Coluna Vitor Vogas
Marcelo Santos: qual é o saldo eleitoral do presidente da Assembleia?
Chefe do Legislativo Estadual foi um personagem à parte nas últimas eleições municipais. Ninguém, sem ter sido candidato, fez mais campanha do que ele (de maneira multipartidária) por todo o Espírito Santo. Quantos aliados de Marcelo ganharam e em quais cidades? Quantos perderam e onde? Levantamos e apresentamos aqui o saldo político do futuro candidato a federal
O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União Brasil), foi um grande personagem das últimas eleições municipais no Espírito Santo. Não sendo candidato a nada, foi muito mais “candidato” que muita gente. Como ninguém, exercitou a arte da “ubiquidade”, multiplicando-se e fazendo-se presente em cada canto do Estado. Fez campanha em ritmo alucinante, difícil de acompanhar até pelas redes sociais.
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O Instagram de Marcelo é um espetáculo à parte – sendo ele mesmo, com frequência, uma espécie de showman. Ali, no perfil do deputado, está plenamente documentada a movimentação frenética de Marcelo durante o período eleitoral, possivelmente sem precedentes para um chefe do Legislativo Estadual, por meio de numerosos vídeos e fotos dele mesmo em campanha ao lado dos seus aliados, praticamente em toda parte, quase sempre com o punho erguido que é uma das suas marcas.
No alto de trios elétricos, carregado por uma bicicleta, em reunião no meio do nada, em alpendre fracamente iluminado num distrito rural de Nova Venécia… o homem não parou por um momento e até fez graça neste post: “Por aqui é ‘lapada’ de canto a canto do Espírito Santo!”
Também com ajuda do Instagram de Marcelo, no qual passamos o pente fino, concluímos que o presidente da Assembleia teve candidato a prefeito em 76 dos 78 municípios capixabas. Ele só não declarou apoio a ninguém em Aracruz e na pequena Irupi.
A rede social de Marcelo também nos permite constatar que, só no 1º turno, ele, comprovadamente, fez campanha in loco em 57 desses 76 municípios nos quais apoiou alguém, participando pessoalmente de atividades de rua, reuniões e comícios ao lado do candidato apoiado. Em algumas cidades, como Anchieta e Muniz Freire, ele chegou a ir mais de uma vez.
Os outros 19 candidatos de Marcelo receberam manifestação de apoio a distância (declarações publicadas no Instagram), mas o deputado não esteve pessoalmente com eles em campanha.
Agora prestem atenção neste número: em 56 dias de período oficial de campanha no 1º turno, Marcelo visitou nada menos que 57 cidades (mais de uma por dia, em média), fora do “horário comercial” na Assembleia: à noite e nos fins de semana. Não me perguntem como.
E o saldo político de Marcelo? Foi positivo ou negativo? Fizemos esse levantamento, sempre tomando por base os posts do próprio presidente da Assembleia no Instagram.
O saldo positivo de Marcelo
Dos 76 candidatos a prefeito apoiados por ele, 44 se elegeram nas respectivas cidades. Os outros 32 perderam. Se não chega a ser esplendoroso, o saldo certamente é positivo (+12). O presidente pode afirmar que ajudou a eleger 44, ou seja, mais da metade dos próximos 78 prefeitos no Espírito Santo.
Na verdade, ele está dizendo até mais que isso: em postagem no Instagram publicada em 8 de outubro, dois dias após o 1º turno, o presidente afirmou ter ajudado a eleger 47 prefeitos. O número não bate com o do nosso levantamento, e a própria fotomontagem publicada por Marcelo no mesmo post só contém 45 prefeitos eleitos (sendo um deles Dorlei Fontão, de Presidente Kennedy, cuja votação está sub judice). Dá 44 mesmo. Marcelo deu uma puxadinha para cima.
E quanto ao “teste de Midas”? Como dito, dos 76 candidatos de Marcelo, 57 foram apoiados presencialmente por ele. Desses, 30 ganharam e 27 perderam. É quase um empate.
Vitórias e derrotas mais sentidas
Considerando os maiores municípios capixabas, Marcelo apoio os candidatos triunfantes em Vitória (Pazolini, do Republicanos), Vila Velha (Arnaldinho, do Podemos), Viana (Wanderson Bueno, do Podemos), Linhares (Lucas Scaramussa, do Podemos) e no seu reduto original, Cariacica (Euclério Sampaio, do MDB), todos esses in loco, além do prefeito eleito de São Mateus, Marcus da Cozivip (Podemos), sem ter ido lá no período de campanha.
Em compensação, Marcelo sofreu alguns reveses importantes. Perdeu solidariamente em Colatina (com Guerino Balestrassi, do MDB), em Guarapari (com o colega de plenário Zé Preto, do PP) e em Cachoeiro de Itapemirim (com Diego Libardi, do Republicanos).
Ex-afilhado político de Theodorico Ferraço (PP), Libardi foi derrotado justamente pelo veterano deputado estadual. Desde que Marcelo chegou à presidência da Assembleia, no ano passado, sua relação com Ferraço melhorou bastante, mas os dois são antigos desafetos na política capixaba. Em Cachoeiro, portanto, Marcelo perdeu para um velho adversário.
Mas a derrota mais doída para o presidente da Ales foi a de Pablo Muribeca (Republicanos) na Serra, no 2º turno, para Weverson Meireles (PDT). O revés aí foi proporcional ao empenho colocado por Marcelo na campanha. Não vou nem falar de 2º turno. Só no 1º, Marcelo publicou registros de sua participação em quatro atos de campanha de Muribeca. Foi, com sobras, a campanha na qual ele se fez mais presente. Marcelo botou Muribeca debaixo do braço e, desde o ano passado, selou com ele uma parceria política forte.
Em princípios de setembro, quando o presidente da Assembleia fez um movimento mal calculado, tentando reunir num só evento promovido por ele todos os “seus” candidatos na Grande Vitória, Muribeca foi o único a dar as caras lá, em prova irrefutável da ligação entre os dois. Pazolini, Euclério, Arnaldinho e Wanderson passaram longe. Foi um movimento pretensioso demais, o mais equivocado de Marcelo ao longo do processo eleitoral.
Finalmente, Marcelo sofreu algumas derrotas menores, em disputas para vereador. Em Vitória, ele declarou apoio e foi até a evento de campanha do vereador Duda Brasil, líder de Pazolini na Câmara e filiado ao PRD pelo presidente da Assembleia. Dos 14 vereadores de Vitória que buscaram a reeleição, Duda foi um dos quatro únicos que não conseguiram renovar o mandato.
Em Cariacica, terra de Marcelo, o presidente da Ales declarou apoio e compareceu a evento do veterano Edson Nogueira (Podemos), aliado histórico dele. Nogueira foi até bem votado (2.437 votos), mas não conseguiu se reeleger. Na cidade, o presidente da Assembleia também apoiou a candidatura de Nina Santos (Podemos), mas ela só teve 843 votos.
Por fim, Marcelo acumulou derrotas em uma microrregião onde exerce forte influência política: o Litoral Sul. Seus candidatos perderam em Guarapari, Marataízes e Itapemirim. Em Presidente Kennedy, Dorlei Fontão ganhou, mas não levou.
Multipartidarismo
Os apoios de Marcelo são totalmente suprapartidários. Não obedecem a razões ideológicas nem a critérios relacionados à fidelidade partidária. Respondem, antes, a relações de afinidade e acordos políticos construídos pessoalmente por Marcelo, caso a caso, em cada município. Vai daí que, no rol de apoiados por Marcelo, temos, literalmente, de PT a PL.
Em São Gabriel da Palha, o presidente da Assembleia apoiou in loco a reeleição do prefeito Tiago Rocha, filiado ao PL de Jair Bolsonaro e bem-sucedido nas urnas. Em Mantenópolis, a menos de 100 quilômetros de distância (e separada apenas por Águia Branca), o presidente da Assembleia apoiou pessoalmente a candidatura de Varly Lima, filiado ao PT de Lula e não tão bem-sucedido.
Marcelo conseguiu a “façanha” de apoiar candidatos a prefeito de 13 partidos políticos diferentes. Os 44 eleitos apoiados por ele estão distribuídos por 12 agremiações (a exceção é o PT, já que Varly perdeu em Mantenópolis).
A maior quantidade deles é do PSB, do governador Renato Casagrande. Depois vêm Podemos, PP e Republicanos. Do União Brasil, seu partido, ele só apoiou cinco candidatos e apenas um ganhou: o de Jaguaré, Marcos Guerra.
O que Marcelo ganha com isso?
Marcelo Santos quer ser candidato a deputado federal em 2026. Já saiu da última eleição a estadual, em 2022, dizendo isso, antes mesmo de chegar à presidência da Assembleia.
Com só dez vagas em jogo no Espírito Santo, a disputa para a Câmara dos Deputados é profundamente concorrida. Dizem que é a mais difícil de todas as eleições. A menos que tenha um padrinho muito forte em alguma cidade grande (casos de Messias Donato com Euclério e Victor Linhalis com Arnaldinho em 2022), o candidato precisa estar bem presente na maior parte do território capixaba, para alcançar uma votação extensa, pulverizada pelo Estado.
É o que Marcelo procurou fazer nesta eleição, apoiando tanta gente e fazendo campanha em ritmo frenético. Além de buscar estabelecer alianças e bases sólidas em cidades populosas da Grande Vitória, ele buscou “interiorizar” ainda mais sua influência política – que já não é pequena, como presidente da Assembleia. O mesmo objetivo é cumprido, ainda que indiretamente, por aquele programa de incentivo à agricultura mantido, de maneira inusitada, pela Ales, na gestão Marcelo Santos.
Apoiando e ajudando a eleger dezenas de prefeitos de norte a sul do Espírito Santo, Marcelo também expande uma rede de aliados que podem vir a apoiá-lo, reciprocamente, para deputado federal em 2026. É preciso ter em mente, porém, que em muitos casos o palanque foi dividido por Marcelo com ouros potenciais candidatos a deputado federal daqui a menos de dois anos.
Nessa lista também entram, por exemplo, Tyago Hoffmann (PSB), Erick Musso (Republicanos), Gilson Daniel (Podemos) e Josias da Vitória (PP). Os quatro também ajudaram a eleger muitos prefeitos em dezenas de cidades capixabas e podem concorrer ao mesmo cargo em 2026. No caso de Gilson e de Da Vitória, serão candidatos à reeleição se não lançarem candidatura a cargo majoritário.
ONDE MARCELO GANHOU? ONDE ELE PERDEU?
Abaixo, apresentamos a relação completa de cidades onde Marcelo ganhou e onde perdeu a disputa pela prefeitura, com os respectivos candidatos e partidos. Grifadas, estão as cidades visitadas por ele entre 16 de agosto e 05 de outubro.
GANHOU (44/76)
Marcelo ganhou em 44 dos 76 municípios em que ele apoiou algum candidato a prefeito. Em 30 dos 44, ele fez campanha presencialmente.
- Água Doce do Norte: Abraão (PSB)
- Alegre: Nirrô (PP)
- Alfredo Chaves: Hugo Luiz (PP)
- Alto Rio Novo: Alexandro da Padaria (PSD)
- Anchieta: Léo Português (PSB)
- Apiacá: Márcio Keres (PSB)
- Baixo Guandu: Lastênio Cardoso (MDB)
- Barra de São Francisco: Enivaldo dos Anjos (PSB)
- Boa Esperança: Claudio Boa Fruta (PRD)
- Brejetuba: Levi da Mercedinha (PP)
- Cariacica: Euclério Sampaio (MDB)
- Castelo: João Paulo Nali (Republicanos)
- Divino de São Lourenço: Dudu Queiroz (PSB)
- Dores do Rio Preto: Thiaguinho (PP)
- Fundão: Eleazar Lopes (Podemos)
- Governador Lindenberg: Leonardo Finco (PP)
- Ibiraçu: Duda Zanotti (Podemos)
- Ibitirama: Reginaldo (PSB)
- Iconha: Gedson Paulino (Republicanos)
- Itarana: Vander (PSB)
- Iúna: Romário (Podemos)
- Jaguaré: Marcos Guerra (União)
- Jerônimo Monteiro: Zé Valério (PSD)
- João Neiva: Micula (Republicanos)
- Laranja da Terra: Joadir (PSDB)
- Linhares: Lucas Scaramussa (Podemos)
- Marilândia: Gutim (PSB)
- Mimoso do Sul: Peter (Republicanos)
- Mucurici: Dica (PSB)
- Nova Venécia: Lubiana Barrigueira (PSB)
- Pancas: Guima (PP)
- Pedro Canário: Kleilson Rezende (PSB)
- Piúma: Paulo Cola (Cidadania)
- Rio Novo do Sul: Nei Castelari (Podemos)
- Santa Leopoldina: Fernando Rocha (PDT)
- Santa Teresa: Kleber Medici (PSDB)
- São Gabriel da Palha: Tiago Rocha (PL)
- São Mateus: Marcus da Cozivip (Podemos)
- São Roque do Canaã: Marcos Guerra (PSDB)
- Vargem Alta: Elieser (MDB)
- Viana: Wanderson Bueno (Podemos)
- Vila Pavão: João Trancoso (PSB)
- Vila Velha: Arnaldinho Borgo (Podemos)
- Vitória: Lorenzo Pazolini (Republicanos)
PERDEU (32/76)
Marcelo perdeu solidariamente em 32 dos 76 municípios em que ele apoiou algum candidato a prefeito. Em 27 desses 32, ele fez campanha presencialmente.
- Afonso Cláudio: Márcio CDA (Podemos)
- Águia Branca: Vaninho (PSB)
- Atílio Vivácqua: Genaldo (Republicanos)
- Bom Jesus do Norte: Marquinho Messias (PP)
- Cachoeiro de Itapemirim: Diego Libardi (Republicanos)
- Colatina: Guerino Balestrassi (MDB)
- Conceição da Barra: Mateusinho (Podemos)
- Conceição do Castelo: Professor Wesley (Republicanos)
- Domingos Martins: Carlinhos Borboleta (PP)
- Ecoporanga: Jefinho Dal’Col (Podemos)
- Guaçuí: Jauhar (Podemos)
- Guarapari: Zé Preto (PP)
- Ibatiba: Dra. Criziane (MDB)
- Itaguaçu: Uesley Corteletti (PP)
- Itapemirim: Dr. Antônio (União)
- Mantenópolis: Varly Lima (PT)
- Marataízes: Tininho (Republicanos)
- Marechal Floriano: Felipe Del Puppo (MDB)
- Montanha: André Sampaio (PSB)
- Muniz Freire: Evandro Paulúcio (PDT)
- Muqui: Frei Paulão (PSB)
- Pinheiros: Gildevan Fernandes (União)
- Ponto Belo: Murilo Coelho (PSDB)
- Presidente Kennedy: Dorlei Fontão (PSB)
- Rio Bananal: Edimislon (MDB)
- Santa Maria de Jetibá: Rogério Schereder (Podemos)
- São Domingos do Norte: Pedro Pão (PSD)
- São José do Calçado: Leandro do Hospital (Republicanos)
- Serra: Pablo Muribeca (Republicanos)
- Sooretama: Willian Calango (União)
- Venda Nova do Imigrante: Tarcísio Bottacin (União)
- Vila Valério: Robinho Parteli (PSD)
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