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Coluna Vitor Vogas

Marcelo Santos pode tomar partido de Rigoni e ir para o União Brasil

Decidido a sair do Podemos, presidente da Ales vem se articulando diretamente com caciques nacionais da sigla, acima de Casagrande, que dá um recado

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Da esquerda para a direita: Renato Casagrande, Marcelo Santos e Felipe Rigoni.

É como define, valendo-se de uma ótima metáfora, um velho amigo e aliado do presidente da Assembleia Legislativa: “Marcelo Santos é como o Ronaldinho Gaúcho jogando futebol: olha para um lado e toca a bola para o outro”. Por isso, só as próximas semanas dirão se o movimento relatado aqui vai se concretizar ou não. Mas a intenção existe. A articulação é real. Com um pé e meio fora do Podemos, Marcelo Santos pretende se filiar ao União Brasil. E não quer apenas chegar para compor e ser mais um quadro. Quer entrar no partido para presidi-lo no Espírito Santo, no lugar do atual presidente, Felipe Rigoni.

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O primeiro ponto que precisa ser recapitulado, independentemente do destino do presidente da Assembleia, é que é certa a sua saída do Podemos. No partido presidido no Estado pelo deputado federal Gilson Daniel, Marcelo não fica mais. A separação será amigável e consensual. Gilson e Marcelo concordam que a desfiliação é o melhor para todas as partes. Os caminhos de um e de outro já não convergem há algum tempo. Com altas aspirações eleitorais, o presidente da Assembleia tem trilhado um caminho solo, liderando o próprio movimento político-eleitoral. E, em muitas situações concretas, esse movimento “não bate” – aliás, “bate de frente” – com o do próprio partido.

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Nesta fase preparatória para as próximas eleições municipais, em cidades como Anchieta, Marataízes, Nova Venécia e, destacadamente, Vitória, Marcelo apoia algum adversário do candidato apoiado ou até lançado pelo Podemos. Na Capital, Gilson Daniel mantém a todo custo a candidatura da vice-prefeita, Capitã Estéfane, notório desafeto de Lorenzo Pazolini (Republicanos), enquanto Marcelo se perfila com o atual prefeito. Na Serra, o Podemos está com o PDT de Vidigal e Weverson Meireles. Marcelo já declarou apoio a Pablo Muribeca (Republicanos).

Concordando que a situação se tornou insustentável, Gilson Daniel e Marcelo já firmaram um acordo. Como presidente estadual do Podemos, o primeiro assentiu em dar ao segundo uma carta de anuência, firmando no papel o compromisso de que o partido não reclamará o mandato de Marcelo à Justiça Eleitoral. Equivalente a uma carta de alforria, um passe livre para o deputado se desfiliar no meio do mandato sem correr o risco de perdê-lo, o documento será assinado por Gilson e também, a pedido deste, pela presidente nacional do Podemos, a deputada federal Renata Abreu.

De posse da carta de anuência – que lhe seria entregue por Gilson nesta semana –, Marcelo entrará com ação declaratória de justa causa para desfiliação no Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES). Seu representante na causa será Marcelo Nunes, um dos mais renomados especialistas em Direito Eleitoral no Estado. O advogado já está com a ação no forno, só esperando a juntada da carta de anuência para dar entrada no TRE-ES.

Como a carta de anuência é reconhecida invariavelmente como justa causa, a liberação de Marcelo será o cumprimento de um rito formal, e o julgamento no tribunal não deve tardar muito. Mas, cercando-se de todas as cautelas, Marcelo só entrará em novo partido quando a ação for julgada… o que não quer dizer que já não esteja se movimentando.

Como não dá ponto sem nó, Marcelo já está a preparar a sua cama naquele que hoje é um dos maiores partidos do país: o União Brasil, dono da terceira maior bancada eleita na Câmara dos Deputados em 2022 (atrás de PL e PT), com 58 integrantes.

Em consonância com seus planos de crescimento político, Marcelo só tem interesse em entrar no União sob a condição de assumir a presidência, em substituição a Rigoni. E é exatamente nesse sentido que caminham suas tratativas com os dirigentes nacionais do União. Como o próprio não esconde de ninguém e eu mesmo já registrei aqui, Marcelo quer um partido grande que ele mesmo possa dirigir no Espírito Santo e que comporte seu projeto de candidatura a deputado federal (ou até cargo maior) em 2026.

Também não é de hoje o seu flerte com o União Brasil, que agora evoluiu para namoro escondido, a portas fechadas. Não dá para assumir publicamente porque o União hoje tem outro cacique no Espírito Santo: chama-se Felipe Rigoni.

Rigoni não entregou o que prometeu

Com esse propósito, conforme a apuração da coluna, Marcelo esteve em abril com Antonio de Rueda, presidente em exercício da Comissão Executiva Nacional do União Brasil, cujo mandato vence no fim do mês. Da parte da direção nacional do União, haveria interesse em trocar a guarda do partido no Espírito Santo. Os caciques nacionais não andariam lá muito satisfeitos com a condução e, notadamente, com o desempenho de Rigoni à frente da legenda nesta capitania.

A avaliação seria que os resultados entregues por Rigoni estão aquém do esperado e não condizem com o tamanho que tinha o partido quando da fusão do DEM com o PSL e da chegada dele à presidência estadual, nem com o porte da bancada do União na Câmara dos Deputados, muito menos com a dimensão adquirida pela agremiação nacionalmente nos últimos dois anos. O partido que hoje figura entre os cinco maiores do país e que cogita até lançar candidato à Presidência em um par de anos é, hoje, simplesmente, uma sigla pequena no Espírito Santo.

Uma análise fria indica que de fato, em termos numéricos – levando em conta a quantidade de mandatos, critério mais relevante para qualquer legenda –, o União no Espírito Santo não tem entregado bons resultados à cúpula nacional desde a ascensão de Rigoni à presidência, em março de 2022. Mesmo sem conhecerem bem Marcelo, os caciques nacionais estariam dispostos a apostar em um novo presidente estadual na expectativa de verem o União crescer no Estado e alcançar tamanho mais condizente – no mínimo proporcional – ao que ele tem nacionalmente.

Deve-se ponderar que, para isso se concretizar, a direção nacional terá de fazer uma intervenção no Espírito Santo de forma truculenta e intempestiva. É preciso lembrar que Rigoni preside uma Comissão Executiva Estadual definitiva, eleita em abril do ano passado e com mandato até abril de 2027.

Possível reviravolta no tabuleiro eleitoral

Em tese, se essa troca no comando se concretizar – e se isso ocorrer antes das convenções partidárias (entre 20 de julho a 5 de agosto) –, tal mudança pode acarretar profundas transformações no cenário eleitoral capixaba. Sempre falando em teoria, Marcelo teria nas mãos as rédeas do partido e, portanto, o poder de desfazer e refazer acordos eleitorais previamente estabelecidos por Rigoni em municípios estratégicos. Alçado à presidência, ele poderia reorientar radicalmente as alianças eleitorais da sigla.

Um exemplo patente é, de novo, a eleição majoritária em Vitória. Hoje, com o leme nas mãos de Rigoni, o União é um dos pilares da coligação em construção que junta seis partidos aliados do governo Casagrande, da centro-esquerda à centro-direita, e da qual sairá um candidato à Prefeitura de Vitória – se depender de Rigoni, será Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB).

Ora, formado integralmente por partidos da base de Casagrande, esse movimento tem não somente o endosso como o patrocínio político do Palácio Anchieta (vide a presença do PSB). É mais uma alternativa – que se soma, pelo centro, à candidatura de João Coser (PT) – para o Palácio tentar derrotar Pazolini. O mesmo Pazolini, porém, goza do apoio e da simpatia de Marcelo.

Secretário estadual do Meio Ambiente, Rigoni está fechadinho com Casagrande. Sob sua tutela, o União está perfeitamente integrado, em quase todo o Estado, ao movimento eleitoral liderado pelo governador. Leal ao Palácio Anchieta e com assento no secretariado, Rigoni representa a segurança de que o União joga no time Casagrande onde for preciso; pode ser considerado, por antecipação, mais um grande partido na conta.

Marcelo, por sua vez, embora se diga e se mantenha aliado do Palácio Anchieta – e siga lhe assegurando plena governabilidade na Assembleia –, tem, nunca é demais repetir, suas próprias ambições de crescimento no cenário político estadual, as quais não necessariamente “cabem” na linha demarcada por Casagrande.

Isso quer dizer que, no campo eleitoral – à parte a governabilidade e a tão falada “harmonia institucional entre os Poderes” –, Marcelo tem traçado uma rota própria com destino a 2026. Na seara das disputas municipais, o presidente da Assembleia tem realizado movimentos bem mais independentes em relação ao Palácio Anchieta, movimentos que extrapolam as fronteiras do território onde se lê “governista”. Politicamente, está descrevendo uma curva muito mais aberta que a da base, correndo por fora da pista onde passa o pelotão puxado por Casagrande.

Prova maior disso é, justamente, Vitória. Ora, se da noite para o dia o poderoso União Brasil sai das mãos do governista Rigoni para cair nas do “governista, pero no mucho” presidente da Assembleia, quem garante que o imprevisível Marcelo, o Mr. M da política capixaba, o Ronaldinho Gaúcho deste jogo, não vai dar um cavalo de pau e levar o União, por exemplo, para a coligação de Pazolini?

Falando em hipótese, isso não seria implausível nem inimaginável. Seria uma trombada sem precedentes em Casagrande, e Marcelo teria de arcar com os riscos e consequências de tal atitude, mas não é de todo impossível.

Todos, começando por Rigoni, devem manter os olhos bem abertos para as próximas jogadas de Marcelo, aquele que toca a bola sem olhar… Se piscar, ele já te driblou.

“Pode haver reações”: a ameaça implícita de Casagrande

Com Marcelo sentado ao volante, o União pode passar de pilar da coligação de centro com o carimbo do Palácio Anchieta para sustentáculo da coligação de Pazolini em Vitória.

Por isso, eventual chegada de Marcelo ao leme do União Brasil no Espírito Santo pode ter implicações muito sérias, inclusive, para os planos eleitorais do governo Casagrande. E, também precisamente por isso, o governo já emite sinais de preocupação.

Em declaração à coluna, o próprio governador dá o que só pode ser entendido, inequivocamente, como um recado a Marcelo. Acusando contrariedade com o inesperado movimento, ele pede, acima de tudo, “equilíbrio” e “bom senso” aos aliados e condena qualquer “cavalo de pau” a esta altura do campeonato, na iminência do período eleitoral.

“Ninguém tratou desse tema comigo. A eleição está próxima. Acho muito importante todos terem equilíbrio e bom senso. Qualquer cavalo de pau agora pode provocar reações. Minha posição como governador está sendo nessa direção. Espero não precisar sair dela.”

Alguém mais aí captou uma sutil ameaça?

Marcelo só irá na boa

Calejado como é na política, Marcelo só rumará mesmo para o União se tiver plenas garantias de que assumirá a presidência estadual, sendo designado para dirigir um órgão provisório constituído pela Nacional; e, acima de tudo, se tiver certeza de que a Nacional vai mesmo bancá-lo incondicionalmente, resistindo a eventuais pressões efetuadas pelo Palácio Anchieta. No tête-à-tête com Rueda, ele externou tal condição ao presidente nacional do União.

Do alto de sua experiência, Marcelo não quer pagar o mico de entrar no União na expectativa de o presidir para depois ficar com a brocha na mão, sem o comando e amarrado ao partido. Só vai na boa.

Em último caso, se as negociações com Rueda não derem certo, a fila anda, a roda gira, la rueda rueda… Marcelo tem hoje sob sua batuta duas outras siglas no Estado (bem menores, é certo): o PRD e o Solidariedade. Poderá até escolher. Ou, em último caso, tendo obtido do TRE-ES a liberação para sair do Podemos, poderá até passar um tempo sem partido algum, escolhendo sem pressa seu destino.

Em tempo: o receio de Marcelo tem fundamento. Um auxiliar do governador não tem dúvida de que, se essa movimentação for à frente, Casagrande entrará no circuito e usará toda a sua influência junto aos dirigentes nacionais do União a fim de brecá-la.

Rigoni: “Não acredito nisso”

Jogando água na fervura, Felipe Rigoni afirma que a articulação de Marcelo não está se dando conforme descrito acima – à sua revelia, sem ele sequer ter conhecimento – e que sua relação segue excelente com a direção nacional do União. O presidente estadual do partido reitera que o órgão diretivo comandado por ele é um Diretório Estadual definitivo, eleito em convenção há pouco mais de um ano, logo não pode simplesmente ser destituído (sem violação das normas internas e estatutárias do partido).

“Nunca conversei com o Marcelo sobre uma vinda dele para o União Brasil. Eu estaria disposto a conversar com ele agora. Agora, somos um diretório eleito no Espírito Santo. Tenho relação excelente com a Nacional. Falei com o ACM Neto [secretário-geral do partido], e ele não me passou nada disso. Isso não está acontecendo como você está falando. O União Brasil não faz as coisas no susto, de supetão, dessa maneira. Também tenho excelente relação com o Marcelo e com certeza estarei aberto a uma conversa com ele. Mas, se for acontecer uma vinda dele para cá, temos que nos sentar para entender qual é o projeto.”

Rigoni também diz duvidar de uma intervenção da cúpula nacional.

“Isso é muito difícil de ser feito com um Diretório Estadual eleito. Tem que ser uma intervenção nacional aprovada pela Executiva Nacional. O União nunca fez as coisas desse jeito. Não é esse o União que estamos vivendo agora. Então não acredito nisso. Tenho excelente relação com a direção nacional e com o Rueda, inclusive o ajudei a se eleger presidente na briga dele com o Luciano Bivar. Não acho que isso esteja acontecendo pela Nacional e também não acho que o Marcelo esteja querendo fazer isso.”

Sobre seus resultados como dirigente, ele faz questão de ressaltar o crescimento do União no Espírito Santo em número de filiados. “Estamos articulando as eleições agora. Da eleição de 2022 para cá, fomos o quarto Diretório Estadual do partido que mais cresceu em número de filiados no país inteiro, proporcionalmente ao número de habitantes do estado.”


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