arnaldinho Borgo (Podemos), simplesmente não tinha concorrentes. De um mês para cá, esse cenário mudou radicalmente. No dia 4 de março, em plenária municipal, o PT aprovou a tese de lançamento de candidatura própria. A dúvida é se será o ex-vereador Babá ou o economista Edinho Wilson. No dia 18 de março, assinando sua filiação ao PL, o coronel Alexandre Ramalho confirmou sua pré-candidatura pelo partido de extrema-direita. No dia 28, após assumir a presidência do PSDB em Vila Velha, o ex-vereador Maurício Gorza anunciou que também é pré-candidato, representando o grupo político do ex-prefeito Max Filho (PSDB).

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Agora, é a vez de outro ex-prefeito bagunçar ainda mais esse coreto: presidente municipal do Progressistas (PP), Neucimar Fraga declarou ontem: “Serei candidato a prefeito. Minha candidatura é irreversível”.

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Enfático, o anúncio do ex-prefeito e ex-deputado até certo ponto surpreende, pois o lançamento de Neucimar nunca foi tratado como prioridade nem mesmo dentro da Executiva Estadual do PP, presidida por Josias da Vitória. No início do ano, o deputado federal chegou a convidar Ramalho para concorrer a prefeito pelo partido – negociação que não avançou.

Com a ida de Ramalho para o PL, Da Vitória deu a esta coluna uma entrevista em que, veementemente, afirmou que o PP queria filiar Arnaldinho Borgo (tirando-o do Podemos) para bancar a reeleição do atual prefeito, com casa, comida e roupa lavada. Se Arnaldinho não topasse o convite, o PP, segundo Da Vitória, passaria a lutar pela indicação do candidato a vice de Arnaldinho, compondo a coligação liderada por ele na disputa majoritária em Vila Velha.

Mas, jogando parado e calado, Arnaldinho decidiu continuar no Podemos. Quanto a seu candidato a vice-prefeito – assim comenta todo mundo em Vila Velha –, no fundo já está escolhido, mas só será anunciado lá na virada de julho para agosto. Será o presidente da Câmara de Vila Velha e parceiraço político de Arnaldinho, Bruno Lorenzutti, filiado ao MDB na última terça-feira (2). Portanto, o partido do vice-governador Ricardo Ferraço pulou na frente e já guardou esse lugar tão cobiçado.

O que restou ao PP, então? Restou ir à luta no 1º turno, com nova candidatura de Neucimar Fraga ao cargo (a quinta seguida desde 2008). As chances de o ex-prefeito ir bem a ponto de chegar ao 2º turno são remotas, o que também vale para o candidato do PT e, mais ainda, para Maurício Gorza (PSDB).

Mas, em primeiro lugar, sustentando candidatura própria, tanto Neucimar como o PP se valorizam e se fortalecem no processo eleitoral, credenciando-se para negociar melhores condições para ele e para o partido com os candidatos que passarem ao 2º turno.

Em segundo lugar, vocês notaram, né? Já estamos falando em 2º turno em Vila Velha! Pois é… O inesperado ingresso de Neucimar tende a embolar ainda mais um jogo que já vinha se embolando… e aumenta as chances de levar a decisão em Vila Velha para dois turnos, e não mais apenas um, como vinha se desenhando até então. Em outras palavras, reduz as chances de Arnaldinho levar a fatura em turno único. Obriga-o a gastar muito mais tempo e saliva negociando com outras forças políticas. E Neucimar e o PP são forças políticas, em nível local e estadual, que não podem ser ignoradas.

Até meados de fevereiro, quando Arnaldinho ainda navegava solo nesses mares do litoral canela-verde (ou nos canais de Vila Velha ou até nas ruas inundadas da minha amada Itapuã), ninguém duvidava de uma vitória acachapante em um só turno. A entrada de Ramalho nessas águas já lançou um primeiro quê de dúvida: a priori, o favoritismo do atual prefeito não seria colocado em xeque, mas ele teria de suar muito mais a camisa para ganhar em turno único. Isso se a eleição ficasse polarizada entre os dois no 1º turno.

Mas a soma de outros três candidatos – o do PT, o do PSDB e o do PP – pode reduzir drasticamente as chances de uma vitória de Arnaldinho em turno único.

Essas três “forças”, a princípio, hoje são de fato “fortes” na cidade? Não. Mas, individualmente, nenhuma delas pode ser desprezada e, somadas, as três reconfiguram as projeções eleitorais na cidade.

Levando em conta só o voto ideológico, enraizado na esquerda, o candidato do PT pode com segurança obter de 10% a 15% dos votos válidos.

Como personalidade política, Maurício Gorza tem baixíssima expressão; mas, apresentado-se como o candidato de Max, digamos que consiga alcançar de 5% a 10% dos votos.

Neucimar atingiu 39.539 mil votos na última disputa a deputado federal. Só não beliscou uma vaga por causa da regra de distribuição das sobras vigente naquele pleito. Tem um eleitorado cativo na cidade, especialmente junto a classes populares. Pode bater de 10% a 20% dos votos. Tudo somado, esse trio, na pior hipótese, pode abocanhar 25% dos votos. Fica muito mais difícil para Arnaldinho chegar aos 50% + 1 para liquidar a fatura já no dia 6 de outubro.

Tudo isso, é claro, é exercício de futurologia, mas não nos parece nem um pouco infactível.

Exatamente com isso em mente, o sempre muito calculista Neucimar agora não abre mão de ser candidato, como indica à coluna: “Se um candidato como esse bater 5 pontos percentuais, já gera algum tipo de influência no resultado da eleição”, resume o ex-prefeito. “A eleição de Vila Velha agora terá 2º turno. Se somarmos todos os fatores, acho muito difícil decisão em 1º turno”, projeta.

“O PP decidiu que sou um nome competitivo. Formamos um bom grupo e estamos com uma chapa de vereadores excelente na cidade. Havia uma discussão sobre apoiarmos Ramalho ou Arnaldinho. Mas nosso grupo na Executiva Municipal decidiu lançar candidatura própria. Também conversei com o Da Vitória, que nos deu o aval para tocar o projeto aqui. É irreversível, Vitor. Serei candidato! Não vai ter golpe”, ri-se um espirituoso Neucimar, parodiando o bordão de petistas que lutavam contra o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).

De volta à seriedade, ele assegura: “Tenho o respeito e o reconhecimento do Diretório Estadual, que acha minha candidatura importante hoje na Grande Vitória. É importante marcar a presença do partido nas eleições de Vila Velha”. Na Região Metropolitana, o PP só tem candidato a prefeito na Serra (Audifax Barcelos) e em Guarapari (Zé Preto).

“Vamos dialogar com a cidade. A ‘Vila Velha do futuro’ ainda não chegou. Ainda temos problemas de um passado bem antigo que não foi possível resolver. E Vila Velha tem uma tradição de não votar nas pessoas só pelo que fazem, mas pelo que ainda falta fazer”, formula Neucimar.

Poderíamos completar, de modo ainda mais objetivo: o eleitor vilavelhense tem a fundada fama de ser muito exigente. Lá o sarrafo é alto. Existe um tabu do qual foi vítima o próprio Neucimar em 2012 e que também derrubou Rodney Miranda em 2016 e Max Filho quatro anos depois: o último (e único) prefeito da história da cidade a conseguir se reeleger foi o mesmo Max, no distante ano de 2004.

Não há mais chance alguma de composição nem com Arnaldinho nem com Ramalho no 1º turno, encerra Neucimar: “Sem chance. Agora vamos dialogar com a cidade, respeitando os adversários”.

A chapa “anti-Arnaldo” do PP

A chapa do PP à vereança em Vila Velha realmente ficou forte, como afirma Neucimar. No período de janela partidária, cerrada ontem, o partido do ex-prefeito filiou nada menos que três vereadores com mandato, que se somam a Renzo Mendes (o único que já era do PP), totalizando agora quatro dos 17 atuais vereadores da Câmara. Os recém-chegados são os vereadores Fabio do Vale, Heliosandro Mattos e Jonimar. Haverá 21 vagas em disputa para a próxima legislatura (2025-2028).

Coincidência ou não (será?), se podemos dizer que, dos 17 vereadores atuais, três representaram alguma foco de oposição, ou não alinhamento com a gestão Arnaldinho, foram exatamente os três que agora unidos na chapa chegam ao PP, unindo-se na chapa e na bancada do partido: Do Vale, Heliosandro e Jonimar. Neucimar jura que não foi esse o critério de formação da chapa. “Não foi esse o critério (risos). Nesse tabuleiro de troca de partidos, as pedras vão se encaixando”, desconversa.

