Coluna Vitor Vogas
Futura vice de Pazolini se encontra com Hartung e exalta “aprendizado”
Uma foto, quatro palavras e a nossa leitura. Como pode ser interpretado o encontro na Findes, nesta quinta, entre Cris Samorini e o ex-governador?
A empresária Cristhine Samorini (PP), futura vice-prefeita de Vitória, reuniu-se na manhã desta quinta-feira (14) com o ex-governador Paulo Hartung (sem partido). A própria Cris, como é mais conhecida, postou a foto do encontro em seus stories, enaltecendo os ensinamentos recebidos de Hartung: “Sempre um grande aprendizado”.
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O local da “lição” foi simbólico: a sede da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), da qual a futura vice-prefeita é ex-presidente (e, portanto, presidente emérita). Primeira mulher a chefiar a entidade fundada em 1958, Cris dirigiu a Findes por quatro anos, de 2020 a 2024.
Em 25 de julho deste ano, passou o bastão ao aliado e sucessor, Paulo Baraona – eleito três meses antes, como candidato único –, em ótimo timing: vinte dias depois, em 14 de agosto, ela foi anunciada pelo prefeito Lorenzo Pazolini como sua companheira de chapa na eleição à Prefeitura de Vitória. Para viabilizar a candidatura, a empresária do setor gráfico trocou o Republicanos, partido de Pazolini, pelo Progressistas (PP), no início de abril.
No dia 6 de outubro, ao lado de Pazolini, Cris elegeu-se vice-prefeita, no 1º turno. A locução adverbial, neste caso, pode ser tomada ao pé da letra. Quase sempre literalmente “ao lado de Pazolini”, ela foi uma candidata a vice extremamente presente e atuante durante a campanha, acompanhando-o em muitas atividades de rua e eventos eleitorais, além de aparecer constantemente, com o candidato a prefeito ou sozinha, na propaganda de rádio e TV de Pazolini.
Essa grande projeção dada a Cris pela equipe de campanha de Pazolini se intensificou após a vitória eleitoral. Ainda na condição de “vice-prefeita eleita”, ou “futura vice-prefeita” (como referida no início deste texto), a empresária já tem agido, despachado e sido tratada internamente como a vice-prefeita de fato. A de direito, vale lembrar, ainda é a Capitã Estéfane (Podemos), e assim será até o fim do mandato.
Na prática, Cris já preencheu internamente o espaço de nº 2 na cadeia de comando – espaço esse, logicamente, concedido pelo próprio Pazolini, com quem exibe grande entrosamento.
Desde meados de outubro, Cris tem participado (de novo: literalmente, ao lado de Pazolini) de uma maratona de agendas externas e internas com o prefeito, de reunião no gabinete com representantes do Banco do Brasil a assinatura de ordem de serviço para construção de cobertura para campinho de futebol society. Além disso, foi designada para coordenar uma insólita Comissão de Transição. O “insólito” está no fato de que o prefeito seguirá sendo o mesmo. Para além de questões técnicas, o objetivo da medida também é conferir a Cris maior visibilidade política, antes mesmo de ser diplomada.
Por que isso e onde é que entra Paulo Hartung?
Aí precisamos relembrar aquilo que já tantas vezes ressaltamos neste espaço: Pazolini está sendo lapidado, por seu grupo político – que hoje reúne, principalmente, Republicanos e PP –, para ser candidato a governador em 2026. Antes e durante a campanha, quando questionado sobre isso, ele não excluiu a hipótese. Deixou-a em aberto.
Se o delegado licenciado for mesmo candidato ao Palácio Anchieta, terá de renunciar ao segundo mandato de prefeito até abril de 2026. Sua então vice-prefeita, ela, Cris Samorini, ascenderá ao cargo de prefeita. Governará, por quase três anos, a Vitória governada por Hartung de 1993 a 1996.
Intencionalmente ou não, o próprio Hartung atiçou a fogueira especulativa ainda na noite da apuração dos votos no 1º turno, em 6 de outubro. Logo após a proclamação da vitória matemática de Pazolini, pelo TSE, o ex-governador felicitou, em seus stories, o prefeito reeleito, manifestando sua “alegria” com o resultado e prognosticando: “Parabéns, @lorenzopazolini! Alegria!! Se consolida uma nova liderança no Espírito Santo”. Frise-se: “no Espírito Santo”.
E quanto ao rendez-vous desta quinta entre Hartung e Cris Samorini?
Nenhum dos dois publicou, nas redes sociais, nada além da foto e da legenda de quatro palavras escrita por Cris. Nem esta nem a assessoria do ex-governador deram mais detalhes sobre a pauta. Resta-nos, pois, nos ater ao que temos: o texto visual e o verbal, ambos prenhes de significados por si mesmos.
O que a legenda de Cris tem de lacônica, tem também de eloquente: “Sempre um grande aprendizado”.
“Um grande aprendizado”. São palavras de alguém que não somente admira Paulo Hartung como se coloca em condição de humilde “aprendiz”, de quem reconhece ter muito a aprender com ele.
Já a primeira palavra da frase, o advérbio isolado por nós, é ainda mais eloquente: “sempre”. “Sempre um grande aprendizado”.
A chave de interpretação aqui é a repetição, a recorrência do ato de “aprender” com Paulo Hartung, como um hábito. Não é a primeira vez que Cris encontra o ex-governador. Ela mesma dá a entender que se trata de algo habitual – poder-se-ia dizer, rotineiro. E, a cada novo encontro, o “grande aprendizado” se renova.
Tudo isso, aos leitores e leitoras, pode parecer muito óbvio, mas às vezes é importante sublinhar e dissecar obviedades por conta do pano de fundo, por aquilo que elas, de tão óbvias, talvez não nos deixem enxergar.
Para o grupo político de Pazolini, que tem no prefeito hoje a ponta da lança e ao qual Cris Samorini incorporou-se com força, Paulo Hartung pode ser considerado, mais que um conselheiro, uma espécie de guru ou mentor político.
“Consultoria”, “aconselhamento” ou “mentoria”… chame-se como se quiser, o encontro e o aprendizado destacado por Cris, neste momento em que ela mesma se prepara para assumir seu primeiro cargo público, só reforçam essa percepção sobre a influência de Hartung, ainda que muito discreta, junto ao referido grupo. De igual modo pode ser considerado o post da “alegria” de Hartung, saudando Pazolini e rejubilando com a vitória do prefeito, no dia 6 de outubro.
Não é demais lembrar que esse grupo, ao qual pertencem Pazolini e agora Cris Samorini, não faz parte do mastodôntico movimento político estadual liderado pelo governador Renato Casagrande (PSB), desafeto de Hartung desde 20214. O grupo que hoje está no poder em Vitória, ao qual a vice eleita se agregou, se move de maneira independente do Palácio Anchieta – aliás, derrotou o Palácio Anchieta, com autoridade, nas últimas eleições na Capital. Quem tiver alguma dúvida sobre isso, leia aqui o que diz o próprio Erick Musso, sobre os planos político-eleitorais do Republicanos no Espírito Santo.
Além de presidente estadual do partido, Erick é o principal articulador político de Pazolini, foi seu coordenador de campanha e é o provável futuro secretário de Governo de Vitória.
Cumpre lembrar, ainda, a procissão de representantes da última safra de colaboradores técnicos e/ou políticos de Hartung “emprestados” à gestão de Pazolini… aliados de Hartung que ou colaboram ou já colaboraram com o “novo líder estadual” na Prefeitura de Vitória. Aí se incluem Roberto Carneiro (hoje presidente do mesmo Republicanos em São Paulo), Marcelo Oliveira, Regis Mattos, Valéria Morgado, Aridelmo Teixeira e o já citado Erick Musso.
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