fbpx

Coluna Vitor Vogas

Marcelo Santos entra na disputa pelo comando do MDB no ES

Auxiliado por Da Vitória, deputado teria reunião nesta quarta em Brasília com presidente nacional da sigla, Baleia Rossi, de quem tem se aproximado

Publicado

em

Marcelo Santos em cerimônia do Governo do Estado com Casagrande ao fundo (06/01/2023). Foto: Reprodução Facebook

O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (Podemos), entrou para valer na disputa travada nos bastidores pelo comando estadual do MDB, objeto de cobiça de muitos políticos capixabas no momento. Nesta quarta-feira (12), Marcelo passa o dia em Brasília, em uma intensa programação de encontros políticos montada pelo deputado federal Josias da Vitória (PP), um antigo parceiro dele.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Inicialmente, a agenda incluía reunião com o presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP), marcada a pedido de Da Vitória. Segundo a assessoria de Baleia, “a pauta de reunião eram assuntos políticos”. O encontro, porém, precisou ser desmarcado, pois o dirigente emedebista foi diagnosticado com a gripe Influenza B.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

O cancelamento do tête-à-tête foi um percalço nas articulações, mas a aproximação é real. Dias atrás, também com mediação de Da Vitória, Marcelo e Baleia se falaram por telefone sobre a situação do MDB no Espírito Santo. A conversa pessoalmente seria mais um passo no estreitamento da relação política.

Nas eleições gerais de 2022, o MDB perdeu tamanho no cenário nacional, como o centro de modo geral, mas nada que se compare ao quadro de terra arrasada deixado no Espírito Santo. Após três anos de luta interna entre Lelo Coimbra e Marcelino Fraga (expulso e hoje no PSDB) de 2019 a 2021, o partido sofreu uma intervenção nacional. Baleia entregou a direção estadual, provisoriamente, à então senadora Rose de Freitas.

Em outubro de 2022, sob a presidência de Rose, o MDB sofreu o pior resultado da sua história no Estado: pela primeira vez desde a redemocratização, ficou sem nenhum deputado estadual, deputado federal ou senador pelo Espírito Santo.

Oficialmente, a Executiva Estadual continua sob a presidência provisória da agora ex-senadora Rose de Freitas, com mandato renovado até 21 de junho. Mas a direção nacional não dá certeza quanto à permanência de Rose no comando: “Não há decisão sobre isso”, afirma a assessoria de Baleia.

Fato é que, hoje, o grande e histórico partido está em frangalhos no Espírito Santo. Por isso, virou “a noiva do momento”, “o sonho de consumo”, “o objeto de desejo” de muitos atores políticos capixabas interessados em assumir a direção estadual e reconstruir sobre novas bases o MDB no Estado.

Para líderes políticos em ascensão e com grandes aspirações eleitorais – como é o caso de Marcelo –, é sempre muito interessante ter “um partido para chamar de seu”. Controlando a agremiação no próprio estado, o dirigente se blinda contra eventuais rasteiras de rivais internos locais, além de garantir a si mesmo legenda para concorrer ao cargo que quiser.

Seguindo esse raciocínio, o MDB hoje desponta como mais atraente alternativa para quem deseja assumir o controle de um partido e montá-lo (ou, neste caso, remontá-lo) no Espírito Santo.

Primeiro porque não se trata de um partido qualquer. Apesar da vertiginosa decadência nos últimos anos em solo capixaba, o MDB preserva musculatura nacional, capilaridade política, base social, alto número de filiados. É um partido bem estruturado. Se alguém assumir a direção estadual no lugar de Rose, não precisará erguer todo um edifício da estaca zero, mas construir uma nova estrutura sobre velhos alicerces.

Segundo porque, a bem da verdade, restam muito poucas alternativas hoje na praça para quem quer “tomar um partido”.

Felizmente, pleito após pleito, a bem-vinda reforma eleitoral de 2017 está dando resultados. Graças à cláusula de barreira, mais severa a cada eleição, o número absurdo de partidos no país está paulatinamente caindo.

Até então, nossa legislação eleitoral por demais permissiva ensejava um festival de siglas partidárias que, em sua maioria, não tinham programa nem ideologia própria e só eram utilizadas por caciques regionais e nacionais como instrumentos para receber recursos públicos, carimbar candidaturas e compor acordos políticos e eleitorais. Ou seja, operavam como pequenas empresas eleitorais.

Agora essa farra acabou, ou está acabando. E, já na eleição do ano que vem, com as fusões, incorporações e federações em curso, teremos um número bem menor de siglas “disponíveis no mercado”.

Assim, tirando talvez o PSD, não resta hoje nenhuma grande sigla de médio para grande porte em condições de ser disputada no Espírito Santo com vistas às eleições de 2024 e de 2026. Daí ser até natural o interesse não só de Marcelo mas de todos os atores políticos capixabas nesta corrida pelo lugar de Rose à frente do MDB-ES.

Por que pode interessar a Marcelo?

Como o próprio Marcelo tem dito e repetido desde a sua reeleição para a Assembleia em 2022, seu plano é concorrer a deputado federal em 2026. É daí para cima, na verdade. Sua chegada à presidência da Assembleia em fevereiro, obviamente, o fortalece ainda mais nesse sentido.

Hoje, Marcelo está bem acomodado no Podemos. Cultiva boa relação com o presidente estadual da sigla, o deputado federal Gilson Daniel.

Mas, projetando esse voo bem mais alto em 2026, Marcelo pode tirar melhor proveito em se tornar o cacique da própria tribo, construindo o próprio partido e montando chapas à sua feição. Esse caminho pode ser mais vantajoso para ele que permanecer em um Podemos onde a concorrência interna pode ser muito forte na próxima disputa a deputado federal.

O Podemos hoje tem dois federais: o próprio Gilson e Victor Linhalis. Os dois podem ser candidatos à reeleição em 2026 e podem chegar fortes para isso. No caso de Victor, mais ainda se o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, for reeleito em 2024. Ainda tem o Coronel Ramalho, secretário estadual de Segurança Pública, que pode tentar de novo chegar à Câmara.

Para eventualmente sair do Podemos e voltar para o MDB sem correr o risco de perder o mandato e a presidência da Assembleia, Marcelo teria que ter tudo isso muito bem amarrado com Gilson Daniel, pois precisaria da anuência da direção partidária para se desfiliar, com garantias de que o Podemos não pedirá o seu mandato à Justiça Eleitoral por infidelidade partidária.

E é aí que pode haver um complicador.

“Marcelo é meu amigo pessoal. Nunca conversei esse assunto com ele. O Podemos não abre mão de nenhum parlamentar. Nenhum partido abre mão. Marcelo fará parte da maior bancada da Assembleia”, disse Gilson Daniel à coluna, referindo-se à iminente federação entre PSDB, Cidadania e Podemos.

Mas, em tese, se Marcelo obtiver a liberação, aí sim poderá voltar a se filiar ao MDB. É lógico que só fará isso se tiver a certeza de que chega para assumir a presidência estadual.

Marcelo tem história no partido. Militou no MDB por mais de 15 anos e emendou mandatos na Assembleia pela sigla. Saiu em 2018, quando foi para o PDT. Brigou com Sérgio Vidigal, pediu à Justiça Eleitoral justa causa para sair e, em 2020, entrou no Podemos pelas mãos de Gilson Daniel

Por que pode interessar a Da Vitória?

Para Da Vitória, eventual chegada de Marcelo à presidência estadual do MDB também pode convir porque assim, como é muito aliado de Marcelo, ele também põe um pé no partido e garante influência indireta sobre mais uma sigla respeitável.

Tendo acabado de assumir a presidência estadual do PP, o coordenador da bancada capixaba no Congresso é outro que nutre aspiração eleitorais mais altas: quer disputar uma das duas vagas do Espírito Santo no Senado em 2026.

Com Marcelo à frente do MDB, seria mais provável o apoio do partido e de todas as forças que viriam com Marcelo a uma candidatura majoritária de Da Vitória.

Com votação pulverizada de norte a sul do Estado e uma rede de alianças com líderes políticos municipais, Marcelo pode atrair para o MDB muitos prefeitos (de imediato) e vereadores (na janela de março do ano que vem).

A agenda oficial de Marcelo em Brasília

De manhã, o presidente da Assembleia participou de audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara, em conjunto com o Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara, presidido por Da Vitória, para avaliar a taxa de juros praticada pelo Banco Central.

Em seguida, participou de reunião com consultores do mesmo centro de estudos e com o ex-secretário estadual da Fazenda de São Paulo Luiz Cláudio Carvalho, sobre a desburocratização do serviço público e a PEC 45/2019 (a da reforma tributária, em tramitação na Câmara).

Marcelo almoçou com Da Vitória e com o senador Magno Malta (PL). Depois, reuniu-se com a bancada do Espírito Santo no Congresso.

A programação também previa reunião com o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator da PEC 45/2019 (confirmada), com Baleia Rossi, autor da mesma PEC, e com o presidente da Câmara, Arthur Lira.

As duas últimas foram canceladas por Rossi e Lira, por motivo de saúde.

Marcelo e Da Vitória pretendem convidar ambos para participar de seminário sobre a reforma tributária organizado por eles na Assembleia Legislativa e marcado a princípio para o dia 8 de maio.