Como noticiado aqui, o ex-deputado estadual Dr. Hércules Silveira também confirmou sua filiação ao PP para concorrer a vereador.

Reduzindo Arnaldinho”: a possível mão de gato do Palácio Anchieta

O que explica o súbito lançamento de tantas pré-candidaturas numa cidade cujo cenário eleitoral, até dois meses atrás, estava um marasmo?

No meio político de Vila Velha, muita gente começa a aventar a hipótese de que, por trás de alguns desses movimentos, pode estar até o Palácio Anchieta. Por quê? Para murchar um pouco o tamanho de Arnaldinho Borgo.

O governo Casagrande apoia a reeleição do prefeito, assim como (até segunda ordem) o PSB, partido do governador.

Mas já não falta quem sustente a seguinte tese: o governo Casagrande quer, sim, ver a vitória de Arnaldinho, mas não no 1º turno e muito menos com um tamanho descomunal. Ao Palácio Anchieta, não seria nada mau que o prefeito abaixasse um pouco a bola.

Isso porque uma vitória arrasadora de Arnaldinho o fortaleceria demais com vistas ao passo seguinte: as eleições estaduais de 2026. Ninguém seguraria o prefeito, hoje mais subordinado politicamente ao Palácio, para negociar nos seus termos sua possível candidatura à sucessão de Casagrande. O Palácio já não teria o menor controle sobre ele e seus movimentos.

Em outras palavras, também o Palácio Anchieta não vê com maus olhos uma eleição em dois turnos em Vila Velha – e, discretamente, poderia estar estimulando isso –, para reduzir o tamanho de Arnaldinho. Não para puxar-lhe o tapete, mas para reduzir-lhe o topete.

O surpreendente movimento do PSB de Vila Velha nessa sexta

Um movimento surpreendente ensaiado ontem pelo PSB de Vila Velha reforça profundamente essa tese.

A vereadora Patrícia Crizanto é a única do PSB em Vila Velha e, a princípio, é a aposta do partido para ser a puxadora de votos na disputa parlamentar.

Ocorre que, no meio do dia, agentes do PSB e da Federação formada por PT, PV e PCdoB exercitaram a ideia de formarem uma frente eleitoral de esquerda na cidade, lançando ninguém menos que Patricia como candidata a prefeita dessa possível coligação. Não foi cascata nem blefe. Foi um exercício levado seriamente à frente, a ponto de a vereadora ter ficado tentada de verdade a embarcar.

A informação é confirmada por ninguém menos que Alberto Gavini, presidente estadual do PSB e espécie de porta-voz de Casagrande nas articulações partidárias. Para abafar o ensaio de rebelião, Gavini se deslocou até Vila Velha e, no fim da tarde, tomou um café com a própria Patrícia Crizanto, para “dar uma segurada” nesse movimento.

“Isso precisa passar pela Executiva Estadual do PSB. E a Executiva Estadual mantém o apoio do partido à reeleição de Arnaldinho. Essas coisas podem mudar, mas é o que está posto no momento.”

“No momento.”

RÁPIDAS

Maturano no PRD

O vereador Osvaldo Maturano, fiel a Arnaldinho, trocou o PSDB de Max Filho pelo Partido da Renovação Democrática (PRD), um dos 11 sob a alçada do atual prefeito.

Davi Esmael no Republicanos

Em Vitória, o vereador Davi Esmael conseguiu realizar seu sonho: disputará a reeleição pelo Republicanos, partido do prefeito Lorenzo Pazolini e de orientação evangélica.

Bruno Lamas fora do páreo

Na Serra, o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Bruno Lamas (PSB), retirou a pré-candidatura a prefeito. O PSB vai mesmo se coligar com o PDT e apoiar Weverson Meireles, candidato do prefeito Sérgio Vidigal.

Capitã Andresa idem

A capitã do Corpo de Bombeiros, então tenente, disputou a eleição de 2022 como candidata a vice-prefeita de Audifax Barcelos. Mas afirma que não participará do pleito deste ano.

Errata

A coluna inicialmente incluiu o vereador Renzo Mendes como um dos focos de oposição a Arnaldinho na Câmara de Vila Velha. No entanto, ele é e sempre foi da base do prefeito. A informação foi corrigida acima.


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