fbpx

Coluna Vitor Vogas

Hudson Leal sobre apoio de Casagrande a Marcelo: “Foi um estupro eleitoral”

“O governador vai tomar um susto no dia 1º”, vaticina o deputado do Republicanos. A seguir, trazemos essas e outras declarações do braço direito de Vandinho Leite nas articulações eleitorais visando ao comando da Assembleia 

Publicado

em

Hudson Leal. Foto: Tai Beling/Ales

“Um estupro eleitoral.” Assim mesmo, sem anestesia, o deputado Hudson Leal (Republicanos) define a manifestação pública do governador Renato Casagrande (PSB) em apoio à candidatura de Marcelo Santos (Podemos) à presidência da Assembleia Legislativa. Desde o início da temporada de articulações, o deputado e médico anestesista tem sido o braço direito de Vandinho, como confirma o próprio tucano. 

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

As declarações de Hudson à coluna são relevantes por três motivos. Além da reação fortíssima ao movimento de Casagrande – em linha com as de Vandinho e de Theodorico Ferraço (PP) –, o deputado indica uma estratégia que essa chapa alternativa está concebendo para surpreender o Palácio Anchieta na eleição em plenário na próxima quarta-feira (1º). 

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Hudson ainda sinaliza uma mudança em relação ao governo Casagrande por parte dele mesmo e de outros deputados hoje alinhados com o Palácio Anchieta, mas indignados com a interferência ostensiva do governador no processo eleitoral do outro Poder. 

Interferência e ameaça

“[O apoio de Casagrande a Marcelo] é uma escolha dele, mas tem que combinar com a Assembleia. Aí está tendo uma total interferência. É uma interferência de um Poder no outro de uma forma muito agressiva. É até um estupro eleitoral!”, dispara Hudson. “Vou fazer 60 anos e nunca tinha visto isso. Por que esse desespero?”

Para Hudson, ao exteriorizar sua preferência por Marcelo de maneira tão explícita – chegando a declarar à imprensa sua orientação de voto aos membros da base –, Casagrande está exercendo, mais que pressão indevida, uma ameaça velada aos deputados governistas: aqueles que não o acompanharem podem temer (e sofrer) retaliações. 

“É muito claro isso! Está todo mundo vendo isso como autoritarismo e mão pesada do governo. Isso não é perfil do governador. Deve ter algo muito forte e pesado para justificar a decisão que ele tomou, porque os argumentos dele são muito frágeis”, insinua. 

Em sintonia com Hudson, Theodorico Ferraço declarou à coluna que o próprio Marcelo pode ter exercido uma “coação irresistível” sobre Casagrande. 

Deputados que já mudaram ou querem mudar de lado

Hudson também não economiza críticas aos colegas pertencentes à base do governo que haviam se comprometido a votar em Vandinho, mas que, atendendo ao chamado de Casagrande, estão mudando de lado e transferindo seu apoio a Marcelo. 

“Isso faz parte do jogo. É normal, sob pressão do Executivo. Mas acho que o homem tem que ter uma coisa: caráter, palavra. É muito triste ver pessoas que deram a palavra, mas depois voltam atrás por pressão. Eu não gosto de lidar com esse tipo de gente. Quem tiver caráter vai manter a palavra. Quem tem medo vai seguir [a orientação de Casagrande]. Teve gente que foi com a esposa, com a família toda, fechar compromisso com Vandinho. Como é que você vai olhar para a cara da sua família depois? É um negócio muito forte”, afirma o republicano.. 

“Só tem um ali que ganhou o mandato por causa do governo”, completa, em provável alusão a Tyago Hoffmann (PSB). “Os outros 29 foi por mérito próprio. Como é que esses 29 vão falar com os seus eleitores?”

Mudança de posição

Assim como Theodorico Ferraço, Hudson sugere que, ao tomar partido entre dois candidatos de sua base, Casagrande pode gerar o efeito contrário ao desejado por ele: em vez de pacificar a base aliada e a Assembleia, pode acabar empurrando para a oposição deputados até então tranquilamente governistas. “A Assembleia estava pacificada. Isso gerou uma divisão na base.”

Ele mesmo indica um princípio de mudança de postura. Ao longo do último mandato, apesar de ser do Republicanos (partido de Lorenzo Pazolini e Erick Musso, adversários de Casagrande), Hudson em geral votou com o Executivo no plenário. Raramente criticou da tribuna a administração estadual (se ocorreu alguma vez, não me recordo).

Agora, na conversa com a coluna, ele indica que pretende intensificar o seu “papel de fiscalização” e critica o novo sistema de regulação de leitos e consultas, implantado em agosto passado, em plena campanha eleitoral, pelo então secretário estadual de Saúde Nésio Fernandes (PCdoB) – diga-se de passagem, um dos motivos determinantes para o azedamento da relação de prefeitos com Nésio e para a queda do secretário em outubro.   

“Ninguém precisa ir para a oposição. Você só precisa cumprir o seu papel de fiscalização. Eu vou fiscalizar. Fazer minha parte. A saúde estadual está com problemas. Se eu te mandar áudios que recebo do Estado inteiro… Eles mudaram o sistema de regulação de leitos e consultas. Não está funcionando. Tem muitas filas de espera. Tem gente esperando oito meses por uma consulta. Tem muita coisa. Isso quem tem que fiscalizar é o deputado, ou não? Seja de oposição ou situação. Mas a relação com o governador é boa.”

Haverá disputa

“O jogo só termina quando o juiz apita”, evoca Hudson. Assim como Vandinho e Ferraço, o deputado garante que, de qualquer maneira, a chapa do grupo representado por eles será registrada no dia 1º e, sim, perdendo ou ganhando, haverá disputa no voto com a chapa palaciana, encabeçada por Marcelo. “Vai ser muito antidemocrático não registrar chapa.”

Mudanças de parte a parte

Hudson acredita que, a esta altura, a migração de apoiadores pode ser uma via de mão dupla: do mesmo modo que Vandinho pode perder aliados governistas ante o estalar de dedos de Casagrande, também pode ganhar novas adesões de deputados insatisfeitos com a condução do Palácio Anchieta. 

“Chapa nós já temos e vamos chegar ao dobro de apoiadores. Um não gostou da interferência e disse que está vindo pra cá”, exemplifica, sem citar o nome. 

Fechado com Vandinho

Ele mesmo segue fechadíssimo com Vandinho: “Estou firme. Dei minha palavra a Vandinho. Palavra você não precisa dar, mas, uma vez dada, você tem que manter. Só não voto no Vandinho se ele não for candidato, mas ele falou que vai botar chapa e, se ele botar a chapa, vou votar nele”. 

Esperança de vitória

Mais que a garantia de inscrição da chapa “Davi contra Golias”, Hudson mantém esperança em uma hoje surpreendente vitória, “porque a maioria ali está com Vandinho”.

“Está ou estava?”, perguntamos ao deputado. 

“O governador vai tomar um susto. Não temos a maioria, mas falta muito pouco. Alguém pode ceder. Tudo pode acontecer.”

Hudson não deu nenhum número. Vandinho disse que, até a tomada de posição de Casagrande, contava com o apoio de 21 dos 30 deputados (contando ele). Ferraço disse nesta quarta que a chapa conta com 12 assinaturas. 

Votação secreta? 

Para concretizar essa esperança de triunfo, Hudson dá a ver uma estratégia em gestação na chapa: transformar a votação aberta e nominal em votação secreta na sessão do dia 1º, a ser conduzida por Ferraço, também aliado de Vandinho. “Se a eleição for secreta, quem você acha que ganha? Vamos esperar as cenas dos próximos capítulos.”

Tanto o Regimento Interno da Assembleia como a Constituição Estadual determinam expressamente que a votação seja feita de maneira aberta e nominal.

É o que impõe o parágrafo 8º do artigo 58 da Constituição Estadual, incluído pela Emenda Constitucional nº 40, de abril de 2003, no início da presidência de Cláudio Vereza (PT), primeiro ano após a Era Gratz. O mesmo é disposto pelo artigo 9º do Regimento Interno. 

No entanto, Hudson traça paralelos com a forma de escolha dos membros ou dirigentes de outros Poderes. Recentemente, o STF decidiu que a escolha dos próximos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado seja feita na Assembleia por votação secreta – precisamente para evitar a interferência de outros Poderes. No Congresso Nacional, a escolha dos membros da Mesa Diretora da Câmara e do Senado também é feita por voto secreto. 

Já na eleição da Mesa da Assembleia, para que a votação fosse secreta, o texto da Constituição Estadual teria que ser alterado, por meio de Proposta de Emenda Constitucional aprovada na própria Assembleia ou de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI). No último caso, alguém teria de provocar o STF. 

Para Hudson, não necessariamente… 

“Quem vai mandar na sessão é o presidente da sessão [Ferraço]. É o presidente quem conduz a sessão. Não precisa submeter ao plenário [a proposta de votação secreta].”

Como dito acima, há fortes controvérsias. 

Para Hudson, porém, isso não é fundamental: 

“Vamos ganhar independentemente disso. Ninguém gosta de ser mandado.”


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